As expressões que usara com o mestre
Mostravam claramente que sabia
Montar os raciocínios, mesmo chãos.
Lembrou o passadio no orbe terrestre
E, mesmo sem saber geografia,
Julgou que estava perto de vulcãos.
Então, não quis provar ser corajoso
E suplicou bem alto: — “Não me deixem
Queimar mas sem morrer na eternidade.”
E suspendeu o grito no antegozo
De dizer aos amigos: “Não desleixem,
Senão comprovarão sua maldade!...”
No entanto, ninguém veio em seu auxílio,
Enquanto se aquecia mais a sala,
Pondo no coração mais medo ainda.
Recriminou o mestre em seu exílio,
Em vez de se aquietar: “Aqui quem cala
Consente em que a tal dor lhe seja infinda.”
Mas algo lhe falou na intimidade,
Buscando esclarecer um ponto escuro,
Daqueles sobre os quais não tinha apoio:
“Pretendo que a consciência não se enfade
E diga o que fazer, se errar procuro,
Ao misturar ao trigo inútil joio.
“Que força existe em mim que me alucina,
Que faz com que complique mais a vida,
Enaltecendo o ‘ego’ pelo mal?
Se eu sei que o meu mentor mostra a doutrina
E a partilhar do estudo me convida,
Por que rejeito a turma e Juvenal?”
Enquanto assim pensava, o quarto ardia
Mas não causava medo ao infeliz,
Por meditar apenas sobre a alma.
Ao cabo de algum tempo, o ar se esfria,
Porque pedir perdão o gajo quis
E a turbulência toda logo acalma.
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