N O T U R N O
Eu sorvo a noite, gota a gota,
com luas candeiando o meu
banquete insono e estrelas
piscando distraídas para
o meu leito insone...
As horas da madrugada,
não as sinto, minuto a minuto
eu as consumo, fico de porre!
Tento transformar a lentidão
do relógio dependurado, mudo...
Cesso os passos, reabro-me
no silencio, a noite em claro,
o meu sono devorado esvai-se
acorrentado pela insônia.
Minguam-se as luas,
apagam-se as estrelas,
a janela, ainda, entreaberta,
range ao canto da aurora.
Ao léu, no chão frio, arfam
rabiscos de versos
revelando unicamente os
meus espelhos incendiados.
Ao tudo, ao nada,
nos meus cigarros acesos,
há pontas de desesperos,
que em brasas, sopram
o impossível calor ao meu leito frio.
Entre a sala e o quarto
o silencio da lamina servil
corta e esconde a sonoridade
do que falo, enquanto,
a noite, nua e crua, escorre
lentamente pelo ralo...
Nhca
Jul/03
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