Corolário. Faz muito tempo que quero empregar esta palavra - corolário - e só há poucos dias consegui empregá-la em outra crónica. De fato, este problema todo do emprego parece atingir até mesmo as palavras. É certo que algumas delas não estão preparadas para estes tempos modernos. Indexação, por exemplo. Já teve seus tempos áureos e agora ninguém mais fala.
Já com corolário, o problema é a dicção. Fui estudar e obtive algumas informações sobre a questão . Tente repetir rapidamente pelo menos três vezes. Repetir a palavra "corolário" é um bom exercício de dicção, muito empregado em consultórios de fonoaudiologia. Consta que há uma tese de doutorado na Red Tongue University, ao norte da Cidade do Cabo, que combina as palavras corolário e epistemologia de trezentas e vinte e cinco diferentes formas. A repetição destas combinações segundo uma fórmula própria, explicada na tese, permite a cura da gagueira em menos de novecentas e três semanas. Isto sem usar cascalhos ou coisa parecida. Infelizmente ainda há um efeito colateral relativo à s articulações da mandíbula, mas isto é facilmente eliminado repetindo-se trezentas vezes a palavra oca. Cento e cinquenta com o "o" agudo ("ó") e cento e cinquenta com o "o" grave ("ó"). A ordem não tem a menor importància neste caso.
Curioso como certas palavras são difíceis de falar quando se tem pressa. Palavras muitas vezes necessárias para uma boa argumentação mas capazes de empanar o brilho de uma exposição inteligente. Mesmo que não se fale em eficiência e eficácia, mesmo que não se empregue o "a nível de" e só se afirme "com certeza" em três ocasiões, há o risco de por tudo a perder ao enrolar a língua em uma destas palavras mais complicadas. O exemplo acima, com a palavra corolário, é muito claro. Se o assunto é consequência, implicações, deduções, ilações, como não falar em colorários, perdão, corolários.
Agora imagine, você na sua argumentação final, depois de contornar todos os aspectos da questão que está expondo, acha que está tudo resolvido, que a parada está ganha e, quando menos espera, tropeça no cororiola. Perdão, corolário. É mais ou menos como perder a imunidade parlamentar.
De qualquer forma, parece bom que os corolários comecem a acontecer. Ainda que aos poucos.
Escrito em 30.06.2000
Publicado na Seção Comentários do Cidade Virtual Brasília em 01.07.2000