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Cronicas-->Quando os pais enterram os filhos -- 04/12/2002 - 16:04 (ligia mello) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
4 de dezembro de uma semana típica de violência atípica





Será que precisaríamos mesmo chegar no final do poço para saber que ele é ainda mais fundo?

Hoje ao ler meus emails, parei - olhos perdidos entre a indignação e medo. O que estamos fazendo de nossas casas, de nossas vidas é uma opção nossa. Geramos uma indústria do medo não saudável, somos consumidores famintos de tecnologia do medo, de espelhos e cercas que nos privam da luz do Sol, do cheiro do mar, do caminhar pelas ruas como quem passeia e sequer nos damos conta de há quanto tempo não damos uma volta na praça próxima de casa, ou mesmo vamos a pé ao supermercado da esquina.

Maldita sensação de comodismo que nos deixa entre o marasmo e o semicoma. A violência primeira, vem de nós para nós mesmos - em vez de combater o medo e buscar soluções viáveis para que o sonho se refaça, que as férias não sejam o pànico do medo do assalto, do sequestro na praia, da força bruta que não agrada. E em vez de buscarmos o sonho, nos deparamos com a busca do vazio, do silêncio, da introspecção caseira que gera novas conchas e assim as luzes dos apartamentos - gaiolas vão se apagando mais cedo e as crianças correndo também são poucas e os passeios com os filhos, bichos já não existem e somos reféns de nós mesmos. Somos o vazio porque optamos por ele.

No jornal de domingo, um pai desperado de uma cidade considerada "pouco" violenta, falava do dia da formatura do filho, lágrimas de saudades rolavam de seus olhos - hoje tudo aquilo é uma lembrança, ele não pode ir a formatura, morreu, vítima da violência desmedida, 10 horas antes dela. Havia saído para pegar o terno que teve outra finalidade, ser o último da sua vida - ou pior da sua não vida que foi roubada pelo nosso silêncio, pelo medo que temos de denunciar, pela desesperança que geramos.

E novamente, observo a população xingando, reclamando, e culpando o governo, a religião, o mau tempo, as drogas, a falta de tempo por tudo que acontece quando poderia simplesmente não culpar e colaborar. Não há culpados, somos vítimas mudas de uma crueldade sem limites. Somos vítimas da omissão, do marasmo compulsivo em que vivemos, de cada vez mais nos acomodarmos em nossos lares cada vez menores e olharmos menos o sol, e irmos menos a praça, e já termos desistido do mar, que continua belo na tela da TV.

Não sei se temos solução, pois somos um problema social, e dessa vivência medrosa e compactuosa geramos uma guerra civil silenciosa, que acontece na surdina da noite, nos campus das grandes universidades em plena luz do dia, nos domingos saudosos de descanso, na solidão que nos habita. Deixamos a guerra se propagar dentro do nosso cotidiano atarefado, somos mesquinhos, não vemos o lado - de fora. Contratamos seguranças, e não nos sentimos seguros com nossos filhos em casa. Contratamos empresas que nos fornecem sim a ilusão do céu perfeito, da boa vida que pode ruir dentro de casa e eles não farão nada, e tudo isso porque estamos viciados em solidão.

Somos sós dentro de uma guerra também solitária que não terá fim, se não nos propusermos a colocar pra fora o que nos incomoda, se não nos unirmos em pequenos grupos e combatermos essa solidão com boas conversas que diminuam as siglas e tenham entonação em vez da frieza dos emails. Precisamos ter formas e não sermos uma caixa de fósforo impessoal, assim conseguiremos chegar aos grupos excluídos e propor mudanças pequenas e através delas projetar um quarto setor menor, mais fraco para os proximos anos, onde não precisaremos ter medo de nossa própria solidão, ela não nos engulirá como hoje porque não estaremos sozinhos. Só assim conseguiremos voltar a objetivos comum de combater a fome, a violência, o mau humor, a falta de tempo..a falta de vida que hoje habita cada um de nós.

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