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Contos-->A morte do gato -- 22/02/2003 - 10:54 (Clodoaldo Turcato) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A morte do gato


Estava em meu quarto lendo o Folha de S. Paulo (é assim mesmo que se escreve, sem o “ão”), quando a filha da dona do apartamento onde divido iniciou uma choradeira. O desespero foi tal, que os gritos vararam a parede, levando-me a crer em uma tragédia. Aguardei o desenrolar dos fatos para me posicionar e tomar alguma atitude. Poderia ser com a mãe – que estava ausente – ou com o namorado preso não sei onde, por assalto à mão armada. Ensaiei algumas frases de pesares, afinal viriam à calhar num momento como aquele. Embora eu achasse a moça uma patricinha sem a menor importância, não me furtaria em ser solidário em hora tão difícil.
Minha esposa imediatamente deixou o quarto em direção da sala, afim de ficar a par do ocorrido. Eu, por àqueles quesitos que todos sabemos, preferi deixar que ela recebesse a notícia para depois participar.
O tempo passava e a moça aumentava o berros: Ele morreu! Ele morreu!
Não tive mais dúvidas: fora com o namorado. Ela tão apaixonada; uma pena! Ele jovem, cantor de rap, que em um ato desesperado assaltara para matar a fome...de cocaína. Que desilusão danada. Um futuro tão promissor teriam o casal, aquelas idas e vindas em penitenciárias diversas, com direito à visitas todo o santo final de semana; apreensão nas rebeliões; transporte às escondidas de armas, cigarro e drogas; etc e tal. Ela iria aprender tudo sobre policia e bandido; bem como advogados, juizes e políticos corruptos. Que perda! Tanta cultura assim desperdiçada por segundos de bobeira, por um lance fortuito da vida.
_ Meu gatinho lindo...morreu! Morreeeeeu!
Minha esposa tentou acalmava, dizendo que logo ela encontraria outro; que a vida é assim..., as balelas todas. Mas a inconformada viúva dizia que Pepe seria o único, não existia outro igual. Como seria a vida sem o Pepe? Era de cortar o coração.
Eu permaneci em meu quarto, acovardado, sem saber o que fazer. O meu senso Cristão me empurrava para a sala, juntamente com minha esposa, para poder dividir aquela dor. Já o meu senso “espirito de porco” não parava de rir. Um aparte: eu sempre rio nestes momentos. Uma coisa sem explicação. Todo o velório eu caio em riso, mesmo de parentes, amigos, familiares. Nenhum eu consigo derrubar uma lágrima. No final das contas não sai.
Cerca de meia hora mais tarde minha esposa retornou, toda compenetrada. Ansioso, perguntei:
_ Morreu alguém?
_ O Pepe...
_ Mataram?
_ Não, parece que foi uma virose.
_ É, estas prisões são de lascar.
_ É, bicho não é pra ficar preso – ponderou ela.
_ Lá vem você defendendo esses caras só por que são bonitinhos...
_ Mas que insensibilidade a sua, amor!
_ Insensibilidade é quem defende um sujeito como este, que assalta velhinhas pra cheirar.
Ela me olhou arregalada. Parei um instante com minha zanga, voltando para minha calma habitual para tentar compreender o motivo daquela cara.
_ O que foi? Que cara é essa?
_ Você endoidou?
_ Eu? Não, apenas acho que não e pra tanto, afinal ele cometeu um crime.
_ Que crime?
_ Assalto. Tu não sabes? Foi condenado por assalto.
_ O gato!
_ Claro, Pepe estava preso...
_ Come preso – me cortando – De quem você está falando?
_ Do Pepe, não foi ele quem morreu?
_ Foi...
_ Então. Cartorzinho de rap. Aposto que foi veneno.
_ O Pepe cantava rap?
_ É, tá voando? Ele cantava rap e foi pra cadeia.
_ Você está confundindo alguma coisa, não é possível. De quem você está falando?
_ Do namorado de Patrícia. Não foi ele quem morreu?
_ Não!
_ Então quem foi?
_ O gato branco aqui de casa...
_ O gato?
_ É, o gato.
_ Não foi o namorado dela?
_ Não, Claudio. O namorado dela se chama Dexter.
_ Há!
Isso se passou a quatro dias e o defunto está fedendo até hoje na cozinha. Ninguém mais chorou por ele; com certeza irá para a lata do lixo, sem um enterro decente.
Coisa da vida
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