A saga do vira-lata
Nutro especial sentimento de comiseração pelo vira-lata. Sem teto e sem alimento, é tão deserdado que não lhe é dado ter corda para enlaçar o próprio pescoço. Menos ainda mão humana, mesmo que rude ao extremo, conseguiria para segurar a tira.
Ao topar com gente apaixonada por cão, é chamado de cusco para baixo, quando não leva, de complemento, ponta-pé no traseiro. É escorraçado sob a alegação de que pode transmitir doenças. Por igual motivo, seus iguais (superiores) são mantidos afastados...
Assim, anda a esmo. Quase sempre à s pressas. Pode ser atacado pelas pessoas. Caso não fosse vira-lata, as pessoas é que andariam lépidas ante sua eventual presença, livre de amarra humana. Mas é cão, sem dono, predestinado à sofrer. É vira-lata. É cusco apenas.
Por isso, permitam-me homenagear o vira-lata, lambedor de tudo quanto encontra pela frente... O vira-lata é, mais do que amigo do homem, bajulador do homem! Puxa-saco por migalha! Respeito o vira-lata pela sua metamorfose ambulante! Vagueia e lambe!
Gosta de toda lata. Não importa o matiz da lata! Não interesse quem é o dono da lata! Rosna pela lata. Pode tornar-se agressivo e até violento por causa da lata. Lata boa é a lata possível e não a desejada. Afinal, para o vira-lata, o importante são as migalhas!
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