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Contos-->O delírio -- 15/03/2003 - 10:28 (Clodoaldo Turcato) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos



Chovia naquele dia. Lembro-me bem. A terra estava úmida, o ar cheirava barro, gostoso, as plantas golticuladas, vivas e ungidas pelos céus.
Me lembro de estar na rede, amarrada na varanda, recuperando-me de uma doença qualquer. Parecia ser grave, pois mal conseguia erguer os olhos. Minha cabeça doía muito, muito mesmo. Não sei se ventava, tenho quase certeza que não; senão por que correria suor em meu rosto? Não eram goteiras, mas sim mormaço. Sim, estava quente demais.
Um grito de mulher me despertou:
_ Entra... vá pra dentro menino!
A senhora berrou à toda goela. Brechei por cima da rede e nenhum cristão ficara na rua. O que está acontecendo? - pensei
Segundos de silêncio fúnebre; nenhum movimento. O mundo parou, a poeira ficara estática, apavorada. Tentei sair da rede, mas nem com os maiores esforços cheguei ao chão. Estava muito mal. O que foi? Não lembro. De jeito nenhum...nada. Talvez tenha tentado gritar, mas minha fraqueza impediu que a voz rosnasse. Aflição danada. A cidade toda sumira, eu era o único habitante a postos, para enfrentar alguma coisa, que eu nem sabia como era.
O que teria espantado os moradores? Ninguém aparecia, nem minha esposa; todos sumiram da... Jesus Cristo! Será que algum bando de mal feitores estariam por invadir a cidade? Ou seria algum fenômeno natural; um vulcão, por exemplo? De qualquer forma, fosse o que fosse, eu estava só, e em maus lençóis.
De repente começou uma zoeira. Um barulho de gravetos queimando. Sentia o cheiro da fumaça, mas não via fogo. O calor aumentou e o suor escoria pelo rosto. Meu corpo estava ensopado, mal agüentava minhas roupas; não sei dizer o que vestia, parece-me que eram roupas leves e claras, talvez uma calça jeans e uma camisa de tergal. Não lembro, só sei que a vestimenta me sufocava.
Um vento quente, horrível, vinha do norte. Lutei com a rede para levantar-me e fugir. Precisava de um rio, um tanque ou um chuveiro; alguma coisa com água fresca. Mas minhas forças foram insuficientes para êxito. Tentei me debater, lutei, lutei, lutei... Estava cada vez mais apavorado.
Nuvens negras se formaram; o céu sumira. Bolas de fogo sugiram, caindo sobre as casas, árvores, pontes, prédios... tudo, torrando. Cada chama levava uma construção. A minha casa estava em chamas; as paredes despencavam ao meu lado. Os ganchos que prendiam a rede viraram brasa.
Um berro de criança veio do fundo da casa, que já era carvão. Não lembro o que gritou. Tive a impressão que foi “tia”. Mas não garanto, eu já não ouvia direito. Sentia o fogo próximo, muito próximo, tudo escurecera. “É o fim do mundo – pensei”.
As labaredas pipocavam por todo o lado, sentia-as passando ao meu lado. Eu estava morto, não tinha dúvidas disso. Morto e no inferno, queimando vivo. Jazia inerte, quando uma enorme bola de fogo cobriu todo o meu corpo e tudo apagou. Cai num sono profundo, aliviado; tudo se fora: dor, sofrimento...vida.
Não sei quanto dormi, mas acordei algum tempo depois lúcido, com roupas limpas e sob uma garoa agradável. Tudo estava em seu lugar . Nunca pensai que a placa “Mercado Aurora” fosse algum dia me arrancar um sorriso. Mexi meu corpo e o senti todo; até podia me levantar, minhas forças retornaram. O que teria acontecido?
Minha esposa sorrindo me deu a resposta:
_ Que bom que está em pé. Passaste o dia todo num febrão de dar medo.
Eu tinha delirado, só isso.
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