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Contos-->A mulher do Severino -- 15/03/2003 - 10:25 (Clodoaldo Turcato) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Eu tenho um amigo chamado Juvenal. Além de um companheiro fiel, ele é o cara mais boca dura que eu já conheci. Sempre sorrindo, com uma alegria contagiante, espanta o mau humor de qualquer um. Certo feita estava conversando, sentado num meio fio, quando ele me contou de sua viagem a Primavera do Leste, Mato Grosso, que tinha feito a duas semanas. Sua narrativa atravessava seus dentes brancos, e como todas as suas aventuras eram sempre aumentadas, prestei atenção que esta era das boas. E começou:
Eu estava sentado no meio do ônibus, banco 25, janela. Sabe que não gosto de ficar muito atrás, nem muito na frente; em todas minhas viagens, fico ai pelo 22 a 25, sempre prefiro ali. Bom, quando nós chegamos em Cunha Porá, o ônibus parou na beira do asfalto, e subiram duas mulheres. Uma mulher devia ter lá seus sessenta anos, velhinha, coitadinha. Atrás subiu uma madame, neguinha boa, tinha mais ou menos 21 anos, devia ser a filha, pensei. Foram vindo pro meu lado, pude ouvir quando a madame pediu onde era o 26. Arrepiei. Era do meu lado, não podia acreditar, ia viajar ao lado daquele avião, ou da velha...
Acontece que ao lado, no 27 e 28, tinham duas poltronas vazias, e por sorte a moça achou melhor colocar sua mãezinha nelas, tinha mais espaço, sabe! Aplaudi interiormente, bati palma com o estomago e o pulmão, mas mantive a posse, sem transparecer minha alegria. Ela usava um vestidinho, daqueles sacanas pra caramba, que qualquer ventinho, dava o ar da graça. Eu só olhava, não agüentava mais a tensão, só esperando que ela começasse a conversa.
_ Com licença, Senhor, acho que vamos viajar juntos...
Perguntei qual era seu banco, me fiz desentendido, esbocei um quase arrependimento por esta num banco tão privilegiado. Mas no final permiti que ela sentasse, por que com mulher sabe como é, não pode dar muita moral.
_ Vai pra aonde?
Respondi prontamente que iria para Primavera do Leste, Mato Grosso, comprar umas terras, ou fazenda de gado, depende do que me agradasse mais, largando uma conversa de granfino; sendo que mal tinha o dinheiro da passagem. Pra impressionar a dona, sabe como é?
_ Eu moro lá, meu marido tem fazendas na região, mexe com soja.
Baixei a bola, resolvi ameniza, pra não cair em contrariedade, à madame era de posses e podia sacar a minha. Ela me disse que chamava Deocádia, a velha era sua mãe, que ia conhecer o Mato Grosso. Ela estava receosa de que a velha capotasse, mas preferia correr o risco do que deixa-la a mercê dos agregados que cuidavam o “sitiozinho” de 500 hectares que tinha em Cunha Porá. Eu concordava em gênero, número e grau. Mas minhas chances eram muito escassas de qualquer atitude mais ousada, haja visto o marido estar presente na jogada.
Conforme a viagem ia passando, eu ficava mais chegado da dona. Ela me dava umas atiradas que eu ficava até sem jeito. Mergulhei num de tenta ou não. Lá pelo meio dia paramos para o almoço; devia ser em São José do Cedro.
_ Gostaria de almoçar conosco?
Não me fiz de rogado “será um prazer, dona!”.
E fomos para o restaurante, um bruto dum prédio com duas carreiras de self service, aqueles negocio que a comida não esfria, e o nego enche o prato. O meu único receio era o preço. Tinha miúdo no bolso, não podia dispor de tanta frescura, era melhor ficar só no pastel. Chegando no guichê, eu carregando a velha no ombro, no maior mico, a Deocádia puxou uma azulzinha do bolso e pagou três almoços. Fiz menção de não aceitar.
_ Depois você me paga.
Ai que mora o perigo. Vai que a dona resolvesse almoçar num daqueles restaurantes de prima, ia toda minha grana. Mas já que estava desse jeito, melhor ir pra ver no que dá.
Almoçamos sem muita conversa. A mãe só reclamava do frio, da comida, das cadeiras, do sol forte, de tudo. Se não tivesse uma filha tão vistosa, eu jogava a danada pela janela, por Deus. Embarcamos, e a Deocádia pediu pra ficar um pouco na janela, concordei prontamente. Concordava com tudo, até beija seus pés se ela pedisse. Ela sentou e recostou na poltrona, pedindo licença para um cochilo. Tão educadinha a menina. Deitou graciosamente, e eu já estava meio zonzo, deitei-me também. Adormeci imediatamente. De repente uma dor de encardi. Minhas partes baixas pegavam fogo, doloridas. Acordei doido, a madame socava meu ventre sem piedade, acertando os ovos. Agarrei a mão da doida, ela estava sonâmbula, Ficou toda sem jeito ao se flagrar. Eu ardia em dor, mas por a mão assim na frente dela ia fica chato.
_ Eu estava sonhando... parecia que meu marido me agarrava e queria à força, então comecei a bater em suas costas e ai...
Puxa vida, que sonho esquisito, e olha o lugar pra bater.
Perguntei se o marido dela erra agressivo.
_ Comigo nunca, Deus do céu, se eu me queixar do Severino to fazendo pecado mortal. O homem é um doce, cuida de mim como nunca. Foi só imaginação.
Lasquei “e você gosta dele?”
_ Mas claro! Qual homem que me dá tudo o que o Severino dá? Um vidão como a gente tem, isso é amor de verdade.
Ai eu percebi que minha batalha era em vão. O tal Severino devia ser o dono do pedaço, e que pedaço, caramba.
Depois do ocorrido, mantivemos uma conversa animada sobre várias coisas. De vez em quando a velha atrapalhava pedindo o nome das cidades, em que parte do Estado a gente estava, quanto faltava; uma chateação só.
_ Falta 1.500 quilômetros, mãezinha....
Ela adorava um bom papo. Contou-me sobre as fazendas, os tratores, as máquinas de plantar, a colheitadeiras, os caminhões, o preço da soja, do milho, do sorgo, da arroba do boi. Entendia muito. Eu como “futuro fazendeiro” devia manter interesse, mas meu interesse pairava sobre as curvas das coxas e o decote, com um par de seios lindos de morrer. Há que inveja do Severino.
De tudo o que ela me contou, uma estorinha me deixou mais convencido que aquela dona era pólvora. Ela contou que seu Severino era homem respeitado na região, bom homem, mas que não levava desaforo pra casa. Qualquer ensebadinho desistia logo de brincadeiras; a coisa era tratada na bala.
_ Graças a Deus que tem homens como o Senhor, que não vem com sem vergonhice com gente séria como eu. O meu Severino já botou muito nego sete palmos abaixo da terra.
Graças a Deus!
Mantive minha conversa mais reservada, procurando não insinuar nada. À noite, quando jantamos, fui direto para o pastel. Ela bem que me procurou, mas dei um jeito pra ficar as escondidas, queria fica seguro, vai que ela me cobrasse o almoço. Naquela dureza, entrei direto no ônibus. Ela chegou um pouco depois, quando ajudei a velha, reclamando de tantas paradas, e pedindo quanto faltava. Tudo respondido com a maior suavidade, embora minha vontade fosse jogar a dita cuja embaixo dos pneus.
A noite foi tranqüila, todos dormiram, menos eu. Eu tinha esperanças de que a dona, num lapso de amor, me desse uma berradinha. Que nada, a bichinha dormiu como uma pedra. Lá pela madruga capotei. Acordei o ônibus varava o Mato Grosso do Sul; mais doze horas e chegaríamos. Mais doze horas daquele perfume.
_ Vai tomar café?
Apontando para mim um tablete de Diamante Negro, o qual degustei com vontade. Sem muita cerimônia perguntou:
_ Ta doendo muito?
Fiquei sem graça, dizendo que não tinha sido nada, que nem tinha doido, aquelas desculpas para sair da sinuca.
_ Não preciso ficar vermelho, eu sei que você preferia um toque mais carinhoso, mas infelizmente... sabe!
Fiquei boquiaberto. Não sabia se a dona tava me cantando ou gozando da minha cara. Era uma cilada perigosa, cobra cega, melhor fica à distância.
O resto da viagem foi sem grandes novidades. Fiquei o tempo todo no pastel, e dando uma desculpa atrás da outra para não pagar o almoço pra moça. Eu sabia que ela tinha sacado minha descompostura, mas não amarelei, mantive a posse, meio daquele jeito sabe!
Faltando alguns quilômetros para nossa chegada, a velha, que parecia meio morta, me chamou para um aparte e no pé do ouvido falou:
_ Cuidado com o Severino, é o Diabo de ruim!
O desembarque era feito em duas paradas, uma no início da cidade e a outra no Terminal Rodoviário. Ela desembarcou primeiro, me deu a mão desejando-me boa sorte na compra das terras, e a velha desejou que eu não encontrasse o Severino. Sorri amarelo e desejei o mesmo para as duas.
Em menos de dez minutos estávamos no Terminal. Eu tinha pedido para um amigo chamado Cleber, conhecido de longa da para me esperar, iria pousar em sua casa. Quando botei o pé no chão o velhaco, estava nas minhas costas, e pregou o grito.
_ E ai seu veado!
Ele vinha com aquele jeito só dele de andar, parecendo uma pata. Com ele estava um Senhor aparentando meia idade, perto dos cinqüenta. O Cleber na euforia de nosso reencontro, tantas vezes retardado por falta de condições, nem sequer me apresentou o sujeito. Eu tomei a iniciativa e dei a mão: “ Juvenal”.
_ Prazer, Silveira.
Era uma raquete aquela mão. Arrepiei só de ver, parecia aço. Fomos diretos para uma mesa; o Cleber não tinha jeito, descia uma cerveja que só. Sentamos e foi logo pedindo.
_ Manda uma Skol e três copos, rapidinho.
O Silveira era uma pedra. Vez que outra esboçava um risinho tímido.Sempre sisudo. Com uns tragos na cabeça a conversa foi fluindo, as idéias crescendo e inevitavelmente começamos a falar das mulheres. O Cleber lembrou de todas que a gente papava quando eu estava em Primavera, sim porque já morei lá, você bem lembra. Pois é todas, já tinha casado, noivado, separado, dado, enfim eram vedetes na cidade. E o Cleber ainda naquela de pútia. Por uma infelicidade, resolvi conta uma vantagezinha, coisa de homem, inocente, só pra esquentar a estória. E comecei:
“ Pois cara, na viagem conheci um avião, sarada. A mulher disse que era casada, mas não acreditei. Bonitona pra caramba. E olha, caiu na minha. A viajem a mulher dando sopa. Eu naquela de dureza, sabe como é, mulher eu levo no laço. Mas lá pela madruga não deu outra, a menina começou a massagear o bicho de um jeito que acabei na mão dela”.
_ Na mão, punheta mesmo? Ta brincando! Jura?
Eu só confirmava. De vez em quando olhava para nosso companheiro que parecia indiferente. Devia sacar que a coisa não foi assim. Mas impulsionado pelo bobão do Cleber, acrescentei que a sacana queria de todo jeito sentar no meu colo. Parecia louca, quando eu gozava, ela dava um jeito de me ouriça. Até tinha ficado com medo de alguém enxergar aquela sacanagem toda, mas fiz tudo na maior discrição, sem que ninguém percebesse.
_ Era sua colega de banco?
Quando eu ia confirmar, por sorte de todos os Santos, ouvi uma voz familiar:
_ Oi querido! Que bom te encontrar aqui. Que surpresa o moço que viajou comigo!
Era a Deocádia, tinha procurado o marido, Severino Silveira por toda a cidade, e não encontrando resolveu ir até a rodoviária ao seu encontro.
_ Fiquei na primeira parada, e você aqui? – sorriu.
Ninguém de nós sorria. Minha resposta era minha vida. A pergunta estava no ar. “ Não, uma outra do banco da frente”.



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