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Artigos-->TRINTA ANOS DO MUSEU DE ARTE LEOPOLDO GOTUZZO -- 18/08/2016 - 09:13 (LUIZ CARLOS LESSA VINHOLES) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

TRINTA ANOS DO MUSEU DE ARTE LEOPOLDO GOTUZZO MALG



L. C. Vinholes



No âmbito das comemorações do trigéssimo aniversário da criação do Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo (MALG) de Pelotas, em 23 de julho de 2016 foi inaugurada a exposição As 7 Coleções do MALG, com uma representativa seleção de obras das coleções Leopoldo Gotuzzo, Escola de Belas Artes, Faustino Trápaga, João Gomes de Mello, Século XX, Século XXI e L. C. Vinholes. As quatro primeiras coleções estão no acervo do museu desde a sua fundação em 1986, a última está em formação desde 2012 e as demais foram constituídas ao longo dos anos de atividades da instituição. A curadoria da mostra, aberta ao público até 4 de setembro, esteve a cargo dos integrantes do Núcleo de Curadoria do museu, responsáveis pela escolha das obras de cada uma das coleções.



O MALG, é um órgão suplementar do Centro de Artes da Universidade Federal de Pelotas, com mais de 3.000 peças em sua reserva técnica, tem funcionado em prédios alugados, presentemente no majestoso casarão construído em 1876 para abrigar a família do espanhol Francisco Alsina, chegado a Pelotas em 1860. Sua fachada mostra que “há certamente uma inspiração neoclássica, mas o emprego da decoração é eclético, de origens diversas. E é importante notar que ‘ecletismo’ não é um estilo.” A divisão arquitetônica dos seus espaços internos não oferece as melhores condições para abrigar um museu de arte que exige premissas básicas relativas principalmente às condições de controle de temperatura e de luz, além de cuidados específicos para manutenção e conservação das obras.



Leopoldo Gotuzzo, filho de pai italiano e mãe brasileira, nasceu em Pelotas em 8 de abril de 1887, fez seus primeiros estudos com o pintor e cônsul italiano Frederico Trebbi (Roma, 1837 – Pelotas, 1928), patrono do salão da entrada da Prefeitura Municipal de Pelotas; viajou para a Europa em 1909, estudando em Roma como aluno do francês Joseph Noël e, depois, em Madri e Paris. Retornou ao Brasil em 1920 e, sete anos mais tarde, voltou à Europa onde ficou três anos pintando e expondo em Lisboa, Porto e Paris. Dono de uma fina linguagem pré-expressionista em suas obras, assim como na dos seus contemporâneos, mostra seu interesse pela figura humana, pelo nu feminino, pelas flores e paisagens, e pela natureza morta. A leveza e firmeza do traço dos seus croquis sempre chamaram a atenção. Sua primeira participação no Salão Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro foi em 1915, onde, em anos subsequentes, ganha medalhas de bronze (1916), de prata (1917 e 1919) e de ouro (1922). Na sua terra natal, em Porto Alegre e no Rio de Janeiro, suas primeiras mostras foram em 1919. Suas obras podem ser vistas no Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro e na Pinacoteca do Estado de São Paulo. De interesse histórico é a carta, de 1955, da primeira doação de algumas de suas obras à Escola de Belas Artes de Pelotas, manifestando seu desejo de ver criado um museu que acolhesse sua produção artística e recebesse seu nome. Gotuzzo foi contemporâneo de Augusto Marques Júnior, Henrique Cavalleiro, Mário Navarro da Costa, Raymundo Cela e Presciliano Silva. Depois de um longo período distante dos artistas e dos amigos, vivendo só no seu atelier da Rua Barão de Itambi, no Rio de Janeiro, silencia aos 96 anos de idade.



Apresentando conjunto das dezoito obras de Leopoldo Gotuzzo presentes na exposição objeto deste texto, o curador Giorgio Ronna, secretário municipal de cultura de Pelotas, comenta que o artista “foi um dos incentivadores e patrono da Escola de Belas Artes de Pelotas, instituição para a qual fez a primeira doação de um lote de pinturas de sua autoria no ano de 1954 – momento esse que pode ser considerado o embrião da criação do Museu ...”. Continuando, informa ainda que “a Coleção Gotuzzo contou com uma segunda importante doação testamental, por ocasião do falecimento do artista em 1983” e que conta também “com desenhos, documentos, fotografias, medalhas, mobília, instrumentos de trabalho e outros itens relativos à vida do artista”. As obras de Gotuzzo, dispostas na sala principal do museu, são: “Luta pela vida” (França, 1916), “Moinho” (Portugal, 1927-1930),“A moça de blusa azul” (Madrid, 1915), “Reflexos” (1932), “As uvas dos meus oito anos” (Rio de Janeiro, 1967), “Réstia de cebola”, “Theresópolis”, estes dois últimos sem data. Na seleção exibida chamam a atenção dois autorretratos: o mais jovem, sem data, e o outro, de 1934, pintado quando o autor vivia no Rio de Janeiro, intitulado “Autorretrato com óculos”. Registrando momentos vividos em terra riograndense são: “Paisagem gaúcha de Monte Bonito” (1931), “Vila de Piratini” (1935), “Nossa chácara” (1919) e “Ruminando” (1931), os dois últimos pintados em Pelotas. Não faltaram dois trabalhos de nanquim sobre papel, datados do Rio de Janeiro (1948) e sem título, registrando bichanos em diferentes poses.



As obras da Coleção Escola de Belas Artes, com curadoria do diretor-adjunto do MALG e presidente do Núcleo de Curadoria, Lauer Alves Nunes dos Santos, são assinadas por Inah Costa, Hilda Mattos, Maria Luiza Pereira Lima, Conceição Aleixo e Benette Casareto Motta, autora do delicado óleo “Nu com véus”, e escolhidas dentre aquelas que, anualmente, receberam o “Prêmio Estímulo às Artes – Prefeitura de Pelotas”, concedido aos alunos da escola autores dos três melhores trabalhos concorrentes, para serem incluídos no acervo do museu.



Juliana Angeli, diretora do museu, é a curadora responsável pela escolha de seis pinturas e duas esculturas da Coleção Faustino Trápaga que figuram da mostra, obras criadas pelos seguintes artistas europeus: a italiana Andrea Landini (1947-1935); o notável pintor espanhol valenciano José Benlliure y Gil (1858-1935); Joseph Cusachs (1850-1909), pintor natural de Montpellier e falecido em Barcelona; e o naturalista e ilustrador francês Paul Charles Chocarne-Moreau (1855-1931), “consideradas as mais valiosas” do MALG. O Museu Britânico, o Museu do Prado e o Museu Nacional de Arte da Catalunha possuem obras destes artistas, ativos na segunda metade do século XIX e nas primeiras décadas do século XX. Ainda desta coleção são as esculturas “Cabeça de jovem” e “Cabeça de Jaime Wetzel”, ambas de 1965, criação de Carlinda Pereira Valente.



O médico pneumologista rio-grandino, crítico de arte e colecionador, João Gomes de Mello, é o doador das obras exibidas na mostra em apreço, “a maior parte delas da década de 1940, com influência do naturalismo e do impressionismo”. Os autores que tiveram suas obras selecionadas pela curadora Carmem Regina Bauer Diniz, presidente da Associação Amigos do Malg, recém-empossada, são: J. M. Naserchi, M. Constantino, Hilda B. Curty, W. Tadey, A. R. M. Vianna, Edgar Oehlmeyer (1945), H. Goltz, G. Azevedo Coutinho, José Maria de Almeida, Moacir Alves, Jurandir Sanjais, o saudoso restaurador e pintor Adail Bento Costa assinando “Menina moça” (óleo sobre papel, 1940) e Heitor de Pinho com suas “Manhã cinzenta” (1944), “ Noite chuvosa” (1945) e “Barcos”.



A Coleção Século XX conforme comentário da curadora Carolina Rochefort, “é formada por doações de artistas que tenham realizado exposições no MALG ou através de doações isoladas. Abrange mais de 200 obras produzidas num amplo período temporal, constituindo uma coleção diversa em estilos, temas, linguagens e meios. Sua diversidade direciona-se para um recorte temporal moderno/contemporâneo que é capaz de estabelecer diálogos com as demais coleções”. A Coleção Século XXI teve início em 2001 com doações isoladas de expositores e colecionadores, presentemente conta com cerca de 50 obras caracterizadas “pela diversidade de suportes e diálogos entre as diversas linguagens contemporâneas”, constituindo-se em uma “coleção extremamente rica e complexa que possui nomes locais e nacionais de importância no cenário artístico”. Na sala que abrigou estas duas coleções chamavam as atenções dos apreciadores a litografia montada em acrílico “Zero dólar, zero cruzeiro” (1984), de Gildo Meirelles; a escultura “Bulbo” (1988), de Tânia Resmini; o entalhe em madeira, sem titulo (1993) de Paulo Damé; os relevos “Nu feminino” e “Nu masculino”, do mestre Vasco Prado; e a curiosa “Referências internas V”, de Sonia Muller, construída com papel canson, madeira e crina de cavalo.



Na mesma sala estão as obras de: Luís Carlos Mello da Costa (“Aderência, 1988), Trindade Leal (“Tropa de mágico”, 1976), Alice Brueggemann (1990 e 1991), João Luiz Roth, Hilda Mattos (1988), Fernando Duval (“Skalabrine Talarhé”), José Luiz Pellegrini (1982), Graça Marques (1986), Aurys Preste Abrantes (1992), Eunice Pereira (“Nu III, 1987), Lenir de Miranda (“Alvo deserto”, 1991), Roberto Schimitt Prym (1991), Gabriela Herminda (“Com espinas”, 2003), Enio Squeff (“Bosque de Viena”, 1997), Wagner Dotto (“Tapete mágico”, 1987, nanquim com bico de pena), Maria Ligia Magliani com seu sério, forte e dramático “Retrato com pesadelo” (1980), Alejandra Bugolini (“Prosecusión”), Claudio Sperbs (“Namoro solo”, 2004), Sara Ellen Siminovich (1982),Vivian Samartin (1982), Rogério Nunes Marques (“outra casa, outra sala e as mesmas ilusões, em sonhos diferentes”) e as obras sem título e sem data de Cynthia Yurgel, Luiz Carlos W. Netto e Geraldo Roberto da Silva.



Na escolha das obras da Coleção L. C. Vinholes para figurarem da exposição, nas palavras da jornalista Ana Cláudia Dias, publicada no Diário Popular, de Pelotas, dois dias depois da inauguração, o curador José Luiz Pallegrin “pinçou um pouco de cada segmento dentro da vasta coleção” criando, aos olhos dos visitantes, um verdadeiro mosaico representando quatro continentes, cobrindo criação artista representativa das linguagens que predominaram na produção do século VIII ao século XX. Ao todo sessenta e uma obras: gravuras de Lívio Abramo (“Paraguai”, 1969), Edith Jimenis (“Almenga”, 1969), sua ex-aluna paraguaia, e Isabel Pons (“Noturno”, 1961); serigrafia do canadense da etnia cree Doug Kakekagumick (“Mother earth”, 1984); xilogravura do gaúcho Anestor Tavares (“Vida de família”, 1968), quatro aquarelas antropomórficas de Samson Flexor (1965), um dos pioneiros do abstracionismo no Brasil; óleo de Kenzo Tanaka (“Gagaku”, música tradicional do Japão, 1958), autor do projeto da Praça Jardim de Suzu, instalada em junho de 2008, na Avenida República do Líbano, em Pelotas; gravuras sem data de Odetto Gersoni (“Justaposição” e “Emblemática XV”), Kasuo Wakabayashi (“Renzoku”, Continuidade) e Manabu Mabe (“Gen”, Presente); obras sem título dos também gravuristas Eduardo Iglessias, Aldemir Martins (1981), Carlos Martins (1980), Vera Barcelos com cinco mini-xilogravuras de visível sutileza gráfica (1968); litografia de Luiz Brasil, com dedicatória; e a mono-cópia do gravurista coreano Kim San Yu. Figuram ainda uma bengala antropomórfica africana de Moçambique; uma pintura mexicana sobre papel amate; um tríptico ukiyo-e, xilogravura japonesa do século XIX; cinco gravuras do século XIX, do inglês William Home Lizars, das que ilustraram os 42 volumes da Biblioteca do Naturalista; duas esculturas em pedra-sabão, criadas por esquimós canadenses; três gyotaku, gravuras japonesas tendo como matriz o corpo de um peixe; nove peças de cerâmicas japonesas Imari linha azul, Nabeshima e Nippon; e duas peças ornamentais de laca japonesa. No texto de apresentação desta coleção, disponibilizado aos visitantes, seu curador comenta que “trata-se de uma coleção singular no conjunto pela abrangência de obras, objetos, técnicas, materiais, temas e origens culturais, bem como pela representatividade de artistas que a integram e os locais ou regiões de origem” e informa que o “grande conjunto desta coleção está em processo de catalogação pelos profissionais que integram o corpo técnico e especializado do museu”.



Na mostra em apreço, com sutil ligação com os primórdios da história do MALG, mereceram destaque duas obras doadas em 2008: os ricamente emoldurados retratos de Nicolau Caputo e Andreana Carrazone Caputo, pintados pelo já citado Frederico Trebbi, um dos primeiros pintores atuantes em Pelotas, únicas obras deste artista no acervo do museu. De conformidade com informação disponibilizada aos visitantes, Nicolau veio da Itália, abriu alfaiataria, regressou ao seu país de onde voltou casado com Andreana Carrazone, com quem teve oito filhos: Antonieta, Vicente, Feliz, Nicolino, Yolanda, Elio, Diva e Anita. A terceira geração de Nicolau, composta por Paulo Luiz Caputo (in memoriam), filho de Vicenti, Vânia Pedrotti, filha de Anita, e Maria Inez Caputo, filha de Nicolino, decidiu doar os retratos dos seus avós. A informação esclarece ainda que “a conservação das obras e recuperação das molduras foi realizada pelo Núcleo de Conservação e Restauro do museu sob a coordenação do restaurador Fabio Galli, com a colaboração dos estagiários dos cursos de Museuologia e Conservação”.



Na reportagem publicada no Diário Popular, de Pelotas, dois dias depois da inauguração da exposição, além das informações e comentários sobre cada uma das sete coleções, a jornalista registrou que o MALG “se consolidou como um espaço para a arte moderna e contemporânea na Zona Sul do Estado” e terminou glossando palavras do professor Luís José Pellegrin, pensando nas últimas aquisições: “O Museu vai sentir a necessidade de se repensar a partir desta coleção. Ela dá dimensões e veriedades de estudos muito grandes”.



Paralelamente a este registro relativo à mostra As 7 Coleções do MALG que, mais uma vez, permitiu ao público apreciador de arte conhecer obras representativas deste rico e variado acervo, é mister indispensável não esquecer que a eficiente e operosa equipe responsável pela direção e orientação artístico-administrativa dos eventos e atividades ali realizadas é formada pelos professores citados nos parágrafos acima, Juliana Angeli, Lauer Alves Nunes dos Santos, Fabio Galli, pelo secretário Sérgio Costa, a museóloga Joana Lizott e Consuelo Sinotti Rocha, Roberta Trierweiler e Denoir Oliveira, responsáveis, respectivamente, pelo Núcleo Didático-Pedagógico, pela Pesquisa e Documentação e pela Reserva Técnica.


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