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Contos-->EU AMO A MINHA MULHER -- 16/02/2003 - 16:14 (BRUNO CALIL FONSECA) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
EU AMO A MINHA MULHER
JB.GUIMARÃES

Mais uma vez o ano chega ao fim. A cidade se prepara para a festa de natal. As crianças fazem as listas de presentes. E quem ainda não recebeu a restituição do imposto de renda começa a se martirizar por antecipação. Por que eu não recebi a minha restituição? É a pergunta mais comum.

Essa preocupação alcança tanto o pequeno pagador de imposto quanto o grande. Os pequenos, os que mais precisam da restituição, por descuido deixam para declarar quase na data limite. Agora sofrem na expectativa de que a restituição chegue para ajudar na lista de presentes da família. E mesmo quem pagou muito imposto, mas por força das circunstâncias, tem uma restituição substancial e não a recebeu também fica cabreiro. Fica até indignado. Acha que é um bom pagador de impostos; que paga muito e que não merece ser chateado pelo fisco, justamente quando principia a festa de natal. Se por um erro indesejado, vem a diferença de imposto, ele paga para não conviver com os aborrecimentos. Mas tem situações que não se resolve somente pagando a fatura.

— Estou preocupado?

— Por que?

— Não recebi a minha restituição do Imposto de Renda.

— Mas você tem restituição?

— Claro. Tenho uma despesa alta com saúde

— Só saúde?

— Educação, também. Tenho dois filhos na escola particular.

— Só?

— Dependentes — minha mãe é minha dependente. Mas acredito que não deve ser nada. Declaro tudo certinho.

— Então por que está preocupado, vai precisar da sua restituição para o uísque e o peru do Natal.

— Não!

— É que tem um recibo...

— Duvidoso, frio...

— Jamais, o contador esqueceu de anexar.

— Peça pra ele anexar.

— Sumiu.

— Então deixa o fiscal excluir o recibo.

— Sim, mas tem outro recibo que não inclui.

— E daí?

— É do BMW e o fiscal quer incluir.

— Já pegou, deixa incluir.

— Sim! Mas não é só isto que me intriga. Intriga-me como ele soube do BMW se ela está no nome da minha mulher, eu não declaro em conjunto com a minha mulher.

— Esquece isso. É melhor.

— Mas não é só isso. Tem aquele apartamento que nem a minha mulher sabe?

— E como ele soube?

— O fiscal mora no mesmo prédio.

— Está com medo dele incluir e o imposto ficar alto.

— Não.

— O problema é que a mulher dele está incluída na história.

— ...

— Eu também estou com problema no Imposto de Renda.

— De bens?

— Não! O meu é com a conta bancária.

— Mas e daí, extratos não contam nada.

— Esse é o problema. Pediram as cópias de cheques.

— Mas você só tem uma única fonte de pagamento, por que tanta preocupação com as cópias? Andou passando cheque em motel? Ora, o sigilo fiscal é absoluto. Além do fisco só você saberá o destino do cheque.

— Eu sei...

— Então? Por que tanta preocupação. Estás convicto de que não tem diferença de imposto a pagar; que essa intimação é pura chateação. Tens consciência cidadã de que o fisco deveria preocupar-se mais com as grandes fortunas que não pagam imposto; com os sinais exteriores de riqueza que a gente está cansado de ver por ai. Eu é que deveria estar chateado. Além de pagar diferença de imposto, corro o risco de expor a minha vida particular, acabar com o meu casamento, por tudo a perder. Como eu iria olhar para a Aninha. A aninha é amiga da Silvia — olha só — adivinhe de quem ela é filha?. O Carlos, meu filho, que se forma em medicina o ano que vem, promete discutir a questão ética dos médicos que não dão recibos, sempre teve a imagem de que eu nunca fui um sonegador. É um crítico contumaz da sonegação. Diz para todos que o país anda nessa miséria porque o cidadão brasileiro não quer assumir a sua parte na divisão da riqueza, só quer acumular. Como eu saio dessa? Você apenas tem uma conta bancária pequena que é segredo entre você e o fisco.

— Não posso. A minha mulher...

— Mas o que tem a sua mulher a ver com esta história. Ela não trabalha. Só fica em casa e quando muito na rua a tratar de seus negócios.

— A minha conta é conjunta com a minha mulher. Não tenho todo o controle do destino dos cheques. Andei perguntando-a sobre alguns. Só quando brigamos é que ela ameaça me dizer.

— Mas você não quer saber?

— Não. Eu amo a minha mulher.
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