O amor é um dos poucos e últimos ideais que nos restaram, é graças a ele que conseguimos encontrar motivação para continuar vivendo num mundo tão duro e cada vez mais violento, é graças ao amor que temos esperança de que as coisas vão melhorar e que a nossa vida possui algum sentido.
Em meus devaneios de amor sou um entusiasta do amor romântico, aquele mesmo que eu aprendi nos filmes da televisão e do cinema como:´... E o vento Levou´ e ´Titanic´ e com os livros e histórias que cresci escutando e lendo, Helena de Tróia e Páris, Tristão e Isolda, Romeu e Julieta, Charlotte e Werther, Ceci e Peri.
O amor romântico das canções que embalam nossos casos, namoros e casamentos, coisas do tipo´essa é a nossa canção´, mas com o passar dos anos e com o meu incessante interesse por esse assunto, aos poucos fui descobrindo que o amor romântico é mesmo um mito, algo que a humanidade inventou, uma distorção de um sentimento que realmente existe, mas que não existe tal qual as pessoas pensam que ele é, foi construída toda uma aura em torno do amor que não é real e todos nós somos levados por depositarmos no amor tudo aquilo que não somos capazes de fazer a acreditar que o amor é o sentimento dos sentimentos, o amor se torna nossa única e última esperança e por isso nos decepcionamos tanto com o amor e com as pessoas objeto deste apreço, criamos expectativas e esperamos do amor e das pessoas que elas possam ocupar nossos espaços vazios e dar jeito nas nossas vidas, mas criar expectativas sempre nos leva a decepção, ninguém nunca será capaz de suprir todas as nossas necessidades, mesmo porque elas mudam de um dia para o outro.
O amor romântico é só mais uma invenção do homem como o fogo, a roda, o casamento, a medicina, o computador, a democracia, o nazismo, os deuses e as diversas imagens do universo, é uma tentativa dos nos tornar todos iguais, de nos controlar e de nos adequar a um mundo ´esquematizado´e pronto, quando pensamos que o amor é uma porta para a nossa liberdade estamos errados, ele é só mais uma algema.
O amor romântico da maneira que é concebido para nós, acaba nos enjaulando e engarrafando, nos atando a uma maneira de viver, o amor é domado e estruturado pela sociedade e nos impondo que primeiro devemos nos apaixonar por alguém e depois temos que nos casar com esse amor e ter filhos, isso se torna uma regra e todas aquelas pessoas que não se casam ou não tem um laço afetivo duradouro, são rotuladas de ´encalhadas´, encarnando uma face do ideal nefasto do amor romântico, obrigando as pessoas a acreditarem que tem que encontrar ´alguém especial´ de qualquer forma, como uma princesa ou príncipe encantado e que viverão felizes para todo o sempre e se não conseguirem terão falhado na vida.
O amor romântico exclui as outras inúmeras possibilidades que podem acontecer conosco, como o fato de gostarmos de alguém apenas por um determinado período e o que a sociedade entendeu e nos dia de hoje chamamos de ´ficar´, uma fase de experimentação que pode durar minutos ou meses até descobri-se se isso mesmo que queremos, o mito do "Amor Romântico" é o que causa mais sofrimento, pois hoje em dia ninguém demonstra o romantismo que tem dentro de si, para não se tornar uma pessoa "careta", e é essa expectativa do amor romântico que deixa as pessoas solitárias e inseguras. E o mais interessante é que somos nós mesmos os responsáveis pela manutenção desse mito, somos nós que damos a expectativa que o mesmo terá de nós.
O amor romântico é uma visão simplista desse sentimento tão complexo chamado amor, é muito bonito e é realmente animador acreditar no amor de uma forma romântica, eu sempre amei as pessoas segundo essa visão, mas existe uma outra maneira de amar, outro tipo de amor, o amor realista.
Se as pessoas amassem de uma forma mais realista encarando de verdade o amor algo como um sentimento comum e não´hors concours´, sublime ou sem comparação talvez se decepcionassem menos e encontrassem o verdadeiro significado que o amor tem para com as nossas vidas.
O amor serve para nos proteger do mundo selvagem e nos tornar mais fortes, construir uma história de parceria, de ternura , tudo aquilo que o amor tem de mais elevado acaba sendo distorcido com o mito do amor romântico embalado por adiamentos, renúncias, devaneios, esperanças no futuro e doces momentos do passado´, tornou-se contraditório com nossa ´paixão pelo efêmero´ o ideal do amor deve ser reinventado por nós mesmos para que não nos decepcionemos com si próprios e nem com as outras pessoas, para que o amor não torne ainda mais amarga a tarefa de viver.
Amar de uma forma realista é saber que as pessoas se aproximam sim da gente pelo desejo de satisfazer os seus próprios desejos, somos todos mimados sensorialmente e queremos experimentar só as sensações boas, creditasse o sucesso a sua capacidade de não sofrer, que as pessoas por uma questão de sobrevivência e de instinto escolhem aqueles que se parecem mais bonitos, atraentes e bem sucedidos e só aquelas mais sensíveis (que não são necessariamente melhores que as outras pessoas) é que são capazes de quererem satisfazer outro desejo que é a busca por alguém que acrescente alguma coisa de novo.
Amar de uma forma realista é saber que as pessoas não são perfeitas e nunca vão se comportar da maneira que gostaríamos que elas se comportassem e que o amor muitas vezes quando é bom não dura e quando dura já não entusiasma, que essa pecha de amor infinito é algo realmente muito raro e as pessoas mais nos decepcionam do que nos dão alegria.
Amar de uma forma realista é falar sempre tudo que está sentindo é deixar bem claro o que sente e o que quer da outra pessoa, é respeitar as diferenças sem se deixar acomodar e negociar concessões dentro de um relacionamento, é amar sabendo que talvez não seja amado da mesma forma e mesmo assim continuar seguro do que quer e se a dúvida pintar não querer segurar a onda sozinho(a).
Amar de uma forma realista é continuar acreditando no amor sim, mas de uma maneira responsável sem apenas pensar em si mesmo e nas suas necessidades, entender que na maioria das vezes a natureza do desejo humano é desejar aquilo que falta e isso muitas vezes nos trás dor e ranger de dentes.
Quando descobri o amor realista meu mundo acabou, foi como se tudo que eu havia sentido até agora fosse uma mera mentira, o amor romântico era apenas mais uma mentira repetida até virar verdade, mas quando o tempo passou e amainou essa minha ira comecei a perceber que o amor realista não é de todo ruim.
O amor realista tem uma vantagem sobre o amor romântico, ele nos livra de muitos preconceitos de regras que nos atrelam a uma conduta, eles nos deixa livres para amarmos de uma forma muito mais direta e cheia de possibilidades e não nos convoca para uma guerra que não é nossa, a guerra dos sexos, onde homens e mulheres hoje lutam para saber que é o melhor e que vai conseguir dominar um ao outro e o objetivo de colocar o amor como salvador do mundo.
Talvez amando de uma maneira mais realista eu encontre uma maneira melhor de amar as pessoas e de me culpar menos pelo meus erros, talvez amar de uma forma realista signifique resgatar o verdadeiro amor que existe dentro de nós.
