Uma iniciativa prática contra o desperdício alimentar
João Ferreira
Porto, 30 de dezembro de 2016
Em qualquer parte do mundo fala-se e defende-se o direito à alimentação. É um problema de justiça social. E também de governação e de assistência. Para encará-lo existem na maior parte dos países programas específicos de solidariedade e de caridade que cuidam da alimentação dos carenciados. Apesar disso ainda há muitas pessoas que passam fome. E o mais escandaloso e contrastante é que não obstante essa realidade há um desperdício alimentar colossal. No dia 11 de dezembro de 2016, em Portugal, pequeno país da União Europeia, foi registrado um evento que é interessante conhecer. Foi criada uma “rede nacional de Solidariedade denominada DA – Direito à Alimentação.” Essa Rede pretende pôr os restaurantes e empresas a ajudar a matar a fome em Portugal. As Câmaras Municipais de Lisboa e de Oeiras já trabalham no Projeto. A iniciativa partiu da Associação da Hotelaria, Restauração e Similares (Ahresp) depois de ter visto na TV o promotor da petição pública denunciar o “desperdício alimentar” que se verificava em refeitórios e cantinas servidas por empresas de catering. Segundo dados colhidos essas instituições colocavam no lixo todos os dias entre 35 e 50 mil refeições.
Numa reportagem de Gina Pereira publicada no Jornal de Notícias do Porto, esta situação foi classificada de “indigna” , “numa altura em que a pobreza e as carências alimentares aumentam em Portugal, e que levou a Ahresp a decidir avançar com esta rede de solidariedade, que pretende juntar empresários da restauração e hotelaria, fornecedores, autarquias e instituições particulares de solidariedade social.
Além da criação do "vale solidário" - uma refeição composta por sopa, prato principal, pão e fruta que os restaurantes se comprometem a oferecer a famílias carenciadas - o objetivo é desenvolver um sistema de aproveitamento de excedentes de refeições e alimentos cozinhados, respeitando as regras sanitárias definidas pela ASAE[ASAE é a autoridade administrativa nacional especializada no âmbito da segurança alimentar e da fiscalização económica em Portugal].”
Segundo a jornalista Gina Pereira, “está a ser pensada uma caixa refrigerada para garantir todas as condições de transporte.
“Em cerimónia no Casino Estoril apadrinhada pelo presidente da República, foi oficialmente lançado o sítio electrónico www.direitoalimentacao.org, que vai permitir pôr de pé este projecto. As empresas e particulares interessados em colaborar deverão ali registar-se, através do balcão único empresarial da Ahresp, a partir do qual será feita a gestão e o encaminhado dos donativos. O objectivo é que sejam os municípios a assegurar o transporte e a gestão dos alimentos, fazendo-os chegar, directamente ou através das instituições de solidariedade, às pessoas que necessitam.”
“Segundo Gina Pereira, António Costa Pereira, o piloto que está na gênese deste movimento, teve direito a sentar-se, no palco do Casino Estoril, ao lado do presidente da República. Há uns meses, indignou-se com o facto de, alegadamente, a legislação em Portugal impedir que as milhares de refeições que sobram nas cantinas sejam doadas a quem não tem o que comer e avançou com uma petição online contra o desperdício alimentar, que ultrapassa já as 67 mil assinaturas. Afinal, a ASAE esclareceu que não há nada que impeça a doação de alimentos, desde que sejam transportados de acordo com as regras mínimas de higiene e nas necessárias condições de refrigeração. E, em Oeiras, começou a tomar corpo um projeto. Ao JN, Costa Pereira admite que este "tem que ser o pontapé de saída" para uma mudança. “
- Uma iniciativa que deve ser saudada como iniciativa inteligente e de grande sentido humano e social. Para ser multiplicada nos vários países do mundo.