Nosso Nezinho Cachorro,
Já de saudosa memória,
Reservava em sua história
Uma façanha de Zorro.
Vamos, pois, abrir espaço
Para a nossa explicação
E numa boa versão
Agirmos sem embaraço.
Da rua um pouco afastado
Morava no Junco, a Lagoa,
Dizendo que a vida é boa
Quando se está sossegado.
Para abatê-los na feira,
Ganhando dessa maneira
O sustento dos meninos.
Muitas vezes escasseava
Do seu negócio o produto
E deixando ele o reduto
Para longe se mandava.
Sem pensar em aparição,
Como qualquer nova-seita,
Um dia foi à “Bem-feita”
Para comprar criação.
Um negócio não fechou,
E com a corda vazia,
Regressou sem alegria
Da zona do Gritador.
Embora longe do lar,
Não quis dormir na Bem-feita,
E por isso não aceita
Convite para ficar.
Era já quase noitinha,
O sol sumindo na serra,
E ele contemplava a terra
Pensando em sua casinha.
Finalmente se arrancou
Qual uma sombra na estrada
Que não teria parada
No projeto que traçou.
Mas a sorte é imprevisível
E mais tarde ele escutou
Grito agudo que ecoou
Sem motivo algum visível.
Do fantasma Gritador
Lembrou-se muito assustado,
E como havia parado,
Correu tomado de horror.
O eco também vibrava
Aumentando a repetência
Num atentado à existência
De Nezinho que voava...
Sem suportar a agonia,
Numa fazenda avistou
Um rebanho e se deitou
No meio da vacaria.
O fantasma então parou
Freando juntinho ao gado
E logo disse num brado
O rebanho te salvou!
Nezinho perdeu a cor,
Desmaiou amortecido,
Porque foi enfim vencido
Pelo monstro Gritador.
Raul Pereira Monteiro (80 anos) Alegre e brincalhão. - Alagoano de Santana do Ipanema, radicado na Paraíba. Primeiro em Campina Grande depois em João Pessoa-Pb, onde reside atualmente. Agente Fiscal do Estado da Paraíba. Formado em Ciências Jurídicas. Poeta e escritor, com obras publicadas, inclusive um romance: “Quando a vida era mais doce”. Faz trovas, sonetos e poesias rimadas em geral. Obras: Mosaico Poético (poesia); Imagens do meu Caminho (poesia); Espinhos na Estrada (estórias diversas em prosa); Lembranças ( histórias do passado). No prelo: Nunca mais e Arengas Mesquinhas.