O Contraditório Surrealista
(por domingos Oliveira Medeiros)
Talvez, ao menos avisados, não faça sentido falar de Nietzche e de Machado de Assis, ao mesmo tempo e no mesmo contexto. Ou de Brás Cubas, personagem bem brasileiro, muito provavelmente crente ardoroso, de fé inabalável, em contraponto à s idéias filosóficas e anticristãs do sobredito alemão. Mas, como veremos, tudo não passa de uma questão de boa vontade. O hexacampeonato mundial será decidido entre o Brasil e a Alemanha. Dois países com semelhanças inimagináveis. A começar pelo brilho e conquistas das suas seleções de futebol. Depois tem a questão da língua.
Sim, porque ambas, português e alemão, têm bases gramaticais assentadas nas declinações. No caso brasileiro, a partir da língua morta, o Latim, com as seguintes estruturas gramaticais: nominativo, genitivo, dativo, acusativo, vocativo e ablativo. Ou seja: sujeito, objeto direto, objeto indireto, vocativo, e assim por diante.
E, desse modo, o amigo Lindolpho vai construindo seu imaginário. Seus contos. Poderíamos até defini-los como o paradoxo transparente e lúcido. O paradoxo do paradoxo. O prolixo e o paradoxo. Tal como na canção de Roberto: o cóncavo e o convexo. Diferenças que acabam se juntando, com perfeição.
Assim fizemos a leitura da patologia social da família conservadora, residente em Brasília, a capital futurista, proposta por Lindolpho. Situação patológica que envolve sua filha Rafaela, que não deveria envolver-se com estranhos, residente no Estado de Goiás, principalmente. Como se Brasília não fosse, como de fato o é, subconjunto do conjunto Goiás.
E Rafaela, personagem da história, vai mais além. Desfaz o mito de que o homem é produto do meio. Com Rafaela, pelo menos, tal não acontece. Enquanto seus pais se alinham à s concepções políticas do governador Joaquim Roriz, Rafaela prefere falar de Lou Salomé. E, nas entrelinhas do conto, sem querer abusar da hexegese, da hermenêutica e da propedêutica, não se pode imputar-lhe (ao governador Roriz), total falta de visão política.
Até porque, como é sabido, Joaquim Roriz é originário da cidade de Luziània-GO. Luziània vem de Santa Luzia, a Santa protetora dos olhos e da visão. E a história de Roriz vem de longe. Embora continue a privilegiar o seu passado. Não serve, portanto, Ã s considerações e ao relativismo de Hegel. Não será, por certo, este outro filósofo que irá mudar suas crenças e seus valores arraigados no tempo em que Brasília era um sonho. Apenas uma fazenda encravada no meio do cerrado. E Hegel tem conceitos discutíveis sobre questões de ordem ética e moral. Ele é mais um contraditório surrealista, que serve de modelo para os que insistem em acreditar que um pensador obeso possa pensar com clareza. O Lindolpho Cademartori pensa que sim. Eu já não me atreveria a tanto. A história não se leva para canto nenhum. A menos que se queira deturpá-la.
Domingos Oliveira Medeiros
29 de outubro de 2002
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