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Contos-->O chapéu enfeitado -- 15/03/2003 - 10:27 (Clodoaldo Turcato) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Seu Nelson morava na época numa localidade chamada Beira Rio, encravada no oeste catarinense. Corria o ano de 1971, quando as pequenas áreas agricultáveis, no meio daqueles morros, eram todas trabalhadas manualmente. A enxada, a foice e o arado puxado a boi, eram absolutos no desbravamento das regiões. Seu Nelson morava com a mulher e uma filha de treze anos. O homem trabalhava por demais, de sol a sol só tinha tempo para sua lavoura. Muito bravo, muito enérgico, cumpria seu dia a dia com disciplina militar, levando os seus para o mesmo caminho. A rotina da casa era sempre a mesma, exceto aos domingos, quando ia para a missa e ao futebol, único capricho que se permitia o agricultor. As mulheres ajudavam na parte da tarde, quando terminavam o serviço na cozinha e iam para o cabo da enxada, sem perdão.
Certa manhã, seu Nelson roçava um pedaço recém desmatado, perto de um a coxilha. O local era ruim, mal se ficava em pé de tanta subida. Ele, com grande dificuldade, tentava preparar o pedaço para plantar feijão carioca. A terra era boa para isso, muito preta, cheia de fumeiro, indicando que não precisava nem adubo. Logo após o desmate, ficavam restos de tocos e plantações, que precisavam ser tirados à foice. Um trabalho bem penoso, que exigia muita persistência. Naquele tempo não se tinha defensivos ou outro artifícios que auxiliasse no retoque das terras rurais; tudo era no braço. O homem lutava com um fumeiro grande, quando de repente viu ao seu lado uma em enorme jararaca, descendo a ladeira em sua direção. Gelou. Por alguns instantes ficou sem ação. A cobra chegava perto e só tinha uma saída: usar a foice. Num golpe seco seu Nelson partiu a danada em dois, perto do pescoço, deixando-a sem cabeça. A bicha debateu-se por algum tempo, e seu Nelson a perseguiu, batendo com o lado da foice, extravasando sua raiva, depois do tamanho susto.
Cobra morta, seu Nelson estranhou a falta da cabeça. Só via o corpo todo esmagado, mas da cabeça nada. Tinha ouvido boatos que mesmo depois de morta, a cabeça poderia morde-lo e naquele fim de mundo remédio não existia, sendo muito comum agricultores virem a morrer por mordida de cobra. Com olho arregalado procurou, revirou as proximidades, ergueu pedras, tocos, restos de arvores e da cabeça nem sinal.Resolveu desistir, pediu proteção ao Menino Jesus e continuou seu roçado.
As onze e meia desceu para casa almoçar. Seguiu seu percurso em passos longos, afinal teria que comer e correr para o eito imediatamente, sem perda de tempo. Chegou em casa, a mesa já estava posta; sem muita conversa, lavou o rosto, e foi direto comer. Sua filha veio com o suco, servindo ao solitário comilão, que devorava o feijão com arroz, acompanhado por carne cozida e raditse. Quando aproximou-se da mesa branqueou.
_ Pai!
Seu Nelson ergueu a cabeça, estendo o copo para aquela figura magra que se postava diante dele. Mas nem deu para servir, a jarra espatifou-se no chão.
_ Menina mole! O que esta acontecendo? Acha que arrumo dinheiro no lixo? Olha a bagunça que tu fez.
_ Pai.... o chapéu!
_ Ora tu sabe que eu não tiro o chapéu pra comer, agora me faz um banzé deste só por que to comendo com ele?
_ Pai... tem uma cobra no chapéu!
Naquele segundo a imagem da cobra veio em mente.Como um raio o velho jogou o chapéu pra longe. E lá estava a cabeça pressa na palha, dentes cerrados como numa mordida derradeira.
Contando ninguém acredita, mas quando Seu Nelson deu a foiçada, foi com tanta força que a cabeça voou, vindo a fixar-se sobre o chapéu. O velho tremia, tinha ficado a manhã toda com uma cabeça de cobra grudada a milímetros do couro cabeludo. Que perigo passou o pobre homem.
Naquela mesma tarde correu para a cidade, fez consulta com o Doutor Itamar, que garantiu sua saúde e que o veneno nunca chegou a sua testa. Mas por via das dúvidas mandou o barbeiro cortar seu cabelo com máquina zero, nunca se sabe. E o chapéu deixou pendurado em uma árvore no quintal, enfeitado com a cabeça da cobra, pra que ninguém tivesse dúvida de que a estória fosse verdadeira.
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