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Contos-->SUZY -- 20/08/2000 - 12:44 (LEE ANDERSON) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Conto originalmente publicado no fanzine eletrônico
ASTRONAUTA DE VINIL #X-ZERO
<< astronautadevinil@zipmail.com.br >>


[[ LADy SUSAn, QUARTa-FEIRa ]]

Era uma repartição sem café, aquela em que ela entrou ao acaso.
Bem, talvez não ao acaso, e talvez sequer tivesse entrado - mas lá estava, de um modo ou de outro. Lá estava sentada na cadeira giratória imóvel à minha frente, um filete de um sangue demasiado ralo escorrendo das veias rasgadas dos pulsos, descendo por entre seus dedos longos de nódoas grossas e unhas azuladas. Cor-de-rosa, o vestido.

Não demorou para que erguesse a cabeça e desferisse o olhar em minha direção, mas como se me transpassasse. Negros, os olhos contrapondo-se ao sorriso amarelado que se montava irreal sobre sua figura pálida.

Movia-se lentamente - lançou o corpo em minha direção e beijou-me os lábios enquanto eu lembrava-me duma música qualquer e tinha vontade de cantá-la sussurrado, mas era um péssimo ator. Além do mais, me desconcertava sua mão fria tocando-me entre os olhos, o sangue de suas veias escorrendo também por entre meus dentes, o gosto agudo de seus pêlos eriçados em minha língua esvoaçando dentro do seu corpo.

É em momentos como esses que penso no quão seria agradável trabalhar numa repartição que tivesse café ao invés de computadores. Café me é tão prazeroso como alguns dos melhores ácidos, apesar de me desagradar o hálito que ele me causa. Mas não, já não é sexta-feira nem outono, nossas calças encurtaram enquanto nossas tranças descabeladas cresciam emaranhadas a nossa prosa sem verso de tanto verso que queria ter. O relógio estacado na parede já não se move, canta um blues infindável enquanto o ar-condicionado geme feito um violão arranhado e todos as gravatas de seda italiana dançam ao redor do mainframe principal reverenciando todos os modens e cabos de fibra-óptica.

Enquanto isso ela se afasta - recostou-se na cadeira enquanto catava um de seus cigarros de filtro amarelo no maço feito de veludo, ofereceu-me um - não, eu já não fumo mais, eu disse enquanto apanhava um e acendia-o numa chama que se erguia no exato ponto entre nós dois, depois sopramos a fumaça esboçando círculos concêntricos entre estrelas cadentes que afloravam do chão de tábuas frias e zarpavam para além do teto, depois afrouxamos nossas camisas, tocamos as pontas duras dos nossos seios, sorrimos, fechamos os olhos, ouvimos o silêncio fundo entre as teclas que eram espancadas e os telefones que berravam feito gatos assassinados – this is the end, baby!

Depois ela já não estava mais lá.

Percebi, nesse momento, que um filete de um sangue ralo escorria das veias que se rasgavam entre meus olhos. Suspirei, assim como se escrevesse – suspirou. Descalcei os sapatos enquanto caminhava em direção à sala da diretoria, registrei a necessidade de uma saída mais cedo do que de costume, caminhei até a janela e mirei o taxi que me esperava lá embaixo, do outro lado da rua. O motorista acenou-me. Lady Susy sorriu. Fechei os olhos e também sorri.

Sorri enquanto saltava lá de cima, pela janela da única repartição do escritório que não tinha café.

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