Mas não era pra ser um bangue-bangue?
Por que, então, a surpresa? Por que o espanto?
A indignação por parte dos mansinhos,
digo, por parte dos mocinhos escalados?
Mas que é do King Kong, que não viu,
não interceptou com mãos enormes simiescas,
os ternos aviõezinhos de brinquedo
que contra as Torres Gêmeas se chocaram?
E os passageiros, quem são? E os tripulantes?
E os figurantes, meu Deus, e a Sônia Braga?
E os brasileiros todos? Que video-game cruel!
Oh, televisivo day after inesperado!
E os campineiros, então, o horror,
brutalmente excluídos da platéia,
com o prefeito que, dizem, já sabia
que o seu papel incluía ser assassinado?
E a festa dos muçulmanos, por Allá?
Os festejos nas ruas palestinas?
E Yasser Arafat, seus lábios trêmulos?
E o duro vazio olhar de Mr. Bush?
Mas não era pra ser um video-game?
Por que, agora, bombeiros e ambulâncias,
os médicos, as enfermeiras e a polícia,
e os perfilados doadores voluntários?
Mas não era pra ser um bangue-bangue?
Por que então a surpresa, por que o espanto?
A indignação por parte dos mansinhos,
digo, por parte dos mocinhos escalados?
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