Observação: este texto foi publicado há uns dois anos atrás (na época, o encarei como um delírio momentâneo), aqui mesmo na Usina, na categoria "Enredo de Filme ou Novela", à guisa da pilhéria que percebi entre seu conteúdo e a classificação em si. Volta agora, instigando uma reflexão mais aguda, na sua forma justa e original de poesia, num momento mais que oportuno.
"ESTRELA SOLITÁRIA"
Estrela solitária, lutadora, valente,
ora em ascenção, ora cadente.
Saco de gatos, refúgio dos últimos
filhos da utopia social,
de belo encanto radical
e gentil apelo popular.
Existem maiores abismos entre os teus filhos,
que entre tu e as beldades concorrentes.
Mas continuas, insistente,
estrela múltipla, quase constelação,
sistema caótico de vários sóis
e planetas renitentes.
Ouço um clamor por ti,
desesperado, meio sobrante,
bastião de muitos sonhos
amarrados com barbante.
Terá chegado a tua vez?
Será esta a tua hora?
Ou será que simplesmente
a concorrência foi-se embora,
sem mais proveitos
à mãe gentil sugar (por hora)?
Será esta uma fatal armadilha,
emboscada final em tua trilha,
a fim de poder (melhor) te trucidar?
Entre o Suplício e o Inácio,
será logo o Bonifácio?
Melhor talvez não seria
um enredo mercadejado,
que a suspeita (oh, agonia...)
de uma aliança com o outro lado?
Oh estrela, rubra estrela,
o que te reserva o destino?
Salve Deus teus fiéis do desatino,
e faça-se um milagre nacional
(Valei-me, Cabral!).
És a última esperança,
entre tantos guerreiros caídos.
Mas quem sabe uma boa batalha
ainda desperte alguns falecidos?
Estrela, estrela, minha stella,
isto não é filme ou novela,
mas tem o mesmo andamento.
Afinal se a vida é bela,
dispensa qualquer argumento...
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