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Poesias-->BIOGRAFIA -- 03/08/2003 - 18:45 (MARIA PETRONILHO) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Maria de Lurdes Gouveia Petronilho Azinheiro



nasce em Lisboa, em 1952. Cresce e mora em Almada, cidade em frente a Lisboa, na foz do Tejo.







Mulher. Nasci mulher,

e meu pai não me pôde afogar.

Berrei - e foi só a primeira pedra

na calçada da desobediência.

Criei-me à deriva, sem freio no sonho.

Prendiam-me, e era solta

Soltavam-me, e era mansa pomba.

Por caridade

passei fome, ao desleixo,

de casa em casa,

- e tanta fartura esbanjada!,

mas não há quem me queira , criança

a pedir tendo tanto, a penar tendo nada....

Criei-me, criada da criada

que "trouxeram para mim"....



Não importa!

"sou uma princesa encantada,

vou pra longe..."

dia após dia aguardava

mas ninguém que me resgatava, mas

nem pai, nem príncipe, nem fada!



Fiz-me mulher, sempre odiada.

Fui tambor da festa.

Arraial de pancada numa casa

que parecia tudo, menos o que era:

Uns a discutir com os outros.

Eu a servir todos

aliviando-lhes os braças do trabalho

e a raiva, de pancada.



Pior, eu ousava pensar

E era revolucionária.

Olhava o horror e o negava.

Dentro de mim o nojo enjoava.



A besta de carga arrepiou caminho:

Estudar... ai, não posso!

Preciso um emprego, se quero sair viva daqui!



Abri a porta da coragem e falei!



Abri a porta da gaiola de doidos

e abalei sem nada.



- nada! - má memória!



"Uma mulher que pensa não presta!

"um homem sem riqueza não vale nada"

- pois foi com o mais odiado por meu pai

que eu casei!



Ele fez de mim besta, com cornos e de carga.

Sofri e calei até dizer - BASTA!



Com uma filha pela mão ia caminhando

e todas as maleitas me iam seguindo

até cair, de exausta.



Com todas as forças me reergui.



A filha criada na sua vida instalei.



É pecado uma mulher amar, bem sei,

mas eu quis e foi, sim!

E amei, e amei

Até se descobrir que vivia uma farsa!



Meu pai morreu e fui eu que o enterrei

Meu pai deserdou-me e eu fiz as honras da deserança.



Pena

que não me tenha

deserdado

das sovas e maus tratos que passei!



Às escuras me alumiei.

No inverno vou na sombra.

No verão suporto o sol.

Curtem-me a vida todas dores

de sal, de solidão

de silêncio, da insolência dos outros

das forças que me faltam

do tostão amargo

do sacrifício vão.



Mas tenho uma estrela cá dentro

que ninguém há-de apagar!

Mas tenho uns nervos de aço

que ninguém há-de torcer!

Mas tenho uma coragem de ouro

que me vem a acompanhar

- e é esse o meu tesouro,

que ninguém pode roubar,

que as intempéries não mudam,

que está infiltrado em meu sangue

ninguém mo pode tirar

mesmo morta, quando o sangue coalhar!

E tenho uma estrela por vela!

E tenho um alto sonhar,

de que mais vale pobre e honrada

que ter tanto e nada dar!



Fiz rimas com a minha vida:

que as venham buscar as ondas,

que eu já não posso ir ao mar.

Que as façam arder na pira

onde me hão-de queimar.

Que as cerrem no meu caixão

Para ter enfim companhia

que tanto lutei sozinha

e ninguém me dá valor!



1999







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