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Cronicas-->RETRATO DE GENTE -- 06/11/2002 - 12:02 (Felipe Lemos) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Por trás do rosto ensanguentado estava José Cidadão da Silva. Caído no chão da periferia da capital, representava infelizmente apenas mais um número nas estatísticas da secretaria de segurança. Virava manchete dos jornais do dia seguinte. Jazia inerte como inerte parece quem se propõe a lutar contra isso. Seu corpo baleado ilustrava o que os teóricos denominam de crime pontual. Não gerava sensação de insegurança. Era, portanto, mais um delito, artigo 121 do tão criticado Código Penal Brasileiro, a ser elucidado.
Os policiais, com sua experiência e a malandragem das ruas, consideravam solucionado o caso. Afinal de contas, já tinham o nome de um suspeito. Entre um cigarro e outro e uma pretensão e outra, o escrivão tomava os depoimentos das testemunhas a fim de esclarecer o homicídio.
E o rosto por trás do número?
Enquanto isso, o jornalista contabilizava em seu computador, dentro da redação, os dados sobre mortes como a de José Cidadão da Silva. No ano passado, foram cento e não sei quantos assassinatos. Nos primeiros seis meses do ano corrente, já passavam de 500 mortes. Crescimento vertiginoso; culpa do Governo ou dos governos; da ineficiência das polícias. Todos falam e opinam sobre o fato. Por que gente como João Cidadão da Silva é morta todos os dias?
Fala a família da vítima.
Há uma família por trás daquele rosto dilacerado pela perfuração dos projetis?
Sim.
Uma família que sente, que come, que brinca, que chora, que estuda, que vê, que ama, que se desespera. E João Cidadão é uma pessoa acima de tudo. Sua vida foi cessada de maneira abrupta, estúpida e cruel. Teve uma história a ser relatada e entendida.
Talvez resolva-se o caso da sua morte, mas não se colabora e tampouco se contribui para melhorar a vida de tantos outros que ainda vivem e, quem sabe, só vivem para esperar uma bala na cabeça ou uma facada no peito. A TV, o rádio, o jornal, a revista e a Internet deixam de mostrar quem está por trás do rosto ensanguentado. Fazem de conta que foi apenas mais uma "matéria jornalística". Ou então, ao contrário, sensacionalizam, espetacularizam, reconstituem os fatos numa verdadeira linha direta em uma cidade alerta ou urgente. Banalizam e usam a imagem para vender, vender e vender...
Esquecem que José Cidadão da Silva é retrato de gente sem perspectiva, sem objetivos, sem direcionamentos e perdida. E a sociedade ignora que outros Josés habitam no Brasil das desigualdades, clamando por ajuda. Gritam por causa da marginalidade e temem a hora de morrer atravessadas por um disparo. Ninguém as ouve, ou melhor, ouvem, porém se omitem e preferem regurgitar em cima da podridão escrita, mostrada ou falada sobre a criminalidade. Fácil é responsabilizar o governo, a polícia, o capital estrangeiro, os bancos, qualquer entidade ou organismo. Difícil é compreender quem é o João Cidadão da Silva parado ao meu lado.
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