Usando de muita esperteza
O mundo Deus fez criar
Os peixes na correnteza
As aves soltas no ar
Em tudo imensa beleza
Mas ninguém pra admirar
Completando a natureza
Foi ele o homem inventar
Mas nele notou tristeza
Por estar só no lugar
E com muita ligeireza
Tirou uma costela de lá
Faltava só uma colher
Pra terminar a aquarela
Daquela tirada costela
Para o que der e vier
Ele criou a mulher
Massapê tem cor escura
O homem não gostou disso
Achava uma desventura
ter ele a cor de chouriço
E alí já havia abertura
E já também o fuxico
Formaram uma comissão
E foram ao Senhor reclamar
- Isto é cor para tição
É bom o Senhor usar
Um pouco de imaginação
E nos faça clarear
Deus com onipasciência
Resolveu os desculpar
Diante de tanta arrogância
Mesmo assim se fez calar
E num poço de fragrância
Os mandou, pra se lavar
Os primeiros ficaram brancos
Fizeram a água toldar
Os segundos foram aos trancos
Escondidos pelos matos
Por não serem muito santos
Tornaram-se os mulatos
Os outros, os derradeiros
Lá só encontraram lama
Lavaram as solas e as palmas
São de origem, verdadeiros
De negros ganharam a fama
Mas ganharam brancas almas
Branco não os discrimina
Isto é verdade, são fatos
Os que lhes negam estima
Certo é; são os mulatos
É isso que a vida ensina
Existem patas e patos
E a naçaõ brasileira
É-lhes muito devedora
Pela mulata faceira
E também a tentadora
Morena da cor de jambo
Igualmente sedutora
E quem não sabe o que é?
Acarajé e Angu
Bangüê e Cafuné
Batuque, Dengoso e Lundu
Mandinga e Maracatu
Oxum, Orixá e Axé
Xangô, Inhame e Iaiá
Samba, Cachaça e Exu
Papagaio e Patuá
Dendê, Efó e Fufu
Bobó e Caruru
Abará e Vatapá
E tudo isso é cultura
Batucada e Boi Bumbá
Você sbe de onde é
Bate-Coxa e Capoeira
Côco e Esquenta-Mulher
Tudo negro de natura
E ainda tem o Candoblé
Gente de muita fé
Que nos deixou por herança
O Carimbó e o Afoxé
No nordeste é a lembrança
De um tempo sem bonança
Que foi e hoje ainda é
Eu não sou um Pai de Santo
Que chamam Babalorixá
Mas farei muito quebranto
Para não se discriminar
Faço até mesmo um manto
Pra minha deusa Iemanjá
Eu sou filho do nordeste
Sinto prazer em falar
E este muito agradece
Ao negro que veio de lá
E não foi porque quisesse
Se deixar escravizar
Livres hoje da tal peste
Que foi a escravidão
Teremos como tivestes
O dia da redenção
E seremos incontestes
Orgulho pra esta Nação