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Cronicas-->Solidão no meio de gente -- 05/12/2002 - 12:34 (ligia mello) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


... duas mil setecentas e oitenta e quatro pessoas e a gente às vezes se sente sozinho no meio de tudo isso de gente, por que será?

Um estádio de futebol, final do campeonato carioca no Maracanã, Flamengo e Vasco... são 80 mil pessoas se acotovelando, se espremendo em um espaço onde mal caberiam 60 mil. Estou entre eles, loucos, viciados pelo ópio que os faz esquecer as amarguras da fome, da miséria. Vim aqui em busca desse vício que disfarça as mágoas, que deixa do lado de fora os problemas. Quero esquecer a ausência de sentimentos.

Serão 90 minutos de euforia, mágica e ilusória, de um sentimento pulsante por alguém que vai te amar sempre. O time. Me acomodo entre estranhos, que se julgam irmãos, por uma união inexistente, são companheiros, dividem a mesma agonia de ver seu time jogar. Observo aquele estádio imenso lotado, e me sinto só, completamente sozinha, essa ausência de sentimentos, essa sobriedade de emoções ainda vai me enlouquecer.

Meu coração pulsa, acelera, a emoção é visível, mas será que para se sentir amada, pulsante, precisarei viver dentro de um campo de futebol, cheio de pessoas estranhas, onde as pessoas amam o que não lhes pertence? Rostos aflitos, gestos forçados, e uma sensação de que o momento de partir é esse, mas fico. A solidão aqui é maior, ela se reflete no grito contido de gol, na palavra dita ao vento por que ninguém está ali para ouvi-la.

Solidão é assim, ausência de sentimentos. Se você ama, sofre, odeia... não está sozinho, o sentimento lhe acompanha. Esse vazio causado pela ausência de emoções é a perda total da capacidade de viver, de arriscar. É ser capaz de ver o sentimento chegar e lhe fechar a porta de entrada. Deixa-se a pessoa que poderia fazer isso nascer distante, esquecida, é não querer o risco de trocar a solidão por dor, decepção, e como isso pode se deixar ir também a felicidade, o êxtase.

São vozes ecoando um grito compassado de clemência, eles suplicam o carinho esquecido, o amor traído pelas dores do cotidiano. Querem de volta a sensação de não se sentirem sós, abandonados. A solidão tem disso, em determinados momentos ela precisa desesperadamente não se sentir sozinha, e nada melhor de 80 mil desconhecidos, dividindo a mesma mácula de se sentir só, para lhe fazer companhia.

Se sentir só é assim. Um vácuo de não amar, de não sofrer. Uma busca frenética por alguém, por algo que supra esse vazio, mesmo que momentàneo, mesmo que não seja o que se espera é melhor que se sentir eco de não sentimentos.

Intervalo de jogo.

Se intercalam também as solidões, os medos, as dúvidas de se arriscar. Serão 20 minutos que podem mudar seu mundo, mas quem quer o risco, melhor a ausência do que a dependência. Melhor o certo ruim do que o bom temporário, duvidoso. Me sinto mais perdida de estar aqui. Vim buscar a magia, a empolgação, o coração bater mais forte, os olhares, as bocas... e encontro defesas, repulsas, lamentos. Só.

O jogo recomeça e as pessoas retomam seus lugares, de técnicos da bola, de um objeto qualquer, não ousariam direcionar suas vidas, preferem a máscara da emoção superficial, essa que não basta, que desgasta. Que finge, que maltrata não pelo excesso mas pela falta. Melhor com ela do quem sem ela. Fúteis, incapazes da entrega. Quem tem o dom da entrega, não se deixa levar por sensações genéricas, tolas de sentimentos nobres... por quem não se dá o sangue, por quem não se pode compartilhar todo o mundo e não apenas parte dele, por quem não se sente a dor da saudade.

Fim de jogo. Solidão descompassada de ausências multiplicadas. Vim buscar você e não encontrei ninguém. Só um eco distante de alguém que arriscou um dia sentir em vez de ponderar.
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