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Cartas-->O Povo Assume o Poder -- 14/12/2002 - 18:37 (Domingos Oliveira Medeiros) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O Brasil Assume o Brasil
(por Domingos Oliveira Medeiros)

Não sou filiado ao Partido dos Trabalhadores. Sempre votei no Brizola. Mas o PT, nas últimas quatro eleições, tem sido a minha segunda opção. E a explicação é óbvia. No segundo turno, pelo menos até agora, sempre fica o Lula disputando a vaga com um candidato mais conservador. Por isso, o meu voto tem sido para o PT. E também porque no ideário do PT pude encontrar maior ressonância e semelhanças com minhas convicções políticas. Convicções inspiradas na liderança do Brizola, uma das poucas reservas morais deste país.

Mas, agora, com a eleição do Lula, pude compreender melhor o que, de fato, já presumia. O Brasil assumiu o Brasil. Sim. O retirante nordestino, o homem, antes de tudo, um forte, de que nos falava Euclides da Cunha, em sua maravilhosa obra “Os Sertões”, - que por sinal completa cem anos de sua primeira edição- , chegou a São Paulo, fugindo da fome.

São Paulo, a cidade grande, a cidade rica, a cidade industrial, a cidade das oportunidades. A cidade que foi, e continua sendo, o rumo dos que fogem da seca e do descaso para tentar a última aposta de sobrevivência. Quem sabe, arrumar um emprego? Um dinheirinho? E dividir parte com sua família; que não pôde, por razões óbvias, trazer consigo. Assim é a história de Lula e de tantos outros “Luizes”. De que o próprio Luiz Gonzaga é, também, outro grande exemplo, pelo lado do Rio de Janeiro. O Nordeste fugindo para o Leste. Para o Sudeste. Para o Sul, enfim. O Nordeste fugindo do Nordeste.

E o roteiro, guardadas as proporções, não foi muito diferente daquele encenado por Antonio Conselheiro. Muita luta! Muito sacrifício! Quanta persistência! Quantas barreiras! Quantos preconceitos! Assim o nosso Luiz começou sua nova caminhada. Até que foi parar na grande indústria. O macacão. A mão suja de graxa. A simplicidade no coração e a força de vontade. A compreensão do mundo desigual entre capital e trabalho. As dificuldades para manter-se com os níveis salariais praticados pelos que detêm o comando do capitalismo. Da livre iniciativa.

E o nordestino começou a perceber que era preciso lutar em outros campos. Mas dentro das leis e da ordem de seu país. De que lhe falava a sua formação e o seu caráter. Simples, honesto, mas cheio de bravura. Foi assim que se descobriu líder sindical. Daí para a política foi só uma questão de tempo. Não sem sofrimento. Não sem perseguições. Até cadeia e humilhações nosso Luiz sofrera. Censurado e privado de sua liberdade. Como tantos seguidores do Antonio Conselheiro.

Mas tudo ao seu tempo. Contra a força da razão não há argumentos convincentes. E um dia, a despeito dos adversários poderosos, a gente chega lá. E Lula chegou lá. Mas as críticas continuaram. Diminuíram, um pouco. Mas continuam. Até do lado dos que se dizem e dos que são petistas filiados e ocupantes de cargos eletivos.

Mas Lula me surpreende à cada momento. E está dando uma verdadeira aula de política aos “profissionais” de tantos anos e experiências no governo. A começar pelo seu estilo solto e sincero de encarar a população, a imprensa, os encontros formais e, pasmem, o próprio homem poderoso dos EUA. Que abriu, em caráter especial, sua agenda, para receber, pela primeira vez, em palácio, um presidente da América do Sul, que nem sequer fora ainda empossado.

Lula veio com o discurso de mudanças. Discurso, ao meu ver, corretíssimo. Não podíamos continuar com a farra financeira dos últimos anos. Com o endividamento público crescente e com a subserviência ao capital estrangeiro; com o desemprego e com o aumento da miséria, da fome e da violência. De costas para a produção industrial. Para uma política agressiva de exportações. Com o olhar atento às questões ambientais. E com a falta de assistência e de oportunidades para a população, em geral. Não podíamos continuar com a retórica dos discursos bem elaborados. Com frases de efeito. Porém, de consistência duvidosa. E Lula percebeu tudo isto.

E está agindo como um verdadeiro estadista. Com ponderação. Com sabedoria. Sem mágoas e sem fazer uso da famosa “caça às bruxas”. Lula não está se envolvendo com os radicais de plantão. Da esquerda e da direta. De todos os lados. Qu e gritam por mudanças abruptas, e exigem gestos mais agressivos do governante, no sentido de que a fome seja exterminada de pronto; os salários sejam recompostos; e os empregos apareçam imediatamente. Como num passe de mágica.

Lula está no caminho das mudanças sensatas. Sem precipitações. Mudanças com critérios de oportunidade. Mudanças de quem sabe que não pode cometer erros. Mudanças com outros sentidos. Ponderar, avaliar, recuar, progredir, corrigir distorções, avançar. E nisto ele tem sido bem feliz. A começar pela escolha de sua prioridade número um: o combate a fome. Não no sentido assistencialista da matéria. Mas a fome, assim entendida, pelo seu caráter de risco a que foi submetida toda uma parcela considerável de brasileiros, nos últimos anos. Verdadeiro exército de invisíveis, marginalizados, excluídos, sem nome, sem cara, sem identidade, surdos e mudos, quase mortos.

E a sabedoria tem acompanhado o nosso presidente que, há bem pouco tempo, vestia macacão e era chamado de analfabeto. A escolha de seu ministério está traçando o perfil do grande político, visionário e negociador que é o Lula. Seus critérios de escolha não podem ser confundidos com critérios mesquinhos ditados por interesses dessa ou daquela corrente política. Lula está montando o seu time com base em critérios técnicos e políticos voltados para o interesse do país e do povo brasileiro. E a seleção começa a mostrar o seu poderio. Gente de todas as experiências, de todas as escolaridades, e comprometidas com as diretrizes traçadas pelo presidente. Um só comando. Uma só equipe. Coesa e com objetivos a serem perseguidos.

Parabéns Lula. Estarei na arquibancada para o jogo de estréia. E espero que sejamos campões. E que ao final de quatro anos possamos participar, com o mesmo time, e com o mesmo entusiasmo, de mais outro campeonato local.

Domingos Oliveira Medeiros
14 de dezembro de 2002

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