Quando o Mestre abençoava
Os que pediam as curas,
Vinham os anjos do céu
Soar as canções mais puras.
Que belos foram os dias
De tal peregrinação:
Jesus orando co’amor,
Pensando na multidão!
Os apóstolos temiam
Pela própria segurança.;
Mas Jesus volvia aos céus
Olhos cheios de esperança.
Certo dia, um bom menino
Quis nos braços se jogar.
Jesus o aparou sorrindo:
Bem a tempo de o salvar.
Maria, virgem puríssima,
Coração imaculado,
Mantinha sério receio,
Por senti-lo atraiçoado.
As hostes romanas vinham
De longe, trazendo a dor,
Mas os doutores do templo
Eram desgraça pior.
Dentre os amigos do peito,
Discípulos escolhidos,
Um só deixou de estimá-lo,
Tendo vícios escondidos.
Soldados jogaram dados,
Sobre a manta mais sagrada.;
Estava escrito de há muito:
A sorte estava lançada.
Mui raramente se via
Jesus andando sozinho:
Ou trazia algum apóstolo,
Ou algum pequenininho.
Mui caro irmão escrevente,
Tendo gostado do tema,
Prossiga sempre escrevendo:
Este há de ser o seu lema.
Caminhando, certa vez,
Um samaritano o achou.;
Trazia muito dinheiro,
Que de Jesus ocultou.
Tinha medo de sofrer
Bastante séria advertência,
Pois não tinha a que se ater:
Era pobre de experiência.
Jesus o chamou às falas,
Impôs verdade total.;
Agora o nosso andarilho
Luta ainda contra o mal.
Penetras estão presentes,
Querendo participar.;
Será que têm algo bom
Que possam apresentar?
Eis aqui uma quadrinha
De um dos jovens dessa turma.;
Muito acanhado, fugiu:
Em que caverna se enfurna?
Boa linguagem poética
Exige dedicação,
Porque não é coisa à-toa:
Vai fundo no coração.
Vamos ficar satisfeitos,
Quando encontrarmos alguém
Que tenha facilidade,
Já que esta turma não tem.
Quanto gostoso é escrever
Sem ter compromisso certo,
Sem ter quem nos venha ver
O resultado de perto.
Os versos de sete sílabas
São mui fáceis de fazer.;
Entretanto, algo apresentam
Que nos faz estremecer:
Trata-se desta harmonia
Que as rimas fazem nascer.
São versos mui perigosos,
Pois brotam mui facilmente.;
Por certo, com perspicácia,
Vão enredando esta gente.
Os que chegaram depois
Procuraram escrever,
Usando muita saliva,
P’ra este amigo convencer.
Entretanto, cá estaremos
Pelejando como anão,
Que, p’ra galgar as alturas,
Fica mais longe do chão.
A bela quadra anterior
Trouxe-nos outro elemento:
É a tal figura poética —
Metáfora — atrevimento.
Não sabemos por que estamos
Hoje tão preocupados:
Talvez seja que estejamos
Com tantos seres ao lado.
— “Que furo n’água!” — diria
Quem, de repente, se visse
Aqui diante da gente:
Era o disse que não disse...
A nossa chance vale ouro,
Para quem não tem sossego:
Além de se ver aceso,
Vai conseguir bom emprego.
Mais um dia que se passa
Sem que tenhamos sucesso.;
Se nossa turma fracassa,
Nosso médium tem progresso...
Que gélida recepção
Eu tive aqui noutro dia:
Pensava vir escrever,
Fiquei em banho-maria!
Conheci uma velhinha,
Doceira de fazer gosto.;
Outro dia faleceu:
Mudou-se para outro posto.
Chegando aqui, prometeu
Que adoçaria o Senhor,
Entretanto, se esqueceu
Que isso se faz com amor.
Precisará, uma outra vez,
Volver ao plano terreno:
Vai aprender a fazer
O bom pão doce fraterno.
Quem sabe, chegando o dia
Da vinda do presidente
Da entidade dos poetas,
Já encontre o médium assente.
Que belos foram os dias
Em que passei sobre a Terra.;
Mereci grande fortuna:
Quem tem Jesus jamais erra.
Já é hora de crescer
Em virtudes, caro irmão.;
Não vá deixar toda a turma
Ficar de chapéu na mão.
É bem raro de se ver
Um esquema semelhante
Desse que o irmão escrevente
Coloca de nós diante.
Promete cumprir, fiel,
Tudo aquilo que acertou.
Haverá de passar mel,
P’ra não negar que apanhou.
Escrevamos mais um pouco,
Até preencher o papel,
Já que estamos bem felizes:
Fica o dedo — vai-se o anel.
Por pouco não rabiscávamos
Um longo traço na linha,
Colocando, ao final dela,
Só um -el de pouca linha.
— Linha com linha, dirão,
“É falta de inspiração!” —
Certamente, assim será,
Mas não nos preocupa, não.
Quem tem recursos mui ricos
Sabe sair-se de tudo,
Até para arrumar rima:
Mas, todavia, contudo...
Não ficaria contente
O caro amigo escrevente
Com apenas uma quadra
Brilhante como o poente?
Mas escrever é preciso,
Para dar prosseguimento
Ao treino de todo dia,
Em bom desenvolvimento.
Aqui estaremos de novo,
P’ra confirmar o ditado,
Segundo o qual é falado:
Muita galinha sem ovo.
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