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Poesias-->ALTER EGO -- 12/07/2003 - 15:20 (LUIZ ALBERTO MACHADO) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Abri a porta e o céu estava cinzento

E na penumbra da sala

O meu coração está feliz com os acordes do Koln Concert de Keith Jarret



A minha pena ainda transcreve imagens da cabeça

De um asno na lira e seus fragmentos múltiplos desentoados

De pedaços outros



Deus me abençoe

Deus me proteja nessa desolação

Uma ausência que atormenta



Joguei meu último poema no riacho

E outros tantos no interior das garrafas para jogá-los ao mar

Quem sabe alguém desavisado

Não se importune ao ler meus versos



A solidão me silenciou

Estou esvaziado

Logo eu que vim curumba da terra batida do Una

Nascido em sessenta com Brasília e o videoteipe

Expondo agora sintaxes exclusivas do coração

Inauguro a minha agonia

Eu que morri tantas vezes sem chegar ao desespero

Que vim de longe, de um mundo pequeno

Onde hoje a vida é quase reduzida a uma condição inóspita



Eu que ergui a minha própria casa

O meu contíguo pardieiro

E fiquei entregue ao meu abandono

Sem nunca haver ambicionado grandes palácios

Ou usado um cajado para imprimir a ordem



Eu que sou o mar que beija a terra

Na pose mais íntima de se amar



Sou eu que valho o que medra nada

Um astronauta intrépido no mundo da lua

Um zagueiro insone das coisas da minha gente

Um lavrador dos dias que venham depois



E quando beijo eu sou de mim o que é para todos

E quando abraço eu sou de graça o que é de mim

E quando sorrio eu sou de paz prá não ser guerra

E quando eu choro eu sou em flor mais que a ternura



Sou eu calor a quarenta e tantos graus

Eu sou o tom de si, de mim, Jobim

O tom que salte, deite, Waits

O que faz, que foi, que é, Tom Zé

O tom depois, de antes, Tom Cavalcanti



Sou eu que gosta de cheirar xibiu de moça donzela

Sou a que já no caritó reza todas as noites por Santo Antônio casamenteiro ajeitar um príncipe encantado para esquentar os pés nas noites de frio



Sou meu coração Caravaggio pintando o sete e santos

E sempre atraído pela promiscuidade e rebeldia



Meu coração de frases obscenas na calada da noite

Na luta para não ser devorado na competição natural da vida



Meu coração pavão a legislar em causa própria

Sempre a me desvencilhar da espada de Dâmocles sobre a cabeça



Sou eu que tenho a força do braço Anteu sem poder largar o chão do meu país

Eu, depositário de tudo, sempre paguei o pato

Azougado como quê, completo de emoção

E sob o efeito do álcool, hum! um timoneiro na proteção de mercúrio seduzido pelo insólito já que nada me é estranho



As minhas batalhas algumas ganhei, muitas perdi

Nunca gostei de jogo, claro, um mau jogador



Coisas que vi que fiquei passado

Nomes que não sei dizer

Ainda perdi o que de melhor me restava



E tive de ser São Jerônimo depondo à caveira

Aguçando os meus cem olhos de Argus

Apenas sabendo o que é bom ou mal por ser desobediente

Plagiando Shulock

“Us” de Peter Gabriel

e o meu trono absoluto no banheiro

reunindo os meus pecados

You’re the top de Cole Porter

A fascinação pelo proibido



Os meus gritos até me assustam

E alguns até me extasiam



Eu divido a minha mesa

Partilho a minha alegria

Meu ancestral fenício

Minha herança viking



Devo estar me masturbando:

Minha solidão

Meu claustro

Duvido que eu tenha sanidade mental



Os demônios estão soltos

Quem sabe e por alguma forma possam me perdoar



Eu sei dos meus fracassos no meio dos sonhos de Kurosawa



Bastar-me-ei a mim mesmo se de mim

Sobrar alguma coisa



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