Ele não sabia que tinha super-poderes e como todo super-herói, sua iniciação no mundo dos defensores da lei e da ordem foi traumática e cercada de discriminação. Não vamos contar a história de seu passado para manter a possibilidade de fazer uma continuação deste conto para encher lingüiça de um próximo livro ( afinal, devemos sempre ter esse tipo de planejamento estratégico). Posso adiantar que uma das coisas que mais demorou para decidir foi o seu nome de guerra ou nome artístico, dependendo do ponto de vista.
Pensou em se chamar Homem Ácaro, já que um de seus poderes era passar mal em ambientes muito úmidos e pouco arejados. Depois, pensou em se chamar O Homem Casca de Árvore, pois tinha o maravilhoso poder mutante de ficar com a pele ressecada e áspera quando exposto a grande frio. No final das contas, como considerava que o seu maior poder era o de simplificar as coisas, acabou se autodenominando Homem Simples. Note bem que eu disse o Homem Simples e não o Homem Prático, apesar de alguns acharem que coisas simples e coisas práticas são a mesma coisa.
O ex-futuro Homem Ácaro tinha o poder de entender o real motivo das coisas e não complicar as questões. E percebeu que era muito difícil encontrar alguém com esse poder por aí. Seu caso era raríssimo.
Seu primeiro salvamento foi de um jovem que tinha que passar por uma operação de fimose e estava mortalmente preocupado. Ouvira histórias no hospital de que as freiras durante a noite ministravam um veneno mortal a seus pacientes e eles nunca mais acordavam para ver a luz do dia. E não eram as freiras que ele estava acostumado a ver com seus hábitos comuns, mas aquelas freiras que usavam grandes chapéus curvos nas pontas o que o deixava ainda mais amedrontado. O veneno era conhecido por todos. Era o chamado “ Chá da meia-noite”.
Acreditando nessa lenda, o jovem passou a noite toda em claro. Via fantasmas nas sombras da parede e vigiava desconfiado a respiração dos outros pacientes para ver se eles estavam parados demais para estarem vivos. A cada ronda das freiras da enfermaria, quando uma delas vinha aproximar o algodão molhado de água para aliviar sua sede, já que depois de operado ele não podia beber água, ele fechava a boca com força, contraindo os lábios fazê-los desaparecer dentro da boca. E o medo ? Morria de medo de morrer ali, sozinho, e nunca mais ser encontrado por sua família.
Foi aí que entrou em ação o Homem Simples. Ao ver o super-herói, o jovem já ficou mais aliviado. Depois que, com palavras doces e compreensivas, ele explicou que toda a história de veneno noturno ou Chá da meia-noite era uma invenção de seus amigos para deixá-lo assustado ou uma lenda sem sentido, o jovem rapaz recuperou aos poucos a cor e abriu a boca para falar.
- Muito obrigado, Homem Simples, não se o que seria de mim sem você ! Continue salvando o mundo e esclarecendo as mentes confusas e perdidas...Dizendo a todo mundo que as coisas são mais simples do que parecem ser...Avante, Homem Simples!
Ele estava muito orgulhoso de seus poderes. Mas como era simples e sabia que orgulho simplesmente não levava a nada, revestiu-se da humildade usual para seguir com sua missão. Teria uma longa e promissora carreira pela frente.
