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Artigos-->O MAESTRO CHIYUKI MURAKATA -- 14/12/2015 - 08:36 (LUIZ CARLOS LESSA VINHOLES) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

O MAESTRO CHIYUKI MURAKATA                                                                                                                                                                                                                                                                                L. C. Vinholes



No Japão conheci e compartilhei momentos singulares com músicos das diferentes correntes: uns dedicados à preservação das linguagens tradicionais; outros à chamada “música séria” ou “música de concerto”, interessados nas linguagens renovadoras e com elas criando obras que se tornaram ícones de uma nova geração de compositores; e ainda aqueles praticantes da música de apelo popular, às vezes com sabor característico do meio, mas nunca faltando a pitada vinda de fora, tipicamente ocidentalizada.



Por ocasião da Exposição de Música Contemporânea Brasileira na Embaixada em Tokyo, em abril de 1977 tive oportunidade de rever a muitos daqueles com o quais mantive contato na década de 1960, dentre eles os compositores Toshi Ichiyanagi, Sadao Bekker, Yoshino Irino, Shinichi Matsushita e o compositor e maestro Chiyuki Murakata, nascido em 29 de outubro de 1925 em Fukuoka, criterioso e incansável divulgador da música brasileira de concerto, principalmente a de Villa-Lobos, e, em 1981, fundador e primeiro presidente da Sociedade Villa-Lobos do Japão que, em 1987, promoveu cinco concertos comemorativos ao centenário do nascimento do seu patrono.



Meu primeiro encontro com Murakata ocorreu em Tokyo, em 1975, às vésperas do I Concurso Internacional de Regência no Rio de Janeiro no âmbito do Festival Villa-Lobos, promovido e organizado pelo Museu Villa-Lobos, do qual ele tomou parte com desempenho marcante, merecendo o Prêmio Especial e ganhando a simpatia de todos os que assistiram às provas daquele concurso.



A leitura das colunas especializadas na imprensa do Rio de Janeiro prova que seu desempenho agradou aos críticos mais exigentes. O crítico do jornal O Globo escreveu: “O japonês Murakata sim, foi simplesmente extraordinário. As suas dificuldades com o idioma, ficaram amplamente compensadas pela clareza absoluta da técnica de regência”. O crítico do Jornal do Brasil, o compositor Edino Krieger, afirmou: “Através dos gestos – os mais perfeitos e completos de todo o certame -, ele transmite, literalmente, tudo o que é necessário transmitir”.



Em janeiro de 1977 Murakata regeu um concerto com a Orquestra Filarmônica de Tokyo, no Grande Salão de Toranomon, apresentando um programa que, como era seu costume, se iniciou com uma obra de Villa-Lobos. Desta vez a Bachiana Brasileira nº 9, seguida do Concerto em dó menor, para dois pianos, de Francis Poulenc, com os solistas Hironaka Takashi e Akiko Kitagawa, finalizando com a Sinfonia nº5, opus 47 de Shostakovich. Na metade superior da página 4 do programa distribuído ao público figura foto de Villa-Lobos, de batuta em punho, tendo, como rodapé manuscrito, a dedicatória, em inglês, datada de 26 de novembro de 1975: “Ao excelente artista maestro Chiyuki Murakata, afetuosamente para sempre, Mindinha de Villa-Lobos”. Mindinha era como Villa-Lobos carinhosamente tratava a sua esposa e musa Arminda, fundadora do museu no Rio de Janeiro, que tem o nome do compositor. Na segunda metade da página do programa foi incluído texto que assinei relativo ao regente, dizendo: Acredito ser dispensável fazer referências às atividades do maestro Chiyuki Murakata, desenvolvidas nos meios musicais japoneses. A simples leitura dos seus dados biográficos dá uma ideia exata do dinamismo e da dedicação que este artista possui e que, sem dúvida, é, em grande parte, a garantia do êxito que sempre obteve. O maestro Murakata tem espírito jovem, preocupação intelectual e cultura musical aprimorada.



Em meados de outubro de 1995, por ocasião das comemorações do centenário do Acordo de Amizade, Comércio e Navegação, o primeiro acordo bilateral entre o Brasil e o Japão, os contatos com Murakata se intensificaram. Ele recepcionou a Edino Krieger e ao maestro Carlos Eduardo Prates, o primeiro tendo oportunidade de proferir palestra sobre suas obras e o ambiente musical brasileiro e o segundo regendo a Orquestra Filarmônica de Tokyo.



Em novembro de 2008 Murakata novamente visitou o Brasil e regeu a Orquestra Sinfônica Nacional da Universidade Federal Fluminense, contando com a participação da pianista Yuka Shimizu, solista do Concertino, para piano e orquestra, de Ronaldo Miranda, em evento realizado na Sala Cecília Meireles, comemorativo à passagem do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil.



Embora os contatos mantidos com o maestro Murakata não fossem frequentes, preocupou-me a falta de notícias nos últimos anos. Recentemente, apelei a um amigo no Japão para que pesquisasse e informasse algo de novo sobre os últimos acontecimentos na vida do artista. A resposta que não tardou, confirmou o que era suspeito: Chiyuki Murakata faleceu há exatamente um ano, em 14 de dezembro de 2014, às vésperas de completar 90 anos.  


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