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Contos-->TRÊS ENSAIOS -- 11/03/2003 - 18:01 (Daniel Cristal) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
AMOR ROTO

Dias atrapalhados, esfarrapados, nos esperam, Amigos! Dias de incerteza, de questionanços, de críticas, de refilanços, de iras verbais e violências genéticas. Dias difíceis, não há dúvida, indecentes e apiolhados, cheios de atentados contra o património cultural e o matrimónio venéreo das herdades e matos situadas entre o umbigo e o ânus!
Por exemplo... que, com Vossa licença, é sempre uma equação a pôr ao dispor: há o amor todo roto. É uma chatice ter o amor roto, rasgado, esfrangalhado, maculado, corrompido, engordorado, amanteigado ou avasilinado, sujo e porco. É sinceramente uma aborrecice!
Há, contudo, amores todos rotos, no decurso de alguns meses de casamento, alguns até na véspera do próprio dia de núpcias
(estilo, ele vai dormir com a prostituta do Cabaré, onde foi festejar com os amigos a despedida de solteiro, e sua noiva vai transar com o último namorado, antes do selo nupcial - ele continuará a caçar uma presa em matos alheios e ela facadará o mesmo enjeitado nos dias de aflição de volubilidade carente...
não é peta não, é resultado de cometimentos confirmados, vividos há vinte e sete anos, quando se punham cravos nas espingardas encravadas deste Portugal das albardas e dos pequeninos!),
outros aos três anos de provações e provamentos inglórios para vingar relações aleijadas, desajeitadas, as mais esporíferas, outros aos cinco, aos sete, aos treze. São estes os anos mais críticos, segundo as estatísticas... as mais credísticas!
O amor roto é uma espécie de amor esfarrapado, roto porque rompeu, corrompeu, dilacerou, bodegou. Às vezes, vai-se à taberna ou ao bar da esquina, e vem-se de lá enodoado, emporcalhado, empestado de odores víneos, aguardentes fortes embriagantes, entesantes, de cheiros emerdados pela sorrapa foliginosa, levando seus gourmandes gourmetes à bebedeira orgíaca, ao bacanal regenerador, terminado num banho megapurificador, no fim bem esfregado de perfume, rejuvenescedor!
Às tantas por tantas, largais os farrapos emporcalhados, desrespeitados, insultados, enganados, farrapos quantas vezes corneados com coqueiros de sete metros em qualquer arena pornográfica de volubilidade carente. Pois claro, despi-vos, evidentemente, deitai-os fora, ao lixo residual, pois foram ondas da luxúria, da ternura e do fornicanço malcriado. Da foda fornicada no traseiro do automóvel estofado e acolchoado, no elevador intencionalmente bloqueado para sexo tigrino, felino, no resguardo de um arbusto frondoso, glandular... um arbusto parecido com a floresta do mato grosso, igual ao monte de vénus,
tronco de arbusto entre dois tomates caprichosos cheios de óleo de coco, sugerido por um cacho especial tão só com um par de bagos beirões de quilhão de galo
(como Baco deu energia vital a estes bagos, para que atraíssem as bacantes aos jardins luxuriantes, tendo em vista o bacanal dos esfarrapados heróis da Ilha dos Amores!
Fazendo uso e recolhendo o respectivo usufruto de amores erotizados pela dor,
rotos à partida e à chegada, oferecidos de bandeja aos barões e marinheiros antepassados, assinalados!
Naqueles bosques da Ilha dos Amores, aquilo é que foi fornicar para amansar a raiva e a ira desses guerreiros lusos marinheiros de água doce, uma recompensa justa e amalucada por terem ido ganhar a vida para outro lado, que a Pátria nunca ofereceu condições necessárias a uma existência digna e satisfatória.
Uma certa gula à mistura, que cá morria-se de fome e frio...
As esposas dos heróis ficaram chorosas no jardim beijando as ondas, mas desforraram-se por cá conforme puderam com a escumalha que não conseguiu partir por deficiências congénitas) .
Mas não foi só nessa Ilha nem nesse tempo de glória nacional que se amou esfarrapadamente em Portugal. Também se fornicou e fornica agora para matar desejos insatisfeitos, fantasias de mamadas coneiformes e cunilingas e sodomias camorrais; comunais, colossais, camonianas e outras que tais, como as sacristinas e as sacripantas!
Para matar, dizia eu, desejos irrequietos debaixo das ramadas de videiras, debaixo das pequenas figueiras, nos motéis e pensões manhosas, onde se apanha uma camada de chatos com a mesma facilidade com que se vai dar de beber à dor ou beber água à fonte mais vizinha com a mão em forma de concha, e chupando os dedos no final da saciação. Mata-se assim o desejo que morde o coração e endireita o que está torto na bigorna entrepernas e nas catacumbas da forja encefálica. Amansa, anula, acalma os nervos e a ânsia. Desfaz por uns tempos as neuroses, as depressões.
É tão bom, ser feliz por uma semana! Descomprime a interpercussão e a intrapulsão sexual, tal qual uma melodia dos clássicos compositores, executada por orquestras de luxo, de cinco estrelas, quase dez. Aquela lubrifica, novifica, tonifica mais do que esta, esta apenas entretém, retarda, mas não resolve. Melhora o Ego, repõe o amor-próprio e a auto-estima. É como ter uma prima pronta, prontificada a ser arrimada, e se lhe arrima a cartucheira intrapercutida, alvejada por mútuo prazer gordoroso e por gozo destabuado... destabuado, desenraizado da tábua ou da tabuada, mas enraizado no freudiano tabu enriquecedor de profissionais da moderníssima geração da psicanálise desbragada, que não resolve nada, a não ser que o psicanalista faça de touro macho prostituto pago com nota falsa.
Porque o que as esfarrapadas querem é quem lhes explique com a vassoura de piaçaba e todo o resto, na prática da marquesa, como é que se pode subir às nuvens sem o esforço de escalar antes até aos infernos. Que Freud não disse tudo, nem Mélanie Klein, nem Lacan, estamos mesmo a ver a cena do ceguinho que tudo vê com óculos escuros, mas trapaceiros olhos sãos!
Dizia eu, todavia, que nunca me perdi; dizia desta arte: o amor roto tem de ser assumido! Aos vinte e tal, trinta e tal, quarenta e tal anos. Até aos cinquenta e aos sessenta. Depois dos setenta, cuidado, o velho apenas se tenta, e é nessa altura que vale a pena pensar duas ou muitas mais vezes, porque é capaz de haver outra espécie de emporcalhamento no amor a estragar todo e qualquer ambiente saudável do amor pornossexual! Decerto já não estará mais roto não, mas mostrar-se-á mais gasto e esmorecido, salvos o meu e o teu, certamente, que somos duas excepção à regra dos machos coçados! Nessa ocasião já não há mais amor roto não, livrem-se os velhos dessa maldição, que há outrossim o amor indecentemente anulado pela retrocriação!
Quando só vinga o refilanço e o azedume, o despique sem respeito, a recusa sexual por causa da enxaqueca habitual, meu Amigo, manda o amor às urtigas ou às lombrigas intestinais! Não há amor, então, não há mais, que ele todo acabou. Não vale a pena qualquer vento intestinal ou convite de visita de suporte no intercurso e no entracurso, não há qualquer música celestial de recurso que mais emerda... deita fora a oferta ou a prenda envenenadas, parte para outra... tenta, que nunca ficas mal. Nem que seja à terceira, à sexta vez... se puderes multiplica as vezes pela soma centesimal. É melhor que penar, viver aos caídos, arrastar chatice, engolir sapos de peçonha, percorrer cruzes em ninhos de víboras, lamentar penas de abismos obscuros, imaturos, impuros... Benditos os caturros! As caturras também, que não pode haver discriminação intersexual, sob pena de sermos apelidados de sectários fascistas machos latinos apenas apreciados pelas nórdicas.
Se a conclusão é: meu amor é roto, está roto, não te vale a pena insistir, vale é partir. Observar, atrair, seduzir, abrir o coração e tentar. A começar mesmo que seja dentro duma banheira, dum saco cama, numa cozinha apimentada e azeitada, oleada, dentro dos fornos de cozer o pão, no vão duma escada com cheiro a rato e a ratazana, no iate ondulante do amigo ou do vizinho, no traseiro quebra-ossos do Cadillac, no fundo em qualquer traseiro fofo, mesmo no enferrujado (não te esqueças que na bigorna bate-se o aleijão), na rulote ondulante, nas profundezas do oceano (evidente, debaixo de água), no motel de toda a fornicação e corneação, avulsas desesperadas, ou na pensão do chato e do pulgão, em todos esses e estes locais paradisíacos, luxuriantes, sado-masoquistas, luxuriosos, incluindo os manhosos, todos eles destinados à cura da depressão pela satisfação do tesão! Afinal, são todos os que a Psicanálise prostituída já não resolve por todas as razões inferidas deste mordaz veneno conclusivo, corrosivo...
E continua, Amigo, continua a tentar. Às vezes tem-se sorte como na lotaria, como quem não quer a coisa encontra-se nos quintos e sextos finais da vida, a alma gémea, a cara metade, o grande amor de toda uma vida, e se isso acontecer, sê mesmo maroto, agarra mesmo a oportunidade caída do céu; cinco anos na loucura, nos céus sonhados e ansiados, do verdadeiro e retinto amor, valem por cinquenta de vida dura, putativa (na realidade sem qualquer seriedade), dessintonizada, emporcalhada, enxovalhada, em suma, percutida na vida impura esfregada em banhos do mais rigoroso e autenticado amor roto!

2002-Janeiro
(Ensaio satírico ao Amor moderníssimo)

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A HOMENAGEM QUE FALTAVA CELEBRAR

Eu tenho, ainda mais funda que nos interstícios da minha memória de afectos, uma teoria: lá dizia o meu amigo José Cardoso Pires, a arte-escrita é a arte da corrupção! A função da Literatura é corromper o status quo! Isto assim dito, choca muitos bons puritanos, puritanistas, letrados canonizados, psitacídeos rendilhados e coloridos, mineiros soberbos, enraivecidos de fome de génio, atrasados mentais de coração martelítico, soberbos, arrogantes, sobranceiros, sacripantas, os instalados na Cultura oficial ou numa outra qualquer a que se arrogam com direito ao qual não se entende nem se vê porquê. Eu avanço com mais algum pormenor: a poesia, além de corruptora de estatutos é um exercício de permanente transgressão de normas e cânones comportamentais perante gostos e ideologias dominantes, mediatizado pela linguagem (sobretudo porque é esta que revela) e por uma estética nova a que a matéria significante se submete. Porque o que a narrativa tem a mais na sua quantidade de verbo, tem a poesia na sua contrita qualidade de compulsão redutora, de concisão, de sobriedade, da contenção!
O José tinha razão! não precisava de fumar todas aquelas balas de carabina mata-ratos, essas que lhe taparam as artérias e veias encefálicas; ele sabia, pelos calos do ofício criativo e pela prática na esteira da banca de trabalho, do que falava!
Sabia-o também muito menos do que foi enunciado, pela beberricação e provação constantes nas adegas dos vinhos velhos e nas capelinhas dos aficionados, divagando e devaneando no compasso das rondas festivas de porta em porta entre amigos, ou em solidões mata-tempos com olhos de eterno enamorado, traduzidas nos passeios pelas secantes das ruelas lisboetas, nas tabernas do Bairro Alto, de Alfama e da Mouraria (e noutras perscrutando o Tejo feito novelo de todas as miragens alegóricas e de toda a imaginação do nosso inconsciente colectivo), nos tascos caseiros onde o bom velho vinho báquico bairradino afoga amarguras e angústias , nas esplanadas dos Cafés bem expostos nos cantos onde o velho Grão Vasco amansa apetites guerrilheiros , nos restaurantes típicos duma cidade alfacinha onde os velhíssimos cheiros e sabores das Duas Quintas do Douro sulcacoso relaxa nas provas petisqueiras das rodelas de chouriço, salpicão e presunto, esses fumeiros curtidos nos invernos gelados dos nossos montes pedregosos e calosos, ou o refrescante Alvarinho puro de muitas Inesas negras estapafúrdias, ampara na degustação uma boa dúzia de camarões da Costa Verde (que não há marisco que a este se lhe iguale!) ou trincas de leitão da Mealhada ou cubos de vitela barrosã, charolesa, arouquense, mirandesa, ou churrascos de porco bísaro criado na lavoura, ou ainda costelitas de cabrito cinfanense, duriense, simplesmente nortenho.
Por conseguinte, amigos, a essa corrupção bacante e à constante transgressão da norma significante (do verbo, do sintagma), criação inspirada numa estética madura de metamorfose genial, quem consegue apreciá-la e achá-la gostosa e render-lhe homenagem?
Porventura, simples e unicamente conseguirá apreciá-las quem for borboleta-mariposa ou girino, agente ou apreciador passivo na aferição da sempre futurarte, numa apreciação que é um ressurgimento periódico, nela reciclando compulsivamente o casulo girino larvar e gerador, e conseguindo por prazer ou exercício apaixonado, igualar a metamorfose!...
Os génios, regra geral, morrem na miséria decadente quando nada herdam de jeito para toda a vida!
Só Rimbaud fugiu à regra, perdão: não foi unicamente este, são mais uns dois ou três! Parece que Rimbaud sabia de mais, só ele soube como cumprir o destino da genialidade, ou não soube?!
Mas para a caracterização desta raça de mestres geniais, o dinheiro, os bens materiais, o desafogo económico andam-lhes arredados; estes acessórios estão fora dos seus objectivos e das suas ambições. Prefeririam antes, isso sim, o reconhecimento em vida, provindo da inteligência do homo-sapiens, para que este demonstrasse pela justa aferição a prova imparcial de que era mesmo sapiente! Mas, não é, não, é só garganta, pio de mocho, arroto de carapau e peneirice!
Contudo, o génio só é reconhecido na área científica, depois do reino da Inquisição, e em muitos raras especímenes do género humano lhe é reconhecido ou desvendado pelos pares do mundo artístico da mesma época, muito menos pelos críticos oficiais (os mangas-de-alpaca do conservador porreirismo nacional).
Foi o que aconteceu a Camões, a Pessoa, a Leonardo da Vinci, a Van Gogh, a Charles Baudelaire e Verlaine, a Oscar Wilde, a Shakespeare, a Cervantes... A todos os que transformaram o Mundo, seguindo a utopia do melhor e mais adequado para a época vindoura, ao se metamorfosearem e transcenderem, conseguindo somar mais muito mais para o imaginário colectivo do que aqueles que apenas o aformosearam e mimetaram, o seduziram pelos rendilhados da moda mais gira e mais catita, ou exerceram influência pelas rosas colhidas no permanente jardim das lisonjas e das habilidades executivas espelhadas nas boas prendas que sabem que vão agradar à partida seja ele qual for o destinatário a quem as vão oferecer!
O exemplo mais típico, mais flagrante e denunciador da Cultura oficial-versus-futurarte é Amadeus Mozart: sedutor na Arte, Mestre dos mestres musicólogos, tão encantador nesta quanto na sua vida privada, perseguido foi pelo seu mais fiel admirador do seu tempo e espaço cortesão - um italiano palaciano medíocre na Arte da Composição musical, embora um dos seus mais sapientes decifradores; este sacripanta que pretensiosa e sobranceiramente se considerava seu rival, pelas frustrações acometidas pelo facto de não ser como ele dotado nem na Arte nem na Vida, e cujo nome nem merece ser mencionado porque não o merecia, invejou-lhe de tal modo o génio que lhe arruinou a existência até à sua bem triste e prematura morte. É assim o mundo, assim a vida, assim a sociedade, e o terceiro milénio é bem capaz de ser igual ao segundo!
Mas se todo o panorama atrás citado é decepcionante, confrangedor, o mesmo se pode passar entre os pares na genialidade compartilhada. Os póprios génios manifestam irritações violentas, desafectos, repulsões, uns com os outros! O caso de Van Gogh e Paul Gaugin é desta asserção um exemplo paradigmático e demonstra a raiva da inveja por não se revelar a mútua estima, tolhida assim a compreensão do génio um pelo outro como deveria e mereceria. Os cortes de relações assumem tantas vezes posições e atitudes radicais: um deles mutilando-se na orelha por exasperação, o outro refugiando-se na solidão e no abandono. Mas a mais objectiva exegese artística e crítica revela que ambos se influenciaram mutuamente, o que significa que ambos se admiravam (um em relação ao outro), se consumiam numa labareda de grande aproximação (interpenetração), emprenhando-se esteticamente numa mútua dádiva e sorvimento de faúlhas geniais.
Todos aqueles que se comprometeram, desse para o que desse, com o rompimento com o passado opressor de liberdades necessárias, auto-condenaram-se ao afastamento e ao retiro, à obstrução dos instalados na barca da arrogância, da soberba, do sobranceirismo e do poder instituído, isto é, à morte prematura, superando a sua condição de mortais tão só na ocasião destinada aos puros criadores, sendo esta a dos tempos post-mortem! Vejam o que aconteceu a Sócrates, Cristo, Galileu, Copérnico, A. José da Silva, Gandhi, Kafka, Luther King, António Quadros e seus geniais heterónimos, ou Sebastião Alba. Uns teriam escolhido a cicuta, outros a fogueira na praça pública, a abjuração mais rastejante, a cruz, o tiro de arma de guerra, a fome, quase todos terminando numa infindável amargura e solidão... Recebendo, numa contrapartida ingrata de todos os seus contemporâneos e conterrâneos a mais vil incompreensão, quase sempre o aviltante desprezo trocista!
Alguns mendigaram pelas ruas, acenderam candeias para encontrarem homens a sério porque os que com eles se cruzavam nas ruas eram imitações gastas dum modo estereotipado na macaquice e no psitacismo. Todos eles perderam nos concursos públicos, cujos júris se deixam atrair pelo artefacto de rendilhados barrocos, e distinguem por espantos mórbidos os ultra-romantismos, gongorismos bacocos, deleites de frustrações, de agonias desempáticas, de desafectos enraivecidos pela soberba e convencimentos pessoais enviesadamente despropositados nos seus umbigos formosos, vaidosos e lúbricos. Enfim, êxtases, orgasmos por visões sonhadoras, virtuais, de solidões doloridas assim compensadas pela instrumentalização de dedos cremosos engordurados por óleos de palma, de amêndoa ou cremes de rosas bem cheirosas!
A cultura oficial normal do Estado Funcionário-mor (melhor, dos anormais porque a normalidade é picar o boi para que este puxe carroça) sempre arredou os génios do seu convívio temporal e espacial, sempre impediu que brilhassem, que fossem considerados pela Inteligência, pela Arte, pela Ideologia... é a raiva da inveja que trepa pelas paredes dos lupanares, dos espectáculos oficiais, das cerimónias estatais, das sessões de reconhecimento público consagrado nas noites de gala, na pompa da circunstância! Todos os que vieram estragar a vida dos deuses da ribalta, concebidos na concessão, que espera retribuição certa, garantida à sujeição ao poder oficial, são amaldiçoados, arredados pela ocultação, pelo impedimento, pela oclusão dos pares, e pela danação, ou pela proscrição e maldição dos crentes!

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A ORIGEM DO MUNDO

1

A mais enigmática questão que se coloca insistentemente desde sempre ao Homem, é a da origem do Mundo. Sabemos que o Mundo no início foi uma matéria em faseada formação do informe, do chamado caótico, gaseiforme, até ao material estado universal, tal como o vemos hoje, ainda em constante evolução.
Como teve um início, poderá também ter um fim. Se início e fim significarem alguma coisa, porque podem não significar absolutamente nada numa outra dimensão, que não descortinamos materialmente, dada a nossa condição de simples espectadores das coisas visíveis, sensíveis às unidades de medição material e temporal, mas insensíveis ao enigma e a todas as dimensões, estas que só nos são reveladas por sinais relacionáveis ao nível do intelecto e da abstracção. Repito: como teve um início poderá ter um fim. Um fim nesta e desta forma. Pode continuar noutra forma e noutra matéria com novas combinações, outras constituições, revelando novas características... Desde a mais rudimentar forma de vida até aos dias de hoje, decorreram milhões de anos. Nunca conseguiremos determiná-los com precisão.
Mas o que com certeza houve, foi uma forma imaterial que se tornou matéria pelas mais enigmáticas combinações químicas e físicas. É essa forma, a que chamo informe porque potencial, genésica, a origem do Mundo. Era o Nada que é Tudo, não pretendendo plagiar Fernando Pessoa, porque este penetra na doutrina original do ocultismo, do ecletismo, do rozacruzismo. E é, exactamente este estado que tem a leveza do insustentável, porque a nossa mente a não alcança pelo raciocínio lógico dedutivo, mas só por indução. Ou antes, alcança-a pela abstracção, arriscando-se a ser falível. É a abstracção absoluta que nos leva a decifrar os mistérios, os sinais ou os enigmas. O que nos leva a considerar que há dois tipos de abstracção: a matemática e a filosófica. Uma que se dá ao nível das coisas pesáveis e medíveis, levando o Homem a equacionar, a esquematizar e a sistematizar o Universo, a outra que nos leva a vê-lo numa interpretação dos sinais que Ele não esconde totalmente. Em ambos os casos com algum grau de falibilidade, uma falibilidade relativa porque em periódica reformulação e precisão.
A forma absoluta é, desta arte, uma abstracção também absoluta, normalmente rejeitada pelos materialistas, habituadas à dedução lógica da matéria visível, pesável, tacteável, palpável, gustativa, cheirosa.
Quando se diz que o Homem é feito à imagem e semelhança de Deus, é o contrário que, no fundo, se pretende dizer, embora não seja isso que nos é ensinado. Deus é feito, isso sim, pelo contrário, à nossa imagem e semelhança. Deus tem os nossos atributos nas máximas potencialidades. Partimos do conhecido para o desconhecido, e só esse percurso nos autoriza a compreender o Mundo que nos envolve.

2

O problema põe-se, exactamente, neste estado. O Homem não compreende como é que a Forma se transforma em Matéria. Subindo mais um nível de inteligência e compreensão, é difícil de atingir o processo que leva a Matéria, depois de criada, a buscar a forma original e potencial. Por isso somos conduzidos a dizer que a Forma é a Abstracção absoluta da Perfeição. E o que consigo induzir é que a Matéria ao aperfeiçoar-se vai ao encontro da Forma que lhe deu Origem. É nesta evolução subjacente que podemos concluir que a Matéria e Forma atingirão não sei em quantos mais milhões de anos a união total, isto é a Perfeição, se, entretanto, o Homem não destruir o Planeta, nesta loucura de poluição generalizada, de esgotamento da pureza original, de desrespeito sacrílego e dos atentados cegos ao ambiente, em suma : à ecologia. A consciência global desta febre de destruição está viva, e protesta progressivamente cada vez com mais força e determinação. Acrescente-se que o Sol vai arrefecendo, no seu percurso para a extinção, e a não ser que o Homem mude para outro planeta, também este se há-de extinguir como consequência do seu estado a consumir-se na duração extinguível da matéria.
Só há uma saída, tão forte como a esperança. É que se os homens têm vindo a corrigir aos seus erros, as suas loucuras, quando se põe em questão a sua sobrevivência, unindo-se e determinando medidas coercivas e penais contra o crime com o intuito de reparar os males, e isso quer dizer, e oxalá não me engane, que quando estiver em risco a sua permanência na Terra por não haver a fonte de vida (o Sol), eles terão atingido já a capacidade de se libertar e mudar para outro planeta, noutro estado civilizacional muito mais avançado, o qual muito pouco terá a ver com o que estamos vivendo hodiernamente.

3

Será, no entanto, ainda uma incógnita de difícil concepção, imaginar um mundo muito certinho, totalmente bem organizado, bem estruturado, onde todos são felizes, cumpridores, meticulosos, todos bem acertados uns com os outros, todos iguais. Alcança-se esse estado pela razão, pela emoção, mas na realidade como é possível realizar a utopia perfeita? Que Forma é possível na utopia perfeita? Que Matéria é possível concretizar, e estar modelada definitivamente na Forma perfeita? No fundo, instintivamente, é por esta Perfeição que a Humanidade luta desde sempre contra os diabretes que a impedem de se tornar possível. Quais diabretes? Os ávidos de poder que não se socorrem da sabedoria para ocupar os lugares que não lhes são devidos. Os poderosos contêm normal e sistematicamente as piores características espirituais do ser humano, ainda imbuídos pela decadente natureza primitiva. O mais difícil vai, de facto, ser o aperfeiçoamento da cultura instituída na humanidade com a fachada actualmente em vigor, essa que em vez de unir, espelha, espalha e expande, ao invés do sentido desejável, um clima de suspeita, egoísmo, e decepção, propício à feitura da guerra entre consciências rivais. Uma guerra que pode traduzir-se em ameaça, ultimato, humilhação, atentado, crime, retaliação ou luta armada.
A guerra é o pior inimigo, é a pornografia moderníssima mais obscena e abjecta afrontando o espírito esclarecido deste início do milénio, e só quando houver paz geral é que o homem terá dado um salto qualitativo na sua civilização, ficando então outros problemas de menor expressão racional e sentimental por resolver, mas que se resolverão certamente até que haja uma harmonia universal digna do homo-sapiens, só nessa altura homem-sabedor. Na essência moral o homem ainda não mudou muito desde o Cro-Magnon, diria até que ainda não mudou absolutamente nada, porque temos a ideia falsa de que as Religiões e as Civilizações o mudaram efectivamente muito. Mas é tudo ilusório, as aparências e os melhoramentos técnicos e tecnológicos é que têm evoluído, criando a impressão desmesurada de que em certos ambientes terrenos se vive no paraíso do desafogo. O acto terrorista de 11 de Novembro perpetrado sobre a mais cosmopolita das cidades mundiais, serve de fundamento ao aqui ensaiado.


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©ArmandoFigueiredo
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