INTERSEÇÃO
lílian maial
Longo percurso,
passa depressa...
Os anos, compactos em minutos de lembrança,
ora pesam, ora curam.
No rosto,
o brilho da juventude em meio às marcas do tempo.
Disfarçadas cicatrizes,
camufladas olheiras.
Pé na estrada.
Deserta estrada.
Encruzilhadas, atalhos, becos.
Percalços, perigos,
desejos, compromissos.
Tudo é sério.
Nada é certo.
E tão simples...
Nada é tão simples.
Esquinas têm seu preço.
Escolhas.
Perdas.
Erros.
Acertos.
Um dia, um alguém.
Uma voz.
Um sorriso.
Detalhes.
Dois pés no mesmo curso.
Mãos dadas.
Flores.
A brisa fresca, os pássaros.
A música.
Nos olhos, o coração.
Os mistérios, os segredos, a nudez.
A entrega, o amor.
Nunca mais a estrada solitária.
E a vida caminha nos dois lados.
E a dor existe,
mas não parece tão terrível.
Ou talvez insuportável,
se não se está inteiro.
Dá a mão, vem comigo,
que os perigos são tantos...
Vem sem medo, vem feliz,
como a criança que encontrou a paz.
Vem com tua força,
com teu passado,
com teus defeitos.
Mistura teu sangue ao meu.
Dorme meu sono,
que te sonho os pesadelos
e te espanto os monstros.
Descansa tuas dúvidas sobre meu peito,
que te fico em silêncio,
apenas aqui, ao lado,
velando tua inquietação,
enquanto buscas o caminho.
Ensaia teus passos
sobre meu destino.
Marcha triunfante
sobre minhas resistências,
e conquista teu espaço
em minhas certezas.
Caminha comigo
e deixa que caminhe contigo.
Sem pressa,
sem receios,
dois perdidos numa noite linda,
de lua alta,
de estrelas nos olhos,
de som de almas cantantes.
Sou teu porto,
sou teu pouso,
sou teu ninho.
Voa nas alturas.
Caça.
Luta.
Vence.
Que tua montanha
é conquistada a cada volta,
a cada pouso.
Abre tuas asas
sobre os meus desejos.
Rasga a minha pele com tuas garras,
teu bico, tua fome,
que renasço a cada gozo
- a pequena morte -
que meu corpo te impõe.
Deita no meu colo
e sorve meu carinho.
Deixa que te nutra
de minha paz,
meu amor,
meus beijos.
Sê meu cúmplice,
meu parceiro na empreitada.
Batalha ao meu lado,
em meu nome,
por meu calor,
por meu abraço.
Aceita a palavra
que tua boca não diz,
que teu coração já conhece
e que tua alma teme.
Reparte o peso e a dor,
o sorriso e o sabor,
que o teu lugar é só teu
em algum ponto da estrada,
onde as pegadas se alinham
e as sombras se enlaçam.
Apenas olha pro lado
e deixa que eu me aproxime.
Em silêncio sou tua.
Até merecer que me digas
quem sou.
Lílian Maial |