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Artigos-->Mais importante que ser homem é ser humano -- 14/02/2016 - 09:54 (João Rios Mendes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Há poucos dias um crime no Parque da Cidade chocou Brasília. O policial disse que ali é um local de encontro de homossexuais, principalmente homens casados quando saem do trabalho.



Vivemos um momento de transição, que poderá levar ao aperfeiçoamento da relação do homem com a tecnologia, dos motoristas com os carros, dos políticos com a ética. Disso falaremos noutro momento. Quero discutir com você a relação amorosa de homem com homem, mulher com mulher. O reconhecimento dessas relações está se firmando entre nós. Não mais podemos dizer que não sabíamos que pessoas do mesmo sexo pudessem se enamorar, andar de mãos dadas livremente pelas ruas, constituir família, trabalhar para se auto sustentar e pagar seus impostos.



Aos poucos, pais de família estão ‘saindo do armário’ (não sei a origem dessa expressão) e assumindo que sua vivência sexual era um engodo, uma farsa. Nós, enquanto sociedade, o que desejamos? Indivíduos verdadeiros ou farsantes?



Por que toleramos o homossexual trabalhador, eleitor e pagador de impostos e o reprimimos em suas expressões sexuais? Não faz sentido aceitarmos cidadãos plenos de obrigações e coxos em direitos.



Não me venha com argumentos bíblicos ou jurídicos. Quero discutir os desejos e opções do ser humano, que nasceu antes da Bíblia e do Direito. Até por que a criação desses textos surgiram para atender aos interesses de outros arranjos sociais, arranjos que permitiam questões que hoje entendemos como criminosas (estupro, sacrifício humano, escravidão, infanticídio...), isso por si só já tornaria os argumentos baseados no texto bíblico ou dos códigos jurídicos questionáveis, mas há ainda a questão da multiplicidade de interpretações desses textos que se alteram de acordo com o contexto sociocultural. É notório que a Bíblia não sofreu alterações em seu texto com o passar do tempo, mas teve inúmeras formas de ser interpretada no decorrer da história, não há nem mesmo consenso na forma atual de interpretá-la entre as diversas religiões que a adotam como base dogmática. Aliás, quem nos garante não haver homossexuais entre os que rascunharam a bíblia e os códigos jurídicos?



Pois bem. O Colégio D. Pedro II está incentivando que as meninas e os meninos ortograficamente não tenham mais sexo. Orientou os professores que a escrita será ‘alunxs’ ou ‘meninxs’. Outros setores da sociedade já escrevem ‘medicxs’, advogadxs’. O próprio Ministério da Educação já discute o assunto para saber a partir de qual ano escolar essa mudança seria introduzida, apesar da resistência encontrada entre muitos profissionais da educação.



Felizmente aos a sociedade poucos está reconhecendo que existe diversidade sexual, está aprendendo a conviver com a diferença. Igreja, policiais e patrões já não maltratam tantos as pessoas que expressam uma sexualidade diferente da sua.



Como falei no início, estamos num momento de transição entre os que espancavam até a morte os homossexuais e os que já aceitam, toleram e até orientam a convivência com os que amam o mesmo ou ambos os sexos e com aqueles que se sentem plenos em um gênero distinto do sexo anatômico com o qual nasceu.



Transição significa mudança. A chegada do novo causa desconforto. Foi assim quando os patrões tiveram que pagar o décimo terceiro salário, os motoristas foram obrigados a usar o cinto de segurança e os políticos tiveram que se submeter ao STF.



Leva tempo aceitarmos novos membros na sociedade ou novas regras ortográficas. Muito tempo ainda vai levar para eu me ver como ‘homxm’. Vai demorar séculos para me convencerem de que não sou ‘homem’.

Em relação a ser mulher, acredito que _como Simone De Beauvoir afirmou em sua obra O Segundo Sexo_ “Não se nasce mulher, torna-se mulher” com tudo de opressão, preconceito e violência que culturalmente impomos as mulheres.



E a resistência em relação a essa mudança me faz pensar que não importa qual seja o nível de aceitação de cada um em relação a ortografia que irá definir em um texto se somos homens ou mulheres, pois o que realmente importa não é se somos homens ou mulheres, bi/homo/ trans/heterossexuais... Importa mais se somos dotados ou não de humanidade. Aquele conjunto de características positivas que nos faz compreender que somos humanos e nos permite reconhecer no outro alguém de igual valor independentemente das diferenças que se apresentem. Vai contra nossa humanidade infligir sofrimento a outra pessoa e creio que impor uma única vivência de sexualidade a todos, ignorando o fato de que somos diversos, seja algo que faça sofrer a muitos.



Estudiosos de diversas áreas das ciências humanas já pesquisaram as questões da diversidade sexual e de gênero, especialmente a psicologia, tem desconstruído o entendimento de que a bi ou a homossexualidade seria prejudicial as pessoas e a sociedade. Freud, em 1903 _ época em que a diversidade sexual era compreendida como um problema jurídico, moral e médico _ quando indagado pelo jornal vienense Die Zeit sobre o julgamento de uma personalidade por práticas homossexuais afirmou: “(...) tenho a firme convicção que os homossexuais não devem ser tratados como doentes, pois uma tal orientação não é doença. Isso nos obrigaria a considerar como doentes um grande número de pensadores que admiramos justamente em razão de sua saúde mental (...)”. Ele como muitos outros profissionais e pesquisadores de saúde mental produziram um conhecimento que reconhece que ser homossexual, assim como ser bissexual, não é um problema de saúde ou algo que constitua impedimento a uma vida plena. A OMS deixou de considerar a homossexualidade doença mental, perversão ou distúrbio em 1990. Uma extensa lista de pesquisas e literatura clínica apontam para o fato de que sentir atração sexual e romântica pelo mesmo ou por ambos sexos é sentimento e comportamento normal. Percebem esse sentimento como variações positivas da sexualidade humana.



Sabemos que a diversidade sexual e de gênero sempre existiu, há inúmeros registros que comprovam isso, e a forma como essas diversas expressões foram aceitas socialmente variam na história. Indo da aceitação plena e recomendada até a pena capital para os que desrespeitassem a proibição de ter uma vivência sexual diferente da heterossexualidade. Demonstrando que o modo como nos relacionamos com a diversidade sexual diz respeito a uma construção sociocultural, e como tal pode ser desconstruída se for arranjo nocivo a existência de uma sociedade mais igualitária e humana. Nesse sentido estratégias de enfrentamento à discriminação e intolerância sexual que geram uma realidade de sofrimento e violência a tantos passa pela educação, e também pela criação e aplicação de políticas públicas.



Para aqueles que consideram que tudo o que difere da heterossexualidade é errado ou qualquer outra definição com carga negativa, vale refletir que a cidadania de alguém não pode estar na dependência de sua vivência sexual, e, que mais importante que ser homem é ser humano.









Colaboração de Ângela Fakir

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