Queria perdoar os inimigos,
Mas não cuidava tanto dos perigos
De recordar os males contra si:
Os dissabores todos lá da vida
Surtiam da memória combalida
E vinham-lhe à cabeça: — “Eu que sofri...”
E os tempos se somavam sem mudanças,
Até que recebeu as esperanças
De levantar do leito sem ajuda.
Pensou ser muito fácil caminhar,
Mas, não afeito ao clima do lugar,
Caiu e desmaiou: mágoa graúda.
E perguntou, depois, aos enfermeiros
Se estava, pelo amor, entre os primeiros
A serem resgatados desse mal.
Sorriram para ele e lhe disseram
Que nunca saberiam, já que eram
Apenas atendentes, coisa e tal.
— “Serei tão infeliz que não mereço
Uma palavra amiga pelo preço
Da dor que sinto intensa na agonia?”
Mas o perdão que cria necessário
Também não deu ali, pois, solitário
No meio das pessoas, se sentia.
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