Seu nome completo era – Rivaldo Silva da Silva, Silva por parte de pai e Silva por parte de Mãe. Isso é pra vocês verem como o menino já nasceu complicado. Todos o chamava de “Doidim dos Boi”, vivia enfurnado no curral, quase não falava com ninguém mas vivia rindo, o que o colocou em situações difíceis. Chegava um estranho e ele começava a rir, se o sujeito era bem humorado tudo bem, quando não já ia perguntando com a aspereza característica dos homens rudes do Sertão - “tá rindo de que?”, lógico que aquilo espantava Doidim que saia disparado pra dentro do primeiro curral que aparecia e ali ficava com os bois e as vacas.
Certa vez, Anacleto, outro menino amigo de Doidim e que vivias por ali, resolveu se esconder no curral e ver o que Doidim tanto fazia ali, pasmem, Doidim passava o dia conversando com os bois e vacas. Era mugido pra cá, mugido pra lá, e em certos momentos parecia que os bichos caiam na gargalhada juntamente com Doidim, Anacleto não aguentou e saiu do seu esconderijo perguntando o que estava acontecendo ali. Doidim espantado ainda respondeu um “NADA” e calou-se diante da insistência de Anacleto:
Anacleto:
- Pode falar a verdade, você entende o que os boi tão dizendo? Como é que você consegue? Cês tavam rindo de que? – e assim continuou, até ganhar Doidim no cansaço.
Doidim:
- Era piada de boi você num ia entender!
Anacleto:
- Se você que é doido entende, imagina eu que tô no terminando o primário, conte logo.
Doidim:
- Eu só sei contar em língua de boi.
Anacleto:
- Pois transforme em língua de gente!
Doidim:
- Eu vou tentar: “morreram três bois, um da Fazenda Brasília, outro da Fazenda Madri e o outro da Fazenda Lisboa. Tavam as três alma de boi subindo pro céu, quando a alma da Faz. Brasília viu uma vaquejada e falou pras outras “aquela vaquejada tão fazendo em minha homenagem eu fui um dos boi mais difíceis de se colocar no chão”, a alma que veio da Faz. Madri, olhando pra baixo falou “tão vendo aquela tourada? é em minha homenagem, nunca perdi pra toureiro nenhum numa arena”. Então a alma que veio da Faz. Lisboa sem querer ficar por baixo, olhou, olhou pra Fazenda e na hora que identificou uma movimentação familiar não perdeu tempo, “o dono da Fazenda Lisboa sempre falou que quando chegasse a minha hora, faria aquela homenagem chamando todo mundo da região”, falou com o peito estufado de orgulho e apontando prum baita churrascão que acontecia na Fazenda logo alí em baixo.
Anacleto:
- Essa eu não entendi, conte outra, senão eu conto pra todo mundo seu segredo!
Doidim:
- Eu vou contar só mais essa: tem a do boi tarado que chegou na fazenda pra montar as vaca, só que o boi era tarado demais e depois das vacas ele começou a montar as éguas, as porcas, as cabras até que um dia encontrou a mulher do dono da fazenda e não contou conversa, montou a patroa. Sendo pega em flagrante pelo marido, que foi logo gritando “ - o que significa isso?”
Ao que ela respondeu no auge do prazer - “significa que: ou você compra uma cama maior, ou a partir de hoje eu durmo no curral!”
Cada doido com sua mania, a de Doidim só lhe trouxe alegrias, até o dia que ele se apaixonou por uma vaca do curral, que o desprezou. Desde então Doidim não falou mais com ninguém, só mugia. Um mugido triste que o impedia de abrir aquele sorriso digno e ingênuo dos debilitados mentais. Se transformou em mais um no mundo que sofre por causa de uma "VACA"!