Sem temer que fosse injusto,
Perguntou para si mesmo:
— “Se vagar no etéreo a esmo,
Vão causar-me forte susto?”
Suspeitava de vingança
Pelos seres da vigia:
— “Não sei se eu mesmo faria,
Se o pensar logo me cansa.”
Mas não quis ficar ao léu,
Desejando assegurar-se
De que, p’ra melhor catarse,
Não podia ser incréu.
Então, orou a Jesus,
Que lhe desse proteção.
Se recebesse algum “não”,
Punha no chão sua cruz.
Mas não recebeu resposta,
Porquanto a intenção da prece
Era colher da tal messe,
Sem plantio, que o mal se encosta.
Muito tempo ali perdeu
A lamentar suas falhas:
— “Por que, minh’alma, agasalhas
Tanto rancor ao judeu?”
Foi então que descobriu
Como tratava a Jesus:
Não era um ser de mais luz.;
Era alguém que não sorriu.
Era aquele um desrespeito
Que o trazia incomodado.
É que pusera de lado
O ensino da avó suspeito.
Relembrou que era infeliz
A velhinha que o estimava:
Numa vida fora escrava,
Para perder a cerviz.
Ao regressar para a Terra,
Teve a missão de criar
Seus inimigos no lar,
Para impedir nova guerra.
Como soubera de tudo,
Se vagava pelo etéreo?
Decifraria o mistério
De roteiro tão sanhudo?
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