CAMINHOS CRUZADOS
Como flores à beira da estrada,
uma vida tornou-se assim
e lá está sempre desabrochada,
porém fora de um belo jardim,
onde um dia esteve ao lume
do Astro Rei, exalando perfume.
Uma flor não esboça queixume,
se, colhida, for despetalada,
e o espinho, se tiver ciúme,
não tem voz, ou esta é ignorada,
quando a flor cai sem dar o seu sim
e, murchando ao relento, tem fim.
Só que a flor nem sempre tem espinho
e muitas vezes nem perfume traz...
Um viandante que segue o caminho
e acalenta um instinto voraz,
colhe a flor, amassando-a na mão,
ou com os pés a esmaga no chão.
Se uma pedra não tem coração,
tem-no o caminheiro, sozinho,
que enfrenta o calor do estradão,
mas se lhe faltar o pão e o vinho
de um ato agressivo é capaz
e faz guerra em nome da paz.
Se o caminhar fadiga lhe traz,
ou se perde as suas sandálias,
cambaleia, mas não volta atrás
e se deita num monte de palhas,
contemplando as estrelas do céu,
para continuar seguindo ao léu.
Rodopiando igual carrossel,
cai e levanta na corredeira,
empina-se tal como um corcel,
já coberto por grossa poeira,
e apoia-se nalgum barranco
até parar com um solavanco.
BENEDITO GENEROSO DA COSTA
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