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Artigos-->O Anticristo Superstar -- 18/09/2000 - 22:41 (Lúcio Emílio do Espírito Santo Júnior) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Estou andando obcecado com o "gênio louco doloroso" de que falou Heraldo

Barbuy na introdução de O Viandante e Sua Sombra.



O desejo de virar um super-homem começou cedo a influenciar minha vida. Tudo começou quando

tinha sete anos de idade. Eu ganhei a roupa do super-homem, e passei a me

achar o próprio. Eu subia na sacada de nossa casa em Uberaba e ameaçava

alçar voô. Minha mãe, preocupada, me advertiu de que se eu caísse, morreria.

Disse que isso ocorreu com um menino nas mesmas circunstâncias (?).

Esse mito é o que move todos os super-heróis, inclusive os x-men,

provavelmente. É sempre um indivíduo que se torna um homem mais evoluído,

mesmo em Zaratustra, e por isso Heraldo Barbuy afirma que Zaratustra morreu

e que gosta dos homens, espera agora em diante o advento da super-humanidade

e não do super-homem. Uma boa solução a posteriori.

Outro dia na Folha disseram que o sonho de Nietzsche era uma

aristocracia planetária de bestas loiras germânicas. Podemos supor que os desenhistas norte-americanos que criaram o super-herói (sabidamente o pai de todos os demais) se

apropriaram desse mito, tornando-o mais liberal e mais cósmico, digamos

assim. Vide o desenho animado "Super-Amigos" que animou minhas tardes de

infância (e adolescência). Eles eram nada mais nada menos do que essa aristocracia, esses

humanos com super-poderes trabalhando de polícia do universo na Hall of

Justice dos States. Exterminavam as ameaças à ordem e terminavam sempre

rindo. Eles eram super-heróis de uma humanidade sofredora, que não se

tornava protagonista de seu destino como um todo e ficava submetida a essa

elite. Mesmo entre os super-amigos havia uma hierarquia (a hierarquia é uma das obsessões de Nietzsche), com o Super-homem e a Mulher Maravilha sendo os mais fortes e os super-gêmeos sempre, literalmente, pagando mico...



Talvez para evitarem esse tipo de associação que estou fazendo, os

nietzschianos traduzem "übermensch" por além do homem e deixam o mito do

super-homem prá lá.



Ora, no próprio hino nacional alemão está: "deutschland über alles", a

Alemanha acima de tudo. Notemos que nem na Marselhesa, nem no Hino Nacional

ou da Bandeira há algo assim. O hino francês chama os cidadãos a defenderem

o solo pátrio, o brasileiro fala que devemos nos orgulhar do que já temos,

que é do bom e do melhor. Há, no próprio hino germânico, a obsessão com

hierarquia e superação que perpassa a obra nietzschiana. Mas não acho, no

entanto, que a obra de Nietzsche seja compatível com nazismo ou o

neonazismo, a não ser se forem realizadas muitas distorções.

Devemos0 notar que existiram seguidores do filosófo alemão

em países pobres e fracos, ex-colônias, como a Colômbia (Vargas Villa) e o México (José Vasconcellos). Esse último,

coincidentemente, dizia que a "raça cósmica" nasceria em algum lugar entre o

Amazonas e o Prata...O super-homem nascerá nos trópicos!



O fato inegável é que o capitalismo desenvolvido chegou, ainda que tardio. E seu

local é a América do Norte. O mito do Super-homem foi retrabalhado pela indústria cultural, surgiu então o super-homem de massa

de que fala Umberto Eco, o superist, superflit, superbacana de que tratou

Caetano Veloso: vivemos no dia-a-dia uma versão degradada das idéias de

Nietzsche e cada um de nós imergiu em sua própria arrogância, esperando dos

demais seres inferiores, fracotes, um pouco de afeição...Até Jô Soares

pintou um quadro chamado "O Filho do Super-homem" em que ele se retrata

enquanto o próprio, dormindo sobre jornais na poltrona, enquanto atrás vemos

um quadro do autor de A Vontade de Potência, como um retrato de

antepassado...O problema de quem fala em superação do homem é esse, esse

"eu" que enuncia essas profecias é sempre o profeta desse "homo superior" ou

é ele próprio esse fruto dessa (r)evolução darwinista.

Só Jesus Cristo não teve esse problema, mas ele se dizia um semi-deus -- e

depois Deus matou o filho de Deus em nome de Deus.



É ao mesmo tempo divertido e assustador saber que estamos às voltas com

Dionísios Pop tais como Jorge Mautner e o finado Jim Morrison. Será o rock

sobrevivência de Dionísio, romantismo desesperado, como supôs Mautner em

Deus da Chuva e da Morte?

O rock pode e poderá ser nietszschiano, mas Nietzsche jamais será roqueiro.

David Bowie fez um disco muito obcecado com os jovens dos anos 70 como uma

nova raça (Hunky Dory) e que tinha uma música (The Supermen) em que ele

narra uma "queda original" da humanidade, que era formada por super-homens

imortais, que viviam pela eternidade, guardava uma ilha sem amor e dormiam

sofrendo com esse peso, até que um deles matou o seu semelhante, provocando

a morte dos super-deuses e (supomos) gerando esse ciclo de nascimento e

morte em que estamos agora.

Para encerrar esse assunto, o que podemos dizer com certeza é que o rock

é uma música negro-mestiça e portanto bem pouco parecida com Debussy, Wagner

e outros compositores da preferência do profeta do eterno retorno, esse

verdadeiro Anticristo Superstar que morreu há cem anos. Quem será hoje o jovem

nietzschiano, aquele que escreve um trabalho acadêmico ou aquele que

exprime enunciados nietzschianos no decorrer de uma vivência?

Mas com isso não quero dizer que ambos se excluam.

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