RECURSO Á TRÉPLICA DE UM AMIGO
(Por Domingos Oliveira Medeiros)
Data Vênia, meu colega
Em que pese o meu respeito
Ao ilustre advogado
Faço uso do direito
Ao amplo contraditório
Por entender meritório
A busca de convergências
Sobre os fatos em comento
Este é meu entendimento
Esclarecer divergências
Assim, apresento recurso
Julgo, tempestivamente
Em defesa da verdade
Entendo, preliminarmente
Salvo melhor juízo
Que o doutor não foi preciso
Na sua contestação
A tese não se sustenta
A conclusão não se assenta
Aos ditames da razão
A oratória é perfeita
A estratégia inteligente
Mas confundiu as verdades
Verdadeira e aparente
De certa forma, errou
Quando, por fim, misturou
Duas coisas relativas
A verdade que é divina
E aquela que se imagina
Sem as justificativas
Porém, é preciso dizer
Dessa relatividade
Em nome do entendimento
Em defesa da verdade
Na verdade que é luz
Na verdade de Jesus
Não pode haver escuridão
Mas a verdade terrena
Quase sempre, é amena
Essa é a grande questão
Quanto à verdade divina
Não há que se discordar
Desde logo, no início
Assim fiz registrar
Mas no nosso dia-a-dia
Prevalece a utopia
A miséria anda solta
A verdade é aparente
Quase nunca mostra a cara
Vive enganando a gente
A verdade aqui na terra
Diz a meteorologia
Seu desfecho é probatório
Não existe garantia
Tanto chove, como esquenta
O calor não se agüenta
A verdade é passageira
Seja de noite ou de dia
De repente o tempo esfria
Não esquenta a lareira
A mentira é passageira
Anda de carro e avião
Vive curtindo a cidade
Usa demais a ilusão
Promete o mundo inteiro
Uma ruma de dinheiro
Quando se é candidato
Fala com sinceridade
De amor e liberdade
Depois esquece no ato
Débil, frágil e pequena
A nossa democracia
Todos sentem, todos vêem
A nossa grande utopia
A nossa grande ilusão
A mentira está na moda
É gente da mesma raça
A mentira é a verdade
Promessa e realidade
Neste mundo ela grassa
Desfilando com maestria
Vendendo sonhos de valsa
No rosto de belas mulheres
Essa mentira realça
Essa verdade é profana
Que a toda gente engana
É bom, pois, que se repita
Pra quem a verdade proclama
Nem tudo que a gente ama
Faz sentido ou se acredita
Até o amor verdadeiro
É feito de sonho e ilusão
Pois o mundo é enfeitado
Com as cores da emoção
Nem por isso é mentiroso
Qualquer ato amoroso
Ainda que sem sentido
É verdadeiro, no fundo
Só existe neste mundo
Mentiroso e tão sofrido
Reservo, por fim, o direito
Falando como Cristão
Não faço apologia
À mentira, de antemão
Mas falando francamente
Vou dizer, sinceramente
O raciocínio é primário
A depender da maioria
A mentira aqui seria
Nosso maior mandatário
Fosse a verdade terrena
A vida aqui neste mundo
Seria sempre serena
Mas isso não acontece
O errado prevalece
Na ordem do dia-a-dia
Vivemos mais de ilusão
Mentindo como a razão
Em busca da utopia