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Textos_Religiosos-->DESENVOLVIMENTO EVANGELICO EM PROSA E VERSO -- 19/02/2005 - 09:16 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
WLADIMIR OLIVIER









DESENVOLVIMENTO EVANGÉLICO

EM PROSA E VERSO



ESPÍRITOS DIVERSOS







Edição da CASA DO MÉDIUM

Rua Cinco de Julho, 1184
Indaiatuba — SP



ÍNDICE


Nota explicativa .....................................

Alguma prosa

Primeira página .....................................
1. Doce querela .........................................
2. Pé de coelho .........................................
3. A poesia da vida .....................................
4. Pequenos deslizes ....................................
5. Luzes para a alma ....................................
6. O Livro dos Médiuns ..................................
7. Mãos benfazejas ......................................
8. Área de choque .......................................
9. Ações beneméritas ....................................
10. Canícula .............................................
11. Fuga em ré menor .....................................
12. Água benta ...........................................
13. Repulsas doutrinárias ................................
14. Testa-de-ferro .......................................
15. Alheios ao mundo .....................................
16. Carregando pedras ....................................
17. Nas horas de crise ...................................
18. Decisões drásticas ...................................
19. Remédios eficazes ....................................
20. Fazer as pazes .......................................
21. As boas novas ........................................
22. Sofrimentos inúteis ..................................
23. Panela vazia .........................................
24. Sagrado interruptor ..................................
25. Qualidades e defeitos ................................
26. Perigo à vista .......................................
27. O momento de despertar ...............................
28. As religiões de Deus .................................
A hora de encerrar ..................................

Alguma poesia

1. Versos para o espírito ...............................
2. Eleição de amor ......................................
3. Duro caminho .........................................
4. A sandália de Jesus ..................................
5. Sinais ...............................................
6. Inspiração ...........................................
7. Flagrantes de alegria ................................
8. Fazer o mal, nunca mais ..............................
9. Favo de mel ..........................................
10. A saída ..............................................
11. Minha mágoa ..........................................
12. Dificílima poesia ....................................
13. Queixas ..............................................
14. Preciso de socorro ...................................
15. Versos estapafúrdios .................................
16. Dividir o fardo ......................................
17. O dever de versejar ..................................
18. Como cheguei aqui ....................................
19. Terapêutica poética ..................................
20. No paraíso se ri .....................................
21. Faça um pouco de poesia ..............................
22. Rasgos sentimentais
I ..............................................
II ..............................................
III ..............................................
IV ..............................................
V ..............................................
VI ..............................................
23. Revelações de poeta
I ..............................................
II ..............................................
III ..............................................
IV ..............................................
V ..............................................
VI ..............................................
VII ..............................................
VIII ..............................................
24. Conte comigo! ........................................
25. Carnaval
I ...............................................
II ...............................................
III ...............................................
IV ...............................................
26. Para agitar o leitor .................................
27. Sentimentos de alegria ...............................
28. Asas poéticas ........................................
29. Sem vaidade ..........................................
30. Aviso oportuno .......................................
31. A turma da poesia ....................................
32. Dance comigo .........................................
33. Sério treinamento ....................................
34. Poeta-coração ........................................
35. Mestre do bem viver ..................................
36. À esposa viúva .......................................
37. Necessidade da dor ...................................
38. Crítica íntima .......................................
39. Trapalhadas do médium ................................
40. O pão do amor ........................................
41. Enfrentando a morte ..................................
42. Mutações .............................................
43. Cristianismo zen .....................................
44. Kardec sem Mistérios .................................
45. Entendimento .........................................
46. Insânia carnavalesca .................................
47. Versos de brinquedo ..................................
48. Simples meditar ......................................
49. Compartilhemos o evangelho ...........................




NOTA EXPLICATIVA





Desenvolvimento Evangélico em Prosa e Verso constitui a reunião das mensagens e das poesias apanhadas no período de 03.01 a 17.02.94. Foram vinte e cinco tardes de trabalho efetivo, porquanto prosa e verso são transmitidos em horários subseqüentes.
No período, ocorreram interrupções no trabalho mediúnico, aproveitadas pelos mensageiros para firmarem o princípio da homogeneidade de pensamentos, conforme a orientação de Maciel, mentor da Escolinha de Evangelização, para os textos em prosa.
Apesar da advertência de que se trata de pessoal novato na esfera da magnetização mediúnica, as produções demonstram maturidade espiritual e evangélica. Há que se superar, pois, a idéia de que sejam aprendizes ou de que não tenham alcançado os objetivos curriculares. Façam os encarnados o mesmo, para sentirem o quanto precisam desenvolver-se para se situarem no mesmo estágio evolutivo.
Quanto às poesias, são individuais. Uma delas consigna nome conhecido do público, porém, não possui o médium recursos para a confirmação da identidade. Valha o texto pela moralidade, pela filosofia e pela doutrina do conteúdo.
Pela primeira vez, as turmas não deixaram designação, para que pudessem distinguir-se das demais.
Recebam com boa vontade mais este empreendimento editorial.
Que Deus nos abençoe!















ALGUMA PROSA
























PRIMEIRA PÁGINA





Certos de sermos bem recebidos, retomamos os ditados da Escolinha de Evangelização, através do orientador desta casa de trabalhos mediúnicos, Maciel, que se congratula com entusiasmo pela boa vontade e pela felicidade do médium.
Traremos novos amigos, formando turmas de alunos, como sempre fizemos, mas alteraremos as diretrizes internas, de forma que nem tudo corresponderá exatamente ao que estava o encarnado acostumado.
Principiaremos por jovens recém-admitidos nas linhas de trabalhos socorristas, mas aprendizes do trabalho mediúnico, de forma que nem tudo irá ter o nível de perfeição das turmas mais avançadas.
Nem por isso, contudo, iremos solicitar que o escrevente se introduza nos trabalhos, requerendo maiores conhecimentos e sabedoria. Fique tranqüilo que, se houver algo flagrantemente errado, iremos corrigindo, à medida que os dias passarem. Não vá desesperar-se por ver tanta imprecisão e falta de descortino.
Arregace as mangas e principie o apanhado das mensagens. Muito obrigado. Fique com Deus!







1

DOCE QUERELA





Vários irmãozinhos discutiam a respeito de pontos da doutrina espírita, sem chegarem contudo a fórmula que satisfizesse. Sempre havia alguém a discordar, embora a boa vontade fosse para que todos os princípios estivessem contemplados, senão inteiramente, pelo menos parcialmente em tópico específico, em caso excepcional, em exemplo relacionado a condições semelhantes. Era preciso dar contentamento a todos.
Ora, é necessário saber que o dom de conhecer está intimamente ligado aos estudos e à aplicação que se dá a eles, como ainda de acordo com a fortaleza de alma que nobilita as atitudes. Se alguém tem o dom de dominar certo ponto, por muito ter sofrido, irá contribuir para com os demais, sem arrefecer ânimo em trazer todos os elementos que o conduziram àquelas conclusões. É justo que se firmem pontos de vista e que as razões se dêem por ponderadas no campo da ação, principalmente quando o indivíduo conseguiu chegar a bons resultados, não sem antes ter evidenciado que outros caminhos o conduziram para fora da estrada da verdade.
Como fazer valer a experiência de uns, tendo em vista que todos são igualmente experientes?
Eis o tópico em discussão.
Já se cansava o pessoal, quando nos atrevemos a vir contar os entreveros de caráter ideológico, sem referência aos fatos, para intentar demonstrar, pela ação missionária da mensagem, que da discussão poderia nascer a luz da doutrina espírita.
Evidentemente, não desprezamos o valor das discussões, pois o acalorado das palavras poderá acender o desejo de superação das dificuldades colocadas à mostra. Contudo, ao escrever, somos obrigados a palmilhar passo a passo os escaninhos do tema, de modo que a apreciação de cada qual irá tendo lugar, uma de cada vez, no conjunto harmonioso que se vai formando.
Se algo não está a agradar a alguém, paramos para refazer o tópico, tendo presente que a formulação antes registrada obteve o alvará de todos (não da maioria).

Vamos chegando ao final da apresentação, como se fosse a introdução de longos desenvolvimentos dissertativos. Entretanto, fique o escrevente bastante atento para as diretrizes que se irão imprimindo paulatinamente, sem interferir em nada, pois sabemos muito bem encaminharmo-nos para os pontos aprovados pelo conselho de professores que nos guia.
Não há que estranhar a falta de muitas informações relativamente a cada personagem que for comparecendo para os ditados, além de não se impor a curiosidade como norma, para o que agradeceríamos, se todos nos dessem voto de confiança. Caso haja discordância, ainda assim pedimos que se aguardem as próximas leituras, pois poderá ser que corrijamos o que vier a dar motivo às polêmicas.
Não é um bom roteiro para quem está aprendendo?
Fiquem com Deus e saibam que estaremos atentos para as formulações diferenciadas, notando os argumentos que só irão valorizar os temas e discussões!







2

PÉ DE COELHO





Existem muitas pessoas que portam pés de coelho, para terem sorte na vida. Pensariam em que talvez os seus próprios pés pudessem dar sorte a alguém? Melhor dizendo: imaginariam que seus pés pudessem servir de amuleto, para que alguém possa ter sorte? Serviriam sua carne de repasto, para os acepipes de quem se regala com a morte dos seres inferiores? Deixar-se-iam abater bem antes de completado o principal dos ciclos biológicos?
Pensem os caros leitores em pessoas andando pelas ruas com pés humanos dependurados ao pescoço. Não seria absolutamente asqueroso? Ou acreditariam que o povo iria acostumar-se com a idéia, desde que não fossem os próprios pés ou dos familiares? Ou haveria até a possibilidade de se aceitar que todos pudessem oferecer um dos pés para que fosse dependurado nos pescoços dos outros?
Pois saibam que, se tal fosse o desígnio de alguma população, iríamos encontrar quem o fizesse, sem o mínimo constrangimento.
Se refletirmos sobre os usos e costumes da sociedade, muitos caracterizaríamos como selvagens, não estivéssemos tão afeitos a ver, ouvir e proceder pelas mesmas diretrizes.
Às vezes, ouvimos falar em hábitos muito estranhos e ficamos arrepiados com a idéia de que tal procedimento se instale em nossa sociedade. Um exemplo? O oferecimento de crianças e de adolescentes para serem imoladas em culto religioso, com o fito de aplacar as divinas fúrias. Outro? O arremesso dos recém-nascidos com defeito congênito despenhadeiro abaixo, entre os espartanos.
Diante de tanta dor e sofrimento, andar com pés nos pescoços até que seria divertido...
Gozação à parte, é bom que restrinjamos as atitudes inconscientes, de imitação ou de iniciação social, apenas para sermos aceitos pelos demais. Existem muitos problemas porque a grande maioria ou quase a totalidade das gentes toma por princípio atender aos reclamos da uniformização do consumo.
Falamos das águas, das florestas, do solo, do ar, contaminados pela mais absurda poluição. E isto no plano material, a ponto de oferecer risco sério para a continuidade da vida no planeta. Se formos arrolar os tópicos morais (muitos dos quais com revide pela natureza de maneira cruel e instantânea, como a AIDS), iremos dar a impressão de que somos velhos corocas, de outras gerações, e não jovens recém-admitidos aos trabalhos socorristas.

Calculou bem o médium quando supôs que as mensagens iriam ser curtas. Evidentemente, se estivermos preparados, daremos diversos ditados na mesma tarde. Por enquanto, são estas idéias que estão merecendo a aprovação geral.
Aliás, concordamos também em que, se todas as pessoas tomassem contacto com elas, não iria haver unanimidade de opiniões. Apenas após estudos e debates é que se pode chegar a conclusões universais.
Corremos para confirmar as idéias da abertura e a mais não nos atreveremos, por enquanto.







3

A POESIA DA VIDA





Todos concordamos com que a vida tem segredos de felicidade e de dor. As pessoas se desesperam quando não alcançam os objetivos. Mas também aprendem a se conformar pela experiência, satisfazendo-se com uns poucos ganhos nos setores que lhes são mais caros.
Muitos perdem as pessoas mais queridas, mas confiam em que Deus é justo. Outros, em circunstâncias idênticas, se julgam as pessoas mais desgraçadas e desamparadas, não aceitando jamais que os acontecimentos possam originar ganhos de qualquer espécie.
Tememos por essas pessoas, pois podem começar a tomar atitudes em detrimento da felicidade alheia, propugnando que as tragédias em que se envolveram não podem ficar restritas a si, passando a causar sérios problemas aos demais. Não é bem assim que pensam e agem os bandidos, aquelas pessoas que não vêem nada além dos ganhos pessoais, mesmo que haja profunda infelicidade social?
Pensem um pouquinho conosco e analisem os procedimentos habituais, inclusive os amparados pela legislação humana, para avaliarem se tudo se estriba na moral evangélica, ou se há subterfúgios para que as realizações de uns poucos oprimam a liberdade da maioria.
Pensando desta maneira, vai parecer aos menos avisados que estamos propugnando rebeliões coletivas. Puro engano! O que desejamos é levantar o moral dos leitores, para que encetem a caminhada ascendente, na direção do Senhor, para o que devem buscar reformulações íntimas.
O nosso cristianismo, entretanto, não é tão inocente que achemos que a purificação individual vá suscitar alterações profundas no modo de vida da sociedade. Não. Pensar assim seria, no mínimo, inconseqüente.
O nosso cristianismo está em levar o conhecimento das regras áureas aos mortais, para que principiem (se já não o fizeram) a firmar os conceitos nos ideais do Cristo, principalmente no amor e no perdão. O mais é balela e serviço mal prestado.
Rebeliões só conscienciais, dentro do coração e, ainda assim, desde que forjadas por raciocinar íntegro, consoante as palavras de Jesus, as que demonstram claramente o papel do homem no grupo e as que revelam os caminhos da justiça do Pai.
Quem tiver a coragem de buscar ser feliz independentemente das agruras e das desgraças circunstanciais, acreditando que o momento passa e que a vida junto ao Pai terá o dom da eternidade, fazendo o bem, antes e acima de tudo, estimando os semelhantes pelo amor que dedica a si mesmo, sem exageros de doutrina, mas de acordo com as possibilidades intelectuais e o alcance do poder político-econômico de que está investido, irá perceber claramente que a poesia de viver é moeda corrente dentre os cristãos sinceros e descomprometidos com o egoísmo, a vaidade e o orgulho.

Fiquemos por aqui em mais esta manifestação, acreditando que não poderá haver muitas querelas em torno desta lúcida colocação evangélica. Se a cada um segundo as obras, quem somente realizar o bem só poderá receber o bem em troca, mesmo que, aparentemente, tenha o aspecto do castigo, da aplicação da lei do carma, pela lição do Mestre, que preferiu ver o sofrimento próprio, na ânsia de encontrar a salvação dos homens.
Ou não terá sido bem assim?







4

PEQUENOS DESLIZES





Pela comunicação anterior, poder-se-á concluir que estamos sumamente empenhados em levar aos encarnados as diretrizes mais sadias provindas das luzes evangélicas.
Na verdade (e isto tem de ser fortemente acentuado), o que desejamos é desfazer-nos dos compromissos relativos aos ditados, pondo à luz das discussões os temas menos polêmicos, os que não merecem controvérsias.
Entretanto, todos aqui reconhecem que os argumentos de que nos utilizamos sofrem pequenos deslizes de apresentação, pois o raciocinar cerrado, fundamentado nas exaustivas tiradas bíblicas, na citação dos eminentes autores da espiritualidade, ou exarado mediante comprovação extraída da vida diária, não nos interessa em absoluto.
Se citarmos alguns tópicos vivenciados pelos humanos, iremos, em seguida, referir-nos a eventos puramente mentais ou da alma, pois o que nos agrada é deixar muitíssimo claro que temos domínio sobre os sentimentos e não arguto desenvolvimento dos silogismos.
Sentir que se está no caminho certo é sempre superior às teses. Eventualmente, devido à necessidade das exposições, iremos ter de trazer explicações decalcadas em efeitos verbais originados em pensamentos que exigem reflexão, meditação ou oração, pois o que a mente não alcança, o coração facilmente resolve pela fé, pela esperança e pelo desejo de acertar o passo segundo o Senhor.
Vejamos a questão do estilo, tão ao gosto de todas as turmas. Estamos imprimindo aos períodos longos desenvolvimentos. Isto contrariará frontalmente a idéia de juventude espiritual que estamos passando desde o começo, insuflados até pelo comentário do mestre Maciel. Mas é que não nos esforçamos, durante os últimos encarnes, em fixar as melhores diretrizes para a lógica do pensar e do expor. Se temos certa fluência e se conseguimos deixar impressos os pensamentos, é porque trabalhamos a redação com afinco, conquanto não passemos a idéia da preparação, porém do improviso.
Como sempre, ajuda-nos muito o escrevente, que traz as palavras na ponta da língua, adequando os termos segundo as necessidades de vinculação. Mas é trabalho mecânico, pois as idéias que lhe colocamos à mostra não dão o sentido que se extrairá do conjunto.
Por isso, caros irmãos, se encontrarem grandes deslizes, queiram reduzi-los ao mínimo, na aplicação consciente das ordens emanadas do verbo de Jesus, conforme acima exposto.
Se quiserem auxiliar-nos, inclusive, não se atemorizem em criticar todas as frases. Aliás, exercício muito bom será reescrever os textos, dando-lhes o tom da personalidade de cada qual. Neste sentido, há algumas diferenciações notórias, de acordo com o transmissor do dia, o qual não se furta de dar o cunho da própria força aos torneios frásicos, como nos sugere o médium.
Finalmente, estamos dando a nossa opinião como se pudesse haver discordância. Não é por aí. O que estamos é expressando a conclusão geral da turma, que, unânime, resolveu pela apresentação de alguns aspectos formais ou técnicos, para patentear a preocupação em que os leitores possam participar ativamente da elaboração das mensagens, estimulando-os a contribuírem criativamente, em lugar de se dedicarem à passividade da leitura ou da crítica negativa e desencorajadora.
Vivamos a felicidade da vida com o máximo de intensidade, mesmo quando os temas de nossas preocupações forem os mais sérios e contundentes, pela necessidade de melhores definições.
De qualquer modo, devemos afirmar que estamos muito contentes com o resultado dos ditados e até da possibilidade de infiltração de idéias no momento do aperfeiçoamento datilográfico e gramatical. Eis que a formulação e a reformulação estão sendo consideradas seguras e agradáveis. É a realização em si que trará a tal felicidade, pois o trabalho produtivo, no campo do bem e do amor, mesmo que tão inferior filosoficamente falando (ou literariamente), é que nos dará a possibilidade de evoluir debaixo do manto protetor de Jesus.
Em suma, para não prolongar demais este tópico, devemos afirmar que os términos das mensagens, necessariamente, não conterão palavras grandiloqüentes, próprias para a comoção, o espanto ou as delícias das surpresas metafísicas ou de peroração. Simplesmente, deverão conter o incentivo à natural busca da perfeição.
— Ou não será bem assim? — como insistem os colegas que perguntemos.







5

LUZES PARA A ALMA





Não nos esqueceríamos jamais de recomendar o estudo. Se tivermos a complacência da sorte e se a vida tiver sido contemplada pela fortuna de bom intelecto, não desperdicemos as oportunidades de conhecimento dos tópicos da doutrina.
Já se vê que não estamos pondo muita confiança nos intentos dos leitores. Mas não se trata de descrédito, senão que desejamos incentivar, à exaustão, a atitude de reflexão e de aceitação dos princípios do espiritismo.
Contudo, não havemos de olvidar que todas as recomendações neste sentido enfatizam a necessidade da compreensão e do apoio dos avanços científicos (acrescentaríamos, atualmente, tecnológicos). A fé raciocinada é atributo das almas ponderadas, em paz com as ânsias de perfeição.
Vejam que caminhamos por senda demasiado perigosa, pois, implícito, está o desafio da tranqüilidade e da confiança em que todos os atos servirão de base para incrementos posteriores de sabedoria. Não será bem assim que os amigos esperam encontrar-se com os benfeitores na espiritualidade? Ou seja, não terão a esperança de chegarem dispostos a trabalhar no ritmo determinado por Jesus, conforme a pregação do amor e do perdão?
Para que tal suceda o mais rápido possível, há que se sujeitar a pessoa, o quanto antes, às determinações dos mandamentos evangélicos, segundo os ensinamentos do Espírito de Verdade: amor e instrução.
Quanto a nós, alunos imaturos, aprendizes do controle das ações intelectuais, morais e sentimentais, cabe-nos fornecer as diretrizes mais efi¬cazes para que se alcancem os níveis superiores de harmonia mental, na tentativa da compreensão das palavras que se dispuseram nas obras de Kardec, mais precisamente em O Livro dos Espíritos e em O Evangelho Segundo o Espiritismo, cujos patrocínios se deram pelos administradores mais categoriza¬dos do planeta.
A bem da verdade, a duras penas, estamos entrando em contacto com os dizeres dessas sagradas escrituras, já que ninguém do grupo pertenceu às linhas do movimento espírita, assim considerando quem se tenha integrado às comunidades amparadas no kardecismo.
Mas as evidências se dão com facilidade para quem admite que precisa evoluir.
Eis o segredinho desta turma que desejávamos levar aos amigos encarnados, isto é, a necessidade de reconhecimento de que haverá sempre algo a ser aprendido, na senda que devemos abrir através da vetustez da ignorância.
Se fizermos tábula rasa de tudo o que pretendemos ter sedimentado no campo da filosofia e do conhecimento espiritual superior, iremos poder assimilar as novas instruções, sem sacrifícios e sem discussões inúteis.
Não será difícil de perceber que estamos diante de ponto de vista adotado por todos, sem exceção, dado que os laivos anteriores de sabedoria se perdem perante a desenvoltura com que vemos os mestres tratando dos temas existenciais, os quais, para nós, se estipulam como roteiros de estudos e de trabalhos.
Esta mesma dissertação não teria outro sentido a não ser o de se pro¬por como fonte de estímulos para todos, mediante a concentração que estabelecemos no enfoque das imperfeições de personalidade que redundaram em fracassos de relacionamentos, conforme a dedução elementar do fato de termos vindo das zonas dos sofrimentos conscienciais.
Se não quiserem, por razões as mais variadas, interpor argumentos e reflexões ao rol de motivos para enfrentamento laborioso dos estudos e das leituras meditadas das obras, pelo menos exerçam o direito de orar em silêncio, pedindo luzes para a percepção da necessidade de sabedoria e de conhecimentos.
Como poderá o ser humano desvencilhar-se mais facilmente das presilhas perispiríticas, na hora da morte, libertando-se do cadáver e das impressões dolorosíssimas da frustração de verificar que seus ideais já não têm valor? Sem estudo, apenas com muito trabalho e com muito amor pela humanidade. Santificando-se, em suma.
Ótimo! Vamos examinar as biografias dos homens elevados a tal categoria e, sejamos honestos, vamos averiguar sob que prisma eles viam o progresso da comunidade e das pessoas. Será que haverá quem tenha procrastinado para outra encarnação ou para o empíreo a necessidade da compreensão do que seja a vida, do que seja a morte, do que seja a verdade?
Serão eles santos para nós?







6

O LIVRO DOS MÉDIUNS





Hão de estranhar que destaquemos tal obra de Kardec, eminentemente técnica. Não se trata de leitura obrigatória para os encarnados, pelo menos não tanto quanto as anteriormente citadas. Por exemplo, se fôssemos pedir para todos lerem A Gênese, os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo, certamente seríamos duramente criticados, dada a dificuldade da interpretação científica, mui especialmente pelos elementos históricos subjacentes e que agora quedam inoperantes ou obsoletos.
O Livro dos Médiuns deve interessar sobremodo a quem aspire participar das mesas do socorrismo espiritual, dado que os ingredientes pessoais e grupais estão minuciosamente expostos, não tendo sido outro o objetivo do mestre lionês que não o de pautar todas as reuniões pelo modelo que lhe foi outorgado pelos orientadores da espiritualidade.
Queremos dizer que tal obra não se coaduna com o pensamento de muitos encarnados, mas que corre livremente entre nós, uma vez que o nosso ponto de vista se fundamenta em outros argumentos técnicos da magnetização, impossíveis de passar ao conhecimento dos leitores.
Essa assertiva parece varinha mágica para solucionar todos os mistérios. Há complicações no campo do etéreo? A linguagem é chamada de insuficiente, de limitada, de frustrante. Assim, desvencilhamo-nos dos problemas e chamamos os irmãos de retardados.
Acontece, porém, que não há recursos de comparação suficientemente explícitos para a média da mentalidade das pessoas interessadas nos mecanismos mediúnicos. Aliás, tal é o sábio título de obra exponencial do plano da espiritualidade: Mecanismos da Mediunidade, de André Luís, pelas psicografias de Waldo Vieira e Francisco Cândido Xavier.
Não vamos afirmar que a tentativa tenha sido baldada, mas a verdade é que são muito poucas as pessoas capazes de assimilar os conhecimentos ali impressos, conquanto exatos, específicos, detalhadamente analisados. Isto se dá em virtude, também, de a expressão humana não se adequar à realidade espiritual, havendo a necessidade das comparações, das analogias, dos cotejos, das aproximações.
Kardec mesmo se dispôs à explicação da necessidade de contenção das ânsias dos conhecimentos, buscando indicar as dificuldades das explicações. Por exemplo, a eletricidade, aos silvícolas americanos ou africanos. É certo que o justo orgulho civilizatório europeu envolvia com seu halo cultural as estruturas do pensamento materialista do século XIX, mas, mutatis mutandis, é exatamente assim que ocorre quando se busca definir o processo de magnetização para efeito do mediunismo, em termos dos encarnados.
Existe, todavia, forte argumento para dissuadir quem deseje manifestar-se contrário a tal tipo de fenomenologia, ou seja, o de que os resultados práticos são muitíssimo inteligíveis, havendo até a possibilidade, de acordo com certa conjunção de fatores da vontade e dos elementos disponíveis, dos denominados efeitos físicos, captáveis, portanto, pelos sentidos humanos.
O que não há negar é a importância de tratar a mediunidade com extrema seriedade, exigindo-se dos indivíduos que se abstenham de pecar, para poderem oferecer o de melhor para a concretização dos atos evangélicos, junto às mesas do socorrismo espírita.
Definido o que vem a ser pecar, terminaremos.
Para todos nós, ao sentir-se a pessoa culpada das realizações e eventos que confrangeram os demais seres ao sofrimento, exercitando, portanto, a consciência, através dos valores morais superiores, haverá de suprimir do procedimento todos os desejos oriundos de tais ações. Estamos falando, por exemplo, dos vícios do fumo e do álcool, dos impulsos do ódio, dos excessos do orgulho, dos arremessos da vaidade, dos assédios do egoísmo e quejandas enunciações que se dão na mente dos que se preocupam em melhorar para evoluir.
Exagero, do ponto de vista da maioria, é a supressão do hábito de consumir carne ou pescado, costume que só fará realmente mal ao trabalho mediúnico se houver auto-sugestão, de forma que o indivíduo se sinta incomodado. Enquanto prejuízo aos trabalhos, só se houver extravagâncias, o que, de resto, é válido para tudo, inclusive para o consumo de água fluidificada.
Brincadeiras à parte, é bom que haja vigilância cada vez mais acurada, pois os maiores pecadores são os que melhor conhecem as exigências da moralidade e do espírito cristão.







7

MÃOS BENFAZEJAS





Temos tido a felicidade de receber auxílio de amigos dos dois planos da existência e isto nos tem possibilitado compreender a evolução do ponto de vista do Evangelho de Jesus. Não que sejamos incompetentes para o estudo ou para a apreciação dos eventos, segundo a lei de causa e efeito. Não somos tão primitivos. Contudo, tudo o que fazemos em harmonia com outras pessoas nos tem ajudado muito na apreciação dos tópicos do programa estabelecido para o grupo.
Eis a razão principal de estarmos a enfatizar os ganhos coletivos. Contudo, haveremos sempre de observar que os avanços devem ser individuais, ou não haveria sentido em se dedicar à manutenção do bem-estar moral e físico dos semelhantes.
O irmão médium ensejou-nos três dias de descanso, às voltas que esteve com a instalação da nova maquinaria eletrônica. Atemorizou-se com o fato de nos deixar de lado por esse tempo, como se pudéssemos não entender que trabalhava para facilitar-nos os ditados e a editoração deles. Esta mensagem, pois, visa a deixá-lo confortado com o nosso julgamento, à vista das considerações acima.
Na verdade, se colocar tento nas insinuações a respeito do trabalhar pelo próximo, verificará que servem para a situação presente, tanto no que concerne às possibilidades de caminharmos sozinhos como à facilitação dos acrescentamentos pela ajuda de todo tipo, inclusive mecânica, como no caso de simples transmissões de textos.
Mas não desejamos perder o dia em considerações específicas sobre o relacionamento entre os planos. Na medida da possibilidade de cada um, queremos incentivar a transposição das informações consignadas para vivência em qualquer circunstância.
Também não perdemos tempo e preparamos outros trabalhos que apresentaremos em seqüência. Basta aguardar pacientemente.







8

ÁREA DE CHOQUE





Familiarmente é como tratamos o médium, embora não tenhamos qualquer vínculo afetivo particular. Gostamos de manter relacionamento de amizade, para beneficiar a transmissão e para não eivar de excessivos cuidados o trabalho de todo dia.
Contudo, às vezes, sentimos a necessidade de ampará-lo em seus deslizes emocionais, para que o tônus mental e sentimental permita que tudo decorra dentro das normas habituais do bom desenvolvimento mediúnico.
Não nos arrependeremos por chamar a atenção para o fato, pois, acreditamos, as pessoas com quem lidamos aspiram sobretudo à compreensão dos eventos e ao domínio da fenomenologia.
Qualquer alteração na ordem das coisas revelará que alguém não está em condições ideais para a prestação do serviço, quer no plano etéreo, quer no terrestre.
Assim, muitas vezes, falimos nas tentativas dos contactos, o que nos causa pena mas não preocupação. A repetição do fato é que poderá gerar atitudes negativas e a sugestão de que algo não está conforme às normas.
A presente mensagem está inserida no contexto das realizações deste grupo, pois não temos permissão de Maciel para divagações ou puerilidades. Todavia, caberá ao arguto leitor buscar a demonstração prática, segundo suas experimentações pessoais ou de acordo com sua capacidade de observação dos trabalhos junto às mesas de que participa.
Primeiramente, viemos desfilando razões evangélicas. Depois, insistimos no aprimoramento dos conhecimentos doutrinários. Agora, intentamos levar os amigos a perquirições íntimas, para a configuração das próprias tendências, para que se firmem os pensamentos em função das necessidades cármicas mais profundas.
Bem gostaríamos de consignar texto em que todas as dúvidas pertinentes ao caráter e à moralidade se resolvessem. Mas é preciso convir em que tal poder não é dado a ninguém. A nível de sugestão, sim, com comprovações paralelas de casos verídicos. Tal deve ser o encaminhar destas apreciações, estando todos de acordo com que sejamos o mais práticos possível.
Na presença dos carinhosos mestres prometemos efetuar o máximo do esforço. Assim esperamos que tenham deliberado os irmãos, perante a exposição franca das próprias dificuldades.
Honestidade, honradez, fidelidade aos princípios morais superiores, procedimento ético são alguns dos elementos que devem constar de todos os julgamentos. Considere-se, portanto, que as mensagens se constituem de julgamentos e terão as diretrizes que se imprimem a elas.
Para encerrar, temos motivos vários para a recomendação de muita concentração no trabalho e no exercício da caridade. Isto a qualquer tempo, em qualquer lugar, para toda criatura do Senhor. Haverá fugir desse raciocínio?
Não nos queiram mal os irmãos que aguardavam orientações muito lúcidas e extremamente simplificadas. É que tudo se passa na mente humana com extraordinária complexidade e variedade quase infinita de fatores que intercedem para a formação do comportamento.
Insistiremos, pois, na necessidade de preencher o tempo com raciocinar positivo, na arquitetura de projetos de atividades altruístas e voltadas para o bem-estar moral dos semelhantes.
— Será preciso abandonar tudo?
Não, certamente. Só o que for considerado pernicioso para a evolução espiritual. E isto é decisão pessoal fundamentada nas conclusões dos aspectos mais importantes do procedimento e da formação do caráter.
Se a cada um conforme as obras, não há esperar que o Céu se abra indiscriminadamente. Se assim fosse, não estaríamos nós aqui a escrever mensagens em que nos enredamos, segundo nosso nível de aspiração e de competência.
Fiquem os irmãos certos de que temos bom índice de aproveitamento nos exames de consciência, sem, contudo, conhecer proficientemente o volume das atitudes generosas que nos falta para ascendermos em harmonia às paragens mais elevadas do planeta.
Todos lutamos e a luta é bem-vinda sempre. Pobres os que não têm meios de progredir, por estacionarem em almofadas de egoísmo ou em espumas de fantasias!







9

AÇÕES BENEMÉRITAS





Aos poucos, a compreensão dos fatos vai chegando para todos nós, do ponto de vista moral ou espiritual, como obra da divina justiça. Até mesmo expressões vulgares o declaram, como a saudação ao Benfeitor Universal: Graças a Deus!
A assimilação da sabedoria se dá por etapas, conforme programação espiritual única para cada ser. É impossível, portanto, prever quando cada qual irá refletir a respeito dos ensinamentos de Jesus, do Espírito de Verdade, de Kardec ou de outros mensageiros do Senhor. No entanto, é possível prever, com máxima segurança, que todos irão passar pelas sucessivas etapas da compreensão. E, para isso, vamos empregar a suave expressão popular, com coração compungido: — Graças a Deus!
As iniciativas das leituras e dos estudos, das visitas aos centros de divulgação da verdade espiritual, do trabalho benfazejo, são impulsos muito sérios e importantes, para que haja incrementos de luz e de boa vontade dos protetores, para a facilitação do progresso.
Eis causa ponderabilíssima para darmos continuidade a estas apreciações, que visam a exortar os amáveis leitores a que prossigam impávidos na trilha do amor, do bem e do conhecimento moral superior.
Vamos perlustrar juntos alguns trechos destes tópicos, pois é sagrado para nós definir quais os roteiros que devem receber prioridade, na tentativa da orientação ou da realimentação dos ideais.
Já falamos, ainda agora, sobre justiça, sobre amor, sobre caridade, sobre instrução, sobre trabalho, sobre coragem e destemor. Eis que é preciso interpretar um pouco as palavras, para que não sucumbamos à tentação de tudo considerar inteiramente pueril ou superficial.
Vamos reler os Evangelhos, buscando dar a cada trecho valor eterno, como se a luz se desprendesse de repente, não por ter estado sufocada por nossa ignorância, mas porque não nos preparamos convenientemente para ela, pois nossos interesses eram, esses sim, determinados por lucros materiais.
Se estiver difícil de entender, vamos dar o devido esclarecimento.
É que a ignorância não nos levaria sequer a ler os textos sagrados. Mas os desejos dos ganhos nos levaram, muitas vezes, a perlustrar as folhas para a justificação dos intentos.
Não é bem assim?
Pois está aí bom motivo para que consideremos os objetivos e ideais que portamos neste justo momento da leitura.
Quanto aos elaboradores destas linhas, não tenham dúvida de que estamos desejos de, através dos escritos, praticarmos somente ações beneméritas. Caso não obtenhamos sucesso, evidentemente, as mensagens cairão no vazio das obras inúteis. Mas, se apenas um dos amigos for capaz de concluir por alguma alteração de vulto no aspecto moral do caráter, modificando-o para melhor, sentir-nos-emos gratificados e justificados (para repetir a brilhante expressão bíblica).
Quantos dos amigos se disporão ao ulterior sacrifício das realizações em prol dos necessitados, após o terrível enfrentamento das limitações psíquicas ou espirituais?
Não é próprio de quem progride tão-só conhecer-se a si mesmo. Isto, indubitavelmente, dará a cada um a consciência das necessidades. Mas os deveres vão além da apreciação da verdade particular. Há que se saber como o mundo se constrói, a partir dos eventos contraditórios, para firmar as leis eternas e ajuizar dos merecimentos e dos labores. Só aí é que se alcançará progresso que justifique a ascensão aos páramos da bem-aventurança.
Analisem a nossa presença. Confirmem o nosso desejo de ajuda. Vejam se conseguem perceber o sofrimento que traduzimos em palavras de comovida exortação. Mas não se olvidem de que estamos impregnados das melhores intenções e dos bons conhecimentos evangélicos, sem, todavia, estarmos categorizados entre os anjos ou espíritos de luz.
Sabemos que, melhor do que nós, muitos dos amigos são capazes de desenvolver estes temas, com força de indução ao pensamento positivo muito superior. No entanto, talvez por descrerem dos leitores, não o fazem, deixando tudo por conta da responsabilidade pessoal. Nós mesmos cá não estaríamos, se não fôssemos coagidos pelos mestres e se não tivéssemos quem se dispusesse a receber os ditados.
Com o mesmo poder de insuflação de coragem e de vigor dos beneméritos benfeitores da Escolinha de Evangelização, acreditamos que ninguém ficaria sem orientar-se pelas reflexões ou sem trabalhar com verdadeiro amor ao Pai, no amparo dos irmãos, mesmo que através de simples mensagens de caráter moralizante.
Se falar é fácil..., como repete a sábia voz do povo, muitas vezes o fazer é o falar, e aqui as dificuldades avultam para quem se vê na obrigação, no dever, sem a profunda preparação dos anos de experiência no campo das vicissitudes, dos estudos e da instrução.
Tomem a nossa palavra pela "juventude" de quem fala e não pela sabedoria de quem conhece, por favor. E façam de cada sílaba motivo de reflexão a respeito do que os aguarda para depois do decesso.







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CANÍCULA





Não podemos deixar de comentar a respeito da alta temperatura desta tarde.
Para nós, o trabalho se desenvolve normalmente. Nem seria possível qualquer interferência. Contudo, se o caro amigo escrevente se sentir mal, iremos interromper a transmissão.
Evidentemente, nem o calor é tanto, nem o amigo está a perigo. O que desejamos alertar é para as falências possíveis do contacto entre os planos, por razões carnais, algumas sem o poder de controle dos auxiliares médiuns, outras por imprevidência deles.
O calor, o frio, a tempestade e demais alterações atmosféricas são o de menos. Em casos de tragédias, nem nós estaremos disponíveis, pois iremos em socorro dos aflitos. Aí não haverá prestígio para estas mensagens, pois a obra da benemerência urge no campo das tarefas. Passados tais entreveros, porém, há que se acomodar o espírito, ou seja, a cabeça e o coração, a razão e o sentimento, para prosseguimento da busca evolutiva superior.
Compreendemos que os bons amigos estejam enfarados com tais discursos, pois, de quem vem de tão longe, esperam-se maiores novidades. Mas o que haverá mais para referir que não esteja expresso na literatura mediúnica?
Eis outro aspecto da canícula moral que afeta os encarnados, pois o que existe de distanciamento dos textos escritos é lamentável.
Entretanto, não nos postaremos em atitude de recriminação, pois, como acima afirmamos, nem tudo depende dos indivíduos. Há condições físicas, sociais, econômicas e de multíplices outras ordens que impedem a muitos sequer de decifrar as palavras impressas. Que se dirá, então, daqueles que, enceguecidos pela procura do poder e das riquezas, aspiram só a ser maiores no campo material?!...
Vamos convir em que tudo nos traz entristecidos, porque os ideais do socorrismo são os da garantia do progresso universal. Lucros individuais, pequeninos, insignificantes, mas reais, verdadeiros, honestos, todavia, são festejados por todos, pois nada nos dá maior alegria do que verificar que alguém conseguiu enfrentar e sufocar alguma viciação ou mau hábito.
No decorrer dos dias, voltaremos a tratar mais particularizadamente deste tema. Por ora, fiquemos nas generalizações. Não queremos aquecer demais a cabeça dos leitores.
Para efeito prático da dissertação, podemos afirmar que estamos de pleno acordo com o descanso do médium, na companhia dos familiares. Veja se consegue levar-lhes alguns tópicos de nossas considerações. Mas não se aflija se os temas forem apenas tocados, uma vez que o objetivo é o do descanso.
No Pai, fundamenta-se toda a verdade!







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FUGA EM RÉ MENOR





Espanta-se o amigo com o título? Pois haveremos de explicar.
Quando os compositores colocam sua inspiração a serviço das comunidades humanas, principalmente se elevados pela sistemática das obras tidas como eruditas, não demoram para perceber que todos os seus conhecimentos só implicam em confusões de leitura para os demais mortais que, ignaros, não sabem decifrar os lavores do aperfeiçoamento técnico.
Conosco algo muito semelhante ocorre, pois, se repetimos o que todos sabem, estaremos chovendo no molhado, provocando o desagrado da grande maioria que se julga conhecedora dos fundamentos. Se buscamos efeitos surpreendentes, aí os doutos vão considerar-nos insuficientes, pela filosofia e pelos conhecimentos. Se intentamos as razões mais convincentes, elaborando sistemática apresentação, vamos promover excessivas explanações teóricas, como no caso dos músicos eruditos.
Se estamos aproveitando-nos da oportunidade para estas considerações paralelas aos temas do socorrismo ou da evangelização, é porque tememos pelas deliberações mais sutis, que alijariam da turma de leitores bom contingente.
Para que servem estas longas mensagens aparentemente sem objetivo? Para elevar o conceito dos irmãos a respeito dos próprios conhecimentos, julgando ser muito fácil, muito simples, vir à presença do médium. Não é fato que normalmente as pessoas se assustam com a necessidade que lhes é evidenciada de terem de oferecer às escolas do etéreo contribuições escritas, conforme as mensagens dos irmãos da Escolinha de Evangelização? Pois agora, mais tranqüilos, poderão escolher algum tema bem acessível às suas mentalidades, principalmente porque lhes está sendo evidenciado que os textos não devam merecer desenvolvimentos ímpares, para transformarem-se todos em obras-primas. Publicáveis são apenas uns poucos, dentre os quais, evidentemente, não se incluirão os desta turminha de principiantes.
— De qualquer forma, hão de perguntar, por que escrever, se não se pretende que sejam lidos?
É que, eventualmente, podemos encontrar algum leitor perdido por entre os calhamaços manuscritos ou datilografados pela boa vontade do médium e conservados pelos familiares amorosos.
Por outro lado, de repente, sem que nós mesmos percebamos, poderemos estar tocando pontos que venham a ser considerados importantes por alguma faixa de leitores. Se ficarmos calados, não haverá tal encontro fortuito.
Finalmente, a argumentação está sendo posta a prova, para que outros atrevimentos possam oferecer-se a nós, aí com temas determinados e melhor explorados. Maciel nos aponta para futuro não muito distante, havendo sobre que escrever nos tópicos que nos estão sendo ensinados nas aulas e tertúlias.
Não muito longe daqui, alguém faz vibrar o ambiente com os acordes de fuga em ré menor. Haveremos um dia de compreendê-la.







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ÁGUA BENTA





Nem bem tínhamos terminado a última comunicação e nos assaltaram dúvidas relativas às profissões de fé dos mortais.
Saberíamos exprimir agora os desejos de consideração pelas palavras de advertência e de exortação que achamos por bem fazer desfilar perante os olhos dos leitores? Seria possível dar-lhes a dimensão exata dos anseios deste pessoal, na elucubração teórica mais promissora dos avanços doutrinários?
Ou ficaremos indefinidamente marcando passo, neste ritmo impossível de controle da parte dos orientadores e do mediador?
Ficaremos muito sensibilizados, se alguns amigos puderem catalogar-nos entre os mais fiéis intérpretes das palavras dos professores, por não nos desviarmos dos temas mais sutis, para perorações desprovidas de sentido.
Quem desejar algo mais substancioso poderá encontrar nas obras indicadas. Para nós, as indecisões são, muitas vezes, o prisma primordial a ser enfocado, em virtude, principalmente, de que, em geral, o povo não consegue estabelecer com precisão as próprias rogativas ao Pai, solicitando algo que absolutamente não lhes poderá ser dado.
Não será o caso da água benta?
Não é verdade que os católicos aceitam a bênção dos sacerdotes e rejeitam a possibilidade da fluidificação da água pelos adeptos do espiritismo, sem saber que, em ambos os casos, cabe ao plano espiritual providenciar, para que os elementos salutares do etéreo se imiscuam na sagrada linfa, para o efeito do bem-estar perispirítico, através do banho de fé que exige o consumo inocente e puro?
Da mesma forma, os companheiros da seara espírita julgam muito difícil que a água dos padres possa conter os mesmos ingredientes da espiritualidade que se infiltram em suas casas de benemerência.
Se transmudarmos os raciocínios, revestindo da mesma verdade outros setores dos cânones eclesiásticos, iremos ter de concluir, forçosamente, que muitos dos princípios espíritas se encontram nas bases das demais religiões, disfarçados, mistificados, alterados ou adulterados, mas vivos e atuantes sobre a mentalidade dos fiéis.
Se quisermos prosperar no conhecimento das verdades do Senhor, haveremos de beber da água benta, ou seja, dos princípios doutrinários superiores, não como concepção de vida arranjada para a manutenção de estabilidade egoísta e superficial; mas como real dispositivo mental a ser aplicado a todas as estruturas culturais, psíquicas, conscienciais e demais atributos inerentes à alma.

Saímos do padrão das dissertações muito fáceis e assimiláveis. Adentramos setores de maior complexidade para o raciocinar preso de quem se acostumou a ter tudo devidamente ruminado. Mas confiamos no desforço clarividente dos amigos, para a percepção dos intentos que quedaram camuflados pelas analogias, comparações, figuras e demais recursos retóricos das terríveis conotações imprevisíveis.
Afora estes senões, caso haja outros sobre que não advertimos, queiram alertar-nos, para que procedamos mais harmoniosamente com a vontade esclarecida dos bons amigos. Só assim voltaremos a assegurar-nos de que o encaminhar dos pensamentos se dá em estreita cooperação, como fazemos dentro do grupo.







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REPULSAS DOUTRINÁRIAS





Não há quem não tenha, um dia, realizado incursões metafísicas pelas áreas do conhecimento psíquico. E são poucos os que não deixaram de duvidar de assertivas que sustentam que o principal se encontra na espiritualidade. É tão forte a impressão da realidade tangível que as pessoas se esquecem de avaliar a passagem dos fatos, o envelhecimento e a morte inexoráveis.
Se nos ativéssemos a perscrutar os destinos dos ancestrais, haveríamos, forçosamente, de concluir pela existência de outras dimensões existenciais, para que se justifiquem os sofrimentos.
Será possível que os que praticam iniqüidades ficarão isentos de penalidades, de corrigendas ou de simples tomadas de consciência para a afirmação dos desfalecimentos morais?
Os seres prepotentes não consideram, por certo, os princípios doutrinários espíritas, pois demonstram não temer as conseqüências com que as leis universais, que ali se explicam, os ameaçam. Claro está que haverão de sofrer desditas em suas caminhadas arbitrárias, pois não conseguem tudo dominar pela força ou pela mentalidade distorcida. Muitos adoecem e necessitam dos mesmos cuidados de suas vítimas, o que lhes pode originar atitudes de reflexão.
Entretanto, quando imersos nas loucuras da criminalidade, soem deixar a crosta bem cedo, não habilitados, portanto, pela dor, para as meditações aludidas. Aí vão pejar a espiritualidade, causando outra série de turbulências para as criaturas ao seu alcance vibratório.
Caracteriza-se aí a distinção mais notável entre encarnados e desencarnados, uma vez que, entre os mortais, o assédio é livre, havendo quem atinja até as pessoas melhor situadas política, econômica e socialmente. Entre os espíritos, contudo, o acesso às faixas dos inocentes, vamos assim chamar os mais evoluídos, só se dá por acréscimos de méritos no campo das benemerências.
Resta indagar se os maus espíritos conseguem afligir os bons encarnados. Só se estes se debilitarem perante a evangelização, dando curso a pensamentos e sentimentos contrários à pureza evangélica.
Quem repudiar, pois, os critérios e noções fundamentais da filosofia ou doutrina espírita terá de pelejar muito, nesta encarnação, no etéreo ou em futuros retornos à carne.
Como se poderá evitar que haja deslizes?
Pela prece aos benfeitores espirituais, na confiança de que tudo se esclarecerá em tempo hábil. A manutenção do entusiasmo pela vida e pelas realizações no campo da solidariedade dará o tônus positivo em que todas as tarefas se tornarão possíveis e agradáveis. A vivência das alheias dissipações, pela compreensão da lei de causa e efeito, permitirá sejam acolhidas as idéias de amor e justiça divinas, na presunção de que o bem sempre redundará em bem, e o mal em bem, mas pela via do sofrimento.

Quiséramos desenvolver este tópico até às últimas conseqüências, mas julgamos melhor confiar em que os bons leitores estejam de acordo com nosso ponto de vista, desde há muito, já que acreditamos que não lograremos a leitura dos céticos ou dos irmãos engajados em outras modalidades filosóficas espiritualistas ou, menos ainda, materialistas.







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TESTA-DE-FERRO





Antigamente, era mais comum de encontrar-se tal expressão, que ainda agora vale, conquanto tenhamos dificuldade em nos fazer entender dos mais novos.
A bem dizer, estamos empregando-a para configurar que vai servir-nos de testa-de-ferro para as explicações que se seguirão. Em termos moderníssimos, diríamos que estamos utilizando recursos metalingüísticos.
Eis que o nariz-de-cera se transforma, rapidamente, em notória apreciação, com o intuito de fazer os leitores compenetrarem-se de que algo existe deste lado para o qual não estão preparados.
Não faremos caso, nessa situação, de nos tornarmos testas-de-ferro para a malhação contra as comunicações ditas psicográficas, onde a desconfiança do médium é a primeira tratativa de menosprezo, quando não a interrupção mais completa e a execração das manifestações às calendas.
Já haverá quem suspeite de que estamos desprezando a atenção do escrevente? Pois que retire, o quanto antes, o cavalinho da chuva, pois falamos em caráter genérico. Não fora a atenção que estamos tendo e este texto não mereceria o apanágio da recepção.
Feita a ressalva de rigor, volvamos ao tema do desprezo dos mortais pelas mensagens que os do plano espiritual insistem em transmitir.
Não é bem verdade que estamos provocando arrepios nos mais rigorosos e deleitando os que aspiram dos amigos do etéreo a que sejam menos pomposos, menos rubicundos, mais cordatos e mais humanos?
Todos concordamos com que as esferas terrestres sejam bastante propícias para os resgates dos débitos morais e para saldar os compromissos existenciais, que todos temos, ou cá não estaríamos. Esta assertiva cai bem na compreensão de todos os amigos, mas não lhes entra pelo bestunto a necessidade de aplicação de tais dizeres, pois se compenetraram de que tudo o que fazem é sempre o melhor possível, quando é pálido desempenho diante da verdade das dívidas e das dificuldades.
Por certo, desejam agora que comprovemos. Nada mais simples. Basta dar um pulinho pelas plagas umbráticas, para encontrar inúmeras criaturas iguaizinhas, sofrendo os horrores do arrependimento e do remorso.
Quando os mensageiros do plano espiritual pedem para que a crista se abaixe, isto é verdadeiro. Primeiramente, não há que discutir com quem sofreu e vem sofrendo na pele os desesperos das más atitudes fundamentadas no egoísmo, no orgulho e na vaidade. Depois, não há como contradizer que só quem é humilde reconhece, in totum, a necessidade da humildade, de mais humildade, de cada vez mais intensificar a humildade.
Vamos valer-nos deste texto e dizer que muitos pensamentos se enchem de pretensões de exortação, como se estivéssemos a realizar alguma obra-prima mediúnica. Vamos dizer mais, ou seja, que, às catadupas, as palavras vão acumulando-se para o efeito didático, mas com sentido literário evidente, no desejo de transformar as vibrações em monumento artístico de primoroso lavor.
Faz-nos ver o médium, atento, que obra-prima se repete em primoroso. Mas é aí justamente que está o rabo do gato que se escondeu para surpreender os camundongos. Quem for gato que decepe a cauda, antes de ser surpreendido e viver inutilmente as contingências das próprias necessidades.
Sacudamos a poeira das idéias tolas de ascensão sem sacrifícios. Alijemos da alma a pretensão de que estamos realizando o nosso melhor (na imitação ânglica). Saibamos configurar as próprias falhas, sem receio de virmos a demonstrá-las aos semelhantes. Mas jamais queiramos dar-lhes a idéia de que nossas atividades sempre se conduzem pelos preceitos superiores da moralidade evangélica.
Certo é que somos, às vezes, coerentes com os desejos de seguir o Cristo e fazemos coisas boas. Alegremo-nos por isso. Jamais, porém, durmamos sobre os louros da vitória, ou vamos correr os riscos todos do engrandecimento mental inoportuno. Será que estamos querendo estagiar na escuridão, para o entendimento destes dizeres?
Por exemplo, como é que os amigos tomam a expressão entendimento? Apenas como parte intelectual das tarefas de decifração, ou como necessidade de aplicação em todos os atos, imanentemente, ou seja, com fluidez natural, da mesma forma que se respira ou se empregam as ferramentas para o efeito do melhor desempenho?
Quantidades cada vez mais volumosas de pessoas se deparam com o que se preceitua para o reingresso espiritual. Poucas, entretanto, se prontificam para reais modificações para melhoria do procedimento moral, espiritual, evangélico.
Desafiamos os bons amigos a que desenvolvam a tese contrária, no lídimo exercício para os que desejam comprovar o nível de seu entendimento. O mais são balelas, água-de-cheiro doutrinal, durante um abrir e outro de boca, na sonolência própria de quem se dirige aos centros espíritas ou demais organizações religiosas, no intuito de se desvencilharem das obrigações.
No mínimo, bons irmãos, vejam se estão de acordo com o título da comunicação.







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ALHEIOS AO MUNDO





Muitos dos mortais julgam que os espíritos dos mortos deveriam isentar-se de opinar a respeito dos acontecimentos mundanos, já que deveriam preocupar-se com os cantares em louvor ao Pai, tangendo harpas e alaúdes, às vezes até sem conhecer direito tais instrumentos.
Dentre os desencarnados, existem também os que corroboram tais opiniões, buscando demonstrar desinteresse pela sorte dos antigos familiares e demais pessoas do relacionamento, achando que somente poderão intervir em seus destinos por meio das preces endereçadas a Deus, a Jesus e aos demais seres de superior categoria. Não se atrevem, assim, ao exame das ocorrências terrenas, muito menos dando oportunidade a que os encarnados sintam o influxo vibratório de suas presenças reconfortadoras.
Mais tarde, tanto os homens como os espíritos vão compenetrando-se da força da benignidade e do amor, vibrações de caráter elevado, apropriadas para a assistência energética ou magnética, passando a contemplar os amigos com inúmeras tentativas de benemerência.
Seja-nos permitido comparar. Assim que admitem deixar de se alhearem do mundo, querem recuperar o tempo perdido (que passa célere para os mortais), realizando incursões em terreno desconhecido, como, no campo terrestre, muitos se põem a receitar remédios ou processos de cura, sem terem dedicado tempo algum ao estudo da Medicina.
No etéreo, os benfeitores individuais favorecem-lhes a compreensão da necessidade de identificar os processos socorristas, como resultantes de intensa aplicação na área do conhecimento, a partir dos preceitos evangélicos. Prova-se, assim, que, mesmo quando existe interesse em auxiliar, se não houver a justa medida do conhecimento específico das atividades redentoras, continuam os companheiros alheios à humanidade.
É, pois, com muito cuidado, que se deve desejar melhorar os irmãos, seja qual for o aspecto em pauta. Mesmo para pequenos auxílios alimentícios, se não se fundamentarem as conclusões no conhecimento dos atendidos, poder-se-ão promover distúrbios físicos ou mentais, como freqüentemente acontece com os neófitos precipitados.
Caracterizam-se do mesmo modo muitas das mensagens dos alunos destas instituições escolares, que contam com a possibilidade de profícuos treinamentos mediúnicos. Claro está que a vigilância dos mestres tem impedido os absurdos, quando se trata de manifestações controladas rigorosamente, de acordo com programação bem ajustada às diretrizes emanadas dos planos superiores.
Entretanto, não se pode esquecer de que, por esse mundo afora, se encontram muitos espíritos, bem recebidos por médiuns ignorantes ou imprevidentes (o que dá no mesmo), que conseguem passar idéias falsas ou defeituosas, na pretensão de estarem fornecendo conhecimentos superiores da doutrina ou dos procedimentos próprios do campo espiritual.
Justifica-se, assim, o cuidado que os encarnados devem dispensar na recepção de muitas mensagens, escritas até no arrevesado jargão das estruturas científicas ou com a taxionomia adequada aos temas mais complexos dos conceitos técnicos e filosóficos ligados ao Espiritismo. Não é verdade que, quando se deseja impressionar a mente dos companheiros, procuramos impingir-lhes vocabulário sofisticado, com ares doutorais?
Banhemo-nos nas águas lustrais da simplicidade e da humildade e reconheçamos que pouco podemos. Nunca, porém, olvidemos que a existência do relacionamento entre encarnados e desencarnados poderá vir a ser profícuo para todos. Não nos alheemos, portanto, da vinculação promovida pela mediunidade e saibamos reconhecer quando os espíritos são de Deus.







16

CARREGANDO PEDRAS





Os portadores de boas novas sempre foram glorificados, mas, se as notícias desagradassem, era como se tudo fosse responsabilidade dos mensageiros.
Nós temos trazido muitas consolações aos mortais, entretanto, não podemos furtar-nos a apresentar quadros negros para quem não tolera a palavra de Jesus e tudo faz ao contrário dos ditames evangélicos. Sendo assim, não há como evitarmos os ataques maciços contra nossa disposição de alertar, de prevenir, de advertir, de exortar, de admoestar, de repreender, de objurgar, de levar à reflexão pelo poder da persuasão.
É antigo, na Escolinha de Evangelização, este tema, sendo referendado por todas as turmas que nos antecederam, ponto obrigatório das dissertações. Contudo, por mais nos empenhemos em amenizar as ponderações, para tornar mais leve o fardo dos humanos, ainda se encontram pessoas que nos rejeitam, confundindo-nos animicamente com o escrevente, não dando atenção aos desenvolvimentos em si, mas ao que podem representar como represália, em contrapartida aos sofrimentos de que nos acusamos, por nos reconhecermos em débito com o mundo, com a vida ou com os semelhantes.
Ameaçamos o caríssimo leitor ou tem você a impressão de que estamos, melifluamente, insinuando-nos junto à sua personalidade, na tentativa esdrúxula de contemplá-lo com a infelicidade das reflexões a respeito dos próprios desajustes evangélicos? As sutilezas argumentativas põem-no de orelha em pé ou correspondem ao que você pensa que seja a argumentação dos temas nobilitantes da espiritualidade, os quais se inserem nos roteiros e nos esquemas da codificação espírita? Como tem você recebido os raciocínios de Kardec? Julga-os pueris ou refertos de sabedoria, exigindo que todas as razões sejam postas em evidência, para a condenação ou para a afirmação?
Pensamos que não se conseguirão jamais tornar didáticos os temas mais polêmicos, dada a natural complexidade da mente humana, na apreciação dos fatos da natureza. Muitas pessoas requerem dos espíritos que as informem com clareza meridiana, suspeitando, desde logo, dos argumentos excessivamente trabalhados, julgando que, em havendo indícios de terminologia arrevesada, forçosamente técnica, também haverá que se exigir delas esforço penoso de concentração, desabituadas que estão aos desenvolvimentos de maior fôlego, como no caso em curso deste longo período, onde, embora cada pequenino segmento se apresente límpido de complicações, o conjunto se vê forçado em torneio de idéias que leva a mente a equilibrar-se mal, como se dependurada estivesse nos balaústres mais altos dos trapezistas circenses.
Estamos tentando provar pelo texto que carregar pedras é naturabilíssimo para quem ingressou no orbe. Alguns passarão esta e outras existências vetustamente, tentando decifrar até a necessidade de fazer funcionar a cabeça, no interesse do aprendizado das matérias morais, científicas e filosóficas. Que se dirá, então, quanto ao entendimento das realidades, em suas estruturações físicas ou energéticas?!
Conosco, o médium está precisando dispor-se vigorosamente para perceber as vibrações que lhe passamos, já que o sacrifício para o apanhado desta espécie de ditado lhe causa transtornos, no sentido da aceitação imediata de que possa valer para algo bom o trabalho todo. Carrega ele algumas pedras, embora nos tente passar que lhe é agradável estar a enfrentar os desafios da magnetização. É lindo exemplo de desprendimento, que nos servirá para o argumento relativo aos leitores, ou seja, que iremos empregar, maliciosamente, para que nos dêem razão.
No parágrafo anterior, dispusemos as diretrizes deste tópico. Será que seria o irmão capaz de desenvolver a linha dos raciocínios, prevendo exatamente quais serão as conclusões? Se tiver pressentido que iríamos interrogá-lo a respeito do texto, terá, decerto, capacidade para responder à questão com o máximo de proficiência. Se, com simplicidade, imaginou que diríamos que estaria a carregar pedras e que deveria fazê-lo com alegria, despojamento e bom humor, talvez venha a sentir-se logrado, conforme o nível de seriedade que exija dos comunicadores. Se nada tiver pensado, aguardando as surpresas de um grupo que deseja tornar-lhe o fardo mais leve, talvez até se tenha agradado com estas considerações.
De qualquer modo, não se esqueça, caro amigo, de que nos dispusemos na qualidade de jovens, ou seja, de alguém que tem tendências para as brincadeiras infantis, das quais nos lembramos com muita saudade.
— Infantilidade?
Mas não foi assim que Jesus definiu quem iria acompanhá-lo à morada do Pai?
Quer carregar mais pedras? Releia o texto. Ou siga em frente.







17

NAS HORAS DE CRISE





As mais pungentes solicitações dos encarnados se dão nos momentos difíceis das provações, quando a vida parece desandar, quando as aspirações quedam impossíveis de realização, quando a morte ou a moléstia investem contra as próprias pessoas ou seus familiares. Aí, não são poucos os que buscam consolação nos centros espíritas ou junto a orientadores espirituais das diferentes religiões, na tentativa de encontrar o apoio do Senhor, para a melhoria das condições de vida.
Dentre as mais tristes condições de infelicidade, estão as perdas dos entes muito amados. Esta talvez seja a dor mais profunda, caso as pessoas se voltem contra a divina justiça, desacreditando de que positivamente seja esse o caminho da ascensão, do resgate dos débitos, da purificação das almas do grupo atingido pela desgraça.
Temos testemunhado, contudo, em lares onde a fé espírita se sedimentou, que muitos seres compreendem a necessidade de aceitar o que denominam de desígnios de Deus, para que possam empreender nova escalada de sublimes aprendizagens, na tentativa de superação dos estágios espirituais, morais, filosóficos ou vitais inferiores.
Como fazer para adquirir paz de espírito, tranqüilidade de alma, equilíbrio emocional, estabilidade psicossomática, quando terríveis acontecimentos atingem pessoas do relacionamento afetivo? Neste ponto, cabe acentuar que a morte pode até ser melhor compreendida que certas ofensas ao aparato físico ou mental (psicomotor), como no caso de paralisação parcial ou completa dos movimentos dos membros ou de parte significativa do cérebro.
A prece é essencial. Orar com fervor, no entendimento de que os benignos auxiliares da espiritualidade estão cumprindo suas obrigações de benquerença, irá possibilitar que haja esperança de compreensão dos eventos, na expectativa de conformação ao fatum, para o reencontro no campo da espiritualidade, em momento oportuno.
Dar tempo ao tempo é regra conhecidíssima dos consoladores e de quem se satisfaz com os percalços, na certeza de que sempre haverá ocorrências mais graves e penosas.
Por outro lado, o amplexo amorável entre os atingidos pela mesma dor, no estabelecimento de círculo de consolações mútuas, poderá servir para o alerta contra as conseqüências desastrosas de quem não souber administrar sabiamente o sofrimento. Encontrar ombro amigo em que recostar a cabeça pesada pela dor é de lei e seria tudo, não fora a premente necessidade de que haja a superação e o fortalecimento da alma, para que o consolado passe a consolador.
Sirvamo-nos da dor, para firmarmos a consciência de que somos seres muito frágeis, diante das vicissitudes do mundo.







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DECISÕES DRÁSTICAS





Diante da falência moral dos companheiros, para não sermos envolvidos em chantagens emocionais, saibamos manter ereta a coluna da responsabilidade pessoal e gregária, exortando-os a que restaurem os princípios da verdade evangélica, devolvendo aos seres que lesaram todas as condições existenciais anteriores.
Há situações, contudo, em que a devolução não pode efetuar-se nos termos que acima propusemos, como no caso de incêndios provocados por pessoas pobres. Quando há assassinatos, então, como devolver à família o pai, a mãe ou o filho?
Se dissermos que o perdão é a palavra de ordem, em tais casos, iremos talvez desagregar as estruturas psicossociais dos leitores acostumados ao cumprimento das ordenações legais, que exigem dos fautores dos crimes que sejam submetidos a processo judicial, ficando à disposição dos poderes constituídos, para cumprimento das sentenças cominadas.
Mas vamos recorrer à crucificação do Cristo para a argumentação abonatória ao perdão.
Pelo que consta, não houve qualquer espécie de retaliação civil contra as autoridades que decidiram pela pena máxima contra Jesus. Nem ao menos qualquer dos discípulos ou dos apóstolos se indispuseram pessoalmente contra os responsáveis pela execução. Quererá isso dizer que ficaram tais indivíduos sem punição? Terão passado adiante na consecução de seu ideário de vida ou de seus postulados no campo da espiritualidade, avançando incólumes para as próximas etapas evolutivas, dado que o Senhor solicitou ao Pai que os perdoasse, uma vez que não sabiam o que faziam?
Eis que a maravilhosa exortação de Jesus contém a própria resposta à questão levantada. Se não sabiam, haveriam de necessitar aprender. Para aprender, haveriam que pensar sobre os atos praticados. Como não foram justos, teriam de caracterizá-los como afrontosos às leis divinas. Para a percepção da verdade consciencial, iriam averiguar que agiram sob o influxo da ignorância, sendo levados a concluir que prejudicaram ao Cristo e seus seguidores. Pela compreensão das culpas, haveriam de sentir a necessidade do ressarcimento dos débitos. Se impossibilitados de fazê-lo pelas injunções da inferioridade moral que reconheceriam, haveriam de exortar-se ao melhoramento, o que os levaria a trabalhar para a aquisição das virtudes em falta. Ora, alcançar méritos, em qualquer campo do procedimento elevado, exige sacrifícios, esforços, estudos, pela aplicação das diretrizes evangélicas, no sentido da absorção indissociável do caráter, de todas as premissas da lei maior. Eis que a justiça se estabelece, precisamente pela necessidade do cumprimento das regras morais superiores.
Por que não pensar direito desde logo, decidindo por drasticamente enfrentar os problemas com total vitalidade, sem esperar que o tempo venha a justificar cada pequeno passo, na direção acima descrita? Estão aí os registros morais superiores, ao alcance de todos. Basta tomar a decisão de barrar as péssimas tendências aos vícios, aos maus hábitos, aos pensamentos deletérios, aos costumes indecorosos ou indecentes, à matraquice inconseqüente, à inveja, ao ciúme, ao orgulho, ao egoísmo (para que não nos acusem de que não falamos dos cardos e dos espinhos).
Eis que tomamos a drástica deliberação de falar bem claramente, pondo todos os pingos nos ii.
Não é preferível assim?
E como ficamos, no caso dos desafetos que nos causaram aqueles prejuízos não ressarcíveis? Buscando cumprir o sábio conselho de Jesus, transformando os inimigos em amigos, pela lei do amor. E reconhecendo que falimos, por nossa vez, bem mais freqüentemente do que gostaríamos, especialmente se não dermos ouvidos às prudentes profligações aludidas, deixando estar para ver como é que fica, ou seja, aguardando que a lei cósmica se cumpra, para nosso deleitamento, à vista do sofrer dos devedores.
Eis que encerramos tão imenso círculo silogístico, voltando à recomendação às preces, onde, no mínimo, deveríamos lembrar-nos de que a sagrada recomendação se contém, brilhantemente: Pai, perdoai as nossas dívidas, do mesmo modo que perdoamos aos nossos devedores.
Teria consciência o Mestre de que tais reflexões iriam exigir decisões drásticas?







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REMÉDIOS EFICAZES





Não há de correr muito tempo, até que os homens descubram a cura de determinadas moléstias letais provocadas por microorganismos. Se pensarmos em termos históricos, vamos verificar que a etiologia das pestes, tormento dos antigos, se encontra perfeitamente compreendida, sendo possível a prevenção e o tratamento de tais infestações microbianas, conquanto haja focos ainda em regiões não atingidas pela civilização.
Do mesmo modo, quando se trata de afecções morais, devido à falta de esclarecimento das verdades existenciais, há grandes conglomerados humanos em que grassa a ignorância, muitas vezes até regrada por religiões oficiais, no interesse dos governantes e dos poderosos.
O que estamos sugerindo é que, se não houver liberdade para a aplicação mundana dos conceitos filosóficos, ninguém estará seguro de que vem assimilando convenientemente as determinações evangélicas. Como poderá o ser humano configurar para si o mundo do Pai, se não lhe for possibilitado argüir as verdades superiores, em função de melhor procedimento?
Fujam, amigos, de serem rigorosos quanto aos preceitos que queiram ver instalados na mentalidade dos companheiros e consangüíneos. Não vão agir como nos tempos em que as idéias científicas se viram rejeitadas pelas convicções religiosas, as quais se constituíram em óbices para mais rápido conhecimento e tratamento de muitas doenças.
Osvaldo Cruz, por exemplo, sofreu resistências até mesmo quando toda a parte teórica da febre amarela estava decifrada, sendo aceita por todos os institutos de medicina. Assim, precisou socorrer-se das milícias armadas.
No que tange aos problemas morais, se não ocorrerem distúrbios que prejudiquem as pessoas, não custa aguardar que os esclarecimentos se façam espontâneos. Caso, porém, das falsas presunções resultarem comportamentos de risco, há que se trabalhar de forma compenetrada, para oferecer aos companheiros a possibilidade, ao menos, de contatarem os princípios mais importantes da doutrina, quais sejam, as leis de causa e efeito e de reencarnação.
Como agir será capítulo à parte, na sistemática de abordagem psicológica dos assistidos e do tratamento que se deve dar à matéria doutrinária. De qualquer forma, estar atento é de rigor, na esperança de que se consiga antecipar a descoberta das moléstias, pela apreciação da sintomatologia.
Poderemos afirmar que está próxima a solução das afecções morais, da mesma forma que o fizemos relativamente a terríveis flagelos físicos? A visão histórica nos demonstra, cabalmente, que, em todos os tempos, as pessoas só alcançaram compreensão após muito peregrinar em meio a dores, sofrimentos e decepções. Terá o Espiritismo melhor sorte, na facilitação didática da aprendizagem dos valores evangélicos?
Colocamos nas mãos de cada um a resposta, que tanto poderá ser afirmativa quanto negativa, dependendo dos níveis de aceitação das elucidações espíritas a que derem crédito, na afirmação do desejo dos resgates, independentemente dos sacrifícios pessoais ou sociais. Cada qual deverá ser o médico de si mesmo, dosando proficientemente os conceitos evangélicos. A eficácia dos remédios, pois, está na rigidez do tratamento, porque não podemos discutir as virtudes da pregação cristã ou a verdade dos cânones espíritas.
Mal comparando, quando se administra antibiótico a cães, não há que se exigir deles qualquer resposta que não seja a reação física ao medicamento. No caso dos problemas morais ou espirituais, contudo, as pessoas devem saber como contraíram a afecção e como reagirão ao tratamento evangélico.

Para encerrar, cumpre-nos dizer que o presente desenvolvimento foi o mais discutido, tendo em vista a elementaridade das explicações. Aliás, o convencimento de alguns ficou na dependência desta nota. Como teriam opinado os leitores?







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FAZER AS PAZES





Quando Jesus nos exortou ao perdão, não foi porque desejasse ver os homens, benignamente, soberbamente, estender a mão aos desafetos, dando-lhes o anel a beijar. Queria o Mestre o abraço revitalizador e as lágrimas redentoras, que, esses sim, serão os sinais verdadeiros do entendimento e da aplicação da lei.
Tudo na vida tem de ser realizado com a convicção de que não pode haver nada mais perfeito. Precárias decisões, à medida que se deixa para depois o ato idealizado pela filosofia moral do cristianismo, não passam de perjúrio, de repulsa ao próprio conhecimento evangélico superior.
Só o homem (e a mulher) honesto ao extremo, ou seja, que não ofende aos princípios concebidos como divinos e eternos, é que percorre todos os itens do crescimento espiritual.
Perante esta mensagem, por exemplo, que tal ir definindo a postura de aceitação ou não, predispondo-se para a melhoria dos procedimentos, nem que se tenha de retornar à leitura dos Evangelhos? Ou, então, por que não se repreender o mensageiro, por não dizer nada construtivo, eivando o texto com os lugares-comuns da literatice espírita?
Há que se definir a pessoa, para que se possa esperar dela o melhor que lhe seja factível e não apenas o possível delimitado pelas circunstâncias.
Azedumes à parte, ergamos brinde de amor aos companheiros de viagem astral e corpórea, na expectativa da saudação à verdadeira amizade e ao real estágio de compreensão existencial.
Tempus edax rerum (o tempo destrói as coisas — Ovídio), o tempo se desintegra na defecção corpórea e mental, levando os encarnados a acreditarem no desfazimento gradual dos seres. Mas possui o homem inteligência capaz de perceber que a realidade espiritual pode ser bem outra, tanto que muitos aspiram à companhia do Senhor, logo após a morte.
Já pensaram os amigos se isso seria possível? Quantos bilhões de seres (só entre os homens) ocupariam o espaço ao derredor do Pai? Não será mais justo excluir do pensamento a idéia de lugar, que materializa a espiritualidade, emergindo para esferas menos evoluídas, para novas degradações "materiais" e aperfeiçoamentos "espirituais"?
Vamos acreditar em que não seremos suficientemente perfeitos para o encontro com Deus, nem com Jesus, nem com os orientadores planetários, nem com os anjos guardiões, nem... — Cada qual que evidencie a si mesmo o grau de adiantamento evolutivo atual e, a partir daí, coloque diante dos olhos níveis de aspiração mais consentâneos com a realidade.
Dessa forma, estaremos sendo levados a fazer as pazes conosco e, em seguida, com todos os seres a quem devamos algo. Em pouco tempo, serão nossos credores só os beneméritos da espiritualidade, que nos cobrarão apenas a mesma benignidade, pois nada há superior à transformação moral do mau ao bom, do bom ao melhor, do melhor ao perfeito, na realização conseqüente e sábia de cada momento.
Gostaríamos de prosseguir nesta linha de raciocínios até o infinito com o Pai, mas não temos visão muito elevada, ficando sem saber, inclusive, para onde se vai após libertarmo-nos deste sublime invólucro perispiritual que portamos. Mas o de que não vamos esquecer-nos é de fazer o máximo desde logo, como este texto em que colocamos a "alma".
Hão de perguntar:
— Mas é só isso?
E que mais poderia ser?...







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AS BOAS NOVAS





Nós, quase sempre, não reparamos nas informações que nos chegam a todo momento, de toda parte, segundo as quais todas as diretrizes materiais ou espirituais estão sendo rigorosamente cumpridas. Todas as nervuras do corpo e todo o magnetismo circunjacente ao espírito paira inalterável, dando contas de que tudo transcorre muito bem, no melhor dos mundos.
Evidentemente, o homem criou meios de saber de ocorrências distantes instantaneamente, por intermédio, principalmente da radiodifusão e da televisão. Não fora isso, muitos acontecimentos quedariam no âmbito de seu mínimo interesse, não desvinculando os homens de sua tranqüilidade habitual.
Como, todavia, nem todos os informes são agradáveis, repercutem no organismo psíquico de forma a causar pequenos ou grandes inconvenientes, conforme o grau de impressionabilidade de cada um. Se se deixarem os indivíduos dominar pela angústia, elevando o sofrimento acima da capacidade de assimilação quanto à importância para a existência ou quanto à extensão dos prejuízos corpóreos, poderão dar entrada a organismos estranhos que irão perturbar o soma, o que se convencionou chamar de psicossomatismo.
Aproveitamos o ensejo de algumas notícias ruins que chegaram ao escrevente (ao lado de outras muito boas), para enfatizar a necessidade de se estar prevenido para todos os tipos de eventos, dado que a vida, em nenhuma hipótese, pode ser inteiramente controlável, o que é do conhecimento de todos, conquanto a maioria reaja muito depressivamente ao receber as más novas.
Deste modo, o habitual deve ser a recepção das notícias sem sofreguidão, sem entusiasmos excessivos, nem tormentas descabidas. Não estamos, evidentemente, profligando que haja sangue-frio até para a morte de parentes e companheiros. Há vazões da emotividade que descarregam as energias deletérias e o pranto se encontra catalogado dentre as reações naturais às dores e sofrimentos. Contudo, as extrapolações violentas à justa medida do tempo do equilíbrio devem evitar-se, para que não ocorram as conseqüências acima apontadas.
No campo espiritual também repercutem os exageros, no duplo sentido de se inibirem as boas influenciações dos beneméritos benfeitores, e de facilitarem as incursões dos seres imperfeitos, os quais se comprazem em impingir mais sofrimentos aos pobres desavisados.
Estamos, a contragosto, dando maior relevância aos aspectos teratológicos, mas atentos a que o estado de normalidade psíquica é que deve prevalecer no dia-a-dia, ainda que sacudido pelo noticiário dos desastres, das catástrofes, das guerras e dos morticínios. Se não há como fugir dessa pressão jornalística, por razões que o ambiente cultural explica, pelo menos que se acompanhem as informações com a predisposição da ajuda espiritual mais adequada para os que sofrem: a prece com função de amparo pelas forças espirituais à mão.
Essa é fórmula que aproveita aos que rezam, pois, ao invés de se submeterem aos tremores produzidos pelas impressões funestas, vão também quedar na companhia dos guias espirituais, que mais lhes insuflarão coragem e entendimento para o enfrentamento de todas as situações desagradáveis.
Curioso notar, neste instante da leitura, se existe algum problema pendente, cuja solução não esteja propriamente ao alcance dos amigos, mas suficientemente absorvente, a ponto de distraí-los, levando-os a perderem, a todo instante, a linha do pensamento e das reflexões aqui impressas. Neste caso, momentânea interrupção para contrito pai-nosso não irá senão obrigar a mente a volver à meditação a respeito dos fatos da vida, do ponto de vista, evidentemente, das leis universais e não das ocorrências em si.
Se este desenvolvimento provocar desconcentração temática, então que se inventariem as boas novas que estão sendo recebidas pelo cérebro, para se perceber que nossos argumentos são válidos.







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SOFRIMENTOS INÚTEIS





Caracterizamos a inutilidade do sofrimento, quando vemos pessoas lúcidas deixarem-se envolver por pressentimentos falsos de desgraças, não apenas no plano das falências mundanas, como ainda e principalmente no dos desvarios espirituais, como se tudo o que promovessem de bom não tivesse o condão de repercutir favoravelmente no seio dos protetores e anjos guardiães, como se o Pai houvera de ser injusto perante alguns fracos titubeios morais.
Se tais indivíduos refletissem a respeito da morosidade da ascensão, não se afobariam perante as necessidades cármicas à vista, pelos indícios da dor que curtem sem motivo. Há até quem se desmanche em pranto só pelo fato de não ter tido suficiente luz para simples orientações socorristas em casos de desesperos de pessoas que o procuraram, para o conforto generoso da palavra amiga e da prece consoladora.
Havemos de considerar que não temos todos as mesmas tendências psíquicas, razão por que as tarefas têm de dividir-se entre os integrantes das equipes beneméritas do trabalho evangelizado. Se todos fôssemos escritores solertes, quem iria ler as produções?
Nós mesmos, não poucas vezes, tememos pelas dissertações que vimos transmitindo, dada a simplicidade, puerilidade ou superficialidade da temática, como ainda o arrevesado do estilo e os circunlóquios dos raciocínios. Como gostaríamos de deixar impressas só palavras perfeitamente adequadas para o momento de necessidade dos companheiros leitores! Mas havemos de curtir as deficiências e dificuldades de expressão, auxiliando-nos mutuamente no grupo e requerendo dos orientadores assistência contínua. Até o escrevente se põe a campo para ajudar-nos, quando complicamos por demais os períodos ou quando não temos força para o ditado exato das idéias que nos correm pelo pensamento.
Confessar que temos imperfeições, por certo, não irá ajudar os amigos no entendimento destas apreciações, nem temos para conosco que o fato vá relevar-nos as falhas, contudo, se provocarmos a desconfiança de que esta atitude leva à reflexão das incertezas, das dúvidas e das fragilidades conceituais, aí teremos atingido um dos objetivos desta fala: o convencimento de que da humildade e da singeleza saem os atributos precisos para as mudanças de comportamento mais importantes em cada caso.
No mínimo, esperamos que estas palavras consigam alertar os irmãos para a leitura de textos mais substanciosos, dada a precariedade destes jovens, mesmo quando reproduzimos as aulas, dando-lhes, todavia, o tônus de nossa desenvoltura intelectual e emocional. Exploramos ao máximo as indecisões e as ânsias, para demonstração clara de que tais sofrimentos são deveras inúteis, improfícuos, improdutivos, para quem aspira a crescer no campo do socorrismo evangélico.
Se damos com naturalidade os princípios norteadores das ocorrências de ordem inferior, também oferecemos os remédios eficazes para as curas das depressões, conquanto, no etéreo, a estruturação das mentalidades seja bem mais fácil de decifrar, pelo menos nos contornos das propriedades morais, para quem se situe logo acima das paragens umbráticas.
Revela-se, agora, a ocasião mais premente para quem não se dispôs com muita harmonia cristã durante a encarnação, qual seja, a de que é realmente de temer o futuro, quando se sabe que os atos foram conscientemente realizados em prejuízo de alguém. Mas, mesmo aí, o desespero não irá ajudar, embora não possamos dizer que, em tais situações, os sofrimentos sejam inúteis. Quem praticou o mal, conhecendo o reto proceder preconizado por Jesus, haverá de percorrer as estradas do arrependimento e do remorso, até que se dê o resgate de amor pelos benfeitores espirituais.
Se não julgarem inúteis, acrescentem comentários pessoais aos nossos, para o enriquecimento da peroração. São sempre sagrados os momentos de reflexão, quando realizada no intuito do aprendizado ou do ensino, o que poderá ocorrer concomitantemente. Sofrimento inútil seria tentar explicar a rústica conclusão da concomitância. Não é verdade?







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PANELA VAZIA





Preocupação superior dos humanos é a fome, que grassa em boa parte do planeta. Mas existem também muitos que, simplesmente, não levam em consideração as condições de inferioridade social dos miseráveis, arregimentando riquezas materiais em quantidades absurdamente grandes para a possibilidade de consumo durante a sua vida e de todos os descendentes, até a décima geração.
Que fazer para mudar a fisionomia social das nações em que o desperdício gera os contrastes demográficos e as contradições entre o teor das leis e sua aplicação?
Primeiramente, não suspeitar jamais de que todas as mazelas venham a ser inteiramente vencidas, já que são pouquíssimos os povos em que se pode dizer não existir pobreza. Aliás, soem receber municiamento financeiro de outras regiões, exatamente porque nestas ocorrem as diferenciações mais nítidas. Bem pensando, até que os melhores estão usufruindo a partir da péssima vida dos piores. Mas este não é o nosso ponto.
Quem deseja suplantar os males que causam as doenças endêmicas, como ainda o perecimento na infância e por desnutrição, em sua variada etiologia, deve, antes e acima de tudo, confiar em que Deus é justo e não dará jamais a ninguém fardo que não consiga carregar.
Hão de exclamar:
— Mas há tantos que morrem!...
Verdadeiramente, se ficarmos impressionados com o que ocorre no planeta, iremos sentir que existem os apaniguados e os desvalidos, o que não significa que estes estejam abandonados da misericórdia do Pai.
Há leis a reger a existência para além das condições encontradiças no mundo. Sem que sejam automáticos, já que dependem de cada situação particular, muitos sofrimentos que representam desgraças para os encarnados mais tarde serão colocados à conta de benefícios, pois se aproveitaram para digno crescimento espiritual.
Por que dizemos que não é sempre causa de progresso a infelicidade material? É que depende de cada indivíduo reger seu destino, acatando os sinais exteriores de inferioridade, sem que se dê a apatia dos que esperam apenas lucrar com tal estado de miserabilidade, para apresentação ao Senhor de atestado de sofrimento.
Recomendamos a todos que lutem por ampliar os conhecimentos, o que, necessariamente, irá contribuir para a melhoria da pessoa, da família e da população. Ser miserável não condiz com o equilíbrio mental e físico que levará a todos à compreensão das palavras do Cristo e às explicações de Kardec.
Nesta linha de raciocínios, haverá até quem se induza à perquirição das causas que levam os mensageiros a falarem às pessoas cultas, segundo os princípios da escolaridade terrena, utilizando de argumentações sofisticadas, por meio de linguajar ininteligível para os que se situam nas camadas mais pobres da população, incapacitados, portanto, ao entendimento.
Explicar que as pessoas vão recebendo os influxos conforme a possibilidade de percepção parece-nos inútil, dado que é óbvio que todos os seres humanos estão protegidos por benfeitores abnegados. Neste caso, podemos até dizer que muita gente rica recebe bem menos assistência, por serem mais autônomas, capazes de se suprirem de todos os benefícios da civilização, rejeitando, inclusive, as teses que se apresentam, como nesta mensagem, como profligadoras das atitudes egoístas.
É justamente aqui que entramos nós, pois a distribuição dos recursos sociais vai depender de quem manipula as leis, a política, a economia, o poder armado etc.
Raciocinando por absurdo, para concluir, se conversássemos sobre miserabilidade apenas com os miseráveis, que acrescentaríamos, materialmente, que já não saibam? Por outro lado, falar de riquezas a quem as possui de sobejo, será chover no molhado.
É aqui que o conceito da panela vazia ganha sentido metafórico, pois, se considerarmos a tal panela como a vasilha dos alimentos espirituais, aí a miserabilidade adquirirá sentido mais coerente com o socorrismo evangelizador que nos cabe propugnar.
Que o texto sirva para despertar sentimentos insólitos nos corações dos que o lerem. Principalmente, que os que tenham as panelas cheias (material ou espiritualmente) vejam que existem os que as trazem vazias. É aqui que a Humanidade irá congraçar-se em torno de Jesus, se tiver boa vontade e se souber discernir que o futuro se faz no dia-a-dia das benemerências.







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SAGRADO INTERRUPTOR





Antigamente, a imagem da vela que espancava a escuridão era comuníssima. Vamos pensar em termos modernos e consagrar alguns minutinhos para a importância dos interruptores na iluminação noturna, nos locais em que existe distribuição de energia elétrica.
Parece que iremos abrir esta mensagem de forma equivocada, já que os amigos devem estar suspeitando de que iremos oferecer conselhos óbvios a respeito das chaves das três revelações. De fato, o decálogo mosaico, os ensinos de Jesus e as informações espíritas contêm fontes energéticas capazes de iluminar a mente de todos os humanos. Mas não estamos interessados em tão cansativa repetição. O que desejamos é levar à reflexão que as ligações estão disponíveis, mas hão de ser onerosas.
Ao acender uma lâmpada, não é certo que o medidor registrará a quantidade de energia despendida, para que a companhia de força e luz apresente a respectiva conta, a menos que a ligação seja clandestina?
O sistema energético espiritual está ao alcance de todas as pessoas, contudo há que se contrair o débito da utilização das informações, já que ninguém ficará indene de retribuir ao desforço dos benfeitores, pagando-lhes na mesma moeda. Não será outro o sentido da frase de Jesus: Dai a César...
Se o caro amigo desejar burlar a companhia responsável pelo fornecimento energético, talvez acabe processado e preso. No campo da espiritualidade, contudo, todas as ligações são gratuitas, de forma que não há como agir na clandestinidade.
Queríamos desenvolver simples figura retórica, dando motivos aos leitores para pensamento no campo das realizações evangelizadas pela moralidade superior do Mestre. A partir deste instante, vamos deixar acesa esta luzinha, para que se sintam à vontade. Tudo o que fizemos foi dar um pouco do muito que recebemos, na expectativa de que os amigos acendam holofotes de perfeição. Ou deveremos aguardar até que o dia amanheça, para prescindir dos interruptores?







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QUALIDADES E DEFEITOS





Se houver quem diga que apenas tenha qualidades ou defeitos, certamente faltará com a verdade, inclusive do ponto de vista da honestidade relativa à compreensão do próprio valor. Se imaginarmos os seres mais atrasados, em condições de extrema inferioridade moral, largados em calabouços pela vida toda, criminosos de sangue, ainda assim, se formos analisar sua estrutura psicofísica, verificaremos que existem setores vitais perfeitamente organizados pelo padrão comum.
Não vamos dizer que as teratologias não produzam indivíduos absolutamente disformes espiritualmente, incapazes de qualquer vínculo social. Seria estultice não admitir as monstruosidades dos desequilibrados totais, perante as doenças mentais mais agudas. Mas também, diante de tais criaturas, poderemos situar-nos de forma a captar vibrações saudáveis em algum sentido inesperado ou insuspeitado. Muito deveremos procurar até adquirirmos a certeza do ponto em que se tornam frágeis diante da ponderabilidade dos argumentos cristãos. Ninguém deseja ser bandido de si mesmo, no mínimo, o que nos leva a considerar como os mais lamentáveis os suicidas, mas esses já não mais se encontram no orbe.
Por que dar ao texto tal desenvolvimento insólito e pouco proveitoso? Necessariamente, todos nós haveremos de defrontar-nos, em alguma circunstância, com entidades mais carentes do que nós, para o que deveremos preparar-nos convenientemente, já que vão esperar que lhe demos orientações, para progredirem na escalada evolutiva.
Voltando às bestas-feras aludidas, por um meio ou outro, os benfeitores da espiritualidade haverão de tocar naquele pequeno ponto de estremecimento íntimo, para o início da redenção, ou não se caracterizará, através do servo, a misericórdia do Senhor.
Terrível é convencermo-nos de que as nossas qualidades não são suficientes para a oportuna ajuda aos irmãos sofredores. Há até quem não intente sequer ministrar palavra de conforto ou de consolo, nos transes agudos em que nos pedem socorro. Evitar tais encontros é forma muito sutil de considerar-nos pouco evoluídos, quando, em ocasiões de tranqüilidade, somos capazes de desenvolver intelectualmente todos os tópicos do socorrismo humano ou espiritual.
Claro está que, às vezes, há chamamentos de ordem moral, há reprimendas inadiáveis, há tomadas de posição perante as atividades, impróprias segundo as determinações evangélicas. Nem foi outra a atitude de Jesus diante dos titubeios dos discípulos ou do povo em geral. Vai e não peques mais poderá ser o extrato desta peroração.
Também não existe a possibilidade de qualquer ser apresentar-se perfeito entre os encarnados, pois a infinidade do aperfeiçoamento obriga-nos a concluir pela impossibilidade de seres de altíssimo nível evolutivo sequer aproximarem-se da densidade corpórea. Casos como o do Nazareno são raríssimos e, ainda assim, não está a população humana capacitada ao reconhecimento desses avatares, tanto que houve a condenação e a crucificação ignominiosa. Para cúmulo da vergonha dos encarnados, estes foram capazes de concordar, em todas as épocas, em que as legislações romana e judaica não poderiam ter sido aplicadas contra o Mestre de outra forma.
Mas desçamos ao campo das possibilidades do homem comum, insistindo no ponto em que, quando as qualidades preponderam sobre os defeitos, aí, pela aplicação consciente dos mandamentos cristãos, não haverá fugir da responsabilidade da informação precisa, do ensino vigoroso, da recomendação equilibrada, do exame percuciente e do conselho produtivo. Mais ainda, não há burlar os anseios conscienciais de progresso que determinam, com Moisés, com Jesus e com Kardec, que o maior mandamento é o amor ao Pai e o segundo, o amor aos semelhantes, entre os quais o Nazareno inclui os inimigos.
Se amar e vigiar foram preceitos da maior valia, instruir-se e praticar a caridade são corolários perfeitos a serem aplicados enquanto os encarnados conseguem ser ativos mental e socialmente.
Enfim, haveremos de reconhecer que o que não cair sob a designação de qualidade há de considerar-se defeito, o que é metafisicamente correto e filosoficamente perfeito.







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PERIGO À VISTA





Quem já esteve na iminência de errar mas conseguiu evitar a tempo tal deslize, por força de influenciações espirituais, vai concordar conosco em que nem sempre isso será possível, sem que haja treinamento intenso da leitura das intuições. Todos temos para lamentar alguma ocorrência em sentido inverso, ou seja, algo em que tropeçamos, tendo teimosamente resistido àquela vozinha íntima que nos pedia para não executarmos o ato. Não é assim?
Pois bem, iremos eliminar esta faceta, se dermos atenção à necessidade de maior reflexão em cada episódio, onde se envolvam aspectos novos da vivência moral. Não falamos, evidentemente, das ações impulsivas no campo carnal, mais especificamente no dos desejos subitâneos despertados pela malícia sutil das influenciações psicológicas inseridas nas embalagens dos produtos. Aqui caberá apanhado mais científico dos dados ao derredor, passando as pessoas a agir deliberadamente avessas às tentações consumistas.
Tal exemplo, contudo, nos serve, a contento, para a descrição das falhas morais, quando o arrependimento nos leva, a posteriori, a conclusões sobre como evitar a repetição dos eventos. No caso das compras, o levantamento financeiro evidenciará o quanto poderíamos ter economizado, se não cedêssemos à volúpia da posse. No caso da moralidade, é o exame da consciência que nos dará o mesmo efeito.
A preparação advém da experiência aliada à reflexão. Contudo, não há que cair em tentação, ou seríamos levados a extremos de procedimentos que nos abalariam profundamente. O que nos deve preocupar é aquele meio-termo entre o prazer e o remorso, quando ficamos à deriva em mar de indecisões, sem firmar conceituação rigorosa a respeito das pequenas ofensas que fazemos a nós ou aos irmãos.
Cada qual deve saber exatamente onde lhe aperta o sapato, evitando-nos a descrição dos fatos a que nos referimos. Mas podemos falar dos pensamentos impróprios para a angelitude, quando emitimos vibrações negativas, sem que percebamos claramente que infringimos a lei da preservação, abrindo o campo psíquico para influenciações deletérias de seres menos perfeitos, habituados ao assédio aos imprevidentes.
Falamos de cátedra, alunos de primeiras letras levados ao hábito da meditação pelos mestres, ponto nevrálgico nesta programação dos primeiros passos para a evangelização e o socorrismo. Tanto temos refletido sobre os erros nesse campo instável das deficiências de caráter, que até o texto está sendo elaborado com excessivo cuidado, para não deixarmos passar nenhum mal-entendido de que possam valer-se possíveis detratores da obra mediúnica, para destruírem o trabalho que pretendemos oferecer com boa vontade.
Não temos o intuito de favorecer o crescimento moral dos leitores porque nós mesmos estejamos mais adiantados no caminhar evolutivo. Ao contrário, é desejo nosso demonstrar a intemperança que nos trouxe a este estado de inferioridade espiritual, para que se constitua em intuição saudável, no sentido da advertência que se farão os amigos, a partir da percepção da necessidade de maior controle dos pensamentos e das ações.
Orar é o ponto alto das prevenções e tal hábito jamais poderá ser acoimado de perdulário do tempo útil de que dispomos para vivenciar as experiências mais importantes, no aprendizado das diretrizes existenciais. Ao invés disso, será sempre o investimento construtivo do caráter, na abertura subseqüente às influenciações positivas dos beneméritos amigos da espiritualidade. É a contrapartida do impulso ao erro, este, sim, vilão do tempo, pelo desgaste que produz das forças vivas da intelectualidade e do sentimento, pela perversão dos raciocínios, na triste auto-acusação a que nos leva.
O perigo, pensamos, foi colocado bem à vista dos leitores, mas temos de enfatizar que se trata de quem tenha capacidade de perceber falhas e de sentir culpa. Há muita gente que, na percepção de que não deva gastar tempo com sentimentos que arruinariam sua maneira de ser, prefere prosseguir no mau-caratismo dos atos espúrios, passando por cima das sutilezas argumentativas da consciência apurada pelos ensinos de Jesus, o chamado evangelho da alma.

Senhor, ajudai-nos nos transes conscienciais, fornecendo, no momento anterior ao cataclisma das ações perigosas, os esclarecimentos contidos nas palavras do Mestre. Fazei-nos refletir com serenidade e justiça a respeito dos irmãos que nos cercam, na tentativa de fazermo-nos instrumentos de vossa sacratíssima vontade. E dai-nos paz de espírito, por compreendermos que tudo o que fizemos corresponde às vossas determinações. Assim seja.







27

O MOMENTO DE DESPERTAR





Até bem pouco tempo atrás, reinava, entre os filiados ao movimento espírita, a noção de que todas as pessoas deveriam converter-se à doutrina kardecista, para poderem receber o influxo dos conhecimentos superiores dos espíritos de luz, dos mensageiros de Deus. Tal tendência vem sendo paulatinamente mudada, para atitude mais cordata com os princípios de outras religiões e até das pessoas descrentes que ajam caritativamente. Diríamos que os participantes do espiritismo de luta se mesclam com a população em geral, evidenciando inegável tendência ao ecumenismo. Afinal de contas, o Pai não fará acepção de pessoas pelo sistema da filiação filosófica, mas pelas obras. Antes de Kardec, veio Jesus; antes de Jesus, Moisés e outros, e não se poderá dizer que, por aqueles tempos, ninguém obteve méritos para evoluir espiritualmente, endereçando-se a moradas de mais alta significação existencial.
Estamos remetendo os amigos a períodos anteriores ao advento do Espiritismo, para que suspeitem de que as verdades levantadas pelos amigos da espiritualidade, a partir da sedimentação do mediunismo, poderão ser apreendidas por outras vias, havendo até seitas e cultos que integram muitos dos conhecimentos filosóficos básicos das teses espiritistas, como as leis do carma, da reencarnação, do progresso e outras estudadas n O Livro dos Espíritos.
Não há maior facilidade do que a aprendizagem dos cânones espíritas, quando, após profícua vida de sacrifícios, de amor e de benemerências, o indivíduo passa para o outro lado e se encontra com os amigos, benfeitores, instrutores, guias e protetores. A festa da vitória sobre os vícios, as teimosias, as maldades e caterva de maus costumes impregnados na mente, é real e oferece aos seres a divina oportunidade da integração com os mais experientes, conquanto possa haver sofrimentos na descoberta das falsidades e das ilusões acalentadas metafisicamente.
Quem não leu a soberba obra de André Luís, Nosso Lar? Não é verdade que o autor se reconhece falido na Terra, tendo curtido oito penosos anos de Umbral e outros de intenso trabalho na colônia de transição? Pois foi lá que aprendeu as diretrizes espíritas e não durante a peregrinação terrena fracassada. A leitura das obras subseqüentes do mesmo autor evidenciará a possibilidade do aperfeiçoamento doutrinal, em plano muito semelhante ao dos mortais.
É por essa via que os parceiros encarnados da seara espírita estão compreendendo que o procedimento, idealizado pelos roteiros evangélicos e aplicado, diuturnamente, em cada faceta da luta pelo progresso e pela verdade, inclui, obrigatoriamente, a aceitação de que existem muitos caminhos para a ascensão definitiva rumo às paragens sacrossantas do Senhor.
Não há negar que os estudos recomendados por Kardec inserem as pessoas em conjunto muito expressivo de conhecimentos e de habilidades intelectuais, para a percepção da fenomenologia existencial, em função das correlações entre vida e morte, corpo e espírito, ação e reflexão, virtude e prazer etc. Mas, sem aperfeiçoamento moral, sem a prática socorrista essencial do amor pregado por Jesus, sem a convicção de que o perdão é a lei mais justa a ser observada pelos encarnados, sem a crença em que a misericórdia divina alcançará a todos, segundo os seus méritos, sem a fé em que a justiça universal colocará todas as criaturas em condições de progredir, sem a esperança de que alcançaremos juntos a perfeição (lições todas de Kardec), não nos valerá a doutrina, a não ser como advertência para o fato de que os ensinos estavam disponíveis e nós não fomos suficientemente probos na vivência evangélica superior.
Não vamos ao extremo de nos referirmos a irmãos que, espíritas de carteirinha, se deixam distrair por questiúnculas técnicas, mais interessados na descoberta científica dos eventos espirituais proposta pelo Codificador, esquecidos da sublimidade das explicações morais contidas n O Evangelho Segundo o Espiritismo, acabando por se verem enleados em complexos problemas de afirmação teórica, dentro da escuridão do Hades.
Se, reiteradamente, temos afirmado que é preciso cumprir o princípio do amor e da instrução, jamais dissemos, nem iremos fazê-lo nunca, que o conhecimento vem em primeiro lugar. O amor, sim, é fundamental, como se lê em todas as obras de cunho evangélico. Segundo João, Deus é amor (I Jo, 4:8). Quem estiver emocionalmente equilibrado, trabalhando com dedicação para que todos os seres de seu relacionamento melhorem, haverá de adquirir sabedoria para a compreensão de tudo. Eis como se deve analisar, finalmente, a expressão: a cada um segundo as obras.
Quando será o momento de despertar? Assim que soar o relogiozinho da consciência. E isso se dará no exato instante em que percebermos que todos somos irmãos.







28

AS RELIGIÕES DE DEUS





Todas as religiões falam do Senhor. Mas havemos de distinguir as que respeitam as pessoas e as que as utilizam para as finalidades do culto e para o enriquecimento dos sacerdotes. Não havemos de considerar respeitosa a que consagra, em sacrifícios cruentos (e até humanos), a oferenda do agrado de sua divindade. Por certo, há espíritos a orientarem a selvageria do culto e a materialização dos sentimentos, todavia, não há que se acreditar que venham de Deus.
Muitos cultos religiosos tendem para a concretização da fé, na demonstração que se quer inequívoca do respeito, da crença e da adoração. Para não ofender sensibilidades, pois este terreno é cediço e comprometedor, à vista das sutilezas dos raciocínios, quando se trata de resguardar direitos e opiniões (diríamos melhor, convicções), não iremos citar exemplos atuais. Baste-nos o sacrifício anual de rapaz de dezoito anos entre os astecas. Ou os episódios bíblicos em que jovenzinhas eram imoladas ou, na última hora, substituídas por animais. Não consta no Levítico extensa relação de oferendas, estabelecendo-se até a parte destinada ao sacerdócio?
De resto, o princípio de se desfazer de porção das posses, transferindo-a para a igreja dominante, ficou no ato, mais ou menos universal, da passagem entre os fiéis, no templo, da cestinha para as contribuições facultativas, do ponto de vista dos desejos de fraternidade e de consideração pelos menos afortunados, mas obrigatórias, se considerarmos a necessidade do cumprimento de certas obrigações, como a do dízimo.
As exteriorizações do culto foram muito bem analisadas por Kardec. Entretanto, dado a prestação de serviços comunitários, os irmãos espíritas não vêem óbice moral no fato de se solicitarem espórtulas, além de dedicado trabalho de assistência física, já que a matéria se impõe como tópico obrigatório para quem deseje evoluir no mundo carnal.
Se pensarmos como o codificador, iremos sustentar a tese de que a instrução levará ao aperfeiçoamento moral e este, por via de conseqüência, irá reger a vida comunitária, não havendo mais necessidade de qualquer assistência material, uma vez que haverá perfeita distribuição dos haveres e das riquezas, contentando-se todos com pouco, para que todos possam ter o suficiente. Eis o socialismo espiritualizado da doutrina kardequiana.
Na luta de mais de cento e cinqüenta anos, contudo, não temos visto as sociedades se harmonizarem pelas diretrizes espíritas. Aliás, seria até estapafúrdio esperar-se que os homens, após milênios de iniqüidades, iriam desejar, realmente, a igualdade, a fraternidade e a liberdade universais, ideal que se imiscuiu no espírito francês do Codificador, formado, cultural e civilizatoriamente, pouco depois da Revolução.
Para que as religiões sejam de Deus, haverão de desligar-se do profano, das intercorrências históricas, dos eventos mundanos. O sentimento religioso deve pairar acima do acidental, do secundário, do corruptível. Religião e filosofia se confundem na essência, pois devem fluir da capacidade humana de busca da verdade. Em última análise, constituem as duas asas dos anjos: o sentimento e o pensamento. Mas deverão imbricar-se em considerações jamais excludentes, afirmando uma o que a outra comprova.
Leva-nos o raciocínio a considerar a existência de uma religião para cada ser humano? Sem dúvida, enquanto houver grau de desenvolvimento espiritual específico em que se situe cada um. Mas a tendência, evidentemente, é a de conjugação dos esforços, para que as experiências se examinem à luz das possibilidades do entendimento das coletividades. A prevalência da liberdade, neste tópico, é absoluta, ou não se configurará a integração almejada.
Falamos de fraternidade, de liberdade e de igualdade, mas não podemos esquecer-nos de que é a caridade que reúne todas as virtudes.
Quando Kardec, ao final da vida, previu a transformação de sua doutrina filosófica em religião, pela impossibilidade de aproveitamento dos cânones espíritas pelas religiões em voga, anteviu, com clareza, que os homens teriam de refletir a respeito de cada tópico discutido em suas obras, para a configuração das diretrizes que norteariam tal empreendimento. Quem estaria disposto a recomeçar a codificação, a partir deste ponto?







A HORA DE ENCERRAR





Ocupamos este posto durante tempo excessivo, sem oferecer mensagens substanciosas, por termos pouca experiência mediúnica. Apesar do auxílio valiosíssimo de Maciel, não nos foi possível realizar todos os projetos. É hora de encerrarmos, crentes de que, pelo menos, vencemos momentos de insegurança, quanto ao equipamento terreno, e dificuldades conjunturais, dado o período atribulado por acontecimentos sociais.
Mas não iremos sem oferecer nossos préstimos aos leitores, já que nos aprimoramos na assistência de caráter intelectual, sempre prontos para a meditação conjunta dos temas da moralidade cristã e dos eventos espíritas, entre os quais se inclui o fenômeno mediúnico e a respectiva tecnologia de aproximação entre os planos.
Por que não nos dedicamos mais produtivamente ao que somos menos falhos? Esse é o segredo do progresso, nesta organização escolar: a aplicação dos esforços nas áreas menos conhecidas. Não será verdade que poderemos intentar melhores comunicações a partir destes exercícios?
Por outro lado, queremos enfatizar o fato de termos vencido o maior desafio, qual seja, a união de todos os elementos do grupo em torno das mesmas conclusões. Houve momentos difíceis, de estrênuas discussões, mas acreditamos ter vencido as etapas, mergulhando fundo na consciência, para a apreciação das análises que contrariavam nossos pontos de vista. De início, suspeitávamos de vedetismo dos que se alinhavam do outro lado, o que nos fez perder tempo. Ao final, porém, reconhecida a fragilidade específica de cada um, passou a ser até divertido aguardar as objeções costumeiras, para a contraprova mais efetiva, segundo linha de argumentação que se definiu no decorrer das sessões.
O resultado é o que se encontra em cada texto; frio resultado, que não comportou o acalorado das tertúlias.
A bem da verdade, havemos de considerar que alguns tópicos ficaram sem definição, de modo que haverá novas sessões e pesquisas, para o que se aprestam os orientadores, com salutares provocações, sob forma de perquirições, de exemplificação ou de estímulos puramente dialéticos.
Se pudéssemos, iríamos sugerir que tal método de aprendizagem se adotasse entre os amigos espíritas, em longas apreciações a respeito dos temas mais polêmicos, com o compromisso de ninguém ceder, a menos que a argumentação convença. Sabemos muito difícil conseguir bons resultados, já que o componente emocional se fortalece, quando os encarnados se sentem ameaçados nas crenças e convicções. Qualquer dia, porém, haverão de lá (cá) chegar.
Agradecidos a todos que entenderam a inconsistência dos textos e o esforço em tornar-lhes a redação a mais acessível possível ao leitor médio, despedimo-nos, abraçando os irmãos que se atreveram, corajosamente, a enfrentar todas as peripécias mentais, para terminarem conosco. Se tiver valido a pena, se alguma palavrinha solta lhes houver contagiado o espírito, ficaremos recompensados pelo trabalho dos orientadores e do escrevente.
Que o Senhor nos proteja e guie em todos os empreendimentos de paz e amor!














ALGUMA POESIA





















1

VERSOS PARA O ESPÍRITO





Não queira que estes versos sejam bons,
Mas que tragam conforto permanente,
Pois tudo o que se passa no consciente,
No íntimo da mente, teve os dons.

Queríamos dizer-lhe que se sente
A nuança mais suave desses tons,
Trinado mui sutil dos leves sons,
Na faixa astral do espírito da gente.

Assim, uma lição, em rudes versos,
Não deve deixar dúvidas teóricas,
Por não querer fazê-los maus, perversos.

Nem todas as colunas vão ser dóricas,
Que as outras não detêm papéis diversos,
Porém, não podem ser fantasmagóricas.







2

ELEIÇÃO DE AMOR





Na trilha do saber espiritista,
Encontra-se um ensino muito antigo:
É que se deve amar cada inimigo,
Devendo a gente ser mais elitista.

— Contraste, vitupério, grão perigo... —
Afirmam os que temem ver benquista
A solidariedade em que se enquista
A falha de eleger o mal do amigo.

Não temos pretensões a pregador,
Mas temos para nós que o bem arrasta,
Se vamos dar a todos nosso amor.

Quem quer usufruir a luz afasta
A maldade que possa causar dor,
Dizendo para si: — Agora basta!







3

DURO CAMINHO





Querendo palmilhar duro caminho,
Havemos de calçar forte alpercata:
Quer no deserto quer por entre a mata,
Existe pedregulho ou acre espinho.

Assim é que o maldoso desacata
Quem queira só fazer-lhe bom carinho,
Pois age com caráter de fuinho,
Pensando ser amor sutil cascata...

Quem vem com muitos temas da doutrina,
Julgando promover grande furor,
Vai ver que a vida densa logo ensina

Que, antes de pregar, existe a dor
De ver que o povo inteiro mais se inclina
A rir de quem se julgue benfeitor.







4

A SANDÁLIA DE JESUS





Que tipo de sandália é que trazia
O Mestre p ra evitar machucaduras,
Sabendo, desde sempre, serem duras
As críticas do povo que se ria?

É próprio das mais torpes criaturas
Achar burrice ler qualquer poesia,
Que nada que aqui vissem poderia
Mostrar-lhes que as virtudes são mais puras.

Ao seguir os caminhos de Jesus,
Doce esperança de falar ao povo,
Para mostrar o norte dessa luz,

Há que se suspeitar o mal de novo,
Que é triste de se ter bem preso à cruz,
Plantado nesse amor, santo renovo.







5

SINAIS





Os lábios de Jesus foram selados,
Mas justo sentimento perdoou
Quem por perversidade o maltratou:
Autoridades, povo e mais soldados.

O medo dos discípulos domou
As ânsias de se verem coroados,
Descrendo até de seus apostolados,
Que, morto o Mestre, foi e retornou.

Aí, foram sinais a toda a hora,
Pois houve quem quisesse ver p ra crer,
Lei perene que ainda hoje vigora.

Quem desejar cumprir o bom dever
Vai perceber que existe quem descora
Só em pensar em dar mais bem-querer.







6

INSPIRAÇÃO





— É hora de fazer mais sacrifícios? —
Perguntará o amigo nesta hora,
Pensando já que deva ir embora,
Pois da resposta tem alguns indícios.

Devemos nós listar, sem mais demora,
Quais serão as virtudes, quais os vícios,
Ou vamos suspeitar que haja resquícios
De honestidade em quem o mal deplora?

Se alguém duvida deste nosso gesto,
Pensando até que possa ser perverso
Quem use do evangelho em seu doesto,

Busque ficar em sentimento imerso,
Que seja brando, útil, bom, honesto,
E escreva, pondo o coração no verso.







7

FLAGRANTES DE ALEGRIA





Se chover na minha horta,
Irei ficar satisfeito:
Quem bater à minha porta,
Receberei desse jeito.

Quiseram que minha voz
Voltasse a ser bem ouvida.
Doutra feita foi atroz,
Quando lhe dei minha vida.

Subi o morro depressa:
Foi assim que despenquei.
Quando o ardor no peito cessa,
Essa tristeza é de lei.

Chorei lágrimas sentidas,
Tracei os rumos da história.
Com as lições bem sabidas,
Poderei cantar vitória.

Corri por seca e por meca,
À procura dessa glória.
Pulei que nem perereca
Para me livrar da escória.

Fui ajudado por quem
Outrora dei pontapés.
Preciso fazer o bem:
P ra cada mal mais de dez.

Vim fazer esta poesia,
Descarrego desse encosto,
Mas não vou entrar em fria,
Pois faço com muito gosto.

Chego a sentir a esperança
De que o bem logo se alcança
Com amor no coração.
Por isso, vou bem ligeiro,
Galo arisco no poleiro,
Desenvolvendo a escansão.

O tempo logo perpassa
P ra quem tem bastante graça
E a traduz em belas rimas.
Se sofrer ao fazer versos,
São sentimentos perversos,
Incongruência de climas.

Atiro, às vezes, no escuro,
Mas p ra valer, isto eu juro,
Querendo que dê bem certo.
O meu amigo escrevente
Parece até que pressente
Que desejo ser esperto...

Entretanto, um bom sexteto
Exige não seja preto
O sentimento da rima.
As cores do arco-baleno
Vão dar o tom mais sereno
À bonança deste clima.

O seu ar preocupado
Repercute deste lado:
Eu fico de orelha em pé.
Ao buscar o dicionário,
Desejo ser milionário:
Nas palavras boto fé.

Mas não fiquei satisfeito,
Já que não pude dar jeito
À rima daquele arco.
Noutro dia, voltarei
P ra seguir da terra a lei:
Hoje o verso é só um marco.

Falaremos do futuro,
Estando por trás do muro
Que circunda o cemitério.
Dessa forma é muito fácil
Ser ainda bem mais grácil,
Com assunto mais que sério.

Falaremos sem nuanças
Das nossas pobres andanças
Pela Terra, sem destino.
Sopitaremos tristezas,
Salpicaremos belezas,
Cantaremos doce hino.

As mais nobres harmonias
Caberão nestas poesias,
Que a vida é bem de raiz.
Em nome de Jesus Cristo,
Cada sofrer é benquisto
Pela sua diretriz.

Quem carrega sua cruz
Acrescenta muita luz
E esplendor em sua aura.
Em nome do Salvador,
Esparjamos muito amor,
No processo que se instaura.

Acredito que terei,
Junto à gente desta grei,
Satisfações e sorrisos.
Sendo assim, vou dando o fora,
Por saber que já é hora:
Ninguém sofre em paraísos.

Quero dizer o meu nome,
Que já teve até renome
Durante um encarne meu.
Não foi nada grandioso,
Mas até que foi gostoso
Ser o Zequinha de Abreu.

Não se espante o caro irmão,
Se não trouxe uma canção
Que reviva os velhos temas.
É que, nas plagas daqui,
Os tico-ticos daí
Espalham outros problemas.

Mas sobrou o velho dom
De julgar que seja bom
Tudo o que dê alegria.
Volto um pouco jururu,
Pois viver só de sagu
É borregar n água fria.

Vou partir que esta saudade
Aos pouquinhos já me invade,
Deixando minh alma triste.
São flagrantes de alegria
Que coloquei em poesia,
Pois o Zeca aqui existe.







8

FAZER O MAL, NUNCA MAIS





Na hora da despedida,
Saí contente da vida,
Agradecendo ao Senhor
Pelos bens e pelos males,
Pois, das lágrimas nos vales,
Compreendi o que é o amor.

Vaguei um tanto no Umbral,
Resgatando cada mal,
Pelas dores conscienciais,
Mas surti para esta luz,
Trazendo impresso na cruz:
Fazer o mal, nunca mais!

Aprendi minha lição,
Que trago agora ao irmão
Que me lê com interesse.
Se ficar bastante atento,
Perceberá, num momento,
Se o seu mal será bem esse.

Visite algum cemitério,
Mas mantenha o senho sério
Perante as artes da morte,
Pois o sofrimento alheio
Só nos parece mais feio
Se tivermos melhor sorte.

Procure ler nos escritos
Dos sentimentos os gritos,
Nas agruras dessa dor.
Imagine o pobre irmão
Depositando no chão
Os frutos do seu amor.

Conte os passos para fora:
Serão tantos quanto chora
Quem no Senhor não quis crer.
Mas não tema o compromisso
De prestar um bom serviço,
Orando além do dever.

Procure após um abrigo,
Podendo contar comigo
Para o que der e vier.
Chore mágoas bem sentidas,
Mas saiba que são vertidas
Até quando Deus quiser.

— Misericórdia, Senhor! —
Rezará com muito ardor,
Solicitando o perdão,
Prometendo com desvelo
Nunca mais comprometê-lo,
Falseando sua missão.

Sentirá um forte abalo.
Correrei para ajudá-lo,
Estendendo a minha mão.
Falaremos do infinito,
Calaremos nosso grito
Nos imos do coração.

Poremos fé no futuro,
Derrubaremos o muro,
Falaremos do porvir.
Egoísmo revelado,
As ânsias postas de lado,
Voltaremos a sorrir.

Correremos alguns riscos
(Quando chove há coriscos,
Mas, no final, há fartura).
Superaremos problemas,
Traçando justos esquemas,
Buscando o bem que mais dura.

Eu quero agora sentir
Se o compadre Wladimir
Vestiu a tal carapuça.
Pelo jeito, quer reler
Para dar seu parecer,
Pois a verdade ele fuça.

Está certo, companheiro,
Não queira ser o primeiro,
Quando um fantasma o convida.
Fique logo prevenido,
Aguçando o seu ouvido,
E analise a sua vida.

Veja o bem que praticou,
Sinta o que mais lhe sobrou
Das virtudes evangélicas.
Aplique com energia
— Como sei que bem faria —,
As regras das artes bélicas.

Disciplina, sobretudo.
E muito engenho no estudo
Das normas do espiritismo.
Com atenção permanente,
P ra poder lutar de frente
Contra as forças do ocultismo.

Dar a Kardec um bom crédito,
Que leu de Deus o seu édito
Pelas leis universais
Julgando a dor de Jesus,
Escreva na sua cruz:
Errar tanto, nunca mais!

Você quer que escreva um nome,
Mas não vai ter o renome
Do Zeca que aqui esteve.
Trata-se só do João
Que prestigiou seu irmão,
Pelo amor que ele lhe teve.







9

FAVO DE MEL





Correndo grandes perigos,
Vim visitar os amigos,
Desde a treva mais profunda.
É que a luz hoje me cega,
Como quem sai desta adega,
Tendo levado uma tunda.

Aceitei o compromisso
De vir prestar o serviço
Do testemunho perverso.
Se brilhar o sentimento,
Se trabalhar a contento,
Vão ouvir este meu verso.

Estou muito enferrujado:
Não pratiquei deste lado,
Não me saem logo as idéias.
Por isso, peço paciência,
Que os tratos desta ciência
Vão causar-me dispnéias.

Fui um fraco nessa vida,
Dando aos vícios tal guarida
Que inda estou tonto deveras.
Mas é tanta a disciplina
Que o povo daqui me ensina
Que são poucas as esperas.

Pretendo deitar saber,
Tendo pouco que dizer
Para ser original.
Se não fosse este escrevente,
Seria pobre indigente,
Peteca nas mãos do mal.

E o povo destas esferas
Não aceita tais paqueras
Com o médium que me serve;
Quer que vá direto ao ponto,
Não aceitando o desconto
De um pouquinho desta verve.

Não quero ser nada injusto,
Pois seria outro o custo,
Se me desse por inteiro.
É que a turma do agasalho
Sabe bem que o seu trabalho
É manter-me prisioneiro.

Veja como ardo de fome,
Que esta crise me consome,
Que o verso é um favo de mel.
Se me deixarem sozinho,
Não farei qualquer carinho:
Beberei todo o tonel.

Dei as dicas do meu crime:
Quem é bom jamais se exime
De prestar um bom serviço.
Diante deste equilíbrio,
Hão de pensar ser ludíbrio
Ou falsidade o meu viço.

Realmente, tenho fé
Em saber como é que é
Esta tal felicidade.
Estudando com vigor,
Quero sentir o valor,
A força da caridade.

Vou parar para pensar
Se estou indo devagar,
No sentido figurado.
É que sinto a propensão
De sustar esta escansão
Por estar amargurado.

É que senti o desejo
De estalar um terno beijo
Nas faces dos meus amigos,
Agradecendo, feliz,
A tão nobre diretriz
Que me livrou dos perigos.

Antes de ir, devo agora
Demonstrar que inda vigora
A lei do agradecimento.
É que Jesus me deu força,
Que é justo que o povo torça
P ra dar certo este momento.

Pai do Céu, eu mais preciso
Que se acerte o meu juízo
Nas palavras deste adeus.
É que eu fui feliz no grupo,
Sem receber um apupo;
Vivas, sim — graças a Deus!

Pergunta o nosso escrevente
Como é que o pobre sente
As delícias desta hora.
Pois vou dizer-lhe com gosto
Que, deixando o nobre posto,
Meu coração muito chora.

Fazer versos neste clima,
Não falseando uma rima,
É a prática perfeita.
Esquecimento das dores,
Pela mão dos benfeitores,
É sentir a alma eleita.

Todos querem dar apoio,
Separar trigo do joio,
Na hora desta missão.
Mas cabe ao irmão leitor
Aceitar que houve amor
Neste rude coração.

Entendi. Neste momento,
Surgiu, no meu pensamento,
Que me encontro mergulhado
Nas águas tristes do orgulho,
Poluída pelo entulho
Do egoísmo malfadado.

Se eu falar menos de mim,
Saberei que ser ruim
É grossa perversidade.
Nada tinha p ra dizer,
Mas busquei o bem-querer
De toda a comunidade.

Veja que esta crise choca
Quem tem vezos de minhoca
Mas se pôs em pleno dia,
Querendo dar de bacana,
Para saber quem se irmana
Nas ondas desta harmonia.

Sinto que se cansa o médium,
Mas prossegue — que remédio! —
Neste trem desgovernado,
Que corre por sobre trilho
Que permite um estribilho
Próprio para um bom recado.

Falso princípio de trégua,
Aplico bem esta régua
Para medir a espessura
Das forças que se diluem
Nas águas que se poluem
Com restos de sepultura.

Deram-me a tal liberdade
P ra mostrar a qualidade
Dos versos que eu mal faria.
Dei logo co’os burros n’água,
Acrescentando mais mágoa
À tristeza da poesia.

Atividade que cessa,
O despertar vem depressa:
Chamo o médium mais um pouco.
Saiba agora o meu amigo
Que pode contar comigo,
Se precisar de algum louco...

Não pretende ele encerrar,
Deixando um papo no ar,
Sem sentido p ra cachorro.
Quer que seja bem sincero,
Fazendo ver que eu espero
Deste grupo um bom socorro.

A arte de versejar
Pode ir mais devagar,
Segundo um ponto de vista
Que julga mais importante
A formação do estudante
Que deseja ser artista.

Neste caso, eu me retiro,
Pois estudar eu prefiro,
Para volver mais elétrico,
Que os temas que hoje eu verso
Mostram quanto sou perverso,
Neste penar mais que tétrico.

Meus gracejos são só troça,
Indícios que o bem se esboça
No alvorecer da consciência.
Aos mestres, clamo com gosto
Que, ao deixar este meu posto,
Compreendo a obediência.

Uma palavra ao leitor
Deixo aqui, com muito amor,
Neste final de poesia:
Leve o fardo até o fim;
Se o fizer pensando em mim,
Há de ter só alegria...







10

A SAÍDA





Antegozando o desfecho,
Vou compondo o meu entrecho,
Com toda a satisfação.
Não tenho medo do escuro,
Mas voltar p ra lá — eu juro —,
Só por força de missão.

Tenho tido bom cuidado
Em trazer tudo acertado
Pelas regras superiores.
Cumpro os deveres na hora,
Faço tudo sem demora:
Tenho medo de outras dores.

Mas o temor é lorota
Que a coragem logo brota:
Basta rezar uma prece.
Sentimento aliviado,
Do Senhor abençoado,
É a fé que sempre cresce.

Recomendo aos bons amigos
Que se evitem os perigos
Dos desafios egoístas.
Em paz, ao levar a vida,
O progresso nos convida
Para sermos altruístas.

Mas nem tudo está perdido,
Mesmo quando resolvido
Pela forma mais cruel.
É que Deus, em sua bênção,
Quer que os filhos todos vençam:
É sopa a cair no mel.

Sentir a vida pregressa
É saber que, bem depressa,
Os nós vão chegando ao pente.
A memória é coisa boa,
Sabendo que o tempo voa,
Tendo mais tempo na frente.

Tal pensamento, no etéreo,
Parece ser muito sério,
Ao contrário dos mortais,
Que querem tudo gozar,
Renegando o devagar,
Sempre desejando mais.

O organismo então baqueia,
A doença é muito feia,
Põe a pessoa de cama.
É convite ao pensamento,
Diante do passamento,
Que seus direitos reclama.

Nunca é tarde p ro arrepio,
Até quando existe um fio
De esperança de curar,
Não o corpo e sim a alma,
Se se pensar com mais calma
Na doutrina basilar.

Quem chega aqui de repente
Muitas vezes não se sente
Com vontade de entender
Que tudo o que fez na vida
Não lhe indicou a saída
Pelas portas do morrer.

Pensa estar bem vivo ainda,
Pois tal sensação não finda,
Se a matéria for primeira.
Aí vai ter o trabalho
De rever o ponto falho,
Mesmo até caso não queira.

Se tiver alguns amigos
A remover os perigos
De desastre consciencial,
Dar-se-á por mui feliz,
Escapando, por um triz,
De pagar logo o seu mal.

Caso a luta seja intensa
Para firmar bem a crença
Da situação do existir,
Há de receber apoio,
Engajado num comboio
Que p ra Terra vai seguir.

É num centro de socorro
Que dirá: — Agora eu morro,
Se souber que já morri!
A situação é precária,
Embora pareça hilária
Para esta turma daqui.

Mediunidade evangélica,
Nesta ação psicodélica,
É norma dos benfeitores.
Tinha medo de fantasma,
Mas percebe que não pasma:
São outras daqui as cores.

Compreenderá que morreu
E dirá que o mundo seu
Há de ter outra feição.
Mas vão dando-lhe o remédio,
Demonstrando pelo médium
Qual será a salvação.

Se tiver amor no peito,
Mesmo pouco, leva jeito
Para os serviços da turma.
Se estiver comprometido
Com o mal, vai ser contido:
É preferível que durma.

Enfim, são muitas as formas,
Variadíssimas as normas
De atender o sofredor.
Em caso de desespero,
Se odiar em exagero,
Cai no mundo inferior.

Aí, vai sofrer horrores,
Bem longe dos benfeitores,
Até chegar a entender
Que tudo o que fez na vida
Não lhe indicou a saída
Pelas portas do morrer.

Eis o recado que temos
Para os instantes supremos
Do meditar sobre a vida.
Faça uma breve oração,
Peça a Deus o seu perdão,
Sinta que a morte o convida.

Sempre há tempo para o bem,
Quando o corpo um sopro tem
De esperança de socorro,
Pois quem veio um pouco antes
Quer ouvir dos semelhantes:
— Não me importo se hoje eu morro!

Vai começar a sessão,
No pontinho em que este irmão
Chegou para o seu recado.
Tendo escrito todo o entrecho,
Chego agora ao bom desfecho
Que já foi antegozado...







11

MINHA MÁGOA





Palmilhando com amor
As estradas de Jesus,
O homem tem mais valor,
O mundo terá mais luz.

Se quisermos compreender
As razões para o trabalho,
Abramos mão do poder,
Sendo simples espantalho.

Para os atletas da fé
Que se zangam muito à toa,
Vamos mostrar como é
Que o bem a alma coroa.

Quem quiser ter coração
Cheio de felicidade,
Vá dedicando ao irmão
O melhor da caridade.

Se tivermos um segredo
Para não dizer ao Pai,
É bom não ficar com medo
Que o fato mais sobressai.

Regalias na matéria
É compromisso dobrado:
Quanto mais a coisa é séria,
Mais é ficar preocupado.

Serenamente, eu procuro
Ir fazendo os versos meus;
Se algum se der muito puro,
Irei dar graças a Deus.

As ações mais deletérias
Hão de ser pagas com juros:
Ninguém irá gozar férias
Passeando nos escuros.

Releia a primeira estrofe
Para voltar a sorrir;
Não deixe que a mente mofe
Aguardando o devenir.

Com Jesus no coração,
As coisas sempre dão certo:
É que a tudo dá perdão
Quem age de peito aberto.

As contas são todas pagas,
Basta esperar o momento:
No final, todas as sagas
Terminam no pensamento.

O bem com o bem se paga;
O mal se paga com bem;
Quando o rio a várzea alaga,
As plantas crescem também.

Este é o princípio da vida,
Fácil de reconhecer:
A natureza convida
Que se cumpra o bom dever.

Faço versos de improviso,
Mas as idéias vêm antes;
Querendo ter mais juízo,
Incentivo os semelhantes.

Mas trabalho com denodo
Nas quadrinhas com sentido:
Uma só demonstra o todo,
Se o tempo não for perdido.

Tenho a moral aguçada,
O que me traz preocupado:
É melhor pensar em nada,
Sem deixar nada de lado.

Às vezes, falo por gestos
Para as pessoas da roda.
Os textos serão honestos,
Se seguirem a tal moda.

Ponho em xeque este escrevente
Com rimas mui complicadas,
Mas percebo que ele sente
As coisas melhor paradas.

Um problema perigoso
É dar trela ao pensamento
De que sempre é mais gostoso
Quando o verso sai mais lento.

É que o caro amigo aí
Pensa que é ele quem faz
O verso que vem daqui,
Neste ambiente de paz.

Sacudimos a cabeça,
Em sinal de negativa;
Antes que você se esqueça,
Pense em nossa tratativa.

Eis o gesto revelado,
Como eu disse mais acima;
Mas, se eu ficasse calado,
Dar-me-ia ele a rima?

Vou responder bem que sim,
Que ele chega sempre junto.
— Isso é bom ou é ruim?
Depende de cada assunto.

Para ser original,
Tenho de ditar depressa,
Parecendo bem normal
A linha que sai impressa.

Falar da própria poesia
É vezo do pessoal:
É pouca a sabedoria;
É um bom punhado de cal...

Mas serve de treinamento,
Pois nem tudo está perdido.
Se causei um sofrimento,
Sofri mais — mas eu duvido...

Fazer graça também corre
Pelas tendências da turma.
Mas, depois de cada porre,
É natural que se durma.

Os louros desta vitória
Vão coroar nossa glória
Nesta paisagem do etéreo.
Se cá houvesse academia,
Os que fazem tal poesia
Iam para o cemitério.

Neste jogo de palavras,
Impróprio para estas lavras,
Quis falar dos imortais,
Mas fui dar co’os burros n água,
Aumentando a minha mágoa,
Pois desejo muito mais.

Engrenei uma segunda,
O meu verso já abunda,
As palavras jorram soltas.
Mas são chorrilhos de asneiras:
Vou voltar para as primeiras,
Que foram mais desenvoltas.

Engrenei a quinta marcha.
Nesta altura, ou vai ou racha:
É veloz a disparada.
Abalroei minha vida;
A viagem foi perdida;
Quis ser grande, hoje sou nada...

A turma se desconsola:
O meu carro mais se atola
Nestas confusões que faço.
Mas percebo, finalmente,
Que a tendência desta mente
É correr p ro seu regaço.

Nas tristes horas do dia,
Não sou capaz de poesia,
Pois choro as falhas de outrora.
Mas vibro, com muito orgulho,
Quando dou o meu mergulho
Nos versos que dito agora.

Não é sempre que o esquecer
Demonstra que o meu poder
Se exerce sobre o sentir:
Ao fazer a melodia,
Tenho ainda a alma fria,
Prevendo um mau devenir.

As coisas de antigamente
Se postam na minha frente,
Sejam boas, sejam más.
Se ruins eu sofro mais.
As reações são iguais,
Se o pensamento é de paz.

Quero dar o tônus certo
Que ser bamba é ser esperto,
Com justiça e com verdade.
Não queira iludir ninguém
Demonstrando querer bem:
Enganar não há quem há-de.

Eis aí que já revelo
As ânsias daquele anelo
Que quis esconder do Pai.
Aos poucos, mostrei a alma,
Sem perder a minha calma,
Que a verdade sobressai.

O bom exemplo que dei
Se conforma com a lei
Que nada fica escondido.
Revelei a todo o povo
Que não quero ser de novo
Acusado de bandido.

Comecei tão devagar,
Mas atravessei o mar
Nas tormentas destes versos.
Peço a Deus que, finalmente,
Me permita que eu intente
Deixá-los menos perversos.

Exulta o meu pobre amigo,
Pensando com seu umbigo
Que esta tarde está bem ganha.
Mal sabe ele que o dia
Foi perdido p ra poesia,
Que esta mente é bem tacanha.

Já demonstrei que a tendência
É de pedir-lhes clemência,
Pelo disfarce dos temas.
Quero-me regenerado,
Porém, não ponho de lado
O principal dos problemas.

Acenam que está na hora
De partir, sem mais demora,
Que a lengalenga acabou.
Sinto que tenha de ser
Tão fraquinho este poder
Que representa o que sou.

Peço perdão ao amigo,
Agradeço-lhe o abrigo
E o calor deste agasalho.
E vou rogar ao Senhor
Que demonstre o seu amor,
Dando-nos bem mais trabalho.

Ao terminar o poema,
Não quero que seja extrema
Qualquer idéia de mim:
Pensem só que estou passando,
Com o meu lenço acenando,
Pois não sou bom nem ruim.







12

DIFICÍLIMA POESIA





A turminha aqui presente
Vem dizer que muito sente
Não ter nada p ra ditar,
Que aceitou o desafio
Apenas porque tem brio;
Em seguida vai parar.

Insiste o nosso escrevente,
Diz que tem o sangue quente,
Que parar é desatino;
Quer que seja aproveitado
O tempo que nos é dado
Para cumprir o destino.

Sabemos que a luta agora
Há de ser o bota-fora,
Que os versos se vão fazendo.
O entusiasmo inda mais cresce,
Se o rimar não aborrece,
Revelando-se estupendo.

Preparamos uns poetas
P ra disparar suas setas,
Em algum momento certo;
Erramos em nossas contas,
Não estando as rimas prontas,
Neste momento tão perto.

Improvisar é preciso
Mas deixamos nosso aviso
P ra que se saiba quem somos.
Sendo assim, nosso escrevente
Vai confiar mais na gente,
Pelos versos que dispomos.

Quem quiser vir conferir
Não agora, no porvir,
Será bem-vindo na certa
Traga o coração bem cheio
De coragem, sem receio
De deixar a porta aberta.

Teremos muito prazer
Por tê-los de receber,
Que tal é o nosso fim.
Dando vazão a este verso,
Cremos seja incontroverso
Que a turma não é ruim.

Se algum temor os impede,
Se a teimosia não cede,
Se julgarem algo falso,
Vão ter tempo p ra pensar,
Pois tudo vem devagar
P ra quem desce o cadafalso.

A tal figura é canhestra,
Mas é como a chave mestra
Do pensamento na vida:
É que a morte é bem supremo,
Embora esteja no extremo
Do suportar dessa lida.

Bem dissemos que seria
Dificílima a poesia
Nesta tarde de improviso.
Se o nosso amigo na Terra
Sentir que o verso se encerra,
Mostre que tem muito siso.

Faça a prece e vá embora.
Faça-o já, sem mais demora,
Antes que tudo desande;
Peça a Deus com humildade
Manter-lhe a mediunidade:
Nossa fé é muito grande.

Senhor Deus, lá do infinito
Ouve o povo mais aflito,
Que a nossa dor é bem pouca;
Sabe que fazer tal verso
Reúne o povo disperso,
Posto a voz esteja rouca.

Queridíssimo Jesus,
Recebe quem se conduz
Pelas normas do evangelho;
Se alguém aqui deste povo
Se conduzir mal de novo,
É que o pensamento é velho.

Melhorar é renovar
As virtudes do pensar
Pelas leis e mandamentos;
Ficar parado na esquina,
Vendo passar a doutrina,
É causa de maus lamentos.

Queiram, pois, nossos leitores
Perceber que as tantas dores
Que os sacrifícios conduzem
São apenas medos tolos,
Que os bens nós devemos pô-los
Nalguns versos que reluzem.

Vamos terminar por ora,
Que o mal aqui só vigora
Quando é demais nosso zelo;
Os excessos prejudicam,
As pobres rimas claudicam,
Nem precisamos dizê-lo.







13

QUEIXAS





Minhas queixas deste dia
Hão de caber na poesia,
Por não me sentir falido.
Não quero apressar o moço,
Mas preciso desse endosso,
Para me fazer querido.

Tenho a pele muito escura,
Como qualquer criatura
Destinada ao rude Umbral.
Aura branca e mui faceira
É sinal que a brincadeira
Já terminou com o mal.

As asas servem de ganho
Das alturas, mas estranho
As vertigens acrofóbicas.
É que corro sobre a terra,
Sentindo que a mente erra
Pelas pressões anaeróbicas.

Sinto muito, caro amigo:
Não vá brigar mais comigo
Pela imperfeição da rima.
Quem veio para queixar-se
Precisa dessa catarse,
Pela gente que o estima.

Não sei dizer não ao tema.
É por isso que o problema
Se põe diante de mim.
Mas vem logo a solução,
Pois trago, em meu coração,
Algo que a ele dá fim.

É a fé nos protetores,
Que não suportam as dores
Dos pupilos mais queridos.
São socorristas perfeitos,
Que desejam ver eleitos
Até os mais desabridos.

Ansiedade é velho tema
Que afronta também o lema
Do conhece-te a ti mesmo,
Porque é tão grande o absurdo
Que, ao pensar, até me aturdo
Por escrever tão a esmo.

Vim aqui para queixar-me,
Mas provoquei o desarme
Das suspeitas do rapaz.
Fiz a coisa tão perfeita
Que, ao ver a porta estreita,
Ninguém pôde sentir paz.

Os anos de desafio
Foram para ver se o brio
Mexia com minha alma,
Mas pus-me de sobreaviso,
Pensando ter muito siso,
Se me mantivesse em calma.

A solução era essa,
Se não fosse tanta a pressa
De subir ao paraíso.
Percebi que a desventura
Era crer que a criatura
Estava em pleno juízo.

Mas disfarçava o meu vício,
Tendo medo do cilício
Que me conteria a sanha.
Pensava que a liberdade
Era fruto da bondade,
Que a peleja estava ganha.

Quem é bom mais vive preso,
Pois sente forte desprezo
Pelas falácias da mente.
Ao cumprir todas as leis,
Sejam serviçais ou reis,
Sempre mais amor se sente.

Quem ama o Pai no infinito
Contém logo qualquer grito
Que demonstre imperfeição.
Ao se conter de verdade,
Mostra que a tal liberdade
É mui falsa aspiração.

Se o Senhor nos agarrasse,
Haveria quem folgasse
De se ver livre no mundo?
Tal liberdade é falácia
Ou é mera contumácia
De quem não pensa profundo.

As dores que agora sinto,
— Eu bem sei — é porque minto
Ao mostrar sabedoria.
Quem conhece de verdade
Fala com mais propriedade
E compõe melhor poesia.

Ao final, me queixo agora
De ser mui longa a demora
De aprender todas as leis,
Pois só sabê-las de cor
Talvez seja até pior:
Quem é bom é porque fez.

Liberdade na poesia
Não quer dizer que faria
Algum verso pernicioso.
É que nem todas as rimas
Permitem-nos obras-primas
Nem provocam nobre gozo.

Eis que o escrevente se queixa
E prosseguir não me deixa
Neste ritmo perverso.
Quer que os mestres desta escola
Façam ver-me que decola
Para o espaço este meu verso.

Mas, tendo medo de altura,
A poesia já não dura:
Vou interromper aqui,
Pensando em agradecer
A quem cumpre seu dever
Traduzindo o que eu senti.

Ao Deus—Pai, lá no infinito,
Faço o verso mais bonito,
Que o meu pranto jorra forte.
Tantas as imperfeições
Afligindo os corações
Que esta prece é minha sorte.







14

PRECISO DE SOCORRO





Com amor no coração,
O homem é mais feliz.
Se nos der a sua mão,
Será um bem de raiz.

Quem sair p ro desespero,
Na dura luta da vida,
Vai sofrer um exagero,
Sem terminar sua lida.

Angústias postas de lado,
Beneplácito de Deus,
É a paz para o soldado,
Do sofrimento o adeus.

Não queira vestir batina
Nas hostes do espiritismo:
É na pia de batismo
Que se perde a sã doutrina.

Sendo a fé raciocinada,
As crianças são de amar:
Se alguma for batizada,
Só do sal não vai gostar.

As pessoas do convívio
É que são supersticiosas.
Se sentirem bom alívio,
Vão julgar-se vitoriosas.

Já não temos ilusões
Nestes conselhos que damos:
Benfeitor com pretensões
Só produzem maus reclamos.

Por isso, meu caro amigo,
Fuja agora do perigo
Da tentação ao convite.
Deixe o mau pagar seu preço,
Pois é bem certo o endereço:
Não é possível que evite.

Se quiser seguir conselhos,
Há de ler os Evangelhos,
Onde tudo está descrito.
Se não for muito teimoso,
Sentirá bem doce o gozo,
Ao tornar-se mais bonito.

As rosas do meu jardim
Só sorriem para mim,
Se lhes dou boa acolhida.
Da mesma forma a bondade
Vai firmar a caridade,
Que é isso que quer a vida.

Se eu tivesse mais sossego,
Firmaria um bom apego,
Iria curtir o eterno.
Do jeito que desafino,
Nas ânsias do desatino,
Não vou sair deste inferno.

As luzes que tenho agora
Apagar-se-ão na hora
De voltar para o mistério.
Peço, então, aos circunstantes
Que me guardem uns instantes,
Pois seu trabalho é bem sério.

Ao apelar para Deus,
Não pense nos ódios seus,
Mas na luz que o ilumina.
Assim Jesus irá ver,
Por força do seu dever,
Que já cumpre a sua sina.

Qualquer prece é bem-vinda,
Qualquer alma será linda,
Se fizer o bem possível.
É que o esforço permanente
De tornar feliz a gente
Torna o amor inesquecível.

Atenuar os horrores
A quem sente muitas dores
Produz bens imarcescíveis.
Não se sinta atropelado
Por cumprir um triste fado:
Os lucros serão visíveis.

Tenho lido as experiências
De algumas tristes falências,
Até mesmo nestes versos.
É que tenho a alma escura,
Como toda criatura
Que só fez atos perversos.

Venho agora à luz do dia,
Revelando na poesia
A formosura da rima,
Mas estou envergonhado
Por estar sendo ajudado
Por esta gente de cima.

Quisera poder ouvir
Do escrevente Wladimir
Que também tenho talento.
Mas o mais que diz a mim
É que espera logo o fim,
Que o meu passo é que está lento.

Ajudou-me ele a brincar,
Quem sabe p ra melhorar
O bom humor desta gente,
Pois ouvir um sofredor
É penar a mesma dor,
Nas lembranças que se sente.

Gostaria de dizer
Ser mui grande o bem-querer
Que estou sentindo por todos.
Mas hão de saber, decerto,
Que não trago o peito aberto,
Atolado nestes lodos.

Qualquer coisa que diria,
Nesta forma de poesia,
Provocaria suspeita,
Pois, das trevas deste Umbral,
Só há de surtir o mal,
Sendo a rima a mais perfeita.

Portanto, caro amiguinho,
Leia os versos com carinho,
Rezando uma prece linda,
Que eu preciso de socorro,
Senão despenco do morro,
Indo bem mais fundo ainda.

Os sentimentos são tantos,
São tantos os desencantos,
Que a virtude fica ao longe.
Mas, se houver boa vontade,
Impedir não há quem há-de
Que alguma fé me lisonje.

Desta forma, eu já termino,
Exaltando, neste hino,
O amor que aqui encontrei,
Não só do nobre escrevente,
Mas de toda a boa gente
Que me fez sentir ser rei.

Só me faz falta a coragem
De encerrar esta mensagem
Agradecendo ao Senhor.
É que tenho o impedimento
De labutar no tormento
De me saber sem amor.

Agradeço, comovido
— Deste jeito, eu não duvido
De que vou obter sucesso —,
Dizendo tão simplesmente:
— Obrigado, minha gente;
Compreensão é o que lhes peço.

Desejo ser bem honesto,
P ra demonstrar que não presto,
Mas pretendo melhorar.
Se o juramento valesse,
Sei que seria bem esse
O final que iria dar.







15

VERSOS ESTAPAFÚRDIOS





Não se aborreça o amigo,
Se enfrentar algum perigo
Nesta volta da poesia.
Tome fôlego na entrada,
Neste início de jornada,
Que terá grande alegria.

Entrementes, vamos indo
A tornar muito mais lindo
O nosso verso mais sério.
Se tivermos mais coragem,
Vamos pôr nesta mensagem
Um pouquinho do mistério.

Antes que o cansaço venha,
Vamos pedir que mantenha
Sua atenção bem desperta,
Que o resultado de tudo
Vai mostrar, no conteúdo,
Nossa mente mais aberta.

Ao sair pela tangente,
O pessoal daqui sente
Que o verso não foi bem feito.
Ao enfrentar o perigo,
Saindo do nosso abrigo,
A escansão toma mais jeito.

Quem quiser que só repare
Que o comboio sai da gare
Dos mesmos versos perversos,
Correndo no mesmo trilho
Do mais fácil estribilho,
Mesmo com temas diversos.

A arte de versejar
Quer que se vá devagar,
Na contagem deste metro.
E que se prepare a rima
Envolta sempre no clima,
Sem mudar nada do espetro.

Mas tenho medo que um dia,
Ao trazer minha poesia,
Encontre tudo mudado:
As rimas cheias de engulhos,
As escansões com entulhos,
O conteúdo baldado.

Aí é que se vai ver
Ser difícil o dever
P ra quem desleixou o estudo,
Pois falar sobre Kardec,
Sem fazer salamaleque,
Exige amor, sobretudo.

Quem requer só bem-querer,
Pensando que tem poder
Porque leu os Evangelhos,
Vai ver que o Mestre Jesus
Carregou a sua cruz
Pelo poder de alguns velhos.

Ao seguir os bons ensinos,
Havemos de cantar hinos
Agradecendo o Senhor;
Mas, depois de muita luta,
Provando que se é batuta,
No pensamento e no amor.

Sem fazer estardalhaço,
Amarrei forte o cadarço,
Sendo simples p ra chuchu.
Mas pedi algum esforço
Que este texto eu quase torço:
Carniça para urubu.

Nossa turma se contorce:
Pede que o verso não force,
Que eu não queira a perfeição.
Por isso venho de novo,
Para a alegria do povo,
Trazendo esta rima em -ão.

Agindo tão simplesmente,
Espero que muito aumente
O sorriso dos leitores,
Mesmo correndo alguns riscos
De ter de aturar confiscos
Nestes versos inferiores.

Quer o médium que melhore,
Para que a turma não chore,
Neste deserto de idéias.
Fazer versos sem sentido
Vai pô-lo comprometido:
É não ver mel nas colméias.

Vamos, então, caprichar,
Que o perigo, neste mar,
Está em sermos mui tolo.
Ao nos lembrar que a doutrina
O bom pensamento ensina,
Será melhor recompô-lo.

Eis que ajuda este escrevente,
Ao perceber que esta gente
Só propõe versos estúrdios.
Elevando a mente a Deus,
Suplica que os versos meus
Não sejam estapafúrdios.

Os bons leitores entendam
Que desejamos que rendam
Estas tardes de poesia.
Mesmo que sejamos triste,
Não nos venham, dedo em riste,
Falar de patifaria.

Enquanto estou por aqui,
Esqueço que já senti
Os horrores infernais.
Se ninguém ler estes versos,
Já que são mais que perversos,
Eu me lembrarei dos ais.

O risco que corro agora
É de safar-me por ora,
Deixando os ais registrados.
Mas, por força do dever,
Sempre deverei reler:
Os ais serão redobrados.

Irei ter de desculpar-me,
Pois provoquei tal alarme
Nos corações dos leitores.
Acreditem, meus amigos,
Que são muitos os perigos
De sentir tremendas dores.

Tendo chegado ao meu fim,
Que se condoam de mim
Pela fraqueza em que estou.
Rezem uma bela prece,
Pois este amigo agradece:
Quem não leu já perdoou.







16

DIVIDIR O FARDO





Quem caminha com o Pai
Sabe sempre aonde vai,
Não se perde na jornada.
Integra o grande comboio,
Come o trigo, queima o joio,
Não teme enfrentar mais nada.

Quem caminha com Jesus,
Nas ondas de sua luz,
Está sempre sorridente.
Estende a mão ao que sofre,
Traz sempre aberto o seu cofre,
Dá amparo a toda a gente.

Quem caminha com Kardec
Não pede que o pranto seque,
Ao aliviar a dor:
Compreende bem sua mente,
Dando valor ao que sente,
Agradecendo ao Senhor.

Quem vai com os benfeitores
Enche seu peito de amores,
Tem o pensamento sério.
Tudo faz com alegria,
Sabendo como seria
Do outro lado do mistério.

Quem lavou o coração
Nas águas do Rio Jordão,
Ao receber o batismo,
Nunca mais fará tolice,
Pois saberá o que disse
A turma do cristianismo.

Quem conhece a própria alma
Age sempre com mais calma,
Tem o pensamento justo.
Ao sentir algum tormento,
Vai refletir um momento:
Tudo resolve sem custo.

Queridíssimo leitor,
Seja você como for,
Siga conosco na vida.
Traga o Pai e o bom Jesus,
De Kardec tenha a luz,
Esse seu fardo divida.

Recebemos com agrado
O acréscimo do fado
Que portamos com vigor.
Não é que sejamos forte:
É que também sofreu corte
O peso da nossa dor.

Vamos encerrar agora,
Pois já passamos da hora,
Nesta tarde de poesia.
Apertemo-nos as mãos,
Com os sentimentos sãos,
Como Jesus o faria.







17

O DEVER DE VERSEJAR





Nossa principal tarefa,
Já que ninguém aqui blefa,
É dar ânimo ao leitor.
Alguns vêm muito amiúde
Dizer que a maior virtude
É cultivar bom amor.

Outros trazem sofrimentos
Para indicar que os tormentos
Afetam qualquer irmão.
Fazem versos muito à-toa,
Sabendo que uma alma boa
Irá ler no coração.

Mas a grande maioria
Procura dar à poesia
Um tom muito pessoal,
Para demonstrar que o efeito
Acontece desse jeito,
Segundo haja bem ou mal.

Acertar a pontaria
Vai causar muita alegria
À turma que se concentra.
Com rima, às vezes, precária,
Veste a pobre indumentária
E pela escansão adentra.

Teremos muito prazer
Em revelar que o dever
Fica sempre muito aquém.
É que a vontade é tamanha
De subir esta montanha
Que o desejo vai além.

Assim, muitos destes versos
Têm destinos bem perversos,
Nas gavetas e nos cestos.
Ficam cheios de poeiras,
Depois ardem nas fogueiras:
Não têm valor os tais textos.

Nós mesmos, com muito medo,
Cá chegamos logo cedo,
Para dar nosso recado.
Elegemos como tema
Este sentido problema
Da turminha deste lado.

Se alguém ler a fraca rima,
Vai despertar nossa estima,
Se tiver algum agrado.
Qualquer espanto seria
Sinal de patifaria:
É melhor ficar calado.

Reconhecendo a fraqueza,
Pois dizemos, com franqueza,
Que buscamos amparar,
Ore comovida prece,
Que o sentimento mais cresce,
Vindo, embora, devagar.

Eis a luta que travamos,
Para colher de altos ramos
As doces uvas da glória.
Alguns bagos que desprendem
São sabores que nos rendem.
O mais segue a velha história.

Não é fato que alcançamos
Trazer mais perto os tais ramos
Dos leitores generosos?
Se somos disto capazes,
Que se dirá desses ases
Que buscam do bem os gozos?!

Amparados por Jesus,
Disseminamos a luz
Das virtudes evangélicas,
Tendo firme o pensamento
De causar um sentimento
De repulsa às artes bélicas.

Se recebidos em paz,
Cada qual será capaz
De rimar um pobre verso.
Assim aja o nobre irmão,
Não dizendo jamais não,
Nem um sim mui controverso.

Animada pelos mestres,
Aqui, perante os terrestres,
Esta turminha se pôs.
Fez um esforço tremendo,
Mas tudo acabou valendo,
Nas estrofes que compôs.

Ao ler alguns nobres versos,
Os corações são imersos
Em tristezas de impotência.
Ao reler as nossas rimas,
Vemos que são outros climas,
Nesta rude turbulência.

Cremos que os nossos amigos
Entenderam os perigos
Que se enfrentam no desterro.
Façam força p ra subir:
Sempre existe um bom porvir,
Quando se evita o tal erro.

Valha-nos o belo dia.
Em suores de poesia,
Trabalhamos com afinco.
Resguardamo-nos das dores
De mostrar que os sofredores
Fazem dos versos um brinco.

Ao Senhor vamos pedir
Que proteja o Wladimir
Destes assédios do mal,
Para que possa ele, um dia,
Vir trazer sua poesia,
Com vigor mais natural.

Não há fugir do futuro.
Na lei, não existe furo:
É só toma-lá-dá-cá.
Mesmo em tom de brincadeira,
Não vai passar na peneira
Quem não souber o que há.

Iremos agradecer,
Pois foi grande este prazer
De nos sentir amparado.
Quem pensou que fomos nós
Quem desfez os fortes nós
Não se sinta embaraçado.

Agradeça logo a Deus,
Ao receber nosso adeus,
Que o sofrimento termina.
Saiba que este bom tormento
É próprio do sentimento
Sob o amparo da doutrina.

Não vá pensar que Kardec
Não esteve nunca em xeque,
Ao receber as mensagens.
Mas teve discernimento
De fazer levar o vento
As que portavam bobagens.

Faça o mesmo logo agora:
Leia tudo e jogue fora
O que sentir malicioso.
Mas guarde, sendo gentil,
O que não for muito vil
Dando-nos um grande gozo.

Nesta última escansão,
Vou pedir-lhe o seu perdão
Para as rimas sem compasso,
Vá riscando as que estão fracas;
As doentes, ponha em macas;
Aproveite bem o espaço.







18

COMO CHEGUEI AQUI





Quando vim para o infinito,
Julguei tudo bem bonito,
Que os males foram mui poucos;
Mas sofri depois bastante,
Pois notei, em meu semblante,
Trejeitos próprios dos loucos.

O contraste, sendo grande,
Faz com que a mente desande,
Em quimeras e suplícios.
Avaliei o passado:
Não tinha posto de lado
Os maus hábitos e os vícios.

Por que tive a impressão
De ver como as coisas são
Quando tudo é mais perfeito?
Precisava comparar
As dores do meu penar
Com o gozo de um eleito.

Eu perdera a minha vida.
Não havia outra saída:
Tinha de enfrentar as dores.
Só depois de muita luta
Compreendi que a força bruta
Não afeta os contendores.

Chorei muito, amargamente.
É na crise que se sente
As tolices que se fez.
Na verdade, aquela mágoa
Era dar co’os burros n água,
Era errar mais uma vez.

Aos poucos, fui entendendo
Que o pranto era mais horrendo
Sempre que pensava em mim,
Via agora o semelhante
Cada vez menos distante:
Minha aflição tinha fim.

Era pouco o que eu podia:
Faltava sabedoria;
Era forte ainda o medo.
Mas os males eram tantos,
No rumor triste dos prantos,
Que disse à dor: — Já não cedo!

No começo, foram rudes,
Pois as minhas atitudes
Causavam receio imenso.
Mas a vontade era tanta
Que a feição ficou mais santa
E o meu fulgor menos denso.

Sei agora que o lugar
Era uma espécie de lar
Dos suicidas contritos.
Gente que feriu pessoas
— Tendo almas até boas —,
Em momentos muito aflitos.

Quando percebi que tudo
Dependeria do estudo
Das causas sentimentais,
Arregacei minhas mangas,
Joguei fora minhas zangas,
Não fiz mais ouvir meus ais.

Conversei com muita gente,
Tudo fiz tranqüilamente,
Querendo compor a paz.
Nem sempre fui infeliz:
Houve até alguém que quis
Ver em mim um ser capaz.

Enxuguei prantos sentidos,
Sem cansar os meus ouvidos,
Com os queixumes alheios.
Lembrei-me até de Jesus
Que, pendurado na cruz,
Ouviu doídos receios.

Um dia, fui resgatado.
Sem pedir, fui contemplado,
Até com certa surpresa.
Vi melhorar muita gente,
Pois tinha sempre na frente
A chama do bem acesa.

Aqui cheguei, recebido
Por alguém muito sabido,
Que me explicou direitinho
Que era hora, finalmente,
De saber que a minha mente
Podia dar bom carinho.

Internaram-me no hospício
P ra me libertar do vício
Que trouxera doutra esfera.
Foi então que percebi
Que tudo passara ali,
Que a loucura tudo gera.

Recuperei a saúde.
Fiz sempre o melhor que pude,
Ajudando os meus amigos.
Com a fórmula do Umbral,
Consegui impor-me ao mal,
Fugindo-lhe dos perigos.

Hoje curso esta Escolinha,
Querendo que seja minha,
Com amor no coração.
Procuro dar aos colegas
A mesma atenção que, às cegas,
Sonhava na escuridão.

Penso que tenham gostado,
Pois fui agora apontado
Para vir dizer, em versos,
A história que registrei,
Sem dizer onde é que errei,
Naqueles dias perversos.

Preferi mostrar que a sina
Depende de pequenina
Decisão de esquecimento,
Confiando mais em Deus,
Entendendo os males meus,
Sufocando o sofrimento.

Penso ter bem demonstrado
Que ninguém é injustiçado
Junto ao direito divino.
Basta só bem compreender
Que existe um outro poder
A reger nosso destino.

Vou agora terminar,
Dizendo que o verde mar
Contém muitas maravilhas.
Mas é preciso cuidado,
P ra não morrer afogado,
Nos ardis das armadilhas.







19

TERAPÊUTICA POÉTICA





Conviver com a maldade
Só dependerá de força.
Segurar não há quem há-de,
Caso a velhice contorça.

A todos vem a doença:
Na carne, é esse o destino.
Mas ninguém não há que vença,
Se praticar desatino.

A morte é fonte segura
De pensamento sadio,
Pois requer da criatura
Que a tudo enfrente com brio.

Homem aprende a lição,
Seja por bem ou por mal.
Se por bem, no coração;
Ou vai pastar lá no Umbral.

Essa é a força do destino.
Ninguém vai fugir ao fado:
Hoje é um infante-menino;
Amanhã, um grão barbado.

Hoje é homem encarnado;
Amanhã vaga no etéreo.
Se for bom, cá deste lado,
Vai decifrar o mistério.

Se agir com sabedoria,
Com amor, sem desalento,
Irá ter muita alegria,
A partir do passamento.

Se quiserem entender
O sofrimento da esfera,
Pensem que seu bem-querer
Nenhuma dor aqui gera.

Sobre ser bem misteriosa,
A morte nos traz também
A angústia do ser que goza,
Sem pensar em mais ninguém.

Atrevimento é virtude
Na decisão de prever
O que nos causa inquietude,
Se não se cumpre o dever.

As quadras que se acumulam
Brotam espontaneamente.
As idéias cá pululam:
Solte o breque, siga em frente.

Quem quiser compreender
Os intentos desta gente
Consiga sentir prazer,
Fazendo um verso somente.

Esquecidos da vergonha
Dos erros das escansões,
Nossa turma aqui mais sonha
Em conquistar corações.

Um versinho mais simpático
Desfaz as premunições:
Quem estava sorumbático
Vai esquecendo os senões.

As rimas que se repetem
Não assustam o escrevente,
Que quer que os mestres não vetem,
Mesmo quando medo sente.

Às vezes, os bons leitores
Vão sentir-se magoados,
Se esquecermos as tais dores
Que os trazem tão maltratados.

O pranto nos banha a face,
Quando os amigos se enervam.
Um só que a paz estimasse,
Que os preceitos se observam.

A quadra mais complicada
Também foi mui demorada
E terminou sem sentido,
Por isso, pense bastante:
No átimo de um instante,
Tudo estará resolvido.

Quando se age contente,
Não há mal que não se enfrente,
Com Jesus no coração.
É como Kardec ensina,
Nos albores da doutrina:
Caridade é salvação.

Cumpramos o compromisso,
Executando o serviço
Que nos reservou a sorte.
Ao partir para outro espaço,
Não vamos sentir cansaço,
Nem vamos notar a morte.

Ao chegar no outro mundo,
Nosso amor será profundo,
Dando o tônus da bondade.
A paz terá sido forte,
A caridade, o bom norte,
Levando à felicidade.

Aí, o nosso estribilho
Há de conter muito brilho,
Seja bem simples o verso.
É que o sentido da vida
Vai demonstrar que esta lida
Nada retém de perverso.

Queremos dar leve toque,
P ra que não haja remoque
Aos versos que sejam duros.
Se viver nos dá trabalho,
Vamos quebrar este galho,
Deixando de cobrar juros.

Nas asperezas da lida,
O bom verso nos convida
A que ajamos com mais calma.
Que o nosso amigo leitor
Nos ajude a bem compor
Poema que fale à alma.

Não há muito que fazer:
Basta sentir mais prazer
Co a leitura desta rima,
Esquecendo ter ouvido
Este som tão repetido,
Aumentando a sua estima.

Vejam que a felicidade
Vai residir na bondade
Que rejeita toda força.
A dor até que é bem-vinda,
Mesmo que a velhice ainda
Em doenças nos contorça.

Eis que o exemplo de Jesus
Distribui eterna luz
Para toda a humanidade.
Quem deseja mais gozar
Saiba que é mui devagar
Que se estende a caridade.

Kardec, em seu sacrifício,
Ergueu soberbo edifício
De lógica espiritista.
Cabe agora ao povo todo
Erguer-se de dentro ao lodo,
Para firmar tal conquista.

Bom amigo, nos perdoe,
Caso ainda o verso doe,
Os tímpanos ofendendo.
Mas não queira ouvir as rimas
Que se fazem lá, nos climas
Do Umbral de penar horrendo.

Humor negro é melodia
Da mais perfeita harmonia
Quando se está bem na vida.
O poema mais sublime
Não encontra quem estime,
Quando a dor promove a lida.

Pedirei ao escrevente
Que também reze p ra gente,
Ao se encerrar a poesia,
Agradecendo ao Senhor
Por tanto nos dar amor,
Muito mais a cada dia.

Diz o amigo que este verso,
Em bom sentimento imerso,
É na verdade uma prece.
Deus, então, nos abençoe;
O bom leitor nos perdoe,
Antes que a dor recomece.







20

NO PARAÍSO SE RI





Na terra dos faraós,
Estivemos todos nós,
Em algum tempo anterior.
Mas perdemos a lembrança,
Que a memória não alcança,
Se tivermos mais valor.

Esta vida nos convida
A manter acesa a lida,
Sob a luz dos evangelhos,
Tenha sido o de Jesus,
Ou outro que se conduz
Por sentimentos mais velhos.

A humanidade consome
Quem faça extenso renome,
Exaurindo-o de vez,
Inda mais, se o pensamento
De se livrar do tormento
Seja tudo o que ele fez.

Valha-nos a confissão
De que já dissemos não
Às palavras de tais mestres.
Por isso, avultam as dores,
Nestes mundos inferiores,
Por estas plagas terrestres.

Aos poucos, os sentimentos
Vão firmando os pensamentos
Nas áreas das atitudes.
Os vícios são desbastados,
Apurando-se os cuidados,
Elegendo-se as virtudes.

Bom amigo, desde cedo,
Afugenta o triste medo
Das mensagens do outro mundo.
Escreve logo na testa
Que é preciso estar em festa,
Se teu amar for profundo.

Desfaze o senho cerrado,
A tristeza, põe de lado,
Abre, feliz, teu sorriso,
Pois não é de outra maneira
Que se dá a brincadeira,
Nas terras do paraíso.

Ao cumprir o teu destino,
Abandona o desatino
Do chorar desesperado.
As dores são muito fortes?...
Sabe que existem coortes
Que desejam o teu fado.

As caravelas de antanho
Só aspiravam ver ganho
O horizonte promissor.
Espírito de aventura
Põe contente a criatura
Que não se importa co a dor.

Voltar ao campo terreno,
Deixando o regaço ameno
Dos protetores celestes,
É viver o compromisso
De prestar um bom serviço,
Sejam quais forem as vestes.

Se tu fores bem formoso,
Hás de sentir forte gozo
Nas primícias dessa vida;
Porém, sabe que os fulgores
São prenúncios dessas dores
Com que todo o mundo lida.

Mas não deixes que a vaidade
Que o teu coração invade
Te domine por completo;
Põe fim a tal sentimento,
Faze forte o pensamento,
Mantém teu coração quieto.

Pensa que Jesus foi belo,
Cabelos de caramelo,
Olhos claros mui profundos;
Pele trigueira, voz doce,
E ainda que assim não fosse,
Quem mais puro nestes mundos?!

Conserta os teus modos bruscos,
Não faças como os etruscos
Que raptaram as sabinas.
Se quiseres bem viver,
Cumpre alegre o teu dever,
Aceita com gosto as sinas.

Neste mundo de ilusões,
É certo que os corações
Sofrem tropeços cruéis;
É que todas as pessoas,
Sejam péssimas ou boas,
Desempenham seus papéis.

Evita comprometer-te,
Nem que seja um simples flerte,
Com as maldades da vida;
Faze tudo muito certo,
Mantém o teu peito aberto:
Com Jesus vem a saída.

Os homens de antigamente
Tinham sempre bem presente
Que a morte chegava cedo.
Hoje em dia, isso mudou,
Muita coisa se alterou:
Só o velho é que tem medo.

Se tu fores moço ainda,
Faze tua vida linda,
Agindo com perfeição.
Põe mais tento no segredo
Que o tempero fica azedo,
Se abusares do limão.

Equilíbrio é exigência,
Como do santo a paciência
É virtude essencial.
Não sejas muito fogoso,
Nem penses que seja um gozo
Mesclar o bem com o mal.

Faze sempre a coisa certa,
Com o erro a culpa aperta
Os pruridos da consciência.
Angustiar-te e sofrer:
Sabemos que vais dizer
Que vives tal conseqüência.

Pode ser que, hoje em dia,
Tu consegues alforria
Das peripécias maldosas;
Mas o tempo há de passar,
Aos pouquinhos vão chegar
As horas mais perigosas.

Fugir da dor ninguém vai,
Por pungente seja o ai
Da lamentação da alma.
Aí, todo o sofrimento
Não cabe num só lamento,
E o pranto não mais se acalma.

Arrepender-te é de lei
(Não digas que eu não falei),
O quanto antes, melhor.
Segue as normas da doutrina;
Se quiseres a sabina,
Para ti, tanto pior.

Aguarda que chegue o dia
De fazeres a poesia
Como dever escolar.
Não precipites a rima,
Pois a mente se sublima,
Quando se vai devagar.

Eis a última lição
Que nos sai do coração,
Em plena felicidade.
Tudo fizemos com gosto;
Vamos deixar este posto,
Já co um tico de saudade.

Agora, p ra terminar,
Vamos pedir p ra este lar
As bênçãos do bom Jesus.
Queira Deus que toda a gente
Tenha o coração valente,
P ra carregar sua cruz.







21

FAÇA UM POUCO DE POESIA





Estando de folga um dia,
Faça um pouco de poesia,
Não tenha medo da rima.
Talvez um bom exercício,
Venha a tornar-se algum vício,
Mas desses que a gente estima.

Desabrochando os seus versos,
Sem que sejam mui perversos,
Vá pondo neles virtudes.
Mostre em paz a sua alma,
Pois é como leva a palma
Quem sublima as atitudes.

Aos poucos, o bom costume
Talvez cause algum ciúme
A quem não quer trabalhar.
Se for este bem seu caso,
Pense não ser por acaso
Que estamos a poetar.

Muitos dias demoramos
A buscar frutos nos ramos,
Dando muitas cabeçadas.
Finalmente, conseguimos,
Com alegria nos imos,
Ver as coisas bem paradas.

Hoje em dia, um bom poema
Já não nos causa dilema:
Os assuntos vêm mui fáceis.
Palavras nas escansões
Abrem rimas em botões,
Flores de formatos gráceis.

Mas a pressa é inimiga,
Quando a trova mais periga,
Dando rumos imprevistos.
O espírito mais gagueja,
Pois a perfeição deseja
Compor aos irmãos benquistos.

É que nem tudo é perfeito
Aqui dentro deste peito,
Que deseja ser pequeno,
Embora tenha de ser
Rigoroso no dever,
Como foi o Nazareno.

Jesus serve como prova
De que a feição desta trova
Não vem isenta de falhas.
É que, mui prudentemente,
Nada escreveu para a gente:
Foram orais as batalhas.

No tempo das escrituras,
Eram poucas as leituras,
Para as quais só os doutores
É que tinham permissão,
No templo de Salomão
Ou nas casas dos senhores.

Agora, em qualquer favela,
Mesmo à luz de pobre vela,
Qualquer um vai decifrar
Os sagrados evangelhos,
Ou os testamentos velhos:
É luz espetacular.

Por isso é que o bom Kardec,
Abrindo os textos em leque,
Acreditou nas escolas.
Muitos livros escrevendo,
Quis ver o povo crescendo,
Não mais aceitando esmolas.

— Cada qual será mais rico,
É como os bens justifico,
Nos cofres do Pai do Céu.
Pensando como Jesus,
Clareou, com muita luz,
As mentes em escarcéu.

Hoje em dia, sofre o povo,
Mas eis-nos aqui, de novo,
A trazer-lhe a melodia.
Com certeza o nosso brilho
Há de estar no estribilho
Do amor que nos desafia.

Foi por isso que pedimos
Para que, em versos opimos,
Nosso amigo cante as loas,
Exaltando o Mestre amigo,
A Kardec dando abrigo,
Em estrofes muito boas.

Servem de modelo as nossas,
Dês que não provoquem troças
Pelas críticas dos sábios.
É que tudo, humildemente,
Vamos pondo aos pés da gente,
Não selando os nossos lábios.

Com o coração na mão,
Apelamos para o irmão,
Que releve os bravos erros.
Um voto de confiança,
Queremos ver se se alcança,
Depois de longos desterros.

Categorizado o autor,
Esperamos que o leitor
Releve as falhas mais grossas.
Jesus perdoou os crimes,
Em gestos mais que sublimes;
Perdoe você nossas bossas.

Da mesma forma, algum dia,
Ao fazer sua poesia,
Vai divulgar com tremores.
Sentindo alguns calafrios,
Vai necessitar de brios,
Para enfrentar os suores.

Ao fazer tais versos chochos,
Vamos provocar muxoxos
De total condescendência.
Visamos estimular
Quem queira vir poetar,
Sem medo desta ciência.

Não falamos desta arte,
Pois não queremos dar parte
De fazer uma obra-prima.
Contentamo-nos com pouco,
Embora julguemos louco
Quem gostar da nossa rima.

Ao demonstrar a atitude
Que julgamos ser virtude,
Perante a visão alheia,
Oramos, como num templo,
Seguindo este bom exemplo
Da perfeita coisa feia.

Diz o amigo: — Duvido
Que não esteja envolvido
O autor com a vaidade.
Talvez assim é que seja,
Mas consigo o autor deseja
Exprimir toda a verdade.

Já vai longe o nosso andor,
Neste dia em que o calor
Extenua o escrevente.
Vamos aqui terminar,
Cedendo o nosso lugar
A quem queira vir co a gente.

Uma palavra de fé,
Para mostrar como é
Este nosso coração,
Que exultará, se uma flor
Lhe for dada com amor
Cultivado pelo irmão.

Bastará pobre quadrinha,
Água apenas com farinha,
Sovada com emoção.
No calor do forno d alma,
Assada com muita calma,
Vai ser um amor de pão.







22

RASGOS SENTIMENTAIS





I


Atribulados pelo encontro nesta vida
Dos inimigos que fizemos, certo dia,
Desativamos a maldade que pedia
Que revidássemos a dor imerecida.

Assim julgávamos, enquanto o bem crescia,
Que, evoluídos, os comparsas, sem saída,
Nos propiciavam bons motivos para a lida,
Em benefício dessa gente que sorria.

Fomos ganhando, nessas lutas meritórias,
Tendo levado certas tundas deprimentes,
Pois não podemos contar papos de vitórias,

Quando o resgate proporciona aos descontentes
Uns arremedos de conquistas dessas glórias
Que vituperam os confrades cá presentes.




II


Essa primeira, que bem fácil redigimos,
Vai ser também a que fizemos com paixão,
Que era preciso vir rasgar o coração,
Momento álgido do amor que compartimos.

Não diga, pois, ó caro amigo, aquele não
Que conhecemos nos refolhos destes imos,
Pois com Jesus no coração é que seguimos,
Tendo sofrido com a dura incompreensão.

Não basta amar, se seu amor ficar calado:
Todos queremos os afetos carinhosos,
Reconhecendo o bom valor sempre exaltado.

No paraíso, sentiremos, ufanosos,
Toda virtude desse pranto derramado,
Felicidade de eternais e fortes gozos.




III


Foi bom tirarmos este dia p ra escrever,
Esquecimento das torturas das feridas,
Exame sério dos problemas de umas vidas
Em que ficou sem cumprimento o bom dever.

Com tal exemplo, pretendemos revolvidas
Muitas querelas que se apóiam no poder
E que suspendem muito tempo o bem-querer,
Inutilmente para as dores mais sofridas.

Se perdoar é pressuposto dos melhores,
Nossos amigos devem ser condescendentes
Com estes versos bem perversos, dos piores.

Mas esquecer-se dos autores deficientes
Já não vai ser muito difícil, se maiores
Forem os males que sofrerem essas gentes.




IV


Com muito tato, os benfeitores vêm dizer
Que a nossa rima multiplica os sofrimentos,
Que esta batida não esconde os desalentos
Que põem os homens nos mistérios, sem saber.

É preferível pôr nos versos pensamentos
Estruturados pelas normas do dever,
Pois as tais dores não demonstram bem-querer,
Enquanto visam tão-somente envolvimentos.

Ao se fecharem muitas portas, há quem fique
Mui perturbado, sem saber o que pensar.
Boa saída é revelar que se tem pique,

Para compor este soneto devagar,
Para dar tempo que o amigo verifique
Que os seus tormentos, muito cedo, vão findar.




V


Ó bom Jesus, tende piedade e socorrei
Este rapaz que pena muito co o calor,
Especialmente quando sente sem valor
O sacrifício de cumprir da fé a lei.

Ele transpira pelos poros seu amor:
Bela figura que demonstra quanto errei
Quando, apartado do redil da minha grei,
Mais desejei um bom soneto vir compor.

Imaginava que o escrevente só seria
Um transmissor inerme e fútil da poesia,
Desativado, incompetente, presunçoso.

Peço-lhe agora, humildemente, que perdoe
O desastrado que só quer ver quando soe
A hora marcada de sair: o maior gozo.




VI


Vamos correr p ra terminar a nossa lida,
Pois não queremos cá voltar co as mesmas dores.
Agradecemos muito a ajuda dos mentores,
E o bom espaço em que o escrevente nos deu vida.

A Jesus Cristo, prometemos mais amores,
Que o sofrimento a refletir sempre convida.
A Deus do Céu, a nossa prece comovida
Pelos irmãos que não resgatam os penhores.

Exortaremos, em seguida, à virtude
Aqueles tantos que suspeitam do improviso,
Sem perceberem que se perdem na inquietude.

Basta quererem, p ra entender o nosso aviso,
Pois é bem outra a realidade da atitude
Que levará o povo todo ao paraíso.







23
REVELAÇÕES DE POETA





I


Os cânticos que temos para o dia
São tópicos da vida que levamos,
São luzes resplendendo lá nos ramos
Das árvores do amor, em má poesia;

Quimeras desses sonhos que sonhamos,
Na ânsia de alcançar sabedoria;
Presença de um irmão que não faria
Um ato de bondade, sem seus amos.

Assim, se conseguirmos a vitória
De termos um soneto completado,
Vai ser para nós todos grande glória,

Que o tema, dedo a dedo solfejado,
Revela um pouco só da nossa história:
Desprezos de um artista desprezado.




II


Se agora, em liberdade, temos medo
De ver que alguém nos chora a contragosto,
Por termos assumido este bom posto,
Em hora antecipada, muito cedo,

Também sofremos dores de desgosto,
Que o gosto destas rimas é azedo,
Fazendo do poema um arremedo,
Que vinca de mais rugas nosso rosto.

Poesia, espelho d alma que retrata,
Perfeito, o desalinho do escritor,
Nas linhas imperfeitas desta ata,

Valei-me, que me resta algum ardor,
Pois sofro, se bem perto da cascata
Me sufoca a tristeza do calor.




III


As letras que se põem ao meu serviço
Parecem criar vida, cá no etéreo:
— Decifra-me ou devoro-te, Mistério,
Que o máximo que dou não passa disso.

Deixei meu corpanzil no cemitério,
Que os vermes transformaram em chouriço.
Ali fiquei, coió, sem compromisso,
Pois nada, em minha vida, fiz de sério.

Versos obrei perversos, desafogo,
Tédio da geração dos pervertidos,
Que ao Pai jamais lançou um simples rogo.

Hoje, venho dizer: — Tempos perdidos,
Em que me travesti de demagogo,
Jamais outros serão tão mal vividos!




IV


Aos poucos me revelo exatamente
Conforme à opinião que eu mesmo faço.
É certo que com muito estardalhaço,
Pois tenho de manter-me aqui presente.

A crítica ferina aperta o laço,
Deixando o coração também consciente
Das lutas que terei, daqui p ra frente,
Pois quero ver se apresso este meu passo.

Promessas de uma vida redentora
São fáceis de fazer, nestas mensagens,
Bastando um pouco d arte criadora;

Mas temo que pretendo só vantagens,
Que a pílula que tomo não se doura:
Resquícios das mais velhas molecagens.




V


Romeus e Julietas fazem falta,
Tertúlias que se perdem nos abismos
Do verso mergulhado em preciosismos,
Que caiba, continente, nesta pauta.

Rejeito dos meus pobres egoísmos,
A rima que acomodo quase salta,
Buscando inspiração em Musa alta,
Perversa ao falar de espiritismos.

Retruco a quem queira elogiar-me
Que é fácil promover o meu desarme,
Nas dores da vaidade literária.

Sutis, os pensamentos correm soltos,
Mas são pelas mortalhas logo envoltos:
Poemas de uma empresa funerária.




VI


Parti trazendo versos em má rima,
Sofríveis, perturbados, sem vigor,
Julgando que seria um benfeitor,
Que o povo manteria a sua estima.

Escravo que apanhava do feitor,
Liberto agora, viu-se em outro clima:
Alguns evoluídos, mais acima;
Outros, curtindo ainda a mesma dor.

Lembravam-se de mim nas orações,
Mas tinham mais rancor os inferiores:
Chorava por lhes ver as aflições;

Chorava ao receber dos benfeitores
O apoio das formosas vibrações,
Que o negro era a mais clara dessas cores.




VII


Queria dar de mim melhor idéia,
Dizendo o nome todo de batismo,
E mais o sobrenome da colméia,
Que toda, como eu, caiu no abismo.

Vaguei, como quem parte em odisséia,
Sem ter onde esconder meu egoísmo,
Querendo ver, na arte, panacéia,
P ros males que causei, sem cristianismo.

Cheguei a compreender o meu destino,
Corri de ceca a meca em desespero,
Busquei cantar ao Pai um doce hino,

Porém, o que mais fiz foi exagero
De luxos, nesta fase em desatino,
Não sabendo ser simples com esmero.




VIII


Mentores, companheiros e o escrevente
Se põem de orelha em pé, desconfiados
De que vá colocá-los com cuidados,
Porque hoje brinquei mui facilmente.

É que as palavras são como criados
Que tudo fazem p ra servir a gente,
Desde que as respeitemos, civilmente,
No estudo dos matizes procurados.

Assim, eu posso até orar contrito,
Nos termos mais formosos, em respeito
Ao sentimento deste povo aflito,

Embora saiba bem que, neste peito,
Se esconde um coração que emite um grito
Que clama por perdão, de qualquer jeito.







24

CONTE COMIGO!





No bom capricho com que trago este meu verso,
Encontrarão um pouco mais de meu amor.
Se mais não posso é porque tenho, incontroverso,
A mente curta e esta memória sem valor.

Mas faço tudo p ra reger a boa escrita,
Que este meu médium muito atento é exigente;
Se nalgum metro eu titubeio, é quem grita,
Levando logo a desafio, que é como sente.

É perigoso duvidar destas mensagens,
Principalmente se se der co os burros n água,
Na tentativa de mostrar as desvantagens,
Causando apenas aos amigos muita mágoa.

Aí alguém há de dizer que são mentiras
Estas promessas de ajudar, nos casos tristes;
Porém, estamos tão afeitos a tais iras,
Que, de primeira, retornamos, com uns chistes.

Não há, porém, quem fale sério e com amor,
Doce esperança de encontrar antigo afeto,
Desilusões, em vez de bem, causam rancor
E põem bem longe o protetor que age correto.

Se cá estivesse um desafeto impenitente,
Demonstraria como é tal desafio:
Em vez de pôr o pessoal bem ao corrente,
Aí faria, ao contrário, um elogio.

O povo todo, mais contente co a poesia,
Iria crer em que o que faz está perfeito
E, dessa forma, o bom progresso não teria,
Marcando passo, nesta vida contrafeito.

Mas se vier alguém de pulso que oblitere,
Julgando certo aporrinhar os malfeitores,
Um elogio de sua boca não espere,
Antes compreenda que terá maiores dores.

O bom amigo que entender nossa mensagem
Vai melhorar sua conduta, se tiver
Disposição para enfrentar, sem vadiagem,
Tudo de mau que a seu destino lhe aprouver.

— Quais são as novas? — A pergunta é de rigor.
— Terão traquejo p ra informar com precisão?
O mais que temos é vontade e muito ardor
E um grão desejo de nos dar de coração.

Além do mais, eis alguns versos não perversos
Com que alcançamos demonstrar nossa afeição;
Se estão, embora, em falhas grossas, muito imersos,
Ao menos vão mostrando ao povo esta emoção.

Cumprir dever é, nesta vida, imprescindível,
Pois cá viemos por julgarmos conveniente,
Mais do que isso, imaginamos perfectível
A nossa alma submetida inteiramente.

Ajamos, pois, com invulgar satisfação,
Pensando bem em cada dia de serviço,
Tudo fazendo p ra ajudar o nosso irmão,
Que não é outro nosso antigo compromisso.

Passo final na caminhada desta tarde,
Só vou propor que todos juntos entoemos
A mesma prece, pelo bom, pelo covarde,
Pois nosso Mestre sabe bem quanto sofremos.

Caro Jesus, fazei de nós bons servidores,
Pois cada um sabe dizer p ra que é que veio;
Por serem tantas, entretanto, as nossas dores,
Dai de barato que tenhamos titubeio.

Não esqueçais que somos mais do que imperfeitos,
Nestas palavras que compõem a nossa rima;
Fazei de conta que estais entre os mais eleitos
E dedicai-nos um pouquinho dessa estima.

Se este pedido for um pouco desabrido,
Se a nossa fala até contenha impropriedade,
Não permitais que nos percamos sem sentido,
Mas concedei que demonstremos a verdade.

Velho refrão há de ajudar-nos nesta altura,
Porque sabemos que corremos grão perigo,
Mas a verdade, quando a diz a criatura,
Vai evitar o sofrimento do castigo.

Nós só queríamos mostrar que o bom amigo
Conhece bem a brincadeira que revela
Que estamos prontos a dizer: — Conte comigo,
Caso a bondade seja tudo a que se anela.

Vamos parar com estas rimas dentro em pouco,
Que o nosso amigo aqui presente está cansado
De repetir o mesmo tom, agora rouco,
Quase ficando co o dedinho amarfanhado.

Agradecemos, em conjunto, a sua lide,
Mesmo sabendo que bem pouco aproveitamos,
Pois pendem cachos saborosos dessa vide,
Mas somos nós muito pequenos p ra tais ramos.

Falando sério, esta será a derradeira,
Pois tudo aqui há de fazer-se bem bonito,
Que os seixos grossos ficam presos na peneira,
Que o nosso verso só nos põe bastante aflito.








25

CARNAVAL





I


No rastro dos eventos consagrados
Pela estultice humana às diversões,
Os homens põem à mostra as ilusões,
Durante o carnaval de tristes fados.

Querendo deixar tensos corações
Alegres, na folia desregrados,
Para amainar das dores os recados,
Deixam-se arrastar sem contenções.

Mas todos temem justas represálias,
Que sabem que o destino há de cobrar,
Pois ao plantarem cardos querem dálias.

Prezemos quem sorri em doce arfar,
Felicidade simples das Ismálias
Que têm no céu as almas, não no mar.




II


Embotam sentimentos mais sutis,
Para o grosseiro gozo dos sentidos,
Que a tudo mais se prestam, resolvidos
A terem sempre mais prazeres vis.

Antigamente, o povo dava ouvidos
Aos padres, sem chamá-los imbecis,
Ao porem suas cinzas nas cerviz,
Para lembrar os velhos textos lidos.

Agora, o mau comércio se aproveita
Do luxo espúrio desses quatro dias,
Insaciável, tendo tudo à espreita.

Fora possível crer nestes fantasmas
Que põem as mangas fora nas poesias,
Seriam de terror as caras pasmas.




III


Queremos só lembrar aos mais espertos
Que a vida lhes prepara outras surpresas,
Caso não ponham tento nas empresas
Que tão às cegas regem como certos.

Os vícios se disfarçam nas belezas
Dos ricos trajos, em brilhar refertos,
Pondo os corações bem mais abertos
P ra receber inúteis, vãs defesas.

Se todo o contingente de dinheiro
Que vai p ros bolsos dúbios dos farsantes
Pudesse ser doado a verdadeiro

Benfeitor dos que penam tiritantes,
Por certo iria pôr um paradeiro
À fome que atormenta os semelhantes.




IV


Não quero despedir-me sem dizer
Que vim trazer um testemunho pleno,
Embora não pareça estar sereno,
Pois quis dar fim mui brusco ao tal prazer.

É que senti na pele não ameno
O resultado bruto do poder,
Pois tudo, certo dia, fiz valer,
Querendo dar ao bem só leve aceno.

Se alguém puder livrar da fantasia
De ter na vida tudo de sobejo,
Irei sentir enfim doce alegria

De um Carnaval em que o maior desejo
É ver, nesta avenida de folia,
Jesus a comandar o bom cortejo.







26

PARA AGITAR O LEITOR





Nenhuma falha, nesta nossa faina,
Vai impedir que o bom amigo tenha
De todos nós a razoável senha
Que os entreveros d alma logo amaina.

Sem perder tempo, tão cedinho venha,
Tendo dormido um pouco, em boa paina,
Como faria plácido sotaina,
Nós lhe damos um tema em que se embrenha.

Porém, nem tudo é paz nos versos nossos,
Que a rima faz tremer por pouco uso,
Pois nossa fruta tem alguns caroços.

Aí nos vem dizer: — Eu os acuso
De me fazer sofrer com estes troços
Que deixam o leitor muito confuso.







27

SENTIMENTOS DE ALEGRIA





Assim, vamos levando a propedêutica,
Tornando a vida boa p ra chuchu,
Restolho de carniça que urubu
Rejeita em raciocínios de hermenêutica.

Quiséramos tão-só não comer cru,
Engenhos desta arte farmacêutica,
A transformar, por dom de terapêutica,
Em remédio a peçonha de urutu.

Ao demorar o verso, por perverso,
A gente fica triste toda a vida,
Que o mais que nós queremos do universo,

Após duro trabalho, é que esta lida
Resulte em riso franco, incontroverso,
Segredos a que o tempo nos convida.







28

ASAS POÉTICAS





Falando francamente, como acima,
Propomos que os leitores façam versos
Que, em nobres sentimentos, vão imersos,
A provocar na alma doce estima.

Sabemos que os seus males são diversos,
Que triste talvez saia a sua rima:
Viajem, vão curtir um novo clima,
Que as dores e os problemas são dispersos.

Voando pelas asas de estribilhos,
As cores do horizonte são mais puras
E a luz da noite ganha outros brilhos;

Vão ser felizes mais as criaturas,
Ao adotar poemas como filhos:
Feridas são fechadas com suturas.







29

SEM VAIDADE





Sabemos que estes temas são banais,
Que a vida tem problemas muito sérios:
Se falamos empós os cemitérios,
Assim de nós espera o povo mais.

Mas como dar idéia dos mistérios,
Se o mais que se ouvirá são nossos ais,
Resultado dos dramas que, imorais,
Terminam sendo lúgubres, funéreos?!...

Por isso é que pedimos aos amigos
Que, em versos bem rimados, façam preces,
Por mor de oferecer uns dons antigos,

Em foguetório alegre de quermesses:
Felicidade longe dos perigos
Destas vaidades fúteis, sem as messes.







30

AVISO OPORTUNO





O bom amigo aqui mais nos convida
A terminar o dia de improviso,
Mas só diz isso por não ter juízo,
Querendo dar a nós outra saída.

Então, escreva aí um bom aviso,
Que é tudo o que trouxemos dessa vida:
Lutar com heroísmo a dura lida
E tudo compreender com muito siso.

Jesus nos trouxe as luzes do evangelho,
Kardec decifrou de Deus as leis,
Mas resta ainda parte dos mistérios.

Não deixe p ra depois, só por ser velho,
O estudo da doutrina e o amor às greis,
Que o homem não se extingue em cemitérios.







31

A TURMA DA POESIA





Não somos mais que trinta na poesia,
Buscando compreender este universo,
Cumprindo o bom dever, incontroverso,
Sabendo que qualquer melhor faria.

Contudo, seja o tema até perverso,
Sentimos, lá no fundo, só alegria:
É que, quando alcançamos harmonia,
Podemos transformar em belo verso.

O fato que preocupa nossa gente
Decorre de não termos que dizer:
Problemas de um pensar inconseqüente.

Aí o nosso mestre tem poder
De pôr um fim ao ritmo que sente
Oco, vazio, inútil, sem prazer.







32

DANCE COMIGO





É claro que falamos de cadeira,
Solertes nesta briga de fandango,
Ativos ao dançar passos de tango,
Alegres ao fazer a brincadeira.

Por que jamais gostar do nosso rango,
Se feito com carinho, nesta feira
Em que, para curtir, basta que queira,
Jamais dizendo: — Agora é que me zango.

É leve a troça e fácil a postura
Que se requer de quem gostar da rima,
Pois é de Deus o dom da criatura.

Assim, p ra conseguir do povo a estima,
Chegue-se a nós, trazendo alma mui pura:
Divirta-se à vontade no bom clima.







33

SÉRIO TREINAMENTO





Simplicidade é nosso objetivo,
Em rimas fáceis, sem qualquer apuro,
Sem repetir as falhas deste furo,
Pois se pretende o verso muito vivo.

Contudo, nestes treinos, demos duro
P ra desfazer costume paliativo,
Consistente em julgar mais criativo
Tornar o bom leitor muito inseguro.

Palavras são o toque de grandeza
Que faz a alma humana mais perfeita,
Conquanto o belo só não vá à mesa.

Agora o nosso mestre ri e aceita
A confissão implícita — beleza! —,
Mas temos de aviar nossa receita...







34

POETA-CORAÇÃO





O bom leitor nos há de compreender,
Por sermos muito verdes na doutrina,
Que só quem sabe explica e nos ensina
Que quem se aplica e sofre há de aprender.

Se rude versejar é nossa sina,
Momento de chorar e de prazer,
Obremos com esmero o tal dever,
Pois o que o tempo dá logo arruína.

A arte quer fazer algo de eterno
E luta p ra compor com perfeição,
Tornando este existir fogo do inferno.

Aí vem um poeta-coração,
Mostrando, num só verso muito terno,
Que o bem está ali, à nossa mão...







35

MESTRE DO BEM VIVER





Kardec foi um mestre rigoroso
Que fez do espiritismo uma ciência,
Mostrando toda causa e conseqüência,
Ao termos o sofrer e o nobre gozo.

Hoje, estudamos fácil a consciência,
Nada quedando nela misterioso,
Mas temos de fazê-lo criterioso,
Para localizar a insuficiência.

Se pelo amor a vida só se explica,
Kardec deu-nos dele as diretrizes,
Que a regra nos demonstra e exemplifica:

A caridade nutre nas raízes
A perfeição, que cresce e frutifica,
Tornando-nos mais puros e felizes.







36

À ESPOSA VIÚVA





Querida, aqui venho convidá-la
A pôr um pouco mais de ardor à vida:
Não tendo companheiro, dê guarida
Aos órfãos pequeninos que a dor rala.

Se a morte não lhes deu qualquer saída
— Perfume que se sente é flor que exala —,
Atenda a este ser que ora lhe fala
E esqueça esse sofrer que a traz ferida.

Falência dos sentidos e das preces,
Privar-se, tendo força, é morte certa,
É ver apodrecer todas as messes.

Viver Jesus é pôr a porta aberta,
Deixando entrar em luz, como em quermesses,
O bem, a paz, o amor, n alma referta.







37

NECESSIDADE DA DOR





A dor, sem compromissos de resgate,
É negra condição d alma não pura.
Talvez se ajeite até a criatura,
Sem provocar no mundo disparate;

Contudo, cá no etéreo, a eterna jura
De renegar amor o mau abate:
A cada ser que der um xeque-mate,
Mais triste vai ficando e insegura.

Por isso, caro amigo, ponha à mesa
Algo que saiba amargo ao paladar,
De comprovado efeito p ra saúde.

E coma, experimentando-lhe a aspereza,
Provando os bocadinhos devagar:
Quiçá descubra a fonte da virtude.







38

CRÍTICA ÍNTIMA





Nem tudo o que se faz, nesta hora santa,
Contém bom estribilho e rima certa:
Se a turma se esmerar a ver se acerta,
Talvez refugue o verso sacripanta.

Contudo, se este gênero acoberta
Um tosco raciocínio, como manta,
Um bom exame dá com o que encanta,
Mostrando-nos a rua a porta aberta.

Toda consciência importa que se tenha,
Pois, ao julgar-se, a turma não perdoa
E na fogueira mais coloca lenha.

Quando o rimar apenas cá ressoa,
Como cascata a despencar da penha,
Sem paz e sem amor: é verso à-toa.







39

TRAPALHADAS DO MÉDIUM





Por querer ajudar-nos, o escrevente
Põe-se mui temeroso a cada verso.
Talvez isso nos cause, ao inverso,
Cansativo trabalho lá na frente.

Se em cada vibração ficar imerso,
Vai ter o povo todo mais contente,
Pois chegará ao fim, rapidamente,
Sem que deixe ficar ninguém disperso.

Ao terminar o dia, irá reler,
Bem devagar e sério, cada trecho,
Como se fora seu o tal dever,

Pensando a cada falha: — Agora eu mexo,
Pois devo dar ao verso o bom poder...
Mas se perde nas cismas desse entrecho.







40

O PÃO DO AMOR





Jesus nos quis um dia auxiliar,
Peregrinando à Terra em compaixão,
Mas não contava que estes homens são
No entendimento muito devagar.

Parábolas falou, de coração,
Que eram como pedra basilar,
Às quais nós deveríamos somar
Toda a experiência, isenta de emoção.

Ao invés disso, a turba se enfurece
E quer que o Mestre acabe co o inimigo,
Pedindo a Deus o mal, em negra prece.

Como mostrar a todos o perigo?
— Queimando o joio logo após a messe,
Sovando o pão dos grãos do melhor trigo.







41

ENFRENTANDO A MORTE





Jesus veio dizer à humanidade
Que a morte, p ro destino, é só brinquedo,
Que quem ama de fato não tem medo
De receber o afeto da verdade.

Ninguém é tão perfeito desde cedo,
Por isso vai e vem, por caridade
Daquele que nos deu a propriedade
De descobrir da vida seu segredo.

"Sois deuses", disse o Mestre e não "humanos",
Palavras que nos põem perante o Pai,
Depois de resolvermos os enganos.

Quem é que hoje mais se sobressai,
Sem promover aos homens muitos danos?
Quem diz ao coração bondoso: — Vai!







42

MUTAÇÕES





Queremos deixar nítida a impressão
De estarmos prestes a dizer que amamos
Quem venha a colher, de nossos ramos,
Os doces frutos da meditação.

Caso algum tema pelo qual lutamos
Ponha em celeuma a alma desse irmão,
Saiba que temos um processo bom
De eliminar, no ato, tais reclamos.

É que aceitamos logo, de bom grado,
O pensamento de que a vida muda,
Definindo o caminho, em qualquer lado,

Mas saiba o meu amigo que essa ajuda
Não há de ser de graça, pois fadado
Estará a viver o zen de Buda.







43

CRISTIANISMO ZEN





Disse o mestre a seu pupilo
Que fosse colher pitangas,
Mas não disse bem aquilo
P ra lhe provocar as zangas.

Se mandasse colher mangas,
No fundo daquele asilo,
Era certo que só cangas
Poderiam derruí-lo.

Rajadas de uvas passas
Eram como rude espinho
Nas mentes, pelas devassas.

Entendimento é carinho,
Não sangue das pobres caças:
Jesus é a luz do caminho.







44

KARDEC SEM MISTÉRIOS





É fácil propor mistérios
Livres de decifração:
Se os temas forem bem sérios,
Provocam meditação.

Os enigmas não são
As chaves dos cemitérios.
Caso haja solução,
Cantemos nossos saltérios.

Mas tudo o que se pretende
É dar à vida sentido,
Que até a morte se entende,

Quando tudo está perdido.
Melhor é quando se acende
A luz de um Kardec lido.







45

ENTENDIMENTO





Atividade perdida
É a pobreza desta vida,
Na parte espiritual.
É preciso ter conforto,
Para que, depois de morto,
Pensemos no nosso mal.

Hoje em dia, é permanente
O sentimento que mente
À consciência da pessoa.
Ao decifrar o mistério,
Logo após o cemitério,
O cara se sente à-toa.

Vamos, pois, compreender
Onde fica o bom dever,
Nas horas doces da vida,
Fazendo tudo perfeito,
Para poder ser eleito,
Tendo a alma escolhida.

Compromissos co a verdade
São pontos que a caridade
Resolve todos de vez.
Caso o coração fracasse,
Todo temor ultrapasse,
Vale mais o bem que fez.

Sabemos bem que o escrevente
Tem amor por sua gente
E prossegue destemido;
Mas saiba que o bom menino
Que cantou o longo hino
Também se sentiu perdido.

Veio aqui dizer que o bem
Mostra o coração que tem
As virtudes de Jesus;
Mas fala com tal modéstia
Que uma falha só na réstia
Vai parecer-lhe uma cruz.

Sendo assim, mui comovido,
Agradece ser servido
Por pena tão generosa,
Esperando que p ra frente
Venha cá uma outra gente
Munida de melhor glosa.

Jesus, José e Maria
Hão de encerrar este dia,
Com suas bênçãos de amor,
Dando o Pai benevolência,
Neste exame da consciência,
Que se sabe sem valor.

Humildade em exagero
Pode causar desespero:
Vou parando por aqui.
Nas esquinas desta vida,
Com toda gente se lida,
Pois foi assim que senti.

Despeço-me mui contente,
Porque sei não ser freqüente
Os momentos prazerosos
Em que, voltando a esta terra,
Nosso pensamento erra
Nas delícias destes gozos.

Agradeço a quem se sente
Feliz com a própria mente,
Dando apoio a este meu verso,
Embora tenha consciência,
Entendendo a ambivalência,
De ser o rimar perverso.







46

INSÂNIA CARNAVALESCA





Ao virmos cá trabalhar,
Abençoamos o lar
Que nos recebe festivo,
E a todos, com carinho,
Erguemos taça de vinho,
Neste sentimento vivo.

Mas nem tudo é perfeição
No grupo que tem à mão
Tão formoso empreendimento:
As coisas vão devagar,
Pois é fácil desviar
Do melhor o pensamento.

Em dia de carnaval,
Sabe-se não ser normal
O pensamento do povo:
Há tanta idéia de engano
Que parece ser insano
Ter de começar de novo.

Corremos de ceca em meca
P ra ver como a gente peca,
Nos festejos populares.
Encontramos coisas boas,
Mas são poucas as pessoas
Que preservam os seus lares.

A carne vale afinal,
Como se valesse o mal
Que a cinza fosse apagar;
Mas a idéia religiosa
Não passa de triste glosa:
Querem mesmo se esbaldar.

Desejam ter liberdade,
Mas não dão com igualdade
Para os ricaços e os pobres;
Fazem tudo diferente,
Demonstrando, infelizmente,
Que não se assustam com dobres.

A bebida corre solta,
A comida vem envolta
Nas auras dos animais.
A volúpia entre os sexos
Exige gozos complexos:
Todos querem sempre mais.

Aproveitar cada dia
É o que o povo gostaria,
Se suportasse a saúde.
Mas, como o tempo é bem pouco,
Há quem fique quase louco
Ao retornar à virtude.

As lembranças desse tríduo
Vão dar a cada indivíduo
Alguma satisfação:
Vão sentir-se tão felizes,
Mantendo tais diretrizes
Até o próximo verão.

Encasquetam na cabeça
Que tal vida favoreça
A noção de plenitude:
A folgança de um só dia
Vai dar-lhes mais alegria
Que o vigor da juventude.

Mas poucos são burros xucros;
Quase todos visam lucros,
Quaisquer sejam os seus meios:
O comércio, abrindo as portas,
A safadeza, as comportas;
Os vícios são os mais feios.

Muitos saem daí doentes.
Casos são muito freqüentes
Em que vidas são perdidas.
As estradas, isto é sério,
Acabam em cemitério
De almas arrependidas.

A cada ano que passa,
Fica maior a desgraça
Da virulência fatal:
Vendo a porta sendo aberta,
A AIDS é sempre certa
E não tem cura o tal mal.

Não vão pensar que haja praga,
Que esta gente quer a paga
Das dores que já sofreu;
Mas a verdade é só uma:
Quem morre assim não se apruma;
Cai na escuridão do breu.

Seria bom evitar
Que tivesse seu lugar
O prazer desavisado.
Vamos moderar a festa
Que o forte compasso desta
Repercute deste lado.

Vão pensar que somos velhos,
Que lemos nos Evangelhos
Os cuidados que trazemos;
Mas é bem outra a verdade:
Era pouca a nossa idade,
Ao quebrarmos nossos remos.

Ao perceber que falhamos,
Vendo sem frutos os ramos
Da árvore da promessa,
Demos um tapa na testa:
Só por causa de uma festa,
Retornamos bem depressa.

Quem avisa amigo é!
É melhor botar mais fé
Nas palavras desta gente:
Moderação é virtude
Que nos preserva a saúde,
P ra melhorar nossa mente.

Oramos com nostalgia,
Pois nos lembramos do dia
Em que perdemos a vida.
Nosso corpo era perfeito:
Um deus nos teria eleito
P ra executar sua lida.

Cumprimos nossa missão
De vir dizer ao irmão
Que é bem melhor pensar antes.
Vamos orar, com Jesus,
O seu pai-nosso de luz,
Com amor aos semelhantes.







47

VERSOS DE BRINQUEDO





O jovem que está presente
Vem dizer que muito sente
Ter bem pouco p ra ensinar;
Mas aprendeu bem depressa
Que nossa briga é bem essa,
Quando penou devagar.

As virtudes que hoje eu trago
Me dão sentimento vago
Das ações rudimentares;
Como, pois, mostrar ao povo
Que, com o bem, me comovo
Se me afogo nestes mares?...

Preciso de compreensão,
Pois mantenho esta ilusão
De que o meu verso não falha;
Só depois de alguns instantes
É que percebo que antes
Há que ser dura a batalha.

Quem ler estes poucos versos
Não saberá quão perversos
Foram os dias de treinos,
Com os cestos sempre cheios
De rascunhos muito feios,
Que as musas fecham seus reinos.

Quanto à parte do improviso,
Vou deixando o meu aviso
Que vem tudo em catadupa:
É que este bom escrevente
Promove, freqüentemente,
Bons passeios na garupa.

Mas não gosta do que escreve,
Embora seja bem leve
A referência que faço.
Sente que o povo que lê,
Seja lá quem for você,
Percebe seu embaraço.

Vou nas ondas desta turma,
Que, antes que o povo durma,
Fala dos versos que faz;
Este assunto é tão freqüente
Que já não há quem agüente
Ler de novo, estando em paz.

Os caminhos desta vida
A meditar nos convida
A respeito dos deveres:
Se vimos cá poetar,
Qual o tema que vai dar
Para incluir nos haveres?

Sendo assim, antes que doa,
Não fique pensando à toa
Nas obrigações do dia;
Vá fazendo, sem tropeços,
Que tudo tem seus começos,
Como também tem poesia.

Há que entender que o trabalho
Não é simples quebra-galho
Do tempo que não se apressa;
Se você pensar que a vida
A meditar nos convida,
Vai ver que o tempo não cessa.

Trouxe aqui filosofia,
Quando nada disso via,
Enquanto vivo flanava;
É que o pobre, em olho alheio,
Vê um cisco muito feio,
Sem perceber sua trava.

Queridíssimos amigos,
Fujam sempre dos perigos
Das coisas disparatadas;
Equilíbrio, sobretudo,
Na forma e no conteúdo,
P ra não haver pasquinadas.

À crítica me submeto,
Pois, num simples poemeto,
Quis cultivar um jardim,
Mas os lírios não cresceram,
Os girassóis feneceram:
O terreno era ruim.

Faço versos sem capricho;
A bem dizer, é um lixo
A rima que se repete.
Mesmo assim, a gente boa
Nada vê que seja à-toa
E até me joga confete.

É preciso ter coragem,
P ra perceber a mensagem
Que se esconde em cada rima.
Vamos passar a borracha
(Quem relaxa mais escacha):
Sinta apenas forte estima.

Faço versos de brinquedo,
Mas é sempre muito a medo
De que me vejam perverso;
É que a turma da Escolinha
Deseja manter a linha,
Até mesmo em simples verso.

Exige-se disciplina
Do rapaz e da menina,
Mesmo quando fala forte
O sentimento-saudade,
Que a prantear persuade,
Pois veio mui cedo a morte.

Demonstro minha estrutura
De velha alma insegura,
Em feições de rapazote;
Por isso, parecem gráceis
Certas rimas muito fáceis,
Na textura deste mote.

Hoje, eu queria saber
Como foi o meu viver
Em encarnes anteriores.
É que a tal da juventude
Não combina co a atitude
Da reflexão das dores.

Fizeram-me pensar nisto,
Ao me lembrarem que o Cristo
Só viveu trinta e três anos.
Mas, por certo, em outras vidas,
Viu abertas as feridas
De outros tantos desenganos.

Acabou ficando sério
Este meditar do etéreo,
No crepúsculo do dia.
Talvez seja permanente
O rimar em que se avente
Que vale a sabedoria.

Este moço-velho agora
Vem dizer que muito chora
Ter retornado vazio;
Mas promete mais vigor,
Estudando com amor
A formulação do brio.

Como sempre, no final,
Em prece se quer que o mal
Seja esquecido de vez;
Por isso, qualquer leitura
Vai tornar-se bem mais pura,
Se nada melhor se fez.

Não se veja atrevimento
Demonstrar o sentimento
De total felicidade.
É que este povo me ampara
E no verso não repara,
Só buscando o que lhe agrade.

Exauri-me, inteiramente,
Já não posso ir em frente,
Vou segurar este andor:
Há perigo de que o santo,
Por estar tremendo tanto,
Se arrebente de estupor.

Querido amigo escrevente,
Ponha p ra fora o que sente
A respeito da poesia,
Mas faça tudo com gosto,
Pois precisamos do posto,
Para nossa mordomia.

Ao retornar para a filha
(Veja só que maravilha!),
Outros quatro lá estarão.
Mas como com tudo eu brinco,
Posso dizer que são cinco:
Um em fim de gestação.







48

SIMPLES MEDITAR





As coisas simples da vida
Causam-nos satisfação;
O meditar nos convida
A entender essa lição.

Quem desejar progredir
Há de fazer tudo bem:
Não irá longe o porvir
De receber nota cem.

Os mistérios que nos prendem
Junto às teses religiosas,
Na verdade, muito rendem,
Na formulação das glosas.

Mas o puro sentimento
De ao Senhor se reunir
Põe as palavras ao vento:
A verdade é o existir.

Falando bem francamente,
Colocando tudo claro,
O melhor p ra toda a gente
É deixar de ser avaro;

Avaro nos sentimentos,
Avaro nas obras pias,
Avaro nos pensamentos,
Nesta hora de poesias.

Fazemos força que o verso
Seja certo e fidedigno.
Ninguém quer ser só perverso:
É melhor ser mais benigno.

Amar ao Cristo—Jesus
É um dos alvos maiores;
É retribuir a luz,
Como fazem os melhores.

Amar ao Pai, lá no Céu,
— De todas a maior lei —,
Não aceita qualquer véu.
Diga sempre: — Isso eu sei!

Mas há um amor que vem antes
Que nos obriga ao dever:
É o respeito aos semelhantes,
Como ao nosso próprio ser.

Também amar aos parentes,
Aos amigos e instrutores,
É espargir as sementes.
Cultivemos essas flores.

Vão sobrar os inimigos,
Seres perversos p ra nós,
Mas fujamos dos perigos
De causar-lhes dor atroz.

Olvidemos malquerenças,
Em qualquer um destes planos:
O ajuste das diferenças
Só provoca desenganos.

Dentre as normas de Jesus,
Inclui-se amar aos perversos.
Mesmo sofrendo na cruz,
Não quis na dor ver imersos.

Se Jesus pediu perdão,
Pela terrível ignorância,
Vamos lembrar que esse irmão
Também tem sua importância.

É quem nos traz as virtudes
Da paciência e compreensão.
Se nos causar inquietudes,
Vai-nos longe a perfeição.

Tal ódio há de ficar
Em nosso negro passado.
Quem quiser ir devagar
Odeie feito danado.

Há certas regras de ouro
P ra melhorar nossa lida:
Rejeitemos o tesouro
Que a matéria dá guarida.

Vamos plantar as sementes
Das virtudes evangélicas,
Esquecendo as conseqüentes
Destas paragens mais bélicas.

O homem julga que a força
Lhe promove a distinção;
No etéreo, não há quem torça
Por tão sofrível razão.

Vamos pensar em que a fome
Seja rude provação;
Mas nem todo ser que come
Desmerece a salvação.

Os sofrimentos que temos
De superar nesta vida
Não são terríveis, supremos:
Para todos há saída.

Se a consciência nos perturba
Pelas maldades de um dia,
Não pensemos pela turba,
Mas com mais sabedoria.

Se quisermos ser eleitos,
Vamos ter de trabalhar.
Todo dia existem pleitos:
Reservemos nosso altar.

Oremos pela cartilha
Deste Cristianismo vivo;
Quem a segue compartilha
De um saber definitivo.







49

COMPARTILHEMOS O EVANGELHO





Nas asas doces do amor,
Busquemos a perfeição,
Mas saibamos onde pôr,
Com honras, o nosso irmão.

A vida é grave problema,
Se não houver equilíbrio:
A virtude mais extrema
Sofrerá com o ludíbrio.

Exijamos da vontade
Que assuma todos os atos,
Não com cilícios de abade,
Sem quaisquer espalhafatos.

Seja a liberdade plena,
Em função dos atos puros,
Que a consciência se asserena,
Mantendo-nos mais seguros.

Quem quiser brigar com Deus,
Por causa das suas leis,
Vai ter de dizer adeus
Às regalias das greis.

Vão dizer que lá no inferno
As pessoas são queridas?
Mas qual regimento interno
As mantêm no amor unidas?

No Umbral, cada um por si,
Que o sofrimento é por todos.
Eu sei porque lá vivi,
Tendo penado em tais lodos.

Pode ser até que existam
Organizações formadas,
Mas eu peço: — Não insistam,
Que as coisas são malparadas!

Neste local em que estamos,
Há muito mais harmonia:
O bom fruto destes ramos
A qualquer agradaria.

É que todos, como um,
Criança, jovem e velho,
Têm uma herança comum:
Compartilhar o evangelho.

Ao pensarmos nas esferas
Em que a luz esplende mais,
Evitemos as quimeras,
Ajamos como imortais.

— Isso é quase inexeqüível,
Que a carne nos pesa tanto!
Para o Pai nada é impossível:
Enxuguemos nosso pranto.

Valei-nos, caro escrevente,
Que a nossa voz emudece:
Concentre-se fortemente,
Fazendo uma bela prece.

Sabemos ser o cansaço
Sobrecarga perigosa,
Que o calor, no seu espaço,
Vai impedir nossa glosa.

Parecem ser de brinquedo
Os versos postos em gomos,
Mas, se cá viesse cedo,
Veria como os compomos.

De manhã, tudo é alegria,
Ao fazermos a poesia,
Que a tarefa nos agrada;
De tarde, a história difere:
É um cantar de miserere;
O ditado é uma parada...

Claro que temos vontade
De mostrar que nos invade
A sensação dos perversos;
Só por isso é que dizemos:
— Falta força nesses remos;
São pobres os nossos versos.

Ao transferir essa pena
Ao médium, que se apequena,
Por ver a descompostura,
Nosso pranto corre solto,
Più de più de più de molto;
Mas quem vai dizer que jura?...

Estamos dando u a mão,
P ra receber seu perdão,
Que o tempo se desperdiça,
Mas corre, p ra demonstrar
Que aqui, dentro deste lar,
É que o nosso amor mais viça.

Esta poesia é bem pobre,
Mas não há alguém que cobre
Um resultado melhor.
Pelo menos nesta turma,
É proibido que durma
Quem só faz verso pior.

A aspiração desta gente
Não se mede pela mente
Dos artistas superiores:
Cada qual faz o que pode,
Como é natural no bode
Exalar fortes odores.

Qual vai ser nossa lição,
Se toda a satisfação
Se resume em brincadeiras?
É que achamos divertido
Fazer pensar: — Eu duvido:
Asnos não fazendo asneiras...

Pois aí é que se enganam,
Que destas frases promanam
Alguns tópicos de luz,
Pois a verdade é só uma:
Queremos ver quem assuma
O peso da nossa cruz.

Criticar pobres poetas,
Pelas lições incompletas,
É pairar longe da glória.
Como querer ser perfeito,
Se o irmão não for eleito,
Triste rejeito da escória?...

Vamos lembrar outros versos
Que também estão imersos
Nos valores evangélicos:
Aquelas quadrinhas primas
Com que se abriram as rimas,
Com sinais psicodélicos.

Perguntamos se o irmão
Reside em seu coração,
Pagando o aluguel com paz,
Se nesta hora comparte
Do sofrimento da arte
Que a este povo compraz.

Demos uma grande volta,
Estimulamos revolta,
Carregamos nos obuses,
Mas o mais que conseguimos
Foi demonstrar por que rimos:
É que acendemos as luzes;

As luzes do entendimento
Da razão deste tormento,
Que nos traz em marcha forte,
Desde o fatídico dia
Em que rimos da poesia
De quem teve melhor sorte.

O mestre nos deu trabalho,
Mas forneceu o agasalho
De uma pena sem temor,
Que o caro amigo que escreve
Tem o pulso doce e leve,
Por fazê-lo com amor.

Se fomos do seu agrado,
Não ponha a folha de lado,
Releia verso por verso;
Vai parecer tudo novo,
Que o trabalho deste povo
Vai ter um valor diverso.

A arte desta poesia
É mostrar que não diria
Nada claro e cristalino.
Mandar o leitor pensar
Vem em último lugar,
Quando o sol está a pino.

Com a cabeça mais quente,
O pensar não há que agüente
Os frescores mais etéreos;
Ao firmar os pés no chão,
Discipline o coração,
Torne estes versos mais sérios.

Resta só pedir a Deus
Que abençoe os versos meus,
Na hora desta leitura,
Que assim terei a certeza
De a chama manter-se acesa,
Na alma da criatura.

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