Meu Caro Antônio Prates:
Sei que esta missiva, uma hora ou outra, chegará às suas mãos, porque o tempo aproxima os antigos desafetos e lhes põe perante os olhos a própria essência do inimigo de uma época atrasada.
Sabendo disso, rogo ao Pai que me dê condições de efetuar uma descrição bastante real e verdadeira dos sentimentos que nutro por sua pessoa, tendo em vista as perseguições mútuas que nos ensejamos durante várias centenas de anos, perseguições sobremodo agravadas por duas encarnações desastrosas em que fomos vítimas de nosso desequilíbrio.
Veja que não estou retirando de cima de mim a responsabilidade por muitas das desavenças, porque tempo houve em que meu sentimento de revolta contra as injustiças, que acreditava estarem sendo praticadas contra mim, me fazia combativo na arena das controvérsias e dos danos morais que você como outros que pelejavam contra mim provocavam.
Agora, porém, os tempos são outros e meu entendimento me obriga a confessar que eu estava errado, profundamente errado, ao querer desforrar-me de tudo quanto os homens em geral foram capazes de intentar contra a minha segurança física, seja diretamente, em contendas mano a mano, seja indiretamente, taxando as minhas posses com o fito de arruinar-me. Mas essas águas para mim são passadas. Refiro-me a esses fatos desagradáveis para demonstrar que bem longe estava das suaves expressões de Jesus quando nos indicava que deveríamos oferecer a outra face...
Antônio, quando terei a satisfação de ler uma resposta sua, afirmando que se arrependeu, que me perdoou e se perdoou e que ora ao Senhor por mais luz para nós dois e todos os que nos rodeiam?
Finalmente, caso nos aproximemos um dia já despojados desses nossos vezos de ruins pendores, terei a grata satisfação de apertá-lo contra o meu coração, pois sei que o seu também estará batendo no mesmo diapasão harmonioso do evangelho de Jesus. Neste ínterim, se precisar de mim, seja para o que for, me predisponho a auxiliá-lo em quaisquer dificuldades em que se haja metido, porque sei que você está encarnado e que, portanto, está tendo dificuldades quanto a realizar seus planos de melhoria, conforme um seu protetor já me informou. No mínimo, quero que saiba que tenho acompanhado de longe o seu trilhar mais ou menos vitorioso, prometendo para os próximos séculos um passo decisivo para a conquista dos ideais superiores desta nossa etapa existencial. Para que não paire dúvida quanto a estar eu bem intencionado, devo avisá-lo que os seus próximos séculos seriam os meus próximos milênios.
Deus nos ampare e guie!
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