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Artigos-->PEDRO XISTO: SEUS HAIKAIS E AS CARTAS PARA MUCIOLLO -- 22/11/2015 - 15:55 (LUIZ CARLOS LESSA VINHOLES) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

PEDRO XISTO: SEUS HAIKAIS E AS CARTAS PARA MUCCIOLO       



L. C. Vinholes  



Em 1994, em reunião de trabalho na Agência Brasileira de Cooperação do Itamaraty reencontrei ao amigo Genaro Antonio Mucciolo (1) , embaixador do Brasil na Nicarágua desde janeiro de 1992, que estava em Brasília sondando oportunidades para implementar projetos de cooperação técnica de interesse das autoridades nicaraguenses.  



Naquela oportunidade, conversamos sobre vários assuntos, inclusive sobre a perda de um os nossos mais estimados amigos que nos deixara em julho de 1987: Pedro Xisto Pereira de Carvalho. Quando ficou sabendo do meu interesse pelos haikais de Xisto e que eu publicara em Tokyo uma antologia com oito haikais escolhidos pelo autor, Genaro comentou ter recebido cartas com os pequenos poemas do amigo e prometeu-me enviar cópias. Foi assim que em 30 de agosto de 1994 escreveu dizendo: “Devo ao nosso encontro em Brasília, que começou burocraticamente, o prazer de reencontrar as cartas do velho Pedro Xisto. Eis que leio, em carta de 1972, quando ele se encontrava em Tokyo: ‘E se torna claro que só nas horas mortas da noite, escrevo cartas e poemas. São as minhas horas mais vivas, as da conversação com os outros que vivem dentro de mim. A minha maneira de ser ficcionista´.” Genaro completa o parágrafo registrando: “Como é fácil visualizá-lo assim, no seu quarto (2) , em completa e perfeita solidão, entregue a essa conversação sem fim”.  



Em novo parágrafo, Genaro reitera o que sempre pensei e digo a respeito de Pedro Xisto sobre o tratamento que ele dispensou aos jovens que dele se aproximaram: “O que me impressiona ao tomar contato com esta correspondência, que abrange o período de 1963/74, é a maneira como Xisto dialogava de igual para igual com um jovem que dava os primeiros passos na vida e cuja experiência não dava para comparar com a do velho mestre e poeta. No entanto, sua abertura de espírito era total e os temas que abordava, reagindo, sem dúvida, a observações do jovem interlocutor, eram os mais variados. Há que ressaltar, mais do que tudo, a qualidade dos textos das cartas, o poder de síntese, sempre admirável, e a leveza das observações poéticas.”  



Recordando o que havíamos conversado no encontro em Brasília, Genaro assim completa sua carta: “Faço votos de que você possa levar avante a ideia (3) . Creio que a recuperação da correspondência enriquecerá a compreensão da obra poética que ele deixou. Os papéis relativos à atividade do Adido Cultural são curiosos, revelam certa facetas pitorescas da personalidade. À espera de um próximo encontro, aqui vai o grande abraço do Genaro.”  



Meses depois recebi cópia das cartas de Pedro Xisto que me entusiasmaram, mas no início de agosto de 1995, depois de um rápido encontro em Brasília – que seria o último e nos não sabíamos e durante o qual me foi feita promessa de envio de novas cartas -, chegou a notícia de que Genaro e Magdalena perderam a vida na colisão do Boeing 737 da Aviateca com o vulcão Chichontepec, a poucos quilômetros do aeroporto Comalapa, de El Salvador.  



Por diversos motivos, abandonei meu projeto, mas as cartas de Pedro Xisto e de Genaro continuaram guardadas com carinho especial. Agora, revendo e organizando papéis, as encontro novamente e, para homenagear aos amigos de ontem e de sempre, de três delas retiro os haikais que Pedro Xisto enviou a Genaro, aqui reproduzidos(4) .  



Em carta de janeiro de 1963, dois haicais dentro do texto que, mais uma vez, mostra a afinidade que Xisto tinha com os mais jovens e o carinho que a eles dedicava. A carta com os haikais, em um momento, tem o seguinte texto: “AO NOVO = ANO BOM! Para você. E, também, para mim, em nova e boa parte, por intermédio de você. Chego-me, igualmente, aos jovens ... E, como nada mais vetusto nem venusto (rimando só de susto) do que a poesia, lá vai uma tentativa e simples circunstância



:                                                                                                                                                                      o ano novo brindo                                                                                                                                                                     com vinho velho: adivinho                                                                                                                                                                           sol de longe abrindo



Comentando o haikai acima, Xisto continua: “Aquele sol que amadurece as vinhas e as almas; e que rebrilha numa taça e num haikai (não, necessariamente, no seco exemplo acima). Que mais advinharíamos? ‘Chega-te aos artistas e serás’... Chegarei a tempo do cherry blossom (5)? Um poeta japonês amigo meu (6) , provecto na arte e na idade, tomou o nome de ikubeshun = ‘eu quantas vezes separado da primavera’. Chegarei em tempo, senão a Tóquio, a Washington?”



                                                                                                                                                                            flor de cerejeira                                                                                                                                                                          ah! brisa (apenas suspiro)                                                                                                                                                                                 flutuam desejos



E continua: “Talvez uma gravura nipônica antiga = ukiyo-e = ‘mundo, vida que flutua que se transforma’; (desculpe as letras) (7) .”



No final da carta de 3 de dezembro de 1963, depois de considerações relativas ao desejo de desempenhar funções no âmbito do “Projeto Maior da UNESCO, para Apreciação Mútua dos Valores Culturais Oriente-Ocidente ou junto a alguma Embaixada onde se fizessem recomendáveis a observação e a avaliação do ângulo cultural do problema geral do Oriente Ocidente” e de felicitar a Genaro “pela carreira encetada, ‘no quadro material das palmeiras, no pátio (sem os cisnes), quadro possível de haikai’. Deixa lembrar-me do seguinte mutatis mutandis:” - aproveita o pequeno espaço do final da página e escreve em duas linhas?  



                                                                                                                                                                                   “alvorece: patos /                                                                                                                                                                       ariscos o rio riscam / e o sono dos sapos”  



Um outro haikai é datado de Kyoto, em abril de 1971, mas foi enviado por Xisto a Genaro em cartão de boas festas na passagem de ano 1973/74, e diz o seguinte:                                                                                                                                                                             



patinados teto                                                                                                                                                            



 traves do tempo ao través                                                                                                                                                                                     



antenas tv



Notas:



(1) Genaro Antonio Muaciolo era natural de São Paulo onde nasceu em 13 de junho de 1937, formado em Letras e Filosofia, ingressou na carreira diplomática em 1963, chefiou várias divisões do Itamaraty e foi nomeado embaixador em Managua, em 1992, depois de ser ministro-conselheiro do Brasil junto à Comunidade Europeia, de 1988 a 1991.



(2) Durante sua estada em Tokyo, Pedro Xisto hospedou-se no Asia Kaikan, próximo da Embaixada do Brasil, local destinado aos visiantes asiáticos, mas que, na época, acolhia também aos poucos vindos da América Latina.



(3) Planejei reunir em livro o maior número possível de cartas de Pedro Xisto para alguns dos seus amigos.



(4) Os dois primeiros foram centralizados pelo autor, o último com os versos alinhados pela esquerda e o de dezembro de 1963 com suas três linhas tradicionais divididas em duas de um e três versos.



(5) As palavras sublinhadas são as que assim constam da correspondência de Pedro Xisto.



(6) Kunito Miyasaka (1889 - 1997) fundador do Banco América do Sul em São Paulo, homem de empresa e cultura, economista, bancário e poeta de quem, pelos seus feitos, muito se lembram os japoneses do Peru, do Paraguai e de São Paulo.



(7) A caligrafia de Pedro Xisto para os três ideogramas é legível, dispesando o pedido de desculpas.  


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