Há dias em que o coração migra para lugares que os passos da mente querem ignorar. Imagens que subvertem a razão, onde as lembranças preenchem os álbuns do presente. Recordações que enfeitam teimosamente as paredes do coração, lembrando-nos de sorrisos que dividiam insinuações e olhares que emolduravam carícias insones.
Não adianta qualquer protesto veemente, quando tua fotografia deita-se sobre meus pensamentos. Minhas recusas à tua presença, são recheadas de consentimentos e permissibilidades. Impossível esquecer os segredos que bebi dos lábios teus e da tua cumplicidade ao provar do gosto dos meus mistérios. Transitaste nos meus recintos sagrados, onde até meus passos guiavam-se incertos e titubeantes. Andei por teus espelhos, onde guardavas tuas imagens e vontades intocáveis. Folheava-te nas páginas propositadamente em branco que deste ao mundo, preenchendo-as com as minhas marcas de amor. Fizeste-me conhecer o significado real de palavras que até então, eram apenas letras vagas no universo das minhas emoções. Gostava de brincar com as tuas reticências e te surpreender com o que intuía delas. Desmanchava as nuvens negras preguiçosas da tua vida, fazendo brotar sorrisos que teus lábios desconheciam. Defloraste minha alma, inundando-a com a linguagem da felicidade.
Debruço-me sob todos os antes que refratam nossos momentos. Tuas lembranças vagueiam, e é ainda em ti, onde meu coração refestela-se, guardando-te em vidas porvir. Não sei se o tempo pode apagar o que restou ou se a paleta do destino esculpe perpendiculares com nossos nomes. Sei que continuo a adormecer para te encontrar...talvez, um dia consiga juntar os pedaços de saudades que espalhaste, quando deixaste teus sonhos agonizarem, semicerrando os olhos dos meus, numa letargia profunda.
Em algum lugar deste mundo estás, talvez a reviver teus retalhos, no hiato silencioso dos meus vestígios, onde mergulhas para te encontrares.