O bom amigo Formiga
Ontem esteve presente,
Deixando muita alegria
No coração desta gente.
Se nosso caro irmão médium
Prestar bastante atenção,
Vai perceber que um bom passo
Foi dado na direção
Disto tudo se arranjar
Por poética noção.
É evidente que não temos
A mesma desenvoltura,
Porém, se o braço ceder
Dominamos a estrutura.
O verso de sete sílabas
É mais fácil de rimar.;
Dificuldade maior
Estará em concatenar
As palavras que enunciam
O tema de que falar.
— “Pipocas e quentão” — diz
Uma ingênua cançoneta.;
Agora mais do que nunca
Essa rima está careta,
Entretanto, todos gostam
Quando alguém se faz poeta.
Por favor, não pare, amigo,
Continue esta escritura:
Dê nova oportunidade
A quem vem da sepultura.
Não ficou perfeita a quadra:
Em seguida, vou a outra.;
Se esta também nada tem,
Que tal partir para estoutra?!
Arquivaremos os versos
Das tentativas frustradas,
Pois não há de querer vê-las
Todas assim publicadas.
O irmão escrevente espera
Que o ritmo surja sozinho,
Pois está certo o pedido,
Desde que tenha padrinho.
Como meu titio queria,
Eis-me aqui tentando a sorte:
Não fui poeta na vida,
Quiçá seja após a morte!...
Não duvide, caro amigo,
Desta gente que, feliz,
Vem demonstrar, claramente,
Saber sustar o nariz.
Há velhas canções e modinhas
Que fizeram grande sucesso:
Deram no peito das mocinhas,
Deixaram os velhos perplexos.
Não se importe, meu querido,
Se, por vezes, não dá certo:
É que o verso que não rima
Muitas vezes está perto.
Que forçada, caro jovem,
Que ritmo assaz estragado.;
Vamos tentar outra vez,
Vamos lá, “seu” felizardo!
De novo, nós estragamos
Início tão promissor,
Por não sabermos rimar
Poesia com muito amor.
O quarteto logo acima
Não desdoura deste grupo:
A partir daquela rima,
O cano da veia entupo.
Poeta, para ser bom,
Há que ter muito talento.;
Este que lhes fala agora,
Em seu máximo, está lento.
Vamos tentar outra vez
Escrever algo que preste.;
Mas, p’ra azar deste judeu,
O vento veio do leste.
Isso que acima escrevi
Está tolo e sem sentido.;
Certo, na próxima vez,
Serei melhor sucedido.
Eis aqui, meu bom amigo,
Finalmente a rima rica.;
Não que seja uma beleza
Mas é o que melhor me fica.
— “Palhaçada!” —, pensará
Algum ilustre escrevente,
Lendo o que acima ficou
Como lição desta gente.
Organizemos a vida,
Deixemos de ser boçais:
Quem sabe progrediremos
Imitando os animais...
Total falta de interesse
Por rimar com perfeição..;
Veja que coisa “fajuta”
Rima que termina em “-ão”!...
Existe gente mais séria,
Querendo participar.;
Mas a vez é minha agora,
Pois também quero rimar.
A sorte do bom amigo
Que nos apanha este verso
É que a tudo dá vazão:
Nada vê de controverso.
Vendo que tudo vai bem,
Ficamos todos felizes.;
Mas é bom não se enganar
Onde se põem os narizes.
Dia a dia, fica mais
Difícil de solfejar:
Um dia, pega no “dó”,
Noutro, se falseia o “fá”.
Corremos grandes perigos,
Escrevendo assim à toa,
Pois jamais ocorrerá
Qualquer coisa muito boa.
É preciso ter paciência,
Amor e perseverança,
Pois, doutro modo será,
Somente desesperança.
Caso o amigo me permita
Ferir-lhe a corda ao orgulho.;
Vê se vai plantar batatas,
Porquanto isto tudo é engulho.
O dia não é propício
Para estas rimas do além:
O pessoal aqui em cima
Desse talento está sem.
Caprichoso, o bom João
Desejava progredir,
Mas não calculou direito,
Pois se pôs logo a dormir,
Justamente no momento
Em que devia servir.
Eis aí o que queremos
Que o bom do amigo nos faça,
Pois assim se escreve o verso
Completamente sem jaça.
Rascunhos são simplesmente
Estas pobres quadras frias,
Mais tarde transmitiremos
Novas rimas, mais vazias,
Para um dia, finalmente,
Subir de categorias.
Vamos, por hoje, encerrar
Modesta parte na escrita,
Pois ir bem mais além disto
Enfraquece, dói, irrita.
Nada do que hoje fizemos
Irá ter qualquer valor,
Mas vale p’ra demonstrar
Que lhe temos fundo amor.
Um dia, somos felizes,
Noutro, temos agonia,
Na vida etérea, entretanto,
Rezamos com harmonia
Solicitando agasalho
E muita sabedoria.
Quando fazemos quadrinhas,
Ficamos muito contentes,
Mas o que mais nos alegra
É ver que destes batentes
Estão saindo sextilhas
Bem mais ainda excelentes.
Um ouro velho e de lei
É o que queremos um dia.;
Por ora, vamos, somente,
[“Tomar banho de água fria.”]
José Bento só inventava
Tristes histórias de guerra.;
Um dia partiu correndo,
Envergonhado, da Terra.
Sarampo é doença às antigas,
AIDS é coisa moderna.;
Se não tomarmos cuidado,
Morreremos na caverna,
Com simples machucadura:
Uma torcida de perna...
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