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Contos-->Salim foi ao Supermercado -- 07/03/2003 - 12:53 (BRUNO CALIL FONSECA) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Salim foi ao Supermercado. Chegou contando que no pátio tem um elefante enorme, jamais visto por aqui. De chofre, disse que o elefante é do tamanho de cinco elefantes africanos, desses que estamos acostumados a ver no circo. Não faças pilherias... só porque ele beira meio século de idade e está para se aposentar..., Salim ainda está firme na ativa e bem lúcido. Salim não mente.
Disse que o elefante ocupava toda a carroceria de uma carreta de vinte e dois pneus. A tromba era enorme. E sobre o seu dorso havia uma garrafa que cabia mil litros de refrigerante Fanta. Não soube dizer se ela estava cheia. Mas notou que, como os demais elefantes, o elefantão que vira estava num cercado com uma pata amarrada nunca estaca fincada no asfalto.
Ninguém perguntou mais pelo elefante e a conversa ficou por ai. Só Salim ficou a carregar aquele mastodonte na cabeça. Um elefante daquele tamanho era um absurdo. Uma aberração da natureza. Mas não era apenas o tamanho que lhe incomodava. Na volta para casa, Salim resolveu ver de perto o elefante. Deu uma, duas, três voltas em torno do cercado e se esforçava para compreender como um animal tão grande e tão leve podia deixa-lo intrigado. Observou a Fanta. Podia ser aquela enorme garrafa que o atazanava. Por volta de 1962, seu pai, então comerciante, foi o primeiro a vender aquele produto onde moravam. Mas isso era pouco para justificar a sua inquietação. De mais a mais, Fanta, para ele, era um refrigerante meio sem graça como sem graça achava também a cor laranja.
Pesado e vazio tal qual aquele elefante, por ainda não ter obtido respostas, foi para casa. Este era o segundo dia em que ele estava metido, mais uma vez, num curso de relações interpessoais. Salim gostou do primeiro dia. Estava ansioso para chegar a manhã para dar seqüência ao curso que duraria quatro manhãs. Ele estava certo de que, com o passar do tempo, era impossível trocar a carcaça e as engrenagens do motor, possível seria dar manutenção e aplicar mudanças em rotinas do programa que conduz essa máquina perfeita, mas solúvel, que era ele.
Na volta para casa, no carro, a manhã de curso, ocupa seus pensamentos e ele passa a relembrar o que aconteceu de bom e os conflitos do primeiro dia. O enorme elefante saiu de sua mente e deu espaço ao curso.
— Booom di-aaaaa!
— Booom di-aaaa!!! — responderam todos, uníssonos.
Em seguida, de pé, em círculo, todos ouviram uma mensagem positivista de Vinícius e após o término foi pedido que dançassem uma quadrinha.
Salim arrepiou.
— A que viemos aqui?
— ...
— Ora!
— ...
— Ao encontro do eu perdido, apagado e espremido e sufocado por esse cotidiano mastodonte.
Salim concordou que de fato ele estava ali para reaprender a caminhar e também para reencontrar o caminho de encontro a si mesmo. Ele justificou para si que havia dormido e estado, no café da manhã, com Elen, e nem lembrava mais com que roupa ela fora vestida para o trabalho. Mas ainda martelava as preocupações domésticas: “Meninos, meninos! Acordam! A pasta...! O café... escova os dentes! ...!”
Elen beliscou em Salim:
— Escuta Salim! É muito interessante o que ela diz. Relaxe! Lembras o que te contaram? Que, normalmente, no princípio desses treinamentos a turma começa sisuda, com uma certa reserva com a psicóloga, mas depois acaba tudo bem?
Salim remoia as perguntas:
— O que essa mulher sabe dos meus problemas se eu pouco sei? O que ela quer comigo se eu já tenho a minha vida muito bem delineada? O meu presente eu vivo e o meu futuro já está traçado. Por que devo ouvir a esta mulher antipática?
Salim comporta-se indiferente à palestrante.
Ainda Salim:
É! Eu realmente devo estar mais bem equilibrado do que esses trinta amigos meus. Como é possível pessoas de vinte e cinco a cinqüenta anos brincar como crianças de cinco anos? Isso é ridículo! Ridículo, ridículo... brincar assim no meio do salão. Como pode a Elen brincar com fantoches? Olha a Nelita, a brincar com bonequinhas de pano! A Gilka brincando com a televisãozinha da Xuxa; o outro que não sei quem, com palitos de picolé a cercar a sua fazendinha; outro que, de caminhonetinha, foi visitar o amigo fazendeiro. Marcel viu umas varinhas e propôs-se a brincar de chicotinho-queimado. Que coisa estranha? Querem saber a idade dele? Tem graça o Arnô, 46 anos, a rabiscar com lápis de cor! Imagina! Ele, um dos homens responsável pela conta do Tesouro Nacional! A Bete... especialista em Comércio Exterior, envolvida até o pescoço com a balança comercial, a brincar de “casinha”, enfim, todos aqui, responsáveis por um aparelho de Estado importantíssimo na manutenção da soberania nacional.
Depois de brincar no salão, uma cambada de marmanjos foi jogar pelada numa pequena quadra. Salim queria simplificar a coisa. Já estava em vias de concordar com aquele general francês que, segundo dizem, disse: “Esse país, realmente, não é sério”.
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