E Deitada ?!... És um Sonho !

Como eu sou?

Ah... Vou tentar descrever-me, com minúcias de detalhes.
Afinal, você tem insistido tanto, nestes últimos seis meses, que merece não ser mais ignorado. Tanto teeeemmmmpo... Não é mesmo?
Tentarei fazer a sua felicidade, ou matar-lhe a curiosidade.

Sou muito alta. Às vezes, confundem-me com um "poste ambulante".

Peso?

Já passei tanto do ideal, que nem dá para calcular. Nem mesmo sei se haverá alguma balança que o consiga. Mas tentarei, através de um fato real, dar-lhe a exata idéia de quanto peso...
Certa vez, foi necessário ir ao Centro da cidade, para debitar umas contas. Como não existe carro que me seja confortável, fui num desses ônibus de ar condicionado. Pela roleta não deu.; tive de entrar pela porta da frente.; e, mesmo assim, de lado, espremida e com muito sacrifício. Está claro que fiquei no corredor do coletivo, para não ocupar o lugar de duas pessoas. Sou muito humana e compreensiva.
A viagem transcorreu sem incidentes. O único medo que me assomava, de vez em quando, era quando o ônibus tinha de frear repentinamente. Com muita atenção, eu fazia uma leve pressão para traz e quase que simultaneamente para frente. Isso garantia que o veículo não capotasse de nariz no chão, ou de rodas para o ar...

O rosto?

Bem... Devido à gordura e vitalidade, ele é bem rosado, quase pink... E brilha, devido à oleosidade da pele. Carrego, sempre, esses lencinhos de bebê, que já vêm molhadinhos - gasto dez caixas por dia - isto no verão, claro!
O nariz, um pouco oblongo, quase encosta no lábio superior, por isto mesmo é que o lábio inferior é um pouco caído e ressecado, pois a boca fica permanentemente semi-aberta.; carrego diariamente uma garrafa de três litros, com água, para matar a sede, que é gigantesca.
Queixo quadrado, quase emendando nas orelhas. Estas, para limpar-lhes a poeira, que acumulam, necessito de duas caixas de cotonetes. Sem falar da cera que o ouvido produz em demasia... Mas para ela uso uma colher de pedreiro e fica tudo normal...

Pescoço?

Nem dá para vê-lo, a não ser que dê um vento muito forte, a ponto de me fazer envergar um pouco. É nessas horas que aproveito para tirar a poeira acumulada pelo suor... Sinto-me até mais leve, depois....

Seios?

Caídos... Muito!
Já tentei siliconá-los, mas o cirurgião advertiu-me que poderia ser dinheiro perdido. Pois, com o volume das pelancas, endurecidas pelo silicone, eu poderia cair para trás. Isto porque os seios já estavam tão acostumados à gravidade, que o “efeito seria pior do que o ônibus espacial, quando explodiu ao entrar na atmosfera.
Quando dei a idéia de uma plástica, para amenizar-lhes o tamanho, ele, assustado, disse-me que era melhor deixar como estavam. Meu corpo era equilibradíssimo, tudo combinava e, se tirasse parte dos seios, talvez o “conjunto” sofresse uma mudança dramática, desarmonizando minha aparência.
Concordei com o médico, embora, minha despesa com sutiãs (tenho dois – um para sair.; outro para ficar em casa-).
Lá se foi o meu sonho do silicone, tão moderninho nos dias de hoje... Não se pode ter tudo, não é?

Cintura?

Para ser honesta, não existe: do pescoço até as coxas sou exatamente igual. Às vezes, quero disfarçar, usando um cinto desses moderninhos, de pentelhos pendurados, mas meus braços não alcançam as costas para envolver minha cintura. Então desisto, pois não gosto de ocupar ninguém para me vestir. Uso vestidos, todos iguais, mudando sempre a cor, para que não pensem que é o mesmo. Feitos por mim. Se eu sei costurar? Não... Mas basta pegar um pedaço de pano, de uns quatro metros de largura, por seis de comprimento, dobrá-lo em duas partes iguais e fazer recortes, para a cabeça e braços. Depois, basta arrematar tudo bonitinho e pronto... Estão lá os meus vestidos.; tenho sete lisos e sete estampados, para variar bastante...

Pernas, pés e mãos?

Estes acompanham o resto do corpo, criando um equilíbrio perfeito. Não me depilo, pois é uma vaidade desnecessária, um pecado até: se Deus quisesse que nos depilássemos, já teríamos nascido sem pelos. Esmalte para as unhas? Ah! Isso, sim, dá sempre uma impressão de limpeza... Mas, como tenho unhas exageradamente grandes, combinando com o tamanho da mão, não uso esmalte. Apenas, compro um galão daquele verniz, usado em casco de navio... É ótimo! Faz que minhas unhas durem brilhosas por seis meses, quando crescem totalmente e dá para cortar, repetindo a operação...

A sola dos pés está sempre com rachaduras, pelo ressecamento natural... Fico muito tempo sentada, pois não agüento muito com meu corpo. E isto faz com que minhas pernas peçam sempre um banquinho – desses de praça – para descansar as varizes, que, de tão estufadas, parecem estourar... Depois de um bom descanso, elas aparecem, azuladas, bem baixinhas outra vez...

Mas o que mais encanta as pessoas mesmo é o meu franco sorriso: para destacar mais a minha simpatia, pedi ao dentista que me forrasse os quatro dentes da frente, com ouro 18 quilates... Assim, o sorriso fica sempre brilhante e sedutor... Está rindo? As meninas de hoje não usam, até, brinco no umbigo, na língua, no nariz? Então... Por que não, dentinhos de ouro? É só uma questão de “estilo”.

Creio que pude dar uma idéia de como sou exteriormente. Por dentro, você já conhece... Sou exatamente a MUSA que você imagina em seus delírios internáuticos!


Obrigada,
pela sua tão gentil paciência...

Milene Arder

PS. Se esqueci algum detalhe especial, acrescentarei em outra oportunidade.

Se esqueceste?! Claro... Não Te lembraste de descrever o formato do sabonete que usas no banho! Bem... Vou já a correr para ver tudo isso...

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