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Contos-->A GAROTA DO ÔNIBUS ::: -- 18/02/2003 - 14:52 (BRUNO CALIL FONSECA) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A GAROTA DO ÔNIBUS ::: Rubens de Souza Ribeiro (souzaribeiro@hotmail.com) São Paulo/SP

Ele chegou na fila do ônibus ansioso, olhou para todos os passageiros que já estavam lá, esperando para entrar, procurando por ela. Que pena, ainda não estava lá. Sendo assim, foi para o último lugar e ficou esperando um pouco mais. Era o ponto inicial, e os ônibus chegavam de 20 em 20 minutos. Enquanto os minutos passavam, a ansiedade aumentava. Ele teve o cuidado de revisar a própria roupa, conferiu se a camisa estava bem arrumada, se o cinto estava posicionado corretamente, se os sapatos estavam limpos. Ouvia constantemente as outras mulheres dizerem que pelo sapato se conhecia o homem, e pensava se ela reparasse no sapato já teria ganho pontos valiosos, porque desde a formatura da irmã mais velha, não cuidava tanto dos sapatos como para aquele dia.
Mas ela merecia, merecia todo o esforço e empenho do mundo, porque era linda, olhos encantadores, gestos vivos e um sorriso maravilhoso. Eles haviam se visto praticamente todas as sextas-feiras à tarde no ponto de ônibus e depois ido juntos até que ela descia num ponto alguns quarteirões antes dele. Ambos já tinham se notado e demonstrado interesse em conhecer melhor o outro, mas apesar disso, ainda não haviam se falado nenhuma vez, ao menos não com palavras, apenas com olhares. Mas ele tinha decidido: "De hoje não passa!". E lá estava, preparado para a batalha, armado de cantadas e situações premeditadas esperando pelo momento de passar do planejamento à ação. O ônibus chegou, em seguida os passageiros começaram a entrar e nada dela. Foi a vez dele entrar, e propositalmente, sentou-se próximo à catraca, à beira do corredor, para ter certeza que ela teria que passar por ele e esse seria o momento de tentar qualquer abordagem.
Mais pessoas entraram e quando o motorista subiu no ônibus, imaginou que ela não viria naquele dia e se entristeceu. O motorista deu partida, fechou a porta, deu a primeira acelerada e partiu. Ele baixou a cabeça. O motorista freou abruptamente e abriu a porta, ele ergueu a cabeça apreensivo e ela entrou, linda como sempre. A alegria se confundia com o frio na barriga dele. E agora? Lá vem ela, se aproximando. "Quando ela passar, olho pra ela, digo um oi e peço pra ela se sentar do meu lado..." Ela vem, passa pela catraca, olha na direção dele, é a hora dele, dele, dele... droga! Ela passou e ele não disse nada. Ela se senta logo atrás dele, e o ônibus continua andando. As idéias vão se misturando e confundindo, e quanto mais idéias, menos coragem para as pôr em prática... "é só uma garota sentada atrás de você, vire e fale com ela!" "Mas sem parecer um idiota!" "E vai que ela diz não!? Pior, e vai que ela diz sim?? O que eu falo depois?!" O suspense e o entrave se prolongaram por mais alguns minutos, até que o ônibus atingiu um trecho de maior velocidade, e a janela dele estava aberta, deixando o vento diretamente sobre ela, logo atrás. E foi assim que nasceram as primeiras palavras entre os dois:
- Oi... você pode fechar a janela um pouquinho pra mim? está muito vento... - Ah!, desculpa, claro!
Não era exatamente um diálogo cinematográfico, mas já era alguma coisa. Ele, prontamente partiu para atender ao apelo da sua musa, mas foi surpreendido pela janela que se recusava a sair do lugar, por mais força que ele pusesse. A situação começava a ficar constrangedora, porque ele sentia praticamente as veias da testa latejando, mas a maldita janela continuava resistindo bravamente. Ela riu simpática.
- Tá difícil?! Quer uma ajudinha?
Ele sentiu sua auto-estima ameaçada. Ela se levantou, colocou a mão sobre a dele e tentou, mas mesmo os dois juntos não conseguiram. Mesmo assim, já era uma evolução, eles estavam de mãos dadas. De uma forma pouco convencional, mas estavam. Foi quando ele teve a brilhante idéia:
- Acho que a janela não vai... bom, podia você vir então? Senta aqui do meu lado, não tem tanto vento.
Ela sorriu e o olhou profundamente por um momento. Estava prestes a aceitar o convite, quando um outro passageiro se prontificou a fechar a janela, e raios! fechou na primeira tentativa. Ele olhou para o passageiro e embora tivesse vontade de amaldiçoá-lo até a quarta geração, agradeceu a ajuda. Ela ainda estava em silêncio. Ele olhou novamente:
- Bom, agora não tem vento, mas o lugar continua te esperando... vem?
Ela sorriu e aceitou. Sim! Lá estava ela sentada do seu lado! As coisas não estavam saindo exatamente como o planejado, mas estavam dando certo.
- Tudo bem?
- Tudo.
- Eu te vejo sempre aqui, e a gente nunca se fala... bom , melhor acabar com a curiosidade, né?
- É... também acho. Como você se chama?
- Eu sou o Guilherme. E você?
- Jéssica. Prazer.
- O prazer é meu. Aliás, bom, estou perguntando o seu nome só por formalidade... eu já sabia que você era a Jéssica.
- Como?
- Está escrito no seu caderno... E no chaveiro também.
- Ah!...tá... bom, eu também sabia que você era o Paulo. Ontem você voltou pra casa com o crachá preso na camisa...(Risos)
- Ah!... tem dia que eu nem percebo... sou meio distraído.
- Eu sei. Na semana passada a gente estava na mesma sorveteria, mas acho que você não me viu...
- Sério?!
- Sério...
- Ah, desculpa, não foi por mal...
- Tudo bem. Hum, meu ponto está chegando, eu tenho que ir...
- Tá tudo bem. Ah! gosta de chocolate?
- Gosto.
- (risos) Eu sei, eu já te vi comendo chocolates antes. Na verdade, como dizem na propaganda, eu trouxe um Laka pra você... toma.
Ela se lembrou da propaganda, riu e aceitou o chocolate. Ele emendou...
- Agora é a hora que você me beija, né?!
Ela riu outra vez.
- Você é muito saidinho, não acha?...
- Hã... só em ocasiões especiais...
- Hum... beijo no rosto?
- Bom, aí vai da sua generosidade...
- Definitivamente, você é bem saidinho!... mas eu gosto... só não dá pra ser aqui, tem muita gente olhando. Hoje vai ser só na bochecha.
- E amanhã, você vai fazer alguma coisa? A gente podia se encontrar?
- Pode. Na sorveteria às oito. Mas eu tenho que ir...
- Então, tchau.
E ela desceu e eles nunca mais se viram.
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