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Artigos-->YULO BRANDÃO E A FILOSOFIA DA MÚSICA -- 07/11/2015 - 18:56 (LUIZ CARLOS LESSA VINHOLES) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

                                                                                                                                                      YULO BRANDÃO E A FILOSOFIA DA MÚSICA                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                       L. C. Vinholes  



São tantos os papeis que guardei que, de vez em quando, encontro alguns que me trazem recordações prazeirosas. Um deles está diretamente relacionado a um dos meus melhores amigos do tempo de São Paulo, amigo que, em diversas ocasiões, posso dizer que foi também meu mestre. Seu nome é Yulo Almirante Brandão ou, simplesmente, Yulo Brandão, como gostava de ser tratado.  Esteta, filósofo e violonista, Yulo foi bolsista do Governo canadense, professor do Instituto Brasileiro de Filosofia-Seção e da Escola Livre de Música da Pró Arte em São Paulo e dos Seminários Livres de Música da Universidade Federal da Bahia. Lecionou por mais de uma década na Universidade de Brasília, coordenando os cursos de extensão em filosofia, e na Universidade de Campinas, tendo papel de destaque no movimento dos filósofos católicos.  Em 1956, no citado Instituto Brasileiro de Filosofia, criado em 1949 pelo jurista e filósofo Miguel Reale,



Yulo ministrou o curso Introdução à Filosofia da Música do qual guardei exemplar datilografado do programa com os assuntos abordados, documento de três páginas, judiadas pelo tempo, que, no seu final, trás a assinatura do mestre. Embora tenha sido dado há quase sessenta anos, com um corpo discente formado por artistas e intelectuais, dentre os quais recordo as colegas pianista Dirce Luzzi, da escola do mestre José Kliass, e a poetisa Dora Ferreira da Silva, criadora das revistas Diálogo (anos 1950) e Cavalo Azul (anos 1960), creio ainda ser do interesse de muitos conhecer o programa desenhado por Yulo, razão pela qual, compartilhando, disponibilizo a seguir.  Introdução à Filosofia da Música Programa  I - Filosofia da Música a - Sua Importância b - Seu duplo aspecto: Transcendente e imanente c - Sua relação com a estética musical II - Preliminares: Elementos sonoros a - O intervalo musical b - Linguagem musical: modalidade, tonalidade, atonalidade, dodecafonismo c - O intervalo musical e a linguagem musical III - O intervalo musical e sua triple função a - Como “linguagem científica” b - Como “linguagem lírica” c - Como veículo de uma metafísica. IV - A obra musical e os elementos que a integram passíveis de uma fundamentação filosófica. a - Melodia b - Harmonia c - Ritmo V - Análise das duas constantes musicais a - O tempo e suas dimensões b - O espaço musical c - A interdependências desses dois elementos VI - Fenomenologia da constante “tempo” na obra a - À luz de Kant: esquema formal b - À luz de Bergson e Lavalle: conteúdo c - A possível coexistência dessas duas concepções VII - A tonalidade (de Bach e Wagner) e sua dimensão científica e filosófica a - Sua objetividade b - O som: encarnação e carência de ser c - Hierarquia dos valores sonoros VIII - Ainda a tonalidade a - O tempo e sua Tridimensionalidade b - A atualização e a consciência do ser (Mozart) c - Pluralidade real e possível do som: “La ciculation de l´être à l´intérier de lui-même” IX - A tonalidade a - Dualismo ontológico entre tempo e espaço b - Racionalismo musical: “essência precede existência” c - O aspecto não dimensional da tonalidade X - Ainda a tonalidade a - A forma na tonalidade: ângulo filosófico b - Duração e eternidade c - Determinismo musical: continuidade XI - A tonalidade a - Ângulo lírico e estrutural b - Forma e conteúdo c - Relações fixas entre tempo e espaço: relatividade de “Estilos” XII - A tonalidade a - Concepção realística do mundo b - Posição acrítica c - O conceito de “alteração” revela um coeficiente médio de arte. Valery. Recriação XIII - A tonalidade a - O problema da unidade b - As ordens temporais de Lavelle: ordem preferencial, ordem lógica e histórica das estruturas tonais c - Resíduo de natureza XIV - O esfacelamento da tonalidade a - Debussy e sua função. Preponderância de qualidade b - Primeiro passo para a subjetivização c - O som: polarização, Strawinsky XV - O sentido do atonalismo a - Subjetivação do espaço: Schoenberg b - Eclosão do tempo e destruição da forma Peças atonais. c - A existência se confundindo com a essência XV - O atonalismo a - O atonalismo: continuum espaço-tempo b - A quarta dimensão: ainda dado científico c - Nova dimensão: eclosão do qualitativo puro XVII - O advento do dodecafonismo a -Tentativa de reduzir o irracional ao racional b - O aspecto filosófico da série de 12 sons c - Do conceito da unidade para o da identidade XVIII - As manifestações da música contemporânea a - Veículo de uma concepção existencialista do mundo. Presença b - O mistério da corrente da libertação do irracional c - Possibilidade de conduzir os homens a um plano de espiritualidade crescente.  



Em artigo publicado em 15 de agosto de 1956, na coluna Música do Diário de São Paulo, H. J. Koellreutter, compositor e diretor da Escola Livre de Música da Pró Arte em São Paulo, comentando o trabalho O Tempo e o Espaço na Arte Musical, apresentado por Yulo no Congresso Internacional de Filosofia, naquele ano realizado em São Paulo, afirma que “O esteta Yulo Brandão que se encontra, em nosso meio, cada vez mais em evidência, por suas investigações no terreno da filosofia da arte,...”, abordando “importantes problemas da estética musical contemporânea,...”, destaca o seguinte trecho: “O espaço que, pelas razões expostas, antes encapasulava todos os sons e lhes conferia um sentido moral e metafísico, hoje vai sofrendo um processo de ´raccourcissement´ vai acanhando-se até reduzir-se ao próprio som ou a agrupamentos de sons polarizados em torno de um núcleo. O tempo, assim, se liberta e, de interior que era, passa a exterior, de elemento construtivo se transforma em elemento dispersivo, atomizante: a música que outrora sobrepairava o tempo porque o trazia dentro de si, usando-o como instrumento de sua liberdade, hoje se desenrola no tempo unidimensional, tempo do presente puro; antes ouvida e captada pelo Todo, hoje, porém, é percebida como coletividade na qual o som, a rigor, é desprovido de passado, uma vez que o ato não preside ao seu surgimento; desligado, também, de um futuro real, porquanto não lhe falta uma certa consistência ontológica”.  



Completando seus comentários Koellreutter afirma que Yulo “pode ser considerado o único esteta brasileiro que analisa os problemas da música não apenas sobre um ângulo estreito e limitado que caracteriza uma grande parte das dissertações estéticas entre nós, mas, sim, contribui com sua indubitável competência e suas ideias generosas e amplas, para a compreensão mais profunda dos problemas musicais, podendo ser considerado, por isto, elemento de valor para o desenvolvimento da nossa música e do meio artístico intelectual”.  



Depois da minha ausência do Brasil, não perdemos o contato e, em duas ocasiões, fui distinguido pelo amigo Yulo quando ofereceu-me exemplar de duas de suas obras: Estética - Breves Estudos, de 1968, da Editora da UnB, e Filosofia-Pequenos Estudos, de 1994, da T. A. Queiroz, cada um com fraternais dedicatórias. A primeira, datada de Brasília em 20 de março de 1974, “Ao Vinholes com a minha perene e incondicional amizade” e a segunda “Ao Vinholes, amigo e companheiro nos longos e fecundos debates estético-filosóficos de outrora, ofereço estes estudos. Abraços do Yulo, Campinas, 2 de janeiro de 1996”.


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