Um dia, linda senhora
Veio me consultar
Pedaço da sua história
Eu passo agora a contar
Nada guardo de memória
Mais cuidei de anotar
Por nove vezes casada
Nunca ela recebeu
Aquilo que tanto esperava
Ninguém naquilo mexeu
Disse-me que ainda levava
Do jeito que ela nasceu
E num relato corrido
Foi me contando os fatos
Da vida de seus maridos
E aqui vão os relatos
De dias assim tão sofridos
Eis então, esses retratos :
O PRIMEIRO
Passava o dia inteiro
Pegando em uma bisnaga
E também queimando a rosca
Esse era padeiro
Vivia pegando na massa
Era uma bicha bem louca
O SEGUNDO
Era Juiz de Direito
De lá do interior
Parecia uma capivara
Mas ele não era perfeito
A questão é que o doutor
Ali não tinha vara
O TERCEIRO
Pobre daquele coitado
fazia o que o outro mandava
Coveiro aposentado
De nada ele reclamava
Ali deitava de lado
Nada mais ele enterrava
O QUARTO
Não foi ele o derradeiro
Nem mesmo na esplanada
O seu dom, ser sapateiro
Muita broxa ele pregava
E virava sanfoneiro
Quando a brocha achava
O QUINTO
Este sempre prometia
Que resolvia a questão
E o que ela mais queria
Era a completa união
Mais ele ali não metia
Nem um dedo de sua mão
O SEXTO
Só pensava em pescar
E era muito educado
De tanto na vara pegar
ficou mal acostumado
Ali não queria botar
E resolveu ser viado
O SÉTIMO
Famoso ginecologista
Tratou delas toda a vida
Naquilo tinha saber
Conhecia a perseguida
Só não conseguia comer
Pois trabalho não é comida
O OITAVO
Vivia ele no mato
Só pensando em matar bicho
E por ter tido bom trato
Resolveu deixar barbicha
Mas na verdade, de fato
Ele nasceu pra ser bicha
O NONO
Levava a vida a sonhar
Em tudo quanto queria
Um disco iria gravar
Naquela churrascaria
Ocupava-se em cantar
Enquanto o outro comia
Era a vez de descolar
Mas o outro, também não enfia
Eu lhe perguntei hesitante
Àquela tão mal amada
Não arranjastes um amante ?
Nessa vida de Cruzada ?
E uma resposta angustiante
Veio-me como uma pedrada
Meu marido era o padeiro
O resto tudo era amante
Do primeiro ao derradeiro
Cada qual pior que o d antes
Foi esse, meu cativeiro
Quero que agora avances
E que sejas o primeiro
Eu escrevo, eu só crio
Não ia entrar neste jogo
Uma fêmea em tal cio
Iria me matar no gozo
E ainda me arrepio
Em pensar nisso de novo
Deixo assim para teu brio
Por ser muito mais novo
Se estiver fazendo frio
Aqueça bem o seu ovo
Ou fique ai caladinho
Não diga nada pro povo