Voltando ao meu sertão
(Por Domingos Oliveira Medeiros
Com um dia de atraso
Fui passear na Usina
Na terça de Carnaval
Festa que aqui não termina
Pois há circo todo o ano
Palhaço por baixo do pano
Que o folião desanima[
E qual não foi a surpresa
Das homenagens singelas
Poetas, amigos, parentes
Quebraram-se as tramelas
O portão escancarou-se
E muitas lembranças trouxe
De antigas aquarelas
Pintadas na minha mente
Criança, ainda pequena
Deixamos nosso rincão
Com uma certeza pequena
Vencer a dificuldade
Enfrentar a grande cidade
Mudar de luta e arena
São dezenove e trinta
No horário arredondado
Mas a chuva chegou forte
No final do feriado
E tive que improvisar
Para a mensagem chegar
Antes que morra afogado
Afogado com tanta prosa
Com tanto verso mandado
De gente que não se importa
Sem um pingo de cuidado
De apertar o meu coração
O coração de um irmão
De saudades alagado
A água caiu pesada
“Pra quem saiu desse meio”
Escreveu Geraldo Alves
Poeta de rima sem freio
Beleza de trovoada
Escorrendo pela estrada
E eu aqui com anseio
De rever os meus parentes
Saborear o momento
Nadando em recordações
Arrastado pelo vento
Embora com certo receio
De ver rasgado ao meio
O açude, nosso alento
Agradeço ao Luizinho
Por fazer bela alusão
Ao meu saudoso Anízio
Que foi meu pai e irmão
Companheiro fraternal
Jardineiro que em Pombal
Fez a minha plantação
Também fiz esta viagem
Na minha imaginação
Num trenzinho de saudades
Nas cores de cada estação
E na realidade de Maria
Fruto de bela fantasia
Que trazes no coração
À querida Terezinha
Vou logo dando a pista
Não conheço o desenhista
De traçados tão cruéis
Mas até hoje, confesso
Sempre desejo o regresso
Pombal, primeiro da lista
Obrigado, caro Alcides
Pela relato abordado
Registrando com clareza
O panorama mudado
Dá pra sentir a melhora
Vendo a seca indo embora
E o povo alimentado
Rios cheios de lágrimas
Que a natureza mandou
Assim disse o Zé da Onça
O olho do mundo chorou
Tudo é fartura e riqueza
Foi-se embora a tristeza
Somente alegria ficou
Tem dedo de Deus no meio
É obra da natureza
Mane de Inaça que o diga
A santa ceia na mesa
Resta agora agradecer
Por tanta chuva chover
É milagre com certeza
E quem diz verso bonito
Como o nosso companheiro
Rimando amor e saudade
Na casa desse ferreiro
Com sinceridade digo
Não passo de um mendigo
Ou aprendiz de pedreiro
Ao Dantas não digo nada
Dispensa apresentação
É poeta e pombalense
Divulgador do sertão
É a chuva que acontece
Que o nosso chão enaltece
Conterrâneo e irmão
Artesão de nossas matas
Rios, aves e lugares
Amante da poesia
Histórias de nossos lares
Tiradas do céu do sertão
A chuva, a seca e o trovão
De belezas seculares
Agradeço, finalmente
A verdadeira enxurrada
De notícias auspiciosas
Caixa postal tá lotada
Vou contratar mais carteiro
E também um mensageiro
Pra dar conta da parada
Terminando à moda antiga
Estas linhas mal traçadas
Peço perdão aos amigos
São rimas improvisadas
Não se fez a revisão
Há erros de pontuação
E vírgulas quiçá molhadas
O susto foi muito grande
De qualquer modo, obrigado
Um dia eu pago a conta
Sem esquecer o trocado
Nem que seja preciso
Quando perder o juízo
Ser candidato ao Senado
Com tanto verso perfeito
Acredite companheiro
Fiquei aqui matutando
Voltei a ser beradeiro
Aqui nesta grande cidade
É grande a minha saudade
Desse sertão brasileiro
Brasília, 24 de fevereiro de 2004
A todos os meus parentes e amigos. Conterrâneos e demais autoridades. Senhores e senhores. Engenheiros e doutores. Não me levem a mal. Não tenho culpa, afinal. De ter deixado Pombal. São coisas das circunstâncias. A despeito de relutâncias. São fatos da vida real. Mas papai, como ninguém. Soube congelar sua saudade. E plantar em nós a fidelidade. À terra de nascimento. A nossa terra natal. Que ele tanto amou. Que em versos assim falou. Que a vida bem vivida. Aqui nesse nosso planeta. Por ele não esquecida. Foi no sertão, em Pombal.
O mesmo Pombal que hoje. É cantado em verso e em prosa. Por gente de humildade famosa. A humildade que Cristo nos ensinou. Aquela que não se confunde com ingenuidade. Nem com subserviência. A humildade dos sábios. Dos amigos. Dos que se respeitam. E abrigam. Dos que acreditam na brisa dos ventos. Em dias melhores. Suportando, com bravura, os dias piores. As nossas cruzes. Que as levamos. Por conta de nossa cota. De agradecimento a Cristo. Pelo que sofreu por nós. Pela redenção de nossos pecados. .
O cheiro da terra está por todos os ares. Por todos os lugares. Por todos os lados. As cores do xiquexique. De suas flores. E demais, por certo. O som dos pássaros. Dos animais. O cheiro da mesa posta. O café da manhã. Regado à tapioca, coco e rapadura. Coalhada com mel. Carne de sol. Sarapatel. Lingüiça de porco. Galinha à cabidela. Já era do almoço. Sinal de alvoroço. Dessa fruta, como diz no sul, eu como até o caroço. Seja velho ou seja moço. Com a corda no pescoço. Sentado no batente. Em volta de nossa gente. O cigarro de “páia”. Pra quem gosta, é claro! O relinchar do jumento. O berrar do carnero. A noite chegando. Enluarada. Estrelada. É hora da cantoria. Clara e insinuante. O sono chegando. No mesm os instante. A família rezando. “Bença paim”. “Bença mainha”. E o mundo escurece. A Deus uma prece. Até amanhã. E obrigado por este belo dia. Domingos.