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Cronicas-->1994 -- 30/11/2002 - 18:14 (Poeta Paulistano) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Algo ali ficou parado. Algo ficou estagnado sem que eu soubesse. Alguma coisa se acabou, mas não foi capaz de se perder no tempo. Talvez meu corpo tenha morrido. Mas não. Meu corpo continua aqui. Carne, osso, sangue, sentidos. Tudo funciona perfeitamente. Talvez então tenha sido minha alma. Minha alma era outra. Minha história, meus ideais, meu espírito. Eles não parecem estar mortos. Mas parece que eles pararam para me observar em 1994.

Não sei dizer se foram fatores internos ou externos, mas muitas vezes tenho medo de ter parado por ali. Não pararia por medo de prosseguir, mas por coisas simples que acontecem com a gente diariamente e se acumulam de uma forma que de um dia para o outro você não é mais a mesma pessoa, não pensa mais a mesma coisa e nem sabe ao certo o motivo pelo qual vai de casa para faculdade ou para o trabalho.

Tudo parece deixar de fazer sentido. Mas não deixa. O sentido nunca acaba. Pode ser que o desconheçamos, mas ele deve existir. Em algum lugar o sentido deve estar. Para alguma direção ele deve apontar.

Tanta coisa aconteceu em 1994. Algo ficou perdido no tempo e no espaço. Tantos ídolos de adolescência partiram e criaram um vácuo eterno. Não teríamos mais a coragem e a gana pela vitória de Ayrton Senna. Não veríamos mais os gols geniais do anjo Dêner. Não mais nos empolgaríamos com a rebeldia levada ao extremo por Kurt Cobain. Estes são só alguns. Todos partiram em menos de 15 dias. Mas não sei se isto influiu diretamente.

Sei apenas que os anos seguintes pareceram não existir. A contagem do tempo nunca foi mais a mesma depois de agosto de 1994, quando conheci a mulher da minha vida. Ela me acompanha até hoje. Pode ser que o amor seja responsável por parar o tempo, por fazer que nada seja como antes. Pode ser. Quero crer que sim. Mas nunca fui bom em crenças. E foi naquele ano que perdi o pouco que restava da minha fé. Mas isto também nunca me incomodou.

Lembro de muitas coisas marcantes. Mil novecentos e noventa e quatro foi quando aprendi a me desapegar de tudo o que me fazia mal. Foi quando aprendi a fazer apenas aquilo que eu queria, que me dava prazer, a fazer apenas o que mandava aquele monte de músculo, veias e sangue chamado coração.

O coração é comandado pela mente e se recusa a admitir. É uma mistura de impulso e arrogància, desespero e letargia. Alguma coisa parou, me deixou perdido por ali. Mas eu também me recuso a admitir. Nada deixo a dever para o coração, seja ele meu, seu ou de qualquer outra pessoa.

Em 1994 eu devo ter experimentado todas as sensações que recordo existir. Dolorosas ou não, lembro-me de todas com carinho, com saudades, com vontade de senti-las de novo. A vontade talvez seja a de voltar transgredir todas as barreiras e normas que transgredi naqueles tempos. Eram tempos nos quais eu arrasava os padrões pelo simples prazer de constatar que eles podiam ser devastados. Eram tempos nos quais eu rompia os tabus para ter a segurança de saber que nenhum tabu é eterno e todos começam a se acostumar, pouco a pouco, com o proibido quando o tabu é estraçalhado. Mais tarde, o tabu não é mais tabu. Depois disso, perde a graça.

Mas eu continuo aqui sem saber o motivo pelo qual comecei. Para quem não sabe, 1994 foi o ano no qual atingi a maioridade. Mas isso também não importa. Eu não era o tipo de jovem ansioso por completar 18 anos para pegar o carro dos pais. Comecei a dirigir apenas aos 21, quase 22, se não me engano. Foi também o ano no qual entrei na faculdade. Mas eu talvez nem soubesse o que queria estudar e mudei de curso no meio do caminho.

E depois de tantas divagações e loucuras, talvez eu tenha uma resposta. Mil novecentos e noventa e quatro foi o ponto de convergência, o ano no qual eu mudei, o ano no qual, queira eu ou não, amadureci e passei a me transformar aos poucos no homem que sou hoje.

Não conto mais os meses da mesma forma. Não há mais três meses de férias por ano. Algumas pessoas têm responsabilidade direta por essas mudanças. Mas elas sabem quem são. Não preciso nomeá-las uma após a outra.

Mil novecentos e noventa e quatro não foi quando a minha alma morreu. Foi o ano no qual ela começou a se transformar. As barreiras precisavam ser derrubadas e foram. E talvez esse desabafo tenha sido capaz de matar o fantasma do tempo inerte que atormentava minhas noites havia anos.

Agora você já pode partir, meu amigo. Os fantasmas só assombram quando são desconhecidos. Só assustam quando nada faz sentido. E eu já sei o que fazer a partir de agora.
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