GRAMPOS, CLIQUES E CLICADAS
(Por Domingos Oliveira Medeiros)
Neste mundo virtual
Onde tudo é aparente
Autoridade que se preza
Do grampo fica temente
Com medo do inimigo
Fotografar seu abrigo
Mostrar o podre pra gente
Tem grampo pra todo gosto
Coronel e presidente
Seja na sala ou banheiro
Ele está sempre presente
Mostra tudo por inteiro
O que é falso ou verdadeiro
O que escondem da gente
Depois guardam o dossiê
Cada foto uma piada
Gente escondendo dinheiro
Alguém trepando na escada
Faz careta no banheiro
Entupido o ano inteiro
Só de comer marmelada
E quando chega a eleição
O assunto aparece
Toma conta dos jornais
O disse-me-disse acontece
E o tempo vai passando
Todos vão negociando
Com o tempo arrefece
As promessas de palanque
A mentira permanece
São eleitos novamente
Tudo de novo acontece
O dossiê é mostrado
De novo ele é grampeado
E o eleitorado esquece
E tem a questão do clique
Que também é muito usado
Na execução d’um programa
Quando ele é utilizado
Basta clicar com o dedo
Não precisa nem ter medo
Do que deve ser clicado
Todo clique é perfeito
Quando mexe co’a emoção
Previamente executado
Obedece ao coração
Deixa tudo registrado
Faz o jogo bem jogado
Marca sua posição
Vai segurando o ratinho
Aperta e solta o botão
Cada um de cada vez
Indicando a seleção
Do que se pretende dizer
Ou mesmo do que fazer
Quando chega a ocasião
Basta marcar um encontro
Ali perto da estação
Dizer a cor do vestido
Se houver boa intenção
Ou fugir daquele clique
Se notar que existe um tique
Agitando o coração
Ou pode usar a máquina
Pra clicar aquele evento
Guardar como lembrança
O inusitado momento
Um tico de realidade
Vivido pela cidade
Alcançar o seu intento
Clique, verbo transitivo
Assim foi classificado
Dependendo do barulho
Pode ser interpretado
Se clicar a namorada
Na posição desejada
Tudo ficou revelado
Se colocar seu dedinho
Apertando no botão
E só olhar pro buraco
Para ver a repercussão
Se tiver sido do agrado
O papo foi bem ligado
Acertou na intenção
Esse verbo virou moda
Todo mundo tá clicado
Dependendo do barulho
O programa é ativado
Tem que ter disposição
Segurar a coisa na mão
Esperar o resultado
Tem clicador para tudo
Durante tempo integral
Tem quem aperta com medo
Tem clicador animal
Faz um clique diferente
Joga bomba e mata gente
Usa seu clique pro mal
São homens ignorantes
Que só pensam no poder
Vivem fazendo guerras
Homens que gostam do ter
Nunca curtem seus amores
Produzem miséria e horrores
Não se prestam ao verbo ser
Pra quem é da brincadeira
Achando que bem consegue
Basta seguir nessa rima
Ponha seu dedo e trafegue
No buraco com cuidado
E depois diga a verdade
Se não deu conta, não negue
A pedido, face às intrigas - a respeito - que estão de volta.