Um dia fui a uma caçada
Lá em Santana do Matos
Não levava espingarda
Mas eu ia caçar patos
E quem me acompanhava
Era um quarenta e quatro
Cheguei na madrugada
Em meio a escuridão
Ali não se via nada
Parecia um apagão
Abri uma viandada
E comi mesmo com a mão
Quando o dia amanhecia
Dei no meu rifle um trato
E a imagem que eu via
Era um tremendo repasto
Junto lá da rodovia
Mais de uma légua de pato
Atirar eu não podia
E não podia de fato
Acertava uma dezena
Mas assim também perdia
Não seria um barato
Duas centenas de pato
Andando devagarzinho
Um por um eu fui pegando
Usando um martelinho
Fui nas cabeças, tacando
E assim aos pouquinhos
Fui na cintura amarrando
Compadre, aí foi a asneira
Que me fiz praticar
Uma intensa batedeira
De asas querendo ruflar
Quando dei pela besteira
Eu já estava no ar
Levaram-me lá para o alto
Lá naquela cercania
Eu procurava o asfalto
Mas o asfalto não via
Nunca passei sobressalto
Como passei nesse dia
Lá longe eu via Santana
Do outro lado eu vi
A sombra daquela montanha
Que se chama Cabugi
Já se passava uma semana
E eu ainda estava alí
Quando avistei o terreiro
Da casa do Juvenal
Pensei em ser derradeiro
O meu instante final
Mas sou macho verdadeiro
Pra toda obra sou pau
Peguei o cabo do punhal
E com ele fui batendo
Em cada cabeça do bando
E assim eu fui descendo
Eles iam desmaiando
E eu chegava em Natal
Compadre, está duvidando ?
- Acho uma mentira infernal
E você fica contando
Com a maior cara de pau !
Quantos patos tinham no bando ?
Pra realizar, feito tal !
Compadre eu fui contando
De um a um, tirando as penas
E por elas calculando
Deu de dúzia centenas
Fui na panela botando
Só não tinha muita lenha
Os patos já cozinhando
A panela era pequena
Dei uma parte do bando
Para a Vila Madalena
Mas tinha pato sobrando
E era mais de centena
Naquilo tudo eu via
Um desperdício danado
Mandei pra Vila Maria
Mais de uns dois engradados
E ainda sobrava na pia
Pato pra todo lado
Depois de uma semana
Eu já bastante cansado
Lembrei-me do IBAMA
E se eu fosse flagrado
Iria entrar em cana
E lá ficar um bocado
Lembrei-me do DAC
Que por não ser brevetado
Ia querer me prender
Por de pato ter voado
E eu estaria a mercê
De um bando de avoado
E isto é pra você pensar
Refletir neste ditado
E lhe digo sem sermão
Guarde-o bem guardado
Mais vale um pato na mão
Do que cem bem amarrado